segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O bicho papão do Curuzu na Fonte Nova

       
Quando eu era pequeno minha mãe me falou pela primeira vez do bicho papão. Depois eu vim saber que era uma lenda muito antiga, do tempo do autoritarismo da educação infantil. Uns dizem que vem de Portugal, mas em regiões da Espanha também tem. Ainda no meu tempo se usava o medo pra substituir a pedagogia. A intenção era criar um ser abominável pra assustar as crianças desobedientes. Assim minha saudosa mãe falava do “boi da cara preta”, do monaquite”, do “lobo mau” e do “bicho papão”.
O boi agente tinha uma ideia como era, pois está no folclore nordestino. O monaquite era um diabinho pequeno que se dizia que vinha puxar o pé das crianças. E o bicho papão nunca soube bem como era. O que eu sei é que funcionava, peguei o costume até adulto de olhar pro pé da cama pra ver se ali não havia um monaquite.
Esta tradição estendeu-se para o esporte. Tanto que há um clube que adotou o apelido de “bicho papão”, o Paissandu SC, creio que de tanto que os adversários se assustavam com o seu desempenho no estádio Leônidas de Castro do bairro do Curuzú em Belém do Pará. 
                                                                    Ih, que medo!
Baianos e paraenses tem uma relação histórica extensa no campo esportivo. O Clube do Remo já disputou torneios aqui, e até ganhou um deles, nos primeiros tempos da Fonte Nova. A Tuna Luso esteve nos visitando em jogos oficiais e o Ananindeua foi um dos “monstros” que aqui apareceram quando o tricolor frequentou a Terceira Divisão. Mas o assunto do artigo de hoje é o Paissandu.
O clube é um dos que desenvolveu seu intercambio com os baianos após a criação do Campeonato Brasileiro quando a politicagem da CBD permitiu que “todo mundo” participasse e se difundiu o ditado “aonde a ditadura ia mal um time no nacional”. A primeira ocasião que jogou na Fonte Nova foi no terceiro campeonato, em trinta de novembro de 1973.
O bicho, quando chegou aqui, teve uma identificação imediata com Salvador. É que foi fundado num dia dois de fevereiro, data destinada á celebração de Iemanjá. Além disto, aqui também há uma localidade chamada Curuzú. Não é um bairro como em Belém, mas uma rua que se localiza no grande bairro negro da Liberdade. A coincidência é que no ano seguinte a sua vinda criaram a maior referência do Curuzú de Salvador, o bloco Ilê Aiyê. Na oportunidade, porém, o temido “papão” acabou virando papinha ao ser derrotado pelo EC Bahia por convincentes três a zero.
                                         É mole o que agente aguentava quando criança?

O jogo teve 13.534 torcedores pagantes, num tempo em que ainda jogava no tricolor, dirigido por Evaristo de Macedo, o zagueiro Roberto Rebouças, e o time tinha ainda o goleiro Buttice, o ponta Thirson, Baiaco e Fito no meio de campo, e uma dupla de área formada por Picolé e Douglas. Os gols foram de Thirson, Baiaco e Fito. Já o Paissandu, cujo técnico era João Carlos de Castro, tinha Reginaldo no gol, os meias Chiquinho e Roberto Bacuri, e um ataque formado por Cabecinha, Ivair e Jair Bala.
Mas os paraenses gostaram daqui e logo no próximo ano já viriam duas vezes, em março e em junho. Na primeira, ainda contra o tricolor, desambientado com o gramado da Fonte Nova, nova derrota, agora pelo menos por dois a um. Mas na segunda, “engrossaria” o jogo com o esquadrão de aço em plenas festas juninas, arrancando o empate em um gol. Bem feito, quem mando o Bahia jogar no dia consagrado a São Pedro?
Depois disso passaria sete anos sem frequentar a Fonte Nova. Esta já estava com saudade daquele bicho que chamavam de “papão”, mas ela não achava tão horrível assim. Diga-se de passagem, que na ocasião a Fonte já era uma mulher feita de 41 anos e não gostava que falassem de sua idade. Assim não surpreende que tenha se interessado até por um “papão”, pois como se sabe muitos admiradores de estádios preconceituosos preferem dois de vinte a um de meia idade.
                                                          E esse bicho feio e mau aí?

Enfrentaria o EC Vitória, pela primeira vez, em sete de março de 1981. Na ocasião mostrou de novo porque era considerado um “bicho papão” empatando em um gol no jogo que foi assistido por 9.682 torcedores pagantes. Na época o Vitória era dirigido por Lanzoninho e tinha Gelson no gol, os folclóricos “espanadores” Xáxa e Zé Preta na zaga, o meia Carlinhos Procópio, e os atacantes Tadeu Macrini e Zé Augusto (que fez o gol). Os paraenses eram dirigidos por João Avelino (lembram-se?) e tinham jogadores como o goleiro Mário Fernandes, o zagueiro Lineu, e tinha um ataque onde estavam Careca, Patrulheiro e Paulo Rodrigues (que faria o gol do “bicho feito”).
Voltando a se aproximar da Bahia o “papão” viria aqui no próximo ano, agora para enfrentar o tricolor, que colheria uma derrota em plena Fonte Nova por três a dois. Era a primeira vez que “o bicho ficou solto” no nosso histórico estádio que teria um público de 16.456 pagantes, marcando Isidoro, Cabinho e Marcinho para os paraenses, enquanto Osny e Zé Augusto assinalavam para os baianos.
O tricolor ainda tinha Ronaldo, que agora é comentarista, no gol, Emo, Helinho e Léo Oliveira formavam o meio de campo, e o folclórico Dadá Maravilha se fazia presente no ataque. Já o Paissandu tinha Sergio Gome no gol, Edésio e Luiz Augusto no meio, e um ataque insinuante, onde haviam jogadores como Cabinho e Careca.

Não sei por que a recém fundada CBF foi tão ingrata com a amizade entre baianos e paraenses. Levaria dez anos para um clube paraense voltar a atuar por aqui, o Clube do Remo, um dia depois do meu aniversário de 43 anos, 25 de abril de 1991, num jogo que assisti pela Segunda Divisão que terminou sem gols. Mas o Paissandu mesmo só apareceria na Fonte Nova doze anos depois do último jogo, em 26 de abril de 1992. Mas o bicho não era o mesmo. Estava envelhecido e mancava de uma perna. A própria Fonte Nova quase não o reconheceu, pois estava sem dentes. Que diferença daquele bicho guapo, com físico atlético que tinha olhado para ela no passado.
Não foi á toa que pagaram ingresso apenas 1875 torcedores. Estavam esquecido do bicho que estava inclusive nem tinha mais garras. O resultado não se fez esperar, quatro a zero pro tricolor. Voltaria no próximo ano, mas daria o azar de enfrentar o rubro negro, vice campeão brasileiro neste ano, perdendo de cinco a dois (27 de outubro de 1993) perante 12.927 pagantes. Na ocasião o time do “papão” era dirigido por Marinho Perez, e integravam seu elenco jogadores como Dema e Preta no meio de campo, e a dupla Edil e Edelvan no ataque.
O Vitória tinha o saudoso goleiro Dida, o zagueiro João Marcelo, o lateral Rodrigo, um ótimo meio de campo formado com Gil Sergipano, Roberto Cavalo, Giuliano e Paulo Isidoro, e os atacantes Alex Alves, Claudinho e Pichetti. O tricolor contava com o saudoso Maílson (que estaria no auge de sua forma fazendo inclusive um gol), Uéslei, Lima e Paulo Rodrigues na “meiúca”, e Marcelo Ramos no ataque, que não teve medo do bicho e fez três gols.
                                             Olhem o que tinha na roupa do bicho!

