terça-feira, 30 de novembro de 2010

O glorioso América FC na Bahia


                             América campeão carioca de 1960

Há algum tempo voltei a me interessar pelo América FC do Rio de Janeiro. É que achei várias partidas suas na Fonte Nova e passei a escrever um artigo sobre o clube. Este, apesar de se encontrar hoje na Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro, já foi um dos grandes do Rio de Janeiro.  Uma das minhas lembranças da era do rádio foi ouvir pela Globo Waldir Amaral “cantar” a final do primeiro campeonato do novo estado da Guanabara quando o alvi rubro derrotou o Fluminense e ficou com o título de 1960.
Deu então pra ver como é curta a memória dos brasileiros. Estamos falando de um clube cuja história tem feitos notáveis que engrandeceram o esporte do país. O maestro e compositor Heitor Vila Lobos disse que foi um dos fundados do clube. E, outro grande compositor Lamartine Babo, foi quem escreveu o hino dos “diabos rubros”. Ele era torcedor do clube e se declara na própria musica, onde tem um trecho em que agente fica arrepiado:
Hei de torcer, torcer, torcer
hei de torcer até morrer, morrer, morrer
pois a torcida americana é toda assim
a começar por mim (...).

O América foi campeão carioca sete vezes e, dentro e fora do estado, ganhou inúmeras taças, troféus e torneios no Brasil, américas, Europa e África, dois deles na Bahia. O clube é uma das agremiações brasileiras que mais contribuiu para a aproximação dos povos através do esporte. Desde 1947, realizou quase trinta excursões ao exterior, entre estas, pelo menos dez á Europa.
Não caberia nos limites deste pequeno artigo, citar os feitos do América. ((Mas, só para reavivar a memória dos torcedores, lembraria: a) foi campeão dos campeões em 1982; b) “vingou” a seleção brasileira derrotada na Copa do Mundo de 1950, ao vencer o Penarol – time base daquela seleção - por 3 X 1 no primeiro aniversário de comemoração da conquista perante 65.000 uruguaios; c) é o clube brasileiro que, provavelmente, mais jogou contra portugueses, tendo, inclusive, realizado o que pode ter sido o primeiro jogo entre os dois países em julho de 1955 no Maracanã por ocasião da Taça Charles Muller, batendo o poderoso Sport Lisboa e Benfica por 4 X 2.  
Jogou por muito tempo no estádio da Rua Campos Sales, mas, desde 2000, seu estádio é o Giulite Coutinho, com capacidade para 15.000 pessoas, e se situa na Baixada Fluminense. Entre os grandes jogadores já vestiram a sua gloriosa camisa, destacam-se o zagueiro Belfort Duarte, Joel e Hermógenes (ambos da seleção brasileira que foi á Copa de 1930),Djalma Dias (seleção brasileira de 1970), o lendário atacante Heleno de Freitas, Batatais, Marcos Carneiro de Mendonça, Canário (seleção brasileira e Real Madrid), Edu e Luizinho.
                                                          Estádio Giulite Coutinho
Desde que o Campeonato Brasileiro teve início em 1971 o América participou de todos os campeonatos. A criação do Clube dos Treze porém, excluiria o América em 1986, fazendo com que somente voltasse a disputar a primeira divisão em 1989 ocasião em que seria rebaixado para a segunda. Desde os anos 90 frequentaria a terceira.
Este América, com tantas glórias, aportou na Bahia após a Primeira Grande Guerra, quando já se havia restabelecido o intercâmbio esportivo. Chegou aqui em setembro de 1921 e ficou por dez dias, durante a disputa do Campeonato Baiano. Estreou derrotando um Combinado Botafogo - Baiano de Tênis por 4 X 2. Logo a seguir seria a vez da Associação Athlética da Bahia cair por 4 X 3. O próximo jogo seria contra o poderoso Ypiranga, que seria campeão invicto aquele ano, mas que não resistiu aos alvi rubros caindo por três à zero. Ainda restava o EC Vitória mas também perdeu por dois a um. O jeito foi organizar uma seleção baiana com nossos melhores jogadores, para aí sim, conseguir um empate heroico por um a um com o vice-campeão carioca que, no próximo ano, voltaria a ganhar o título daquele estado.
 Passariam dezoito anos para o América voltar a pisar as terras baianas. Estávamos no fim de fevereiro de 1939, quando, enfim se terminava o rumoroso certame baiano do ano anterior. Este teve dois campeões, com o EC Bahia vencendo o “segundo campeonato” apenas três semanas antes do time rubro chegar. Os americanos, porém, não estavam em boa fase. No Campeonato Carioca, que se iniciaria um mês depois do clube deixar a Bahia, obteria apenas um modesto quinto lugar, chegando a perder de sete a um do CR Flamengo (!) que se sagrou campeão. Ainda assim, os primeiros jogos foram muito disputados.
Na estreia contra o Botafogo (campeão de um dos certames do ano anterior) perdeu por dois a um. Logo a seguir venceu pelo mesmo placar o Galícia, vice-campeão deste ano, e empatou em dois gols com o Ypiranga, que paparia o título alguns meses mais tarde.  O jogo final foi contra o Bahia, onde jogava o futuro artilheiro do campeonato, Vareta, e que golearia o América por quatro a um.
O clube faria uma vitoriosa excursão ao Norte e Nordeste seis anos depois mas não viria à Bahia. Aqui só pisaria em 1948, um mês após o meu nascimento, quando estavam construindo a Fonte Nova e o campeonato parou pra ver o América jogar no acanhado campo da Graça. A excursão, entretanto, foi rápida, com o time rubro fazendo somente dois jogos, onde ganhou de 6 X 5 do Galícia (que seria vice-campeão aquele ano) e arrasando o Ypiranga, do artilheiro Pequeno, por seis a dois. Não jogaria com o EC Bahia que seria o campeão. Dois anos depois, os “diabos rubros” iriam até a região Sul do estado onde dariam de cinco nas seleções ilheense e itabunense. O mercado de futebol da região do cacau o atrairia, voltando seis anos para derrotar novamente a seleção de lhéus pelo placar mínimo, e enfrentar o EC Bahia (1 X 1).
                                                        Fonte Nova nos anos 50
O América pisaria pela primeira vez o campo da Fonte Nova em 15 de agosto de 1957, onde venceria o EC Bahia em partida amistosa por dois a um. Voltaria de novo, antes que se completasse um ano empatando (1 X !) com o mesmo adversário. Na revanche porém, uma tragédia para o clube, que sofreria sua maior derrota em terras baianas: cinco a dois.
Nos anos 60 faria amistosos e disputaria importante torneio na Bahia. Estaria de novo em Ilhéus em fevereiro de 1960 onde derrotaria em partida amistosa o Colo Colo por três a um. Na Fonte Nova, ás vésperas do São João de 1963, ganharia de novo do EC Bahia, desta vez pelo escore mínimo. O clube alvi rubro ainda iria a prospera cidade de Vitória da Conquista em agosto de 1966 onde derrotaria por duas vezes a seleção da cidade, por 5 X 2 e 2 X 0.
Mas seria nesta década que o América conseguiria a sua maior vitória simbólica na Bahia.  Estávamos no famoso ano de “68”, onde tudo se poderia esperar, e era o segundo ano do governo de Luiz Viana Filho. Decidiram então organizar um torneio de peso pra comemorar o dois de julho, data magna dos baianos, por ter sido neste dia que se consumou a maior vitória brasileira durante a guerra movida em 1822/1823 para a separação do país de Portugal. Assim, convidaram a dupla BA-VI e os cariocas Flamengo e América. Tudo se passou em apenas três dias. A primeira rodada foi no dia 30 de junho, quando o EC Bahia venceu o Flamengo pelo escore mínimo, e os “diabos rubros” derrotaram o Vitória por dois a um, marcando Valdo e Edu, enquanto Betinho descontava para os rubro negros.

