sábado, 30 de abril de 2011

O ano dos baianos na Europa


                                             Não foram nem em Paris!                                              
  

Quem ler este artigo de hoje pode achar inusitado se falar de “um ano” em que os baianos foram na Europa. É que viajar hoje é fácil pra quem tem dinheiro. É só dividir no cartão em dez vezes e passar algum tempo apertando as coisas em casa. Mas houve um tempo em que tudo era difícil e se viajava pela Panair... Anteontem contamos as férias do EC Bahia em Nova York durante o gole militar. E hoje vamos contar o ano em que a dupla BA – VI foi pras “Oropa”.
Mas vai pensar o leitor, que coincidência foi essa? Porque os empresários escolheram justamente os dois pra viajar? Bem, não posso responder a tudo. Sabemos que há coisas que até Deus duvida. Mas posso dar algumas pistas. O intercâmbio internacional existe desde que o futebol foi introduzido no Brasil.
Nos primeiros tempos, porém, era feito só com os navios de estrangeiros que chegavam por aqui. A seleção brasileira se organizou em 1914 e, logo na outra década, os clubes brasileiros começaram a viajar pros países mais próximos da América do Sul e a trazer eles pro Brasil. Aliás, Argentina e Uruguai ficavam pertinho do Rio Grande do Sul e era canja fazer o intercâmbio.
                                                       Mas que escudo é esse gente!

Mas as coisas só passaram a fluir quando o Brasil fez uma fantástica campanha na Copa do Mundo de 1938 na Europa. Ali, craques como Leônidas assombraram o mundo, garantindo ao Brasil o terceiro lugar, e várias excursões dos nossos clubes ao velho mundo. Os anos quarenta suspenderam provisoriamente o intercâmbio em virtude da guerra, mas, logo a seguir o Brasil surpreenderia de novo o planeta com a realização da IV Copa no Rio de Janeiro e uma campanha sensacional.
A perda do título na final contra o Uruguai não abalou o prestígio do país que viu nos anos cinquenta diversos clubes excursionarem. É uma época que viajaram clubes de vários estados pra América Latina, Ásia, Europa e África. Até o Canto do Rio, a Portuguesa carioca, o Jabaquara, o Campo Grande e outros menos votados foram ver a Torre Eiffel, o Big Ben, passear no Rio Nilo e rezar no muro das lamentações de Jerusalém.  E vocês precisam ver, voltavam para o Brasil ”tirando a maior onda”! Mas se foi “todo mundo” os baianos não podiam deixar de ir.  O Bahia foi em 1957.
Mas precisou o Brasil ser campeão do mundo de 1958 pras excursões dispararem. O que Pelé, Garrincha e Cia fizeram se refletiu no comércio. Aumentou enormemente as transações internacionais de jogadores brasileiros e as excursões dos clubes brasileiros. Os baianos ainda chamaram a atenção com a conquista da I Taça Brasil pelo EC Bahia em 1959. Assim, no ano seguinte foram contratadas excursões da dupla BA-VI no velho mundo, e, pior, na mesma época.
                                                         Nossa, como é bom ver Munich!

Nesse ano o campeonato baiano do ano anterior terminou nos primeiros meses e, os dois tiveram que deixar por aqui um “expressinho” pra não paralisar o campeonato daquele ano. Deve ter sido a ocasião em que o esquadrão de aço mais jogou. Mas em compensação foi o ano em que o Vitória fez menos amistosos, apenas um na Fonte Nova.
                                                       Que saudades da Bulgária!

O Bahia tinha terminado o ano anterior decidindo a Taça Brasil contra o Santos, quando ganhou lá (3 X 2) e perdeu aqui (0 X 2) e todos esperavam a grande final que a cada dia ia sendo adiada. Enquanto isto o esquadrão de aço se preparava. Imaginem que mal fez a pré-temporada e já perdia do Flamengo em doze de janeiro por três a um. Logo depois apanhava da seleção baiana que se preparava para o campeonato brasileiro de seleções (0 X 3).
Deu uma pausa pra concluir o certame do ano anterior e no fim de março chega o Olaria para aquelas excursões 24 horas, onde num dia perdeu pro Bahia (0 X 1) e no outro empatou sem gols com o Ypiranga. Em abril, teria apenas uma data, menos de três semanas antes da decisão histórica, vencendo o Náutico por três a zero.
No fim do mês viajaria para o Rio de Janeiro pra vir de lá com a inédita taça de campeão, ao derrotar o Santos de Pelé (embora sem o rei) por três a um. Foi uma festa na Bahia, pois nem a imprensa acreditava no caneco. Só aí então que começou o campeonato baiano deste ano. Mas no fim do mês já chegava o Madureira trazido pelo Ypiranga. Venceria o mais querido por três a um e empataria com o tricolor em dois gols.
Mas aí já estavam certas as excursões, tanto a do Bahia como a do Vitória. Mas, enquanto o rubro negro investia no campeonato o Bahia já montava seu “expressinho” e fazia amistosos pra preparar o time titular. E em junho desandou