Os paraenses perceberam que do jeito que ia estaria ameaçada uma relação de amizade de muitas décadas. Foi aí que deram uma recauchutada no “papão” pra que ele pudesse meter medo de novo, se não nas crianças (que atualmente não acreditam mais nele), mas, pelo menos, nas defesas adversárias. Foi nesta ocasião que o Paissandu voltou a jogar na Fonte Nova em 18 de agosto de 1994.
Desta vez esta achou algo diferente no bicho. Ainda capengava, mas tinha uma bengala elegante que lhe proporcionava certa agilidade. E, seu esgar, mas parecia uma máscara, dessas dos filmes americanos de terror. Como ninguém tinha mais medo do “papão” acorreram a Fonte Nova apenas 4.714 torcedores. Mas foi aí que o bicho recuperou a admiração (e o medo) dos torcedores baianos. Nesse dia os defensores papudos não permitiram que os atacantes do Vitória se aproximassem da área só fazendo caretas assustadoras. O resultado é que houve expulsões e um monte de cartões amarelos, e, ao final, um a zero para os paraenses do técnico Tata.
Estes jogaram com: Ferreira, Dutra, Augusto, Edson Santos e Marcos; Chiquinho (Zé Roberto), Flávio Goiano (Cláudio), Oberdan e Rubens César; Antônio Carlos e Mirandinha. Já os rubro negros do uruguaio Sérgio Ramirez, estiveram com Roger Noronha, Rodrigo, João Marcelo, China e Roberto; Bebeto Campos (Fabinho), Durado, Giuliano e Ramon (Everaldo); Dão e Pichetti.

                                                           Vejam bem a casa do bicho!

Os torcedores ficaram tão alegres com a volta do agora não tão velho “papão” que nem se importaram com sua nova derrota para o tricolor por três a zero três meses depois. Era o dia dedicado a Zumbi dos Palmares, vinte de novembro de 1994, o maior papão da nossa história, que levou a tremer de medo durante anos os colonizadores portugueses e as autoridades do Brasil Colonial.  Não havia um dia melhor pra dedicar a despedida do “papão” da Fonte Nova e 15.799 torcedores pagaram pra ver o bicho pela última vez.
O “papão” estava definitivamente integrado á história da Fonte Nova e era o mesmo Tata que dirigia a equipe que formaria nesse dia com Maurício, Cláudio, Augusto, Edson Santos e Biro-Biro; Dutra (Edmilson), Chiquinho, Flávio Goiano, Oberdan e Rogério Lage; Mirandinha. Já o tricolor de Joel Santana atuaria com Washington, Odemilson, Ronald, Samuel e Israel; Lima Sergipano (Nilmar), Paulo Emílio, Raudnei (lembram-se? Depois entrou Rivelino) e Souza; Marcelo Ramos e Uéslei.
Conta-se que hora da sua primeira morte, a Fonte perguntou por ele. Já faziam treze anos que o Paissandu não nos visitava e, como se sabe, o número é supersticioso, bem conveniente aos papões. Além do mais, até na morte o bicho foi solidário com a Fonte Nova passando a disputar a Terceira Divisão naquele ano. Hoje, se já não mais existe a Fonte Nova, mas pelo menos sobrou o “papão”. Onde quer que a Fonte Nova esteja ela torce pra que o único bicho que ela se interessou volte a seus grandes dias, onde assustava os clubes do Brasil e até da América do Sul.

·         Agradeço as informações dos sites Brasil escola, Futipédia, Wikipédia e do Paissandu, e as imagens dos blogs:medicinaufrj.wordpress.com,desilvasp.blog.uol.com.br,chili-verde.blogspot.com,bibliotecahw.wordpress.com,ritaventura.wordpress.com e domau.blogspot.com.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Um ano de quadrilhas na Fonte Nova


Ontem fui assistir a um filme, O turista, que me trouxe muitas recordações. Pra não perder o costume, durante a estirada com Cybele e meus amigos Wellington e Raimundo, aproveitei pra colher subsídios pro artigo de hoje. Na verdade o filme não é lá essas coisas. É uma aventura de intrigas e romance onde o Departamento de Crimes Financeiros da polícia persegue o misterioso Alexandre Pierse, e seu roteiro inverossímil presta-se mais a enganar o público do que aos perseguidores. Segue a receita de outros como Comer, rezar e amar. Esta é muito simples: pega-se uma atriz famosa(no caso Angeline Jolie) e roda-se cenas em cidades muito visitadas. O de ontem tem sua parte inicial rodada em Paris mas o grosso se passa em Veneza.
Posso dizer que o modêlo funcionou conosco, pois o escolhemos justamente por ter seu pano de fundo na cidade onde estivemos por quatro dias em junho de 2009. E não nos decepcionamos com a bela fotografia do filme. É claro que fomos num trem mais “peba” que o de Angelina Jolie e Johnny Deep. Mas eles chegaram na mesma estação ferroviária do que nós, a Santa Lucia. Ao ver as suas escadas e os pontos de embarque dos vaporettis lembrei-me das dificuldades que tivemos com o monte de malas que Cybele levou.
Mas a gloria mesmo foi ver os protagonistas do filme chegarem no hotel. É claro que não ficamos no mesmo que não é pro nosso “bico”, mas ficamos alí pertinho, do outro lado da ponte de Rialto no Gran Canal. Adoramos ainda rever a Piazza San Marco, o cais do aeroporto, as lanchas(que não tivemos dinheiro pra pegar) e as gôndolas(onde morri de medo num passeio romântico),entre uma e outra perseguição nos telhados e em alguns canais da cidade. Foi realmente uma sessão saudade! Mas vamos ao que interessa, o artigo de hoje sobre o torneio realizado na Fonte Nova no período de festas importantes importantes para os cristãos.
                                                                  Ah que delícia!
As festas juninas estão no calendário ocidental desde a tradição pagã.  O período em que elas ocorrem sempre foi consagrado á Igreja.  Hoje está tudo diferente. Poucos lugares preservam as tradições, e já se esqueceram do São João de antigamente. Chega-se ao cúmulo de reunir o pessoal em volta de um palco ou de um trio elétrico e tocar um “forró” estilizado, adaptando as músicas da festa ao axé music.
Até a formação musical tradicional desapareceu. Primeiro foi-se o triângulo, depois o zabumba, substituídos pela bateria e percussão, e agora até o acordeon está sendo substituído pelo órgão. Nas barracas é a mesma coisa. Não se acha os alimentos e bebidas tradicionais comendo mesmo o que se compra nos supermercados. Proibiram os balões e os fogos são rigidamente controlados alegando questões de segurança.
É preciso falar de um tempo onde o São João era uma festa solidária e familiar. Era uma época onde se entrava livremente na casa de desconhecidos pra tomar licor e comer paçoca, pé de moleque, arroz doce, canjica, amendoim torrado, milho, rapadura e doce de abóbora. E ninguém tinha medo dos visitantes! Na ocasião não se servia cerveja mas nunca faltava jenipapo e os vizinhos competiam fazendo infusões com outros sabores. Minha sogra fazia o aluá porque não tomávamos quentão nem gostávamos muito de vinho quente.