A decisão seria no próprio 2 de julho. As coisas na véspera já estavam estranhas, e eu e meu irmão “Toínho” decidimos não ir, mesmo tendo assistido o primeiro jogo, em solidariedade ao Vitória. É que o clube abandonou o torneio por divergência com a cota estipulada para os jogos, sendo substituído pelo Galícia. A situação levou a inédita situação de um quadrangular contar com cinco clubes. Só mesmo na Bahia! Mas o azulino só serviria para assegurar uma derrota completa dos baianos nesse dia, ao perder para o Flamengo por dois a zero. 
Tudo estava preparado para a vitória do tricolor na partida principal. Ouvi pelo rádio os americanos se agigantarem em campo deixando poucas oportunidades para o tricolor. Nesse dia confesso que fiquei em dúvida. Para quem torceria, contra o nosso arquirrival ou a favor das tradições populares da Bahia? O certo é que Suquinha, e, de novo, Valdo, humilharam os baianos, derrotando o EC Bahia por dois a zero. Graças ao América, nesse dia nunca mais seria organizado na Fonte Nova um torneio com clubes de fora.
Depois desta partida entraríamos na era dos certames oficiais, com poucos amistosos. No Torneio Roberto Gomes Pedrosa (“Robertão”), o América enfrentaria por duas vezes o tricolor baiano, ganhando de goleada na Fonte Nova a primeira (4 X 0) e empatando sem gols no “Batistão” em Aracajú. Logo depois seria a vez dos campeonatos brasileiros.  Na Primeira Divisão, entre 1971 e 1988, seriam disputadas quatorze partidas entre baianos e “americanos”.  O América obteria quatro vitórias, seis derrotas e quatro empates, jogando no Maracanã, em São Januário e na Fonte Nova. No nosso histórico estádio ocorreriam nove partidas, sete contra o EC Bahia e duas contra o EC Vitória:

As do Bahia foram: América 3 X 1 (1.9.1971), 0 X 0 (13.9.1972), Bahia 2 X 1(7.10.1973), Bahia 1 X 0(11.5.1974), Bahia 2 X 0(10.11.1977), América 2 X 0(13.2.1985), e Bahia 2 X 1(18.12.1988). Já as do Vitória foram: Vitória 2 X 0(26.11.1972), 0 X 0 (2.9.1988). Como curiosidade houve ainda um jogo pela Taça de Prata 1982 em São Januário no dia 3 de fevereiro onde o América derrotou o Leônico por quatro a um. Houve ainda alguns raros amistosos na Fonte Nova, a exemplo de Vitória 0 X 0 América (10.11.1971), e Bahia 0 X 0 América (4.12.1982). Registre-se nesta era torneios realizados no interior, em agosto de 1978 em Itabuna (onde o clube sofreria sua única derrota na região do cacau, contra o Itabuna pelo escore mínimo, e empataria com o Vitória por um a um), e em junho de 1985 em Vitória da Conquista (onde o América empataria sem gols com o Democrata (MG) e venceria o Serrano local por três a dois), neste último faturando seu segundo torneio na Bahia.
Eu veria o América jogar quatro vezes, em 1968, 1971, 1972, e em 1988. No entanto, não assistiria ao último jogo dos “diabos rubros” na Fonte Nova. A quarta vez foi apenas o seu penúltimo jogo, quando empatou sem gols com o vitória. Naquele tempo o meu clube era dirigido por Orlando Fantoni e tínhamos saudosos jogadores como o goleiro Borges, o volante Bigu e o atacante André Carpes. Lembro-me que tinha muita gente no estádio, deu quase umas trinta mil pessoas. 
Foi o nosso arquirrival tricolor que se despediu do América. Os 18.118 torcedores que assistiram ao jogo naquele 18 de dezembro sequer sabiam que estavam apreciando o futuro campeão da Copa União e a última partida do alvi rubro. Naquele dia os times entraram em campo com: (Bahia) Sidmar, Edinho, João Marcelo, Pereira e Paulo Robson; Paulo Rodrigues, Gil Sergipano e Zé Carlos; Bobô (Osmar), Charles e Marquinhos. O técnico era Evaristo de Macedo. (América) Paulo Vitor, Claudio Neves, Antônio Carlos, Anderson e Valmir; Jocenilton, Pedro Paulo; Fábio, Nival, Paloma (Álvaro) e Wagner. O técnico era Pinheiro. O último gol do América na Fonte Nova seria anotado por Valmir, enquanto Zé Carlos e Marquinhos fariam os da vitória do tricolor.


Já há 22 anos o América não vem à Bahia. Nos 46 confrontos anteriores haviam conseguido 23 vitórias, treze empates, e sofreria dez derrotas. Faria 89 gols e sofreria 55. Teria saldo no nosso histórico estádio, onde jogou 18 vezes, obtendo 7 vitórias, 5 empates e 6 derrotas, marcando 21 gols e tomando 18.
Por coincidência, neste período o clube viveria a pior fase de sua história com duas décadas irreconhecíveis, que registraria inclusive, no ano de 2008, a queda para a Segunda Divisão do próprio futebol carioca.  Como é que se sentem os torcedores americanos este ano ao ver os resultados de dois américas, o do Amazonas subir para a terceira divisão, e o de Minas Gerais subir para a primeira?
Mas nem tudo são trevas. Os “diabos rubros” já voltaram para a primeirona do Rio de Janeiro renascendo das cinzas. Falta voltar ao papel que lhe cabe na história. Será que aquele dia na Fonte Nova não foi um até breve? Não podemos esquecer a profecia de Lamartine Babo quando disse que o América ainda quer muito mais.