Mas era na porta de casa mesmo que a coisa rolava. Não éramos muito de enfeitar a rua mas havia gente que se encarregava de colocar as bandeirolas. Fazíamos uma fogueira onde colocávamos o milho e o amendoim  pra assar, se tirava sorte (com umas mensagens bestinhas!), e se fazia simpatias casamenteiras. Algumas casas colocavam uma árvore no meio da fogueira onde havia prendas que o pessoal corria pra pegar quando o fogo apagava. Havia também o “pau de sebo” nestas ocasiões, embora este ocorresse também em outras festas. Funcionava assim, arranjava-se um pau grosso e grande, passava-se sebo de boi ou de carneiro, e depois se espetava no chão colocando no alto um bocado de presentes e doces. Aí o pessoal fazia de tudo pra subir pra tirar as coisas e não conseguia.
Meu pai comprava fogos nas casas que haviam em Agua de meninos, e tinha de tudo, cobrinha, chuvinha, busca pé, traques de massa, foguetes e adrianinos. Era uma festa lá em casa quando ele chegava com as caixas de fogos. Mas havia uma hierarquia no uso deles. Tinha os mais pesados, como fogos de artifício, vulcões, espadas, morteiros, rojões e bombas grandes só pra os adultos. Enquanto os meninos como nós só tínhamos direito aos e, ó máximo, aos adrianinos. Só fui comprar as mais pesadas quando fiquei mais velho.
Os balões eram uma festa á parte. Tinha dos grandes, dos médios e dos pequenos. De tudo quanto era material, seda, sacos de cimento e até papéis de embrulho. O espetáculo mesmo era botá-los pra subir tendo que acender a bucha que ficava na boca do balão e era feita de arame.  No meu tempo o trio que tocava era o trio nordestino. Dançávamos xote, xaxado e baião, dentro e fora das quadrilhas. Lembro-me que depois teve até concurso no “Balbininho” promovido pela TV Aratu onde os bairros participavam. 
                                                                 Olhe aí o culpado!
Sou do tempo em que se parava tudo pra comemorar o São João. Mas vi a descaracterização do São João começar também no futebol. É por isto que vou contar hoje o ano em que o futebol baiano desrespeitou estas conve4nções e marcou um torneio durante o São João de junho de 1960.
É claro que não era culpa da Fonte Nova. Afinal, não era ela que fazia a programação dos jogos. Dizem que ficou alguns dias sem dormir quando soube do certame que não tinha outro objetivo a não ser “caçar-níquel” antes da excursão da dupla BA-VI a Europa aproveitando que o Campeonato Baiano estava entre um turno e outro. Na ocasião foram convidados Bahia, Galícia, Ypiranga e Sport Clube Recife. 
O Galícia era o menos culpado dessa situação, apesar de na região da Galícia também se comemorar o São João. O torneio começou no dia 25 de junho, dia consagrado a São Próspero, e que cái logo após a principal festa de São João. Na rodada, entretanto, já se sentia o odor da bebida, no hálito da meia dúzia de fanáticos que compareceram. E, se isto havia nas arquibancadas, imaginem no gramado, onde houve jogadores que pronunciavam palavras sem nexo. Só não "rolava" os namoricos pois neste tempo quase não havia mulher na Fonte Nova.
Quando os times entraram em campo mas pareciam quadrilhas de São João. Só não dançaram muito juntos errando muitos passes. Na ocasião, os jogadores mais afetados com o clima joanino foram os do próprio azulino que acabaram “dando chabú” perdendo pro Bahia na preliminar por quatro a um, enquanto houve empate no jogo principal entre Ypiranga e o Sport. A segunda rodada estava marcada para o outro dia e a imprensa fez o possível pra divulga-la. Mas veio menos gente ainda embora houvessem dois clássicos nordestinos, onde Galícia e Ypiranga fizeram a preliminar de Bahia e Sport.
                                                     Agente vivia atrás desses fogos!
O Galícia continuaria em sua via crucis agora perdendo de três a zero do auri negro, enquanto o tricolor ganhava de forma convincente para os pernambucanos por três a um. O jogo terminou com o estádio praticamente ás escuras mais parecendo que Santo Antônio, São Pedro e São João fizeram uma combinação pra tirar a luz do firmamento, como observaram Herivelton Martins e Alcebíades Barcelos.
No outro dia, porém, estabeleceu-se a crise no torneio. Os pernambucanos, sem chances de levar a taça, não aceitaram fazer a preliminar com o ex-demolidor de campeões. A discussão acabou rendendo e o torneio acabou se encerrando apenas no dia 30 de junho, consagrado aos primeiros mártires da Igreja, que foram acusados do incêndio de Roma. O que era pra ser rodada dupla acabou se reduzindo a apenas um jogo, onde o tricolor só queria incendiar a sua torcida e o auri negro ganhar o primeiro título no estádio. A partida foi muito disputada, sendo que nas arquibancadas havia um duelo a parte de rojões morteiros e fogos de artifício. Mas no final o placar acusou Bahia dois, Ypiranga zero.

Teve gente que saiu “bebum”. A própria Fonte Nova teve que provar do licor que escorria da própria tribuna de honra. Mas, o outro dia era de branco e todo mundo tinha de trabalhar. Foi assim a festa do futebol e São João.

·      Agradeço aa informações dos sites RSSF Brasil, Luna e amigos, educação.uol.com.br e Cinepop e as lembranças de Wellington, Cybele, Thelma e Raimundo. Sou grato também as imagens dos blogs:lenilsonazevedo.com, cabenoseubolso.wordpress.com,acessa.com,blogalize.net,photoindustrial.com,revistadecifreme.com,prdagente.pr.gov.br e fashionbubbles.com. 

sábado, 29 de janeiro de 2011

No tempo em que a Fonte Nova ia ao salão

Espelho, espelho meu, diga se existe um estádio mais bonito do que eu!

                                                                                           A vida sem vaidade é quase insuportável.
                                                                                                                                              Leon Tolstoi
Quero dar meus parabens aos quarenta visitantes do meu blog no Egito que, certamente, devem estar na linha de frente das manifestações pra derrubar a ditadura de Hosni Mubarak. Aproveitem pra mandar dizer alguma coisa! Infelizmente ainda não tenho acessantes da Tunísia pra dizer o mesmo. Bem, mas vamos ao assunto de hoje, os jogos internacionais na Fonte Nova. 

Creio que nos artigos postados neste blog conseguimos humanizar este monumento que foi a Fonte Nova. Vimos que ela, ao longo de seis décadas, chorou, sofreu, senti raiva, vibrou, da mesma forma que os torcedores do estado. Quisemos assim mostrar a identificação que ela, como mulher, tinha com o povo da capital da Bahia.
Hoje vamos contar um segredo do estádio, os dias e as noites onde ela incorreu naquele que é considerado o mais grave dos pecados capitais, a vaidade. Gente, eu me permito discordar do pessoal que fala mal da vaidade. Fui ler uma penca de escritores famosos e percebi que eles “metem o pau” com vontade neste nobre sentimento confundindo-o com o orgulho e até com a corrupção, como faz Machado de Assis.
Tenho mais concordância com Gustave Flaubert e Leon Tolstoi com a maneira de encarar a questão. Aliás, vamos ser sinceros, no começo a Fonte Nova não tinha esse sentimento, que a pessoal acha digamos, pouco nobre. Mas ficou assim de tanto ver certos dirigentes, juízes e jogadores se comportarem. Aí ela foi reclamar com a federação e o órgão responsável pelo estádio. Não entendia porque não havia espelhos no estádio. Seria porque tinham vergonha do que viam? E, se espelhos como ela poderia se admirar? Assim ficava a mercê dos elogios que lhe eram feitos, geralmente, por quem vencia.

Durante muito tempo a Fonte Nova viveu de campeonatos baianos. Era o feijão com arroz do estádio tendo em sua vida abrigado cinquenta e sete. Torneios nem é bom falar, foram tantos que nem mais se lembrava. Já tinha assistido dezenas de vezes todos os clubes da Bahia jogar. E, quando começaram os certames nacionais, se acostumou com os grandes clubes brasileiros. Até com seleção brasileira, que jogou aqui diversas vezes, ela se ambientou.
Só com uma coisa ela nunca se acostumou e ficava toda excitada quando ocorria: os jogos internacionais. Os dirigentes esportivos nunca entenderam o prazer que a Fonte Nova sentia quando chegava um clube estrangeiro pra jogar. Esses jogos eram pra ela um verdadeiro ritual. Logo de manhazinha se banhava repetidas vezes nas aguas do Dique do Tororó deixando correr devagar a agua por suas arquibancadas. A seguir ia ao salão pra fazer as unhas, tirar as cutículas, e fazer o cabelo onde, não raro, colocava apliques. Nestas ocasiões lavava, secava e escovava e, ás vezes tingia seu vasto gramado.
As partidas eram uma atração á parte. Quem prestava atenção ao seu comportamento via quando ela se deliciava com o sotaque dos “gringos”, com a forma de passar a bola, com o jeito gentil de conversar, e até vibrava (naturalmente escondido) com os gols que faziam.
Sempre teve esta paixão escondida no mais recôndito do seu ser. Ao fim da primeira década de funcionamento, ainda menina, assistia com empolgação os relatos dos jogadores e dirigentes das primeiras excursões a Europa dos clubes baianos. Nossa, jogaram em Londres, Paris, Moscou! Nunca a deixaram viajar, pois estava sempre ocupada sediando jogos, e só conhecia o Big Bem, a Torre Eiffel e o Kremlin de fotografias!

Só no fim da sua primeira década de funcionamento é que chegariam os primeiros clubes estrangeiros. Na época tinha ainda nove anos e viu o Benfica e o San Lorenzo de Almagro. A Fontinha vibrou ao receber o primeiro, honra e glória do futebol mundial que iria conquistar dois títulos de campeão europeu. O clube esteve na Bahia no auge de seu prestígio, inclusive como campeão português, embora não fosse tão feliz em sua temporada no Brasil.
Teve certa decepção com o clube português. Primeiro, por seus jogadores terem pouco sotaque de maneira que entendeu praticamente tudo o que eles disseram. E, segundo, por sofrerem a maior goleada no Brasil, justamente pro expressinho tricolor, por quatro a um. Mas, mesmo assim, vibrou com a atuação de grandes craques como Costa Pereira, Coluna, Águas e Cavém. Aceitou logo a revanche pedida pelo clube, que desta vez, venceria o time titular do EC Bahia que havia chegado naqueles dias da Europa, por dois a um.
Naquele ano a Fontinha se engalanou outra vez, pois, ainda menina, iria participar de uma Taça Libertadores da América. Na ocasião receberia o San Lorenzo de Almagro do veterano craque Sanfilippo. O Bahia havia perdido a primeira partida em Buenos Aires por três a zero e perseguia um resultado praticamente impossível em casa, golear os argentinos por quatro a zero. Na ocasião o pior aconteceu, enquanto a Fontinha olhava inebriado os passes dos argentinos a bola ia entrando na meta tricolor tornando ainda mais difícil a tarefa. Sua desatenção seria culpada da pouca serventia da vitória tricolor por três a dois.

Levaria muitos anos pra vir novo clube estrangeiro na Fonte Nova. Ela cansou de reclamar com os dirigentes. Debutou nos seus quinze anos, completou maioridade simples e nada. Aí resolveu ameaçar uma greve que seria deflagrada quando completasse a maioridade definitiva aos 21 anos.  Aí os dirigentes resolveram comemorar esta importante data realizando, inclusive, um grande torneio com Fluminense, Grêmio Porto Alegrense, Vitória, e a inesquecível equipe do River Plate.
Foi um “choque internacional” pra Fonte Nova que viu três jogos do clube argentino, mas que, não ficaria com o título que iria para o Rio Grande do Sul. A Fonte Nova, agora definitivamente de maior, engalanou-se pra receber os hermanos que estreariam contra o EC Vitória. Os rubro negros, que seriam campeões naquele ano, até que surpreenderam, mas acabaram por se render a qualidade de atacantes como Alonso, Martinez, Moretti e Ghizo que venceriam por dois a um. Os argentinos ainda empatariam com o Fluminense e perderiam pelo escore mínimo para a grande equipe dirigida por Oto Glória do Grêmio onde jogavam o goleiro Jair, os laterais Espinosa e Everaldo, o volante Jader e o ponta Loivo, autor do gol do título.
A comemoração da maioridade da Fonte Nova foi à única da história que seria pra valer. Também a Fonte Nova estava linda e viçosa na ocasião. Tinham até lhe feito proposta de casamento dando-lhe um anel superior. Foi por isto que os dirigentes trouxeram a Mini Copa pra Salvador. Enganou-se quem pensou que foi pra comemorar o sesquicentenário da chamada independência ou pra capitalizar pra ditadura a conquista da Copa do Mundo de dois anos antes no México. Na verdade, foi pra cortejar uma Fonte Nova no auge de sua forma e, que agora, de maior, podia dirigir carro, votar, tomar financiamento, e otras cositas, mas.
                                                                Benfica em 1960
A Mini Copa teve seis partidas na Bahia, mas os jogos foram uma enganação. Deu pra notar os desfalques nas seleções que aqui compareceram e, o pior, estava mesmo reservado para um estranho jogo França 5 X 0 na CONCACAF, que era um amontoado de jogadores convocados ás pressas nos países da América Central! Pra vocês terem uma ideia, os torcedores baianos ficaram tão insatisfeitos que deixaram o estádio ás moscas durante a copinha ganha pela seleção brasileira que, por sinal, não “deu as caras” por aqui.
Depois daí levou cinco anos para um novo jogo internacional na Fonte Nova. E só ocorreu quando esta estava ameaçando de novo uma greve. Não adiantou as desculpas de terem sido realizadas seis partidas na copinha, pois não valia. Aí acertaram o San Lorenzo pra voltar a Bahia. Era o dia 28 de junho de 1977 e a Fonte Nova se preparou como se fosse a um casamento.
Até que não deu tanta gente, pois, afinal de contas, foi um jogo amistoso. Mas, quem assistiu à partida naquele dia notou que a Fonte Nova, agora uma mulher feita com seus 26 anos, estava linda. Suas arquibancadas reluziam. O gramado estava fofinho, e a Tribuna de Honra estava cheia de corbeilles que seus amigos-estádios haviam enviado. O San Lorenzo não era mais aquele mais tinha ainda uma boa equipe que empataria sem gols com o Bahia.
Vendo que a Fonte Nova já era uma mulher feita os dirigentes resolveram não mais deixar passar tanto tempo sem jogos internacionais. Dois anos depois trouxeram a própria Seleção da Tchecoslováquia em excursão ao país. O jogo foi em quatro de fevereiro de 1979 e nosso estádio não continha sua emoção. A esta altura havia visto de tudo, mas não uma seleção europeia jogar.
                                                             River Plate em 1972
Aqui pra nós já a esta altura era uma mulher madura e não queria que dissessem a sua idade, era a crise dos quarenta anos. Nesse dia recebeu várias equipes do salão que escovaram os cabelos do gramado, as unhas das pilastras e os cílios das torres de iluminação. De tarde a Fonte Nova estendeu um tapete vermelho pra entrada dos torcedores que nunca tinham visto aquilo. Nesse dia não faltou agua no vestiário nem lugar no estacionamento. Não entendia nada o que os tchecos falavam, mas era tudo o que sonhava. Ah aqueles passes, aquela delicadeza em rolar a bola... isto não era coisa de baiano! Aliás, os próprios jogadores tricolores não entenderam o que eles gritaram no passe que resultou no único gol da Tchecoslováquia levando-a a vencer os baianos.
No ano seguinte a Fonte Nova ficaria chateada. É que o papa viria a Salvador e sequer a visitaria. Na ocasião ficou decepcionada pois soube até que uma missa seria realizada no estádio. Logo ela que se disse tão católica! Passou o tempo e nada de jogo internacional. O Brasil estava preocupado com outra coisa, lutava pra ver se as Diretas Já saíam, queriam terminar com a ditadura militar. Mas aqui teve que ser feita uma inflexão pra dar atenção á Fonte Nova. Desta vez começaria a cumprir sua ameaça de greve. Não permitia mais que lavassem as arquibancadas, nem que pintassem seus muros, nem muito menos o corte do gramado. A situação chegou ao ponto dos torcedores não verem mais a bola que sumia no campo.
Aí resolveram promover um amistoso com o Kamel da Alemanha. Os visitantes do meu blog deste grande país vão me desculpar, mas, decididamente, este não é um clube dos mais famosos do país. Mas a Fonte Nova teve que engolir. Afinal, já não podia pedir tanta coisa do alto de seus 43 anos quando o pessoal que antes a cortejava buscava estádios mais novos. Foi no dia 27 de maio de 1984, quando não havia mais esperança de eleger o presidente da apregoada república, que o EC Vitória enfrentaria os alemães.

O argentino José Sanfilippo que atuou no San Lorenzo(1953-1963) e mais tarde jogaria no Bangu e no Bahia. Voltaria para o San Lorenzo mas se aposentadoria no ano anterior daquele em que o clube joparia de novo na Fonte Nova.