·         Agradeço as informações do site do América, da torcida rubra, do Wikipédia e do Flamengo, dos blogs RSSSF Brasil, História do Futebol, futipédia. globo.com, ultradownloads.uol.com.br. Sou grato também a critica do torcedor Walter do América, assim como as imagens de Fábio Paes, dos blogs injusticanao.blogspot.com, maismemoria.net,arquibol.com,flickr.com, brasilescola.com e futebolartebrasil.blogspot.com.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Desesperar jamais ou o amargo vice de 1979

                                      O grito, desespero expressionista de Edward Munch 
O campeonato baiano tem 106 edições, sendo 57 destas realizadas na Fonte Nova.  O EC Bahia ali obteria 31 campeonatos baianos e dois títulos nacionais, vindo o EC Vitória em segundo lugar com 10 campeonatos e dois vices nacionais (na primeira e segunda divisão em 1992 e 1993). Seguem-se o Fluminense (Feira de Santana) com dois, e o Ypiranga, Galícia, Colo Colo (Ilhéus) e Leônico, com um campeonato baiano cada. O leitor certamente verificará que a conta “não bate”, mas é que dez desses campeonatos foram ganhos pelo EC Vitória e decididos em seu estádio, o “Barradão”.
Os anos 70 foram seguramente os piores para o Vitória que além de só conquistar dois títulos (1972-1980) ainda veria seu arquirrival ganhar um heptacampeonato entre 1973 e 1979. É por isso que quando a coisa está feia eu sempre me lembro da música de Ivan Lins que foi feita para a política, mas que cai como uma luva para o futebol. Tem um trecho dela que diz:
Desesperar jamais
aprendemos muito nesses anos
afinal de contas não tem cabimento
entregar o jogo no primeiro tempo
nada de correr da raia
nada de morrer na praia
nada, nada, nada de esquecer.
                                                             Disco do cantor em 1979
Eu devo seguramente ter assistido os quase cinquenta BA-Vis disputados nos anos 70. Alguns deles são antológicos. Na época o fator emocional pesava a cada ano que ocorria nova conquista De uma hegemonia do Bahia que parecia não mais terminar.
O grande exemplo disto foi em 1979. O país tinha um novo general de plantão, João Batista Figueiredo, e eu mesmo participei de várias manifestações para tornar efetiva a sua promessa de “bater e arrebentar” quem não quisesse fazer deste país uma democracia. O campeonato começou neste clima, com o meu clube ganhando o primeiro BA-VI por um a zero. O andamento do campeonato foi empolgando a torcida quando o clube conseguiria o Record de partidas invicto no campeonato baiano.
Parecia que iria acabar com a maior série de conquistas do EC Bahia até então.  Este clube não conseguiria nos ganhar em todos os jogos dos turnos, mas que em sua grande maioria terminariam empatados.  O clube estava longe de ter um time inferior ao seu adversário, destacando-se Gelson no gol, os xerifes Xaxa e Zé Preta na zaga, Dendê no meio, e uma excelente dupla de ataque formada por Sena e Jorge Campos. Éramos dirigidos pelo mais novo dos irmãos Moreira, Aimoré, ficando nosso adversário com aquele que considerávamos “esclerosado”, o Zezé.

O jogo decisivo, porém, acabou com a vantagem do Vitória embolando o campeonato. Sena fez 1 X 0, mas o Bahia empatou logo no primeiro tempo com Botelho. No segundo tempo consolidaria a “virada” com um gol de Zé Augusto. Considero que foi neste jogo que o Vitória perdeu o título. Alguns dias depois haveria um jogo extra. Na oportunidade, mesmo com o Vitória com mais volume de jogo, a partida terminaria empatada sem gols. Partiu-se então para nova partida extra que esteve mais uma vez longe de garantir o mesmo público de jogos anteriores. Pudera! O público já estava desgastado com tantos BA-Vis. Só naquele ano foram nove! Mas mesmo assim a final teve um bom número de torcedores.
A partida foi bem disputada. Ninguém queria arriscar muito, embora voltássemos a ter mais volume de jogo. O primeiro tempo ficou empatado em zero. No intervalo os torcedores se perguntavam como ficaria o campeonato com um novo empate. Haveria nova partida? Nem de longe havia clima para declarar os dois campeões, como iriam ocorrer vinte anos depois. Enquanto estávamos nestas elucubrações começou o segundo tempo com o Vitória atacando para o gol da Ladeira da Fonte das Pedras e o Bahia para o gol do Dique do Tororó.
O jogo decorreu na mesma toada aumentando ainda mais o nosso domínio, mas o gol não saía. Aí foi quando Fito arriscou um chute da intermediária e Gelson tomou o maior “frango” que eu vi naquele estádio. Eu só o vi pegar a bola, largá-la, e, após ela entrar alguns palmos, o juiz apontar o meio de campo. O gol calou fundo na torcida rubro negra. Durante breves segundos não se ouviu um pio do nosso lado, só a torcida adversária comemorando. Um silêncio sepulcral que só foi quebrado aqui e ali por exclamações de raiva.
Algumas pessoas levantaram e saíram do estádio indignadas com a falha do goleiro do Vitória. Outros, como eu e meu irmão Toínho, ficamos. O Bahia segurou o resultado até o fim valendo até chutões pra todo lado. Mas o Vitória que me desculpe, desta vez nós assistimos os minutos finais em uma das entradas que levava pros portões. Quando acabou a partida descemos rapidamente as escadas subindo correndo a ladeira pra não ver a comemoração tricolor.  Passamos a noite de mau humor e eu mesmo me rolava na cama pra conseguir dormir. É que a rua onde morávamos, a Francisco Ferraro, ficava atrás do Colégio Central, instituição que se localiza na avenida que dá acesso a Fonte Nova. Assim, ficava difícil morar no Centro e não ouvir as comemorações adversárias. 
Durante anos correu a maior boataria. Dizia-se que Gelson havia se “vendido”. Que o resultado havia sido “armado” e outros mitos que se divulgam até hoje que, se consolam os torcedores, não fazem voltar o “leite derramado”. Chorei de raiva naquele dia a trinta anos atrás. A década de 70 havia sido um desastre para o Vitória. Somente em seu final, no ano seguinte, é que o Vitória voltaria a se encontrar com o título.
Ainda duraria a hegemonia de nosso adversário, que na próxima década emendaria um tetracampeonato e alcançaria um título nacional da Copa União. No entanto, nesta mesma época começaria a Era Barradão e as coisas nunca mais seriam como antes. Apesar de toda a tristeza que sentimos naquele 28 de setembro de 1979, ela seria um dos marcos de um tempo que não volta. A partir dos anos 90 o Vitória daria “à volta por cima” e emendaria uma hegemonia tão longa como aquela que durou as décadas de 70 e 80 no futebol baiano.

*  Agradeço as imagens dos blogs emule.com.br, divevision.com.br, blogdasantinha.com e taislc.blogspot.com.

domingo, 28 de novembro de 2010

Mini Copa na Bahia II: todos os jogos

                                 Os "campeões do mundo" Carlos Alberto e Médici
Galdino Antônio Ferreira da Silva
Financista, desportista e colaborador dos blogs História do Futebol, Futebol 80 e Memórias da Fonte Nova.                                                                                       
                                       

Em 1972, para comemorar o sesquicentenário da Independência do Brasil a CBD, junto com a FIFA, organizou um Torneio Internacional que ficou conhecido como “Mini Copa”. Esta competição contou com mais de 20 seleções, sendo os jogos do grupo 1 e 2 realizados no Nordeste.  
Para a fase final já estavam pré-classificados Brasil, Escócia, Tchecoslováquia, União Soviética e Uruguai. Mas havia antes uma fase eliminatória e nesta se lembraram do Nordeste e outros estados brasileiros que sempre ficaram fora destas promoções.
O primeiro grupo ficou sediado em Aracaju, Maceió e Salvador, onde participaram as seleções da África (um “combinado continental”), Colômbia, CONCACAF (outro “combinado continental”), somente se salvando Argentina e França. Na época a Fonte Nova recebeu seis partidas. Quando ao outro grupo do Nordeste (sediado em Natal e Recife) dividiram os jogos das seleções do Chile, Equador, Irã, Irlanda e Portugal. Já o grupo 3 (sediado em Campo Grande, Curitiba e Manaus) recebeu as seleções da Iugoslávia, Paraguai, Venezuela, Peru e Bolívia.
O “filé mignon” foi à fase final, onde houve duas chaves, A e B, sediadas, como não poderia deixar de ser, no eixo Rio-São Paulo, e contemplando Porto Alegre e Belo Horizonte. A primeira foi composta por Brasil, Escócia, Iugoslávia e Tchecoslováquia. Já a segunda contou com Argentina, Portugal, União Soviética e Uruguai.