A Fonte Nova até que se divertiu muito com a partida. É certo que foi ao salão, marcou com blush as pistas de atletismo, tirou o lixo da piscina e do ginásio, e decidiu que não ia faltar cerveja gelada nos bares. Até os ambulantes ganharam um uniforme. Chegou a vibrar com o “gol de honra” alemão em sua derrota para o rubro negro por três a um.
No outro ano outra enrolação, digo, anunciaram a comemoração dos 44 anos da Fonte Nova e, dizendo atender ao seu desejo, trouxeram um clube internacional. Assim, convidaram o... Aarau para a festa. Peço desculpa aos suíços que visitam meu blog, mas essa foi de lascar. É que ninguém que foi ao estádio no dia 22 de janeiro de 1985 já tinha ouvido falar dele! Poxa, a Fonte Nova merecia uma homenagem melhor, foi sacanagem!
A promoção gerou muita gritaria da torcida tricolor cuja preocupação era com o assumimento da presidência do país pela “raposa” Tancredo Neves. Mas o estádio era muito generoso e não guardava rancor. Só não gostou da divulgação de sua idade! Terminou se aprontando pra festa na qual, se não compareceu muita gente, pelo menos teve bolo, presentes e sopraram velinhas que a Fonte Nova só aceitou que colocassem uma vela.

O final da década presenciaria os últimos jogos internacionais da Fonte Nova. Em 1989 seria a vez de o estádio voltar aos velhos tempos e participar pela segunda vez de uma Taça Libertadores da América, agora ás vésperas de completar cinquenta anos. Sua glória foi entre março e abril quando receberia três visitas internacionais pra jogar contra o EC Bahia, o Marítimo, o Tachira da Venezuela, e o Universitário de Lima. Dessa vez não houve nem como reclamar contra os dois primeiros que ninguém tinha visto “mais gordo”, afinal de contas era a Libertadores, né!
A Fonte Nova não se continha de satisfação em receber o maior torneio das Américas. Ela mesma foi pegar no balde e no pincel pra dar uma “recauchutada” geral na sua aparência de 49 anos. Não tinha quem segurasse a sua vaidade neste dia em que foi por duas vezes ao salão onde, aqui pra nós, teve que utilizar um “pistolão” pra furar a fila do! O próprio Paulo Maracajá apelou pra sensibilidade dos esteticistas!
No dia 17 de março chegaria o Marítimo aqui, caindo por três a dois. Logo na outra semana seria a vez do Tachira, goleado por quatro a um. E, por último, em treze de abril, viria o forte Universitário, que baquearia por dois a um. Quanto ao tricolor até que passaria de fase, mas, como a Fonte Nova não se interessou por jogos com clubes nacionais, esbarraria no Internacional (RS).
  
                    O papa que não rezaria missa na Fonte Nova. Será que já estava prevendo o fim?
A despedida dos seus adorados clubes estrangeiros seria neste ano, em 19 de agosto de 1990. Na oportunidade o EC Vitória foi prestar uma homenagem a cidade em que a seleção brasileira ficou hospedada na Copa do Mundo de vinte anos antes, trazendo o Guadalajara pra jogar aqui. Os outros estádios telefonaram pra Fonte Nova pedindo atenção especial pro time mexicano. Afinal eles tinham sido muito bem recebidos pelo colega-estádio de lá onde os brasileiros ganharam todas.
A Fonte Nova, estando pra completar cinquenta, nem queria saber de falar de idade. Abriu a tribuna de honra para os visitantes, Veio até os novos amigos-estádios Pituaçu e “Barradão”. Estava linda de morrer (ih, não devia ter usado esta palavra!). Até parecia que previa que este seria seu último jogo internacional. Como estava muito ocupada neste dia não pode ir ao salão. Assim foi uma romaria de todo tipo de profissional de estética na Fonte Nova. Vieram pedicuras, manicures, cabelereiros, massagistas e até dermatologistas! O vaidoso estádio deu um trato geral na pele das arquibancadas e assinalou todas as linhas do campo com rímel escolhendo tonalidades bem vistosas.
A partida foi de uma amizade sem par. Vitória e Guadalajara trocaram abraços e flores e parecia até um jogo de comadre, até que a equipe mexicana fez um gol e as coisas mudaram um pouco. A própria Fonte Nova teve que entrar em campo pra advertir os jogadores que a partida era comemorativa. Só aí que deixaram de “baixar o pau”, mas à custa da derrota do Vitória, que se “sacrificou” em nome da amizade dos povos. Foi assim que terminaram os jogos que tanto gostava!
Soube depois que ficou com ciúme de seus amigos-estádios Pituaçu e “Barradão”. É que seriam eles que trariam os próximos visitantes estrangeiros, a Seleção do Chile, o Olímpia do Paraguai, entre outros. Ela não entendia porque não vinham jogar nela. Sofreu até o final com a falta de seus adorados estrangeiros.

·       Agradeço as informações dos sites Futebol 80 e Futipédia. globo.com e a assistência estética de Cida e Cybele. Sou grato também as imagens dos blogs: xaferica.wegblog.com.pt,cissacosta.com.br,amngopol.wordpress.com,diaadia.pr.gov.br,osmeussonhosdourados.blogspot.com,donooctavio.com.br,novidadesdebeleza.com.br erivermillionarios.com.br   

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Os últimos dias do Guarany



                                                                                                              Está chegando o Dia Final!
                                                                                                                          Mateus, 3.10
Hoje a Fonte Nova completa sessenta anos de "inauguração". Peço que releiam os dois artigos que coloquei em meu blog sobre isto. Em homenagem falaremos hoje de um dos clubes tradicionais que jogaram nela, e, tal como ela, desapareceram. 

A Associação Desportiva Guarany foi um dos clubes tradicionais da Bahia.  Sua contribuição ao nosso futebol é tão importante que ainda é a décima equipe em número de participações em sua Primeira Divisão,  mesmo tendo disputado há 45 anos o certame pela última vez.  Eram chamados, carinhosamente, de “índios” tendo vestido a sua camisa jogadores como Roliço, Lamarone, Mila, Bacamarte e Camerino.
O clube estreou no certame baiano em 1915, embora ficasse na lanterna. Na sua trajetória não fica bem explicado como voltou a Primeira Divisão nos últimos anos da década de vinte ou retornou a ela nos anos trinta, pois a Segunda havia sido criada quando surgiu o Estádio da Graça em 1922. Mas o certo é que nestes últimos anos ganhou seu primeiro título, campeão da Segunda Divisão em 1939.
O Guará, entretanto, não utilizaria imediatamente a promoção, acumulando, entre 1942 e 1966 a sua mais longa presença entre os maiores clubes do futebol da boa terra, onde só esteve ausente por duas vezes, 1954 e 1957. É certo que nem tudo foram flores durante a sua vida pois foi lanterna do certame por oito vezes, com o agravante de nos anos quarenta, enquanto o Galícia era tricampeão, o Guarany foi “tri lanterna” (se é que isto existe!).

A grande época do clube foi mesmo durante a construção da Fonte Nova. Foi nesta fase que obteve o título que os demais clubes tiveram que engolir e os seus poucos torcedores não se cansaram de comemorar, quando conquistou de forma espetacular o Campeonato Baiano de 1946 enfrentando em “melhor de quatro” a grande equipe do Ypiranga e, após o empate em dois gols, venceu duas vezes seguidas, por um a zero e dois a zero. Esse feito histórico foi conseguido por Menezes, Bolivar e Bacamarte; Manu, Berto e Sabino; Camerino, Mundinho, Elísio, Tuta e Aurélio. Na ocasião ficou com a vice (Elísio) e o quarto lugar(Camerino) na tabela de artilheiros.
Estaria ainda “na crista da onda” em 1947 e 1949 obtendo o terceiro lugar nos certames, embora, no ano seguinte, voltasse para a lanterna. A Era da Fonte Nova marcaria uma nova época no futebol baiano profissionalizando-o definitivamente. No entanto, o intercâmbio constante dos clubes, as taxas cobradas no estádio, e o verdadeiro leilão dos melhores jogadores trazem novas dificuldades para a prática do esporte.  O futebol passa a ser cada vez mais um empreendimento caro onde a infraestrutura necessária para a disputa exige uma gestão cada vez mais complexa.
Os anos sessenta inauguram a Era da Televisão e das grandes audiências. Introduzem no Brasil os certames nacionais e começam a esboçar um calendário que prioriza a participação dos principais clubes dos estados.  Mas o golpe mortal no Guarany foi dado pela crise que assolou o futebol baiano nos anos 1965/1966. Não foi o clube que a provocara, nem sequer contribuíra pra ela, mas as restrições da federação e do CND e o boicote da imprensa atingiria decisivamente o Guarany e outros clubes.
                                              Isso é que é torcida, não são as de hoje não!
O ano de 1966 foi o segundo da crise do futebol baiano. O início do certame acentuou a crise, particularmente em função de Fluminense, Bahia, Galícia e Leônico se somarem ao boicote  com a desculpa de não jogarem no campo da Graça. O regulamento aprovado preocupou o Guarany pois previa para este ano o descenso dos três últimos colocados na soma geral dos pontos. Mas a desistência dos quatro clubes poderia ser positiva para o clube. Foi assim que encarou o campeonato que se inicia no dia cinco de junho,estreando quatro dias depois perdendo pro Botafogo por três a zero.
O jogo do dia 18 de junho era chave para a diretoria, pois enfrentaria um clube do “seu tope”, o da empresa de transportes SMTC e candidato ao rebaixamento. Na ocasião os “índios” entraram pra decidir mas foram vergonhosamente abatidos por quatro a um! A nova derrota inaugurou um clima de pessimismo no clube que o levou a perder seguidamente pro Ypíranga(0 X 3) e para o bicampeão Vitória(0 X 4). Como o Vitória já tinha faturado o turno a FBF resolve cancelar os jogos restantes, inclusive o jogo Guarany X Estrêla de Março. Este último seria o lanterninha do certame e tomaria pelo menos duas goleadas astronômicas, 10 X 0 do Vitória e 9 X 0 do Fluminense de Feira de Santana.
A situação do futebol levou a que houvesse quatro meses de intervalo entre o primeiro e o segundo turno(!),  tempo em que, pra azar do Guarany, se resolveu a crise.  O futebol baiano estava “pacificado” mas quem estava mal ficou pior. O Guarany aproveitou o tempo pra treinar a sua equipe.
                                                      E os oceanos invadiram a terra...
O segundo turno continuou o calvário do Guarany. Mas o clime de generosidade das festas de fim de ano faria com que o clube estreasse com uma sensacional vitória contra o Botafogo por três a um, gols de Djalma, Valdir e Camacâ, contra o de Pão para os diabos rubros. Logo após nova pausa retirando o embalo dos “índios” que, no retorno do certame,  dariam logo o azar de enfrentar o futuro campeão Leônico, perdendo por quatro a um.
A goleada abalaria o time que perderia ainda mais duas vezes seguidas pelo mesmo “escore oficial”, para Galícia e Vitória. O elenco se reúne para mudar a situação e quem quase paga por isto é o Ypiranga que viu o Guarany “engrossar” o seu jogo ganhando á custo pelo escore mínimo. No dia 29 de janeiro estava marcada uma partida em Feira de Santana, uma das seis que o Fluminense havia pressionado a federação pra conseguir. Um mau pressentimento assaltou os dirigentes e jogadores do Guará que viajaram pra Feira. Os touros do sertão estavam impossíveis dentro de casa e, assim, “sobrou” pro Guarany: seis a um.
Nova parada no campeonato, e o Guarany aproveitando pra acertar o time. No novo retorno, em dezessete de fevereiro, a equipe obtém a sua segunda vitória vingando-se do SMTC por quatro a dois, com dois gols de Djalma, um de Waldir e outro de Zuza, marcando Floriano e Edinho os gols da equipe do clube da empresa de transporte de Salvador.
                                    Até os céus reagiram ao desaparecimento do Guarany

Cinco dias depois, os “índios”  surpreenderiam o mundo ao empatar heroicamente com o EC Bahia em um gol. Zuza faria o gol antológico enquanto Vadinho anotaria para o tricolor. O resultado foi comemorado em prosa e em verso. Parecia que seria mantido no certame, bastando pra isto ganhar de dois concorrentes diretos a se manter na Primeira Divisão, Estrela de Março e São Cristóvão. O pior já tinha passado e o Guará havia resistido mais uma vez.
Mas pra azar do Guarany houve mais uma parada no certame, quando o clube estava embalado, por motivo do carnaval. Lembro-me que pulei como nunca na festa, indiferente ao sofrimento do velho Guará. Mal sabia eu que estava vivendo dias históricos para o nosso futebol. Veio então aquele mês fatídico de março de 1967. A torcida do Guarany, que cabia toda numa rural Willys (lembram-se?),compareceu em massa aos dois jogos finais. O jogo contra o Estrela de Março deixou má impressão. Imaginem que os “índios” pagaram todos os seus pecados pra ganhar por um magérrimo um a zero, gol de Djalma.
Mas sua sina era assim, nada seria conquistado sem sofrimento! Pelo menos é o que pensava a torcida e a diretoria, que prepararam-se então para o segundo jogo, realmente decisivo, contra o São Cristóvão. Este foi tão disputado como o anterior. Não chegou a ser uma batalha do Armagedom, mesmo porque os jogadores queriam resolver tudo sozinhos. Conseguiram, ás duras penas, um gol através de Guará, mas os gols de Edinho e Ademir levaram o time ao desespero. Nos últimos minutos instalou-se o pânico no estádio onde todos pediam aos céus a salvação do destino ingrato. O apito do juiz garantiu a permanência do time do padroeiro dos motoristas na Primeira Divisão.
                                              Olhem um torcedor do Guarany naquele dia
O Guarany havia sido crucificado e os torcedores saíram arrasados. Até quem não era torcedor do time ficou consternado com a tragédia! Na ocasião, houve quem se lembrasse das sábias palavras do apóstolo Paulo:
Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens serão egoístas, avarentos, orgulhosos, vaidosos(...), não amarão ao próximo, serão duros, caluniadores, sem domínio próprio, violentos, inimigos do bem, traidores, atrevidos, amarão mais os prazeres do que a Deus.
Carta a Timóteo 3.1-4
O Leônico ganhou o turno e a decisão contra o Vitória que parecia que só sabia jogar em época de crise. Ficou evidente para todos que se O Galícia tivesse disputado o primeiro turno o Guarany não teria descido. Quem sabe? Podia estar até hoje entre nós! Os índios” estrilaram, reclamaram mas não teve jeito!
Mas a tragédia do clube em 1966 não seria ainda o fim. Tentaria em vão durante vários anos voltar  seu lugar na Primeira Divisão. A luta começaria logo em 1967 quando o Guará não resistiu as dificuldades da Segundona e licenciou-se. Voltaria, mais preparado, em 1975 ficando em segundo lugar num certame em que, pra seu azar, só subiu o primeiro, o Redenção. A decepção levaria a nova licença que só terminaria na década de 80 quando tentou por seis vezes o ascenso, 1984,1985,1987,1988,1989,e, por fim, em 1990. Agora era mesmo o fim!

E o pior é que, na época, só os torcedores mais antigos sentiram a sua falta. Salvador vivia outros tempos, da indústria cultural e do entretenimento, uma era de futebol de massas mais apropriado ás grandes torcidas. Ainda restavam Galícia e Leônico mas estes também seriam engolidos deixando o futebol de Salvador nos próximos anos limitados á dupla BA-VI. O clube então pediu mais uma licença da qual nunca se recuperou. A última vez que ouvi falar de um Guarany foi quando li o currículo de um jogador que afirmava que jogou na sua divisão de base em 2003! Dizem que o clube está no purgatório esperando o Juizo Final.

·         Agradeço as informações e textos de Elias Oliveira, do Livro do Apocalipse, do Evangelho Segundo Mateus, e dos sites Futebol mundial, Segundo as escrituras, Wikipédia e RSSSF Brasil. Sou grato também as imagens dos blogs de chico maia, oseumessias.wordpress.com, meme.yahoo.com,versosbrazil.wordpress.com,memoriasdaliravelha.blogspot.com e baixakijogos.com.br.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Um ano extraordinário !