Apesar de todas as promessas a seleção Brasileira jogou apenas no Maracanã e Morumbi. Mas neste apenas uma partida, quando venceu por 3x0 da Iugoslávia, com dois gols de Leivinha e um de Jairzinho. Apresentando-se para os cariocas, empatou sem gols com a Tchecoslováquia, ganhou pelo escore mínimo da Escócia, com gol de Jairzinho, e fez a final com Portugal no dia 9 de julho, ganhando mais uma vez por um a zero, desta feita com gol de Jairzinho aos 44 minutos do segundo tempo sagrando-se campeão.

Hoje vamos dar a ficha técnica dos jogos, particularmente os que aconteceram na Fonte Nova. A primeira rodada do grupo um ocorreu a onze de junho, de forma concomitante e no mesmo horário (17h15min) na Fonte Nova e em Aracajú. O público, porém, foi um fracasso, não prestigiando os “treinos” das seleções da Argentina e Franca, que derrotaram, respectivamente, a “África” por dois a zero (Aracajú) e a CONCACAF (Fonte Nova) por cinco a zero.     
Quatro dias depois houve á noite jogos em Maceió (França 2 X 0 “África”) e novamente em Aracajú (Colômbia 4 X 3 CONCACAF). Ficaria para domingo o jogo onde, sob o escaldante sol das 15 horas, a França derrotou a Colômbia por três a dois. Completou a rodada nova “lavagem” na CONCACAF, agora em Maceió, Argentina sete a zero.  
Na quinta feira á noite (22/6) foi marcada uma rodada dupla pra Salvador. O pessoal fez questão de não chegar cedo para a preliminar onde jogaram CONCACAF e “África”, tendo a coragem de empatar sem gols. Um jogo pouco melhor estava guardado para a partida principal onde a Argentina golearia a Colômbia por quatro a um.
Mas seria no domingo de São João, vinte e cinco de junho, que seria realizado o melhor jogo da Mini Copa, o único que justificaria a sua realização no nosso histórico estádio, Argentina e França. Na preliminar a Colômbia conseguiu a façanha de perder de três a zero para a “África”. Mas quem chegou para a partida principal, apesar de ter visto um grande jogo não viu gols.
Estava acabada a Mini Copa na Bahia, que ainda teve em outros locais os seguintes jogos:

Grupo 2

11/06/1972
15h Portugal 3 x 0 Equador – Natal             15h Irã 1 x 2 Irlanda do Sul - Recife
14/06/1972
20h30 Portugal 3 x 0 Irã – Recife                20h30 Chile 2 x 1 Equador - Natal
18/06/1972
17h15 Equador 2 x 3 Irlanda do Sul – Natal        17h15 Chile 1 x 4 Portugal - Recife
21/06/1972
19h15 Equador 1 x 1 Irã – Recife                21h15 Irlanda do Sul 1 x 2 Chile - Recife
25/06/1972
15h Chile 2 x 1 Irã – Recife                         17h Irlanda do Sul 1 x 2 Portugal - Recife

Grupo 3

11/06/1972
15h Peru 3 x 0 Bolívia – Curitiba                 15h Paraguai 4 x 1 Venezuela - Campo Grande
14/06/1972
15h30 Venezuela 0 x 10 Iugoslávia – Curitiba       17h Paraguai 1 x 0 Peru - Campo Grande
18/06/1972
16h Peru 1 x 0 Venezuela – Manaus             16h30 Iugoslávia 1 x 1 Bolívia - Campo Grande
21/06/1972
19h Venezuela 2 x 2 Bolívia – Manaus         21h Iugoslávia 2 x 1 Paraguai - Manaus
25/06/1972
14h Paraguai 6 x 1 Bolívia – Manaus            16h Iugoslávia 2 x 1 Peru – Manaus

Fase Semifinal

Grupo 4

28/06/1972
21h Brasil 0 x 0 Tchecoslováquia - Rio de Janeiro
29/06/1972
21h Escócia 2 x 2 Iugoslávia - Belo Horizonte
02/07/1972
15h Brasil 3 x 0 Iugoslávia - São Paulo        17h Escócia 0 x 0 Tchecoslováquia - Porto Alegre
05/07/1972
21h Brasil 1 x 0 Escócia - Rio de Janeiro
06/07/1972
20h30 Tchecoslováquia 1 x 2 Iugoslávia - São Paulo
Grupo 5

29/06/1972
20h30 URSS 1 x 0 Uruguai - São Paulo           21h Argentina 1 x 3 Portugal - Rio de Janeiro
02/07/1972
15h URSS 0 x 1 Argentina - Belo Horizonte   15h Uruguai 1 x 1 Portugal - Rio de Janeiro
06/07/1972
20h30 Uruguai 0 x 1 Argentina-Porto Alegre   21h URSS 0 x 1 Portugal - Belo Horizonte

LP dos Novos Baianos em 1972

Decisão do 3º Lugar

09/07/1972
16h Iugoslávia 4 x 2 Argentina - Rio de Janeiro

Final

09/07/1972
18h Brasil 1 x 0 Portugal - Rio de Janeiro


 * Agradecemos as imagens dos blogs moampb.blogspot.com, morenacult.blogspot.com, pfutebol.com, almanaquedecomunicacao.com.br, professorventinha.blogspot.com e governahistoria.blogspot.com.   


sábado, 27 de novembro de 2010

O campeão dos finados



(..) eu tenho o intento de levar-te comigo 
ir-te-ei guiando pela estância do
eterno sofrimento onde, estridentes gritos escutando
verás almas antigas em tortura
segunda morte a brados suplicando.
                                       A Divina Comédia, Canto I
Você sabia que, entre todas as glorias do EC Bahia está a de ser campeão até no dia de finados? Pois é, e isto ocorreu logo no segundo ano que o estádio da Fonte Nova entrou em funcionamento. Neste torneio a Fonte Nova teve momentos parecidos com o inferno de Dante, escrito por Dante Alighieri para descrever a elite italiana de Florença do início do Século XIV.
Em 1952 resolveram “tirar a limpo” os torneios no nosso complexo esportivo. Até então haviam realizado dois deles mas as coisas não tinham corrido bem como se imaginava. O primeiro, em 1951, havia sido organizado para “puxar o saco”, digo homenagear, do governador Octávio Mangabeira. Mas na ocasião participaram só clubes da Bahia e escolheram muito mal os adversários do primeiro jogo, o “clássico” Botafogo X Guarany.
Tentaram corrigir isto com um quadrangular em julho do mesmo ano, mas como a convidada Portuguesa de Desportos (SP) estava em boa fase os paulistas acabaram metendo a mão na taça, sendo que o Bahia faria um papelão ficando em último. Salvou um pouco “a cara” o vice-obtido pelo Vitória.
A situação fez com que a FBDT esquecesse os torneios por certo tempo. No entanto 1952 era ano eleitoral e aí tinha que marcar alguma coisa pra mostrar trabalho e arranjar alguns votos pois ninguém é de ferro! Assim, convidaram de fora o Curitiba e convidaram o melhor que havia por aqui para enfrenta-lo, Bahia, Vitória e Ypiranga.

O torneio foi em rodadas duplas e a estreia foi marcada para 26 de outubro com o clássico Bahia X Ypiranga na preliminar e o Vitória jogando com o Curitiba na principal. Os baianos começaram mal pois seu empate sem gols garantiu ao clube “coxa branca” a liderança do torneio ao derrotar o rubro negro pelo escore mínimo.
A situação ameaçava piorar porque na segunda rodada estava marcado novo clássico, o famoso BA-VI, onde um empate asseguraria praticamente o título antecipado para os paranaenses, ainda mais que não se colocava muita fé no seu jogo contra o Ypiranga. O que aconteceu naquele 30 de outubro foi surpreendente. Na preliminar o clube canário derrotou o Curitiba por dois a um, fazendo com que a liderança se jogasse no jogo principal. Foi um dos BA-Vis mais francos e abertos que se possa imaginar com os dois times partindo para o ataque desejando ganhar. Mas, os deuses dos mortos sorriram para o EC Bahia que enfiaria no seu arquirrival a maior goleada do clássico na história da Fonte Nova: seis a um.
Todas as atenções se voltaram então para a última rodada onde o Vitória enfrentaria o Ypiranga na preliminar, e o Bahia jogaria com o Curitiba na principal. O tricolor e o Ypiranga lideravam o torneio com três pontos, seguidos do Curitiba com dois e do Vitória, na lanterna, sem pontos ganhos.  Se o aurinegro ganhasse o jogo, esperaria “de camarote” o resultado do difícil jogo do tricolor. Mas também podia dar Curitiba, se ganhasse, a depender do resultado da preliminar.

Só que havia um inconveniente, o jogo foi marcado para o Dia de Finados daquele ano. E neste dia os espíritos baixaram, literalmente, na Fonte Nova. Tem gente que não acredita nestas coisas. Que anda em cemitérios e em velórios. Que acha que tanto faz o dia do jogo. Mas, convenhamos, decisão neste dia é o fim da picada! Os torcedores foram pela manhã no Campo Santo, nas Quintas dos Lázaros, e em outros cemitérios, visitar seus mortos e muita gente voltou impressionada. Até que tinha mais gente do que se poderia prever.
Na preliminar o Ypiranga não conseguiu ganhar do lanterna Vitória mesmo que tentasse todo o tempo. Mal sabia que a vitória lhe daria o seu último título da Fonte Nova. Mas as almas penadas não deixaram a bola entrar. Houve inclusive, lances que pareceram fantasmagóricos, onde a bola milagrosamente tomou outra direção deixando de entrar no gol. Isto assegurou ao rubro negro, que seria campeão baiano no próximo ano, o único resultado honroso do torneio.
Todas as atenções agora se voltavam pra partida principal onde o invicto Ypiranga torcia para os paranaenses ganharem o Bahia pra brigar pelo critério a ser utilizado para entregar a taça. Seria por saldo de gols, pela vitória no confronto direto, ou porque mesmo? Mas neste dia o esquadrão de aço estava inspirado. Ainda não havia os orixás no Dique do Tororó, mas alí sempre foi área deles. Assim, todos os tambores dos candomblés da cidade bateram para espantar os espíritos. No segundo tempo, quando o Bahia ganhava de dois a um começou a escurecer. Não teve que não sentisse um frio na espinha.
Só Dante pra descrever o que ocorreu:
Assim turba com turba se abalroa.
Almas em cópia, nunca vista de antes,
fardos de um lado e de outro, em grita ingente,
Rolavam com seus peitos ofegantes.
Batiam-se encontrando rijamente, e gritavam depois, atrás voltando:
- Por que tens? Por que me empurras loucamente?
                                                        (A Divina Comédia-Canto VII)

                        Fonte Nova guardada pelos orixás no Dique
Naquele tempo a “iluminação” era praticamente natural pois as lâmpadas não serviam pra grande coisa. O que eu sei é que o resto do jogo transcorreu quase que nas trevas. Se o universo começou com elas e a luz surgiu depois na Fonte Nova foi ao contrário, com os espíritos pairando sob as aguas do Dique do Tororó.  Os torcedores esperaram a qualquer momento saírem os mortos dos túmulos. Quem tinha pecado começou a se arrepender!
Com mais algum tempo não deu pra ver nada. Dizem que até os jogadores do Curitiba rezaram pra o jogo terminar logo. O tricolor aguentaria o placar. Quanto ao juiz apitaria o encerramento do jogo e sairia correndo pro vestiário. O Bahia havia ganhado no ano anterior o primeiro torneio do estádio com clubes locais e ganharia também o primeiro onde participaram clubes de fora. Mas que foi uma coisa de dar mêdo, isto foi!

·         Agradeço as informações de Carlos Alberto Franco Jr., e dos sites ebookbrasil.org e da RSSSF Brasil.Sou grato também as imagens dos blogs:povodearuanda.wordpress.com, tudomercado.com.br, embandadejesus.blogspot.com e comunidadedocasamento.com.br.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Os azarados torneios políticos da Fonte Nova


O futebol nasceu com a politicagem. Mas duvido que em outro estádio houvesse tanto “puxa-saquismo”, oh me desculpem, quero dizer tantas justas homenagens, como a Fonte Nova em Salvador! O estádio foi criado como um órgão estadual. Imaginem um governante ser “homenageado” pela própria repartição pública!   
Ao contrário que se pode imaginar, a iniciativa não era só dos políticos, mas também dos dirigentes esportivos. Sabe como é que é, né? Bota o nome do “cara” e aí entra mais dinheiro para a federação e pros clubes, financiam-se torneios, pagam-se passagens, e outras cositas mais. Nos anos eleitorais nem é bom falar. É um “toma lá dá cá”!
A sanha das “homenagens” não poupou nada do nosso complexo esportivo. O estádio e o ginásio ficaram com o nome dos governadores que mandaram construir, Octávio Mangabeira e Antônio Balbino. Como não tinham mais nada a dar, e ainda faltava acabar algumas coisas, o jeito foi dar o nome da piscina de governador Juracy Magalhães.
                                                      O governador Octávio Mangabeira 
A Fonte Nova resistiu a treze governadores, grande parte lembrados em “homenagens”.  A coisa começou cedo, em 1951, quando, não contentes em dar o nome do governador ao estádio, fizeram ás pressas um torneio de inauguração em janeiro antes de sua saída do cargo. No entanto, “meteram os pés pelas mãos”.
Como foi organizado de última hora, e não ficava bem que algum time de fora do estado ganhasse o certame, fizeram uma coisa “caseira”. Todos os clubes quiseram participar para se despedir do governador, e, se possível, “tirar uma lasquinha” dos seus últimos dias no cargo. Esqueceram que foi ele mesmo que disse:
- Diga-me um absurdo e eu lhe mostrarei antecedente na Bahia!
Foi um dos maiores torneios organizados na era da Fonte Nova. Acabaram fazendo uma espécie de “torneio início” com jogos eliminatórios. Mas tiveram a infelicidade de programar como primeiro jogo o “grande clássico” Botafogo X Guarany (?) que acabou entrando para a história. Peço desculpas aos antigos botafoguenses para dizer que até hoje ninguém entendeu tanta falta de sensibilidade! Bem, mas pra encurtar a história, o torneio foi ganho pelo EC Bahia após decidir com o Ypiranga que seria campeão baiano daquele ano.