·     Á Natal Silvany

O ano de 1952 deve trazer muitas lembranças pros mais antigos. Nele foram lançados os filmes Cantando na chuva, de Stanley Donen e Gene Kelly, e Umberto D de Vittorio de Sica. Foi quando as eleições presidenciais norte-americanas abriram espaço para o macarthismo, um subproduto da chamada guerra fria.  Mas o que fez esse ano realmente importante foi o fato da nossa Fonte Nova ter começado a funcionar, muito depois da sua “inauguração” simbólica. Mesmo assim ainda iria levar algum tempo pros clubes escaparem de jogar o campeonato no velho campinho da Graça.
O ano começa de forma chinfrim, com o EC Bahia comemorando seu aniversário de 21 anos num jogo (!) contra a aguerrida equipe do São João de Plataforma arrasando-a por oito a zero. No dia dezesseis de janeiro seria o clube da colônia espanhola que mostraria as garras: sete a um no querido São Cristóvão. O primeiro BA-VI do ano seria jogado na Graça no dia 27 ainda pelo campeonato do ano anterior. O clássico recolheria ás bilheterias a soma de 73 mil cruzeiros e terminaria empatado em um gol. Foi um tempo pra cada lado. Na primeira etapa só deu Vitória que coroou a sua apresentação com um gol de Bionga. Já na segunda fase a situação se inverteu passando a dar Bahia que dominou o jogo garantindo o empate através de Isaltino de pênalti Na preliminar, os aspirantes do tricolor ganhariam do rubro negro pelo escore mínimo, com outro gol de pênalti, agora de Pernambuco.
O jogo, porém, teve uma novidade: a presença no apito do juiz que viria a ser um famoso locutor carioca, Mário Vianna. É bem verdade que o Diário de Notícias não lhe daria muita colher de chá. Na ocasião observaria que “se saiu regularmente, apitando em excesso”. No entanto, admitiu que o árbitro “soube reprimir a violência e aí residiu o sucesso de seu trabalho”. Três dias depois o Ypiranga faturaria o terceiro turno ao ganhar do Botafogo por quatro a dois entrando com a vantagem do empate contra o Vitória na decisão.

Entrávamos num agitado mês de fevereiro. Três dias depois do dia consagrado a Iemanjá haveria eleições na FBDT, onde ocorreria a recondução do esportista Raimundo Correia ao cargo. E, com mais cinco dias, teríamos a grande final do campeonato quando auri negros e rubro negros empatariam em um gol. Era o único título do Ipiranguinha na era da Fonte Nova, mas não liberaram a Fonte Nova, o que fez com que o clube tivesse de ganha-lo nas acanhadas dependências da Graça. Na ocasião passava no Cine Glória o filme A vingança do destino, baseado no romance de Ernest Hemingway e estrelado por John Garfield. Carlito do Bahia e Juvenal do Vitória seriam os artilheiros do campeonato com doze gols. 
A seleção baiana, que tinha sido incluída pela CBD na região Sul (?), começa a treinar para a estreia no Campeonato Brasileiro de Seleções dirigida por Sotero Monteiro que manteve a base do clube campeão. A capital do estado se torna neste mês a Meca da música recebendo a inesquecível orquestra de Tommy Dorsey e a cantora Aracy de Almeida. Enquanto isto Winston Churchill anuncia que o Reino Unido possui a bomba atômica e a Organização das Nações Unidas começa a se reunir na sua sede permanente em Nova Iorque.
Em março iríamos assistir jogos incríveis entre baianos e paranaenses que já foram motivo de outro artigo neste blog. Os torcedores que lotaram a Fonte Nova tem duas decepções neste dia. Veem a falta de inúmeras obras para a conclusão do estádio e a sua seleção ser esmagada por cinco a um. O mundo caiu em cima do técnico e dos jogadores fazendo com que em Curitiba acabem ganhando o jogo e a prorrogação (5 X 2 no computo total) levando uma classificação que ninguém mais acreditava. Durante os preparativos da seleção o Vitória aproveitaria pra realizar um amistoso caça-níquel contra o Bahia ganhando por dois a um.  

Mas pouco adiantou o esforço da seleção baiana, pois, no mês seguinte, se passaria pelos catarinenses acabaria morrendo no Rio Grande do Sul. Nesta época os clubes não aguentam mais esperar as obras da Fonte Nova e vão às autoridades pedirem que o campeonato de 1952 seja disputado na Fonte Nova. Enquanto isto vão realizando um monte de jogos “caça níqueis” na Graça, a exemplo de um torneio que reuniu Botafogo, Galícia e a dupla BA-VI, ganho pelo primeiro com o comparecimento de público abaixo da crítica.
Nesta ocasião os ingleses fazem uma sacanagem com o São Cristóvão. É que o clube divulgou na imprensa que faria um jogo internacional no estádio da Graça com os tripulantes da fragata britânica Benghead Bay quando lançaria novos jogadores. Mas, no dia marcado para a partida, quatro de maio, só apareceria seu quadro B pra jogar a preliminar fazendo com que o simpático clube alvi negro baiano tivesse de arranjar de última hora os amadores do Vila Real pra não deixar os torcedores "na mão”. O resultado é que não houve novos jogadores e o time do padroeiro dos motoristas venceu com dificuldades por quatro a três.   
Uma semana depois começa o campeonato de 1952 com o torneio início sendo realizado ainda na Graça. Na ocasião o Botafogo seria outro clube sacaneado pelas autoridades. Ganharia este ano dois torneios, mas nenhum deles seria na Era da Fonte Nova. O da abertura do certame baiano registraria a vitória dos diabos rubros contra os tricolores por três a dois.  Mas ainda daria tempo para outro torneio-relâmpago caça-níquel onde Galícia e Botafogo, de forma surpreendente, eliminariam a dupla BA-VI.  Enquanto rubro negros e tricolores se recusavam a disputar o terceiro lugar e a preliminar o time azulino levaria a taça pra casa.
                                                                 É o proprio Jesus?
É por volta de junho que o novo estádio começa a ser liberado com certa regularidade. Mas pode também ter influenciado na decisão do governador Regis Pacheco fatores terrenos e extraterrenos. Naqueles dias chegou em Salvador à imagem de Nossa Senhora de Fátima. Ela tinha percorrido o mundo e veio a bordo do navio Alcântara da marinha Real Inglesa atraindo multidões para a porta da Igreja da Conceição. Nove dias depois aportava por aqui o presidente Getúlio Vargas que mereceria uma série de homenagens. O jornal Diário de Notícias se somaria aos seus críticos, mas na ocasião lhe daria praticamente toda a primeira página.
Nessa época estavam construídas a tribuna de honra e grande parte das arquibancadas, mas o DN calculava que ainda faltava 50% das obras. Os investimentos teriam sido até agora de vinte e cinco milhões, mas a obra toda já tinha subido de orçamento pra oitenta milhões. O estádio estaria com uma capacidade de 30 mil pessoas (!). A Companhia Construtora Nacional estava terminando a as pistas destinadas ao atletismo e estimava-se que o poço de isolamento do campo estivesse terminado em julho. Imaginem o campo sequer era isolado facilitando as constantes invasões!
Quanto às entradas do estádio só deveriam estar pronto durante o transcorrer do ano, sendo uma pela Fonte das Pedras, outra pela Avenida Centenário, e a última pela Rua Canizares. Anunciava-se que o estacionamento seria de 30.000 metros quadrados e ficaria localizado entre o estádio, o Dique do Tororó e aquela avenida.  A novidade era que, tendo em vista as constantes reclamações de torcedores e da imprensa, estava sendo construído um muro de contenção de quatro metros de altura para impedir a entrada de “elementos menos escrupulosos, no caso os penetras” (DN, 4/7/1952).