O próximo governador, Regis Pacheco, assumiria naquele ano, e teve mais de um torneio em seu nome. Será que foi pra “salvar a cara” por ter dado o nome do estádio a seu antecessor e adversário político? O primeiro foi organizado em 1953. Na ocasião, resolveram corrigir os erros anteriores e trouxeram as grandes equipes do Flamengo e Internacional (RS) para jogar com a dupla BA-VI, que já era o melhor que havia no futebol do estado.
A emenda saiu pior do que o soneto. Foi a maior vergonha que os baianos passaram na Fonte Nova! A primeira rodada foi um verdadeiro “desespero a caminho da feira”. O Bahia levou de sete do Inter e o Vitória de oito do Flamengo. Quando acabaram os jogos imagino o que devem ter ouvido os dirigentes esportivos do governador:
- Mas que é isto, vocês querem acabar comigo?
O jeito foi melhorar na segunda rodada. E bem que os clubes baianos se esforçaram, mas não deu. Mas, pelo menos, apanharam por contagens “mais honrosas”. O Vitória caiu de quatro para o Inter e o tricolor até que não foi tão mal, perdendo apenas de dois a um para o rubro negro carioca.  A gota d’água foi à rodada final.  Na preliminar os leões da Barra deixaram a lanterna pro esquadrão de aço. Porém, no jogo de fundo, quando Flamengo e Internacional disputavam o título, faltou luz quando estava dois a dois. Que fazer, pois não dava pra segurar os times de fora por aqui mais alguns dias? O jeito, pra não desmoralizar o “Doutor Regis”, foi dar o título ao Inter pelo saldo de gols no torneio.
Talvez seja por isso que a Bahia não ganhou nada no futebol no tempo de Regis Pacheco. Pra tentar remediar as coisas, organizaram outro torneio com seu nome. Desta vez tomaram todas as precauções. Convidaram apenas um clube de fora, escolhido “a dedo”, o Sport Clube Recife, e colocaram para enfrenta-lo os três melhores clubes do estado na ocasião, Bahia, Vitória e Botafogo. A coisa acabou ficando mesmo entre rubro negros. O baiano ficou com o título e o pernambucano com a lanterna. Estava salva a honra do governador, mas este não aproveitou politicamente, pois já havia saído do cargo.
                                                       O governador Juracy Magalhães
Agora, quem estava no governo era Antônio Balbino, que preferiu investir suas fichas no ginásio que levou o seu nome. Foi ali que organizaram competições com seu nome, o que se repetiu (no ginásio, a Vila Olímpica e na piscina) com o governador Juracy Magalhães. É que este já tinha uma experiência negativa no período anterior que foi governador onde a taça que levou seu nome acabaria sendo ganha pelo Botafogo do Rio de Janeiro (1935).  
O governador Lomanto Jr fui um dos que mais utilizou o nosso complexo esportivo para promoção pessoal. Até seu aniversário era comemorado no Ginásio Antônio Balbino. Em seu governo o futebol se interiorizou. Acho que isto animou os dirigentes a voltarem a organizar torneios pros governadores ainda em seu primeiro ano de mandato. A capitalização política, porém, seria mínima, pois só foram convidados clubes locais, Bahia, Galícia, Vitória e Leônico. E, pra piorar a história, o certame foi ganho pelo “moleque grená”.
Com o golpe de 64 o Brasil entraria num período sombrio da sua existência e os generais preferiram outras manifestações esportivas de massa. A Fonte Nova tornou-se palco das Olimpíadas Baianas da Primavera e outros desfiles. Os torneios de “homenagem” pareciam ter acabado com os sisudos militares. Mas, durante os anos sombrios houve pelo menos dois desses torneios. Um deles foi entre maior/junho de 1970, com o nome do futuro governador Antônio Carlos Magalhães, mas ao invés de ser ganho por um dos times de massa, foi ganho pelo Galícia.

A infelicidade total veio mesmo quando da construção do anel superior do estádio pra fazer com que o regime dos militares se parecesse com os dos políticos de sempre. Na ocasião da inauguração, fizeram um torneio com o nome do governador Luiz Viana Filho, já de saída do cargo. Desta vez trouxeram Grêmio e Flamengo pra jogar com a dupla BA-VI e o próprio general-presidente Garrastazu Médici se fez presente. Mas com certeza Luiz Viana Filho dispensaria esta “homenagem”.
                                                   Quadro do governador Luiz Viana Filho
Na preliminar o Bahia ganhou do Flamengo por dois a um, mas no segundo tempo da partida principal, quando o Grêmio ganhava o Vitória por um a zero, uma confusão estourou na parte de cima da “geral”. O “corre” fez o estádio balançar levando a milhares de pessoas a se atirarem das arquibancadas. Foi a maior tragédia da Fonte Nova! Há quem calcule em dezenas os mortos, porém isto dificilmente será apurado, pois a imprensa era censurada. Nesta hora ninguém viu Médici, Antônio Carlos Magalhães ou Luiz Viana. Devem ter corrido também como todo mundo.  Alguns dias depois o restante dos jogos seriam cumpridos e, para “salvar a cara” do ex-governador, o Grêmio se recusaria a ir para a disputa de pênaltis com o Bahia entregando a taça ao tricolor.  
Depois desta nunca mais houve um governador “homenageado” em torneios. Pra isto pode ter contribuído a Lei 6454/77 que, logo em seu artigo primeiro, “proibia em todo o território nacional atribuir nome de pessoa viva a bem público, de qualquer natureza, pertencente á União ou as pessoas jurídicas na administração indireta”. Mas no Brasil a lei precisa “pegar”. Mesmo depois disto ACM colocou seu nome em centenas de prédios. Não fez mais torneios, entretanto! João Durval contentou-se em dar o seu nome a torneio realizado em Feira de Santana antes que assumisse o cargo. E, Roberto Santos, acabou virando o nome do estádio de Pituaçu.
Os torneios da Fonte Nova foram rareando com o fim da ditadura. Em 1987 é aprovada nova lei proibindo colocar o nome de pessoas vivas em bens públicos evitando a promoção pessoal das autoridades. Para ficar ainda mais claro, um ano depois a Constituição Federal consagrou o princípio da impessoalidade na administração pública, logo acompanhada pela própria constituição do estado da Bahia. Parecia não ter mais jeito! Assim, os novos torneios passaram a levar o nome do estado, da capital, entre outros. Mas homenagem justa mesmo viria com a taça que levou o nome da heroína do Dois de Julho Maria Quitéria.