Antes do início do campeonato ainda deu tempo da FBDT promover uma importante temporada... a do América (PE) na Fonte Nova! O clube pernambucano estreia com uma derrota contra o Botafogo pelo escore mínimo e logo depois disputa um torneio do qual falaremos algum dia neste blog. O que nos interessa, porém, é a segunda rodada, quando o resultado interessava pouco o rubro negro, e ocorre o clássico BA-VI.
Quem foi naquele dia na Fonte Nova não podia acreditar no que estava vendo. Afinal o leão da Barra estava invicto na Fonte Nova contra ele e foi esmagado sem dó nem piedade por seis a um! Nem bem haviam decorrido vinte minutos e já estava três a zero, com gols de Claudinho, Carlito e Tóia, quando o rubro negro equilibrou o jogo. Mas a reação tardava e só veio no segundo tempo, após novo gol de Carlito, com um gol de Bionga e um pênalti perdido por Juvenal. A inspiração de Carlito, marcando mais duas vezes, liquidaria definitivamente com os rivais. Neste dia o tricolor se vingava da goleada sofrida quatro anos antes por sete a um em outro torneio, só que agora tinha Carlito do seu lado. 
Neste dia aziago para o rubro negro o Bahia jogaria com Leça, Dario e Bacamarte; Guiu, Ivon e Enoque; Gereco, Claudinho, Carlito, Tóia e Testinha. Já o Vitória passaria vergonha com Nadinho, Alírio e Joel; Eduardo, Alberto e Viana; Edson Chaves, Jaime, Bionga, Juvenal e Elias. O juiz foi o também famoso “Tijolo” (Carlos de Oliveira Monteiro) sendo que na preliminar o Vitória “salvou a cara” quando os seus amadores enfiariam oito a dois nos tricolores. A partida, porém, suscitou muita reclamação da imprensa. Teria havido invasão do público, motivo de ter sido apurada apenas uma renda de 95 mil cruzeiros. É mais uma critica em relação à Fonte Nova na época sendo que o jornal irá divulgar por certo tempo, dois públicos, o que foi computado e o estimado pelos confrades.
                                Na época ainda não havia separação das torcidas pela polícia
O campeonato já ia avançado e o Bahia já disparava do Bahia na frente, conquistando o turno em vinte de julho com uma goleada de cinco a dois sobre o Guarany. Aí a FBDT fez o que já adotara em outras oportunidades, cancelou partidas em função do desinteresse e prejuízo financeiro. Na ocasião programou um hexagonal para os clubes levarem alguma grana que foi chamado de “torneio extra”. Mas o certame não foi em frente. Morreu logo na primeira rodada, que além de não dar a renda que se esperava, registrou uma espetacular goleada do rubro negro no Galícia por seis a zero. Na ocasião, o Fluminense do Rio de Janeiro ganhava a Copa Rio, torneio que prefigurou o atual Campeonato Mundial de Clubes.
Fracassado o torneio o jeito foi fazer amistosos enquanto esperavam começar o segundo turno. Em um desses, no dia dez de agosto em rodada dupla, jogaram novamente BA-VI. Na preliminar o Ypiranga bateu o Botafogo por dois à zero. E, na principal, com uma renda fraca de 60 mil cruzeiros, nosso principal clássico empatou em dois gols. O tricolor jogou praticamente com o mesmo time que tinha vencido o rubro negro de goleada, com Bandeira, Dario e Nilton; Ivon, Guiu e Enoque; Gereco, Claudinho, Carlito, Tóia e Isaltino. Já o Vitória atuou com cinco alterações, Periperi, Alírio e Joel; Eduardo, Evilásio e Pinheiro; Tombinho, Jaime, Juvenal, Elias e Edson (Viana).
O segundo turno começou cinco dias depois mostrando um Bahia com o mesmo ritmo: cinco a um no São Cristóvão, no mesmo dia em que se inaugura em Salvador a casa de assistência Mansão do Caminho. O Ypiranga excursiona ao Ceará e o Bahia a Alagoas em setembro. Anuncia-se agora, com muita expectativa, o novo BA-VI, agora pelo campeonato. A diretoria e a torcida dos leões sabiam que tinham que parar a campanha vitoriosa do tricolor.

      Olhem uma das raras fotos da Fonte Nova antiga! 

Tomaram todas às providencias pra ganhar em campo e nas arquibancadas. O juiz foi um inglês, Mister Sidney Jones. Mas o Diário de Notícias novamente não se fez de rogado com juízes de fora. Considerou que o mesmo teve má atuação, “não demonstrando superioridade sobre os nossos apitadores”. O duelo das arquibancadas foi, pela primeira vez, mais interessante que o travado no gramado. A Fonte Nova nunca tinha visto tal festa, quando a inchada rubro negra compareceu uniformizada, cobriu o estádio de fogos, e levou uma orquestra que tocou as musicas populares da época. Surgiam as torcidas modernas no Brasil e sob o comando de Natal Silvany.
Ao final este esforço seria recompensado, um a zero para o rubro negro gol de Edson para o qual teria contribuído o goleiro Leça. O DN ainda observou que houve um pênalti de Grilo em Viana não marcado pelo juiz. A renda foi uma das maiores do ano, 142.995,00, e na preliminar os quadros de aspirantes dos clubes ficaram no empate em dois gols. O Vitória formou com Periperi, Alírio e Joel; Eduardo, Evilásio e Bombeiro; Edson, Jaime, Juvenal, Viana e Tombinho. Já o Bahia esteve com Leça, Dario e Nilton; Guiu, Ivon e Grilo; Gereco, Patrocínio, Carlito, Tóia e Claudinho. O rubro negro acabaria levando mais tarde o segundo turno ganhando a partida contra o Galícia por três a um.
Já perto do final do ano, enquanto se esperava o terceiro turno, o Bahia organiza um torneio, agora entre Bahia, Vitória, Ypiranga e Curitiba. A primeira rodada é muito disputada, mas os visitantes derrotam o rubro negro pelo escore mínimo, enquanto empatam sem gols aurinegros e tricolores, com a novidade desta última peleja ser apitada pelo espanhol Sastre que também era técnico do Galícia.
                                              Foto rara da excursão do Bahia a Maceió
Mas o que importa mesmo é a segunda rodada onde jogariam de novo Bahia e Vitória. O rubro negro quase não tinha chance de faturar a taça de modo que promoveu diversas substituições durante a partida. Mas isto não é suficiente pra explicar o que aconteceu, vingança em dobro! Enquanto o Ypiranga ganhava do Curitiba por dois a um o Vitória, sem festa nem fogos, era novamente esmagado pelo Bahia por seis a um. Agora a festa seria na horta dos ex-leões com dois gols de Dario de pênalti, dois de Carlito, completando Antonino e Gilberto Fialho. Foi ás duras penas que Tombinho marcou, também de pênalti, o “gol de honra”.
Desta vez até o DN reclamou: o rubro negro realmente era um time surpreendente, para o mal e para o bem. Formou assim: Periperi, Alirio e Joel; Eduardo, Evilásio e Bombeiro (Viana); Tombinho (Edson, Vivaldo), Otonei (Jaime), Juvenal (Tombinho), Viana (Elias) e Deco (Tombinho, Dedó). Enquanto o Bahia atuou com Bandeira, Mascarenhas e Dario; Ivan (Agostinho), Guiu e Nilton; Patrocínio, Maneca (Claudinho), Carlito (Fialho), Tóia e Antoninho. Na última rodada do torneio o rubro negro faria ainda o favor ao Bahia de empatar sem gols com o Ypiranga enquanto o tricolor ganhava de dois a um do Curitiba obtendo lucro com o torneio e ficando com o título que já contamos com mais detalhes em outra ocasião neste blog.
Pouco depois começaria o terceiro turno quando o Vitória ganharia do Botafogo por quatro a dois e o Bahia colheria um surpreendente resultado ao empatar sem gols com o São Cristóvão. O ano ainda não havia acabado quando reservaram outra surpresa pro torcedor marcando o único jogo que consegui apurar no dia de Natal na Fonte Nova! Era demais, uma completa falta de respeito com as datas cristãs. Mas não se sabe de nenhuma reclamação da Arquidiocese de Salvador.
Quase que o Bahia é castigado por incorrer em pecado. O Guarany abriu o placar e manteve o resultado durante todo o jogo só nos minutos finais é que o tricolor “viraria” pra dois a um com gols de Antoninho e Testinha. Três dias depois seria a vez de Vitória e Galícia abusarem do período reservado para as festas de fim de ano quando o primeiro venceu pelo mesmo escore com gols de Juvenal contra o de Mituca de pênalti. 

·    Agradeço as informações do Setor de Publicações Raras da Biblioteca Central do Estado e do site RSSSF Brasil.Sou grato também às imagens do site Museu do Futebol e dos blogsofutebol.com.br,futeshop.blogspot.com,cinepop.com.br,dincao.com.br e supersquad.wordpress.com.