                                                                 A implosão em charge
A Fonte Nova não mais existe. Mas será que acabaram mesmo os torneios políticos? Não os veremos na nova Arena? Será que é pacífico o entendimento que um torneio de futebol também é um bem público? Então porque o Ministério Público Estadual esta fazendo este ano a campanha “bens públicos legais” alertando os administradores públicos para essas leis?

·          Agradeço as informações dos sites da Jus Brasil, da RSSFBrasil e da AD Leônico, a Galdino Ferreira.Sou grato também as imagens dos blogs nucleo14cpers.blogspot.com, experimentosdevida.blogspot.com,academiadeletrasdabahia.org.br e porsimas.blogspot.com.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Benfica na Bahia


                                               Chegada de Dom João a Bahia por Portinari
                   * Comemoração aos cinquenta anos da presença esportiva portuguesa no Brasil

Portugal tem uma relação secular com o Brasil. Mas nem tudo foram flores entre os dois territórios, particularmente com a conquista e a integração no império português. A Bahia foi peça central nesta relação. Foi a ela que se dirigiram as primeiras expedições lusitanas. Onde se estabeleceu em 1549 a sede política, administrativa e religiosa do império no que seria o continente americano. Seria ali o local escolhido, pelo então príncipe Dom João, para aportar a sua comitiva quando da transmigração ao país em 1808, e pela revolução liberal portuguesa para a eleição de deputados quando da Assembleia Constituinte do império.
Quis o destino que no solo da Bahia se travasse a maior de todas as guerras entre os dois países, que iria consolidar a sua separação orgânica em 1822/1823. Durariam ainda, porém, mais de seis décadas os monarcas portugueses em solo brasileiro. As relações entre os dois países continuaram no regime republicano, nos campos econômico, científico e sócio – cultural, mas se estenderam a novas direções, entre as quais o esporte.
A descoberta do futebol guarda diferenças substanciais entre os dois países. Embora o esporte chegasse a ambos por intermédio dos ingleses, os protagonistas no Brasil foram estudantes, trabalhadores e moradores de bairros populares, enquanto em Portugal foram os colégios. O Brasil chegou primeiro a experimentar certa organicidade e popularidade no esporte, enquanto Portugal só consolidaria a federação portuguesa em 1926. No entanto, aquele organizaria muito cedo as suas divisões. Enquanto isto, mesmo possuindo a CBD desde idos tempos, a falta de centralização nacional e a politicagem fariam com que só se organizassem campeonatos brasileiros nos anos 70. Quanto às divisões apareceram muito mais tarde, até hoje se constituindo um “Deus nos acuda” quando um clube grande é ameaçado de rebaixamento.
O futebol português e brasileiro tem outra diferença fulcral. Enquanto no primeiro há três clubes de expressão mundial (Benfica, Sporting e Porto) que dividem grande parte dos títulos portugueses, no segundo há equilíbrio entre os grandes clubes onde o “papa títulos” é o São Paulo, com apenas seis campeonatos brasileiros. O intercâmbio futebolístico entre os dois países em todo este tempo foi praticamente nulo, sendo difícil descobrir jogos entre clubes portugueses e brasileiros nas primeiras cinco décadas do “século do futebol”.
                                              Escudo da Federação Portuguesa de Futebol
Os anos 60, porém, iriam terminar com este isolamento. Já desde a década anterior haveriam confrontos esparsos em excursões de clubes brasileiros pelo solo europeu. Em 1960 o Sport Lisboa e Benfica faz uma excursão histórica ao Brasil e, por fim, dois anos depois, o mundo seria contemplado com a inédita decisão de um título mundial entre Santos FC e SL Benfica em 1962. Abria-se uma nova era nas relações desportivas entre os dois países, que, com o fim das ditaduras (da salazarista e da dos generais brasileiros), haveria de se consolidar em outros terrenos.
O Sport Lisboa e Benfica, é honra e glória do futebol português. A equipe encarnada ocupa o nono lugar entre os clubes de todo o mundo pelo levantamento do IFFHS. Tem 32 campeonatos, 24 taças, e 4 supertaças em Portugal, além de dois títulos de campeão europeu, um deles do próprio ano em que esteve no Brasil, quando bateria o Barcelona por 3 X 2.
Assim, o clube esteve na Bahia no auge de seu prestígio, inclusive como campeão português. Desde que se soube da sua excursão ao Brasil o próprio presidente da antiga Federação Baiana de Desportos Terrestres - FBDT intercedeu nas negociações. Foram ao todo oito jogos cumpridos pelo elenco português. Jogou no Rio de janeiro, contra Flamengo e América, empatando em ambas as ocasiões.  Em São Paulo perderia do Santos FC e derrotaria de forma convincente o Palmeiras (3 X 0). Só então aportaria na Bahia. Eu ainda tinha doze anos e meu pai não me levaria a nenhum dos dois jogos.
                                                   O escrete do Benfica em 1961/1962
Na presença do Benfica havia um problema a considerar. Haviam sido acertados jogos contra o EC Bahia e o EC Vitória. Mas, no entanto, o primeiro, que tinha previsto chegar nesse período de excursão á Europa, não conseguiu chegar para a estreia do escrete lusitano em 28 de julho de 1960, três meses depois da inauguração de Brasília. Assim, o tricolor teve que colocar o que o Diário de Notícias da época chamou de um time “misto”, onde se dizia que empregaria alguns profissionais que haviam ficado completando o time com juvenis.
No entanto, não foi bem assim que as coisas aconteceram. É certo que os titulares do EC Bahia estavam na Europa. No entanto, o clube havia se preparado para esta situação deixando em Salvador um segundo time com o qual colheu expressivas vitórias no campeonato local e até em amistosos importantes. Mais tarde, com o retorno da Europa, o Bahia aproveitou vários daqueles que formavam o “misto”, inclusive, todo o ataque. Parece-me ter contribuído para esta atitude do jornal, integrante da cadeia dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, uma combinação de decepção (em função do time tricolor não ter chegado a tempo do jogo) com o receio de que o segundo time tomasse uma goleada. 
O Juiz da partida foi José Cavalcanti Brito, tendo como auxiliares José Tosta e Willer Costa. O Diário de Notícias divulgou a renda de 600.250 cruzeiros, alertando inclusive para o fato de que os preços tinham “afugentado muito os torcedores”. Se compararmos com o recente BA-VI (605.485 cruzeiros), onde o Vitória ganharia o primeiro turno, a renda foi mesmo sensacional, atestando a expectativa na Bahia com a presença portuguesa.
O público que foi a Fonte Nova não viu só qualidade, mas também quantidade. Houve duas preliminares (!), a primeira começando às 12h00min, e a segunda às 14h00min, envolvendo aspirantes e profissionais de Fluminense de Feira de Santana e Galícia pelo primeiro turno do Campeonato Baiano.
                                                               Juscelino em Brasília
Os times do jogo principal entraram em campo ás 16h00min. O Benfica com Bastos (Costa Pereira), Calado (Zezinho) e Arthur (Calado); Pegado, Alfredo e Ângelo; Palmiro, Coluna, Águas, Calado (Salvador) e Cavém. Já o Bahia peleou com Cavezali, Calmon e Chagas; Bombeiro, Marivaldo e Florisvaldo; Biriba (Frader), Aduce, Rui Tanus (Evandro), Careca e Olício (Carlito).
Águas (Benfica) abriu o marcador logo aos cinco minutos, acentuando o receio dos Diários Associados. No entanto, Aduce empataria pouco depois e, Careca, “viraria” o jogo antes do fim do primeiro tempo.  O intervalo foi de muita alegria para os baianos, que cresceria quando o EC Bahia, aproveitando a ofensividade dos portugueses desde o início, amplia com Rui Tanus. De nada adiantaram as pressões benfiquistas, a sorte estava neste dia com o tricolor, que ainda “fecharia o caixão” da goleada com Biriba aos 19 minutos. Naquele dia, que olhasse para o placar do Dique não acreditaria no que estava vendo: Bahia 4 X 1 Benfica. Ficou nisto até o fim.
O Diário de Notícias fez um escarcéu, dando amplo destaque para a vitória do “misto” tricolor contra o esquadrão benfiquista. A maior derrota de sua excursão pôs em polvorosa os portugueses, que passaram a dar muito mais atenção ao segundo jogo, que seria realizado dois dias depois. Mas aí aconteceu a surpresa, com a chegada da delegação do Bahia da Europa. A torcida e a imprensa não cabiam de contentes. Se com o “misto” tinha dado de quatro, imaginem o que ocorreria com o Benfica quando o tricolor usasse o titular? Nesse dia acredito que todos por aqui se sentiam como o filme que passava no Cine Guarany estrelado por Gene Kelly, Dançando nas nuvens.
Desta forma os dois clubes entraram em campo para a revanche no dia 30 de julho com o mesmo juiz e bandeirinhas. A renda “não foi fornecida”, sendo calculada pelo Diário de Notícias em 700.000 cruzeiros. O Benfica fez algumas modificações na defesa e o Bahia manteve alguns jogadores do “misto”. Os portugueses entraram com Costa Pereira, Zezinho (Calado), Artur e Alfredo; Pegado e Ângelo; Palmiro, Coluna, Águas, Calado e Cavém. Já o Bahia jogou com Jair, Bacamarte (Rui) (Joca) e Henrique; Jota Alves, Vicente e Florisvaldo; Frader (Biriba), Wassil, Carlito, Otoney e Isaltino (Olício).

                                             EC Bahia campeão da Taça Brasil de 1959 
Mas desta vez o Benfica não daria chance ao Bahia! Logo no primeiro tempo já estava dois a zero, com gols de Águas e Cavém. No segundo tempo preferiu administrar o resultado, dando margem as pressões do Bahia que chegaria a diminuir com o ponta Biriba. No outro dia o patriótico Diário de Notícias daria pouco destaque ao resultado. Quanto ao Benfica cumpriria o resto da sua excursão mais animado, aonde iria ainda a Fortaleza e a Belém, e depois, aos Estados Unidos. Até o fim de nosso querido estádio, cinquenta anos depois, nunca mais veríamos a classe de Coluna e Aguas, e o garbo de Costa Pereira.
Um novo encontro entre baianos e portugueses estava marcada para alguns meses depois, quando o EC Bahia, desfrutando sua condição de campeão da I Taça Brasil, voltaria a Europa, passando por Portugal. Mas aí as coisas seriam bem diferentes. O adversário foi o Sporting que não teria perdão, enfiando cinco a um.
O Diário de Notícias local (26/10) porém atacou de novo. O árbitro teria sido “fraco”, truncando faltas e “prejudicando o Bahia”. Lembrou que Léo tinha aberto o placar no primeiro tempo e que só após a expulsão de Alencar, ainda no primeiro tempo, é que as coisas começaram a mudar com um gol de Seminário. Este repete a dose no início do segundo tempo quando o juiz teria anulado um gol de Biriba por impedimento. Mesmo assim, o jogo só teria se resolvido nos onze minutos finais, quando foram anotados mais três gols pelo time sportinguista.
Agora, porém, foi à vez do Bahia querer revanche, conseguindo novo jogo no encerramento da excursão á Europa. Na oportunidade o dirigente Osório Vilas Boas se notabilizou pela diplomacia, comparecendo, por exemplo, ao Conselho Municipal de Lisboa para entregar uma moção da Bahia aos portugueses. Não conseguiria recuperou o tricolor baiano da goleada mas, pelo menos, o empate de dois a dois causaria melhor impressão aos portugueses.
                                                                 Pelé e Euzebio
Esta história só acaba em setembro/outubro de 1962 quando da disputa da Copa Intercontinental, que no Brasil se chama Mundial de Clubes.  Acompanhei pelo rádio cada momento dos dois jogos Santos X Benfica, e foi aí que conheci Euzébio. O primeiro era o clube que meu pai torcia em São Paulo. Naquele tempo era assim. Tendo em vista o papel secundário que o esporte do estado tinha no país, os baianos costumavam ter “três times”, um na Bahia, um no Rio e outro em São Paulo. Meu pai era Vitória, Botafogo e Santos, e seus filhos, naturalmente, também.
A crise política brasileira se ampliava e nós só pensávamos em futebol. O jogo do Maracanã foi emocionante, com grande atuação dos dois clubes. Naquele 19 de setembro Pelé e Cia enfrentavam alguns dos jogadores que tiveram na Bahia dois anos antes. O primeiro tempo se encerraria com a vantagem santista mediante gol de Pelé. No segundo tempo o meia atacante Santana empataria, mas logo Coutinho, em admirável tabelinha, faria voltarmos novamente á frente. O jogo só seria decidido nos últimos minutos com dois gols seguidos, de Pelé e Santana, fechando o escore em três a dois para o Santos. 
Mas os acontecimentos mais notáveis estavam guardados para o Estádio da Luz na noite de onze de outubro. A equipe benfiquista precisava ganhar e, por isso, desenvolveu um jogo ofensivo desde o início da partida. Não tomou cuidados especiais com o ataque do Santos que esteve iluminado, particularmente Pelé, que marcou três gols entre eles um, que se inscreve nos anais da história, em que driblou toda a defesa portuguesa. Quando os encarnados acordaram já estava cinco a zero, descontando apenas no final. Lá em casa não podíamos acreditar no que tinha ocorrido, 5 X 2, em pleno Estádio da Luz. Acho que foi o maior jogo da história. Pelo menos, de todos os que assisti pelo rádio. 

·         Agradeço ao Setor de Publicações Raras da Biblioteca Central do Estado – BCE pela Coleção dos jornais Diário de Notícias e Estado da Bahia e ao site www.sobre.com.pt. Sou grato também as imagens dos blogs brasil.gov.br, agentedesportivo.com, pfutebol.com, oseculoxx.blogspot.com e esporte.uol.com.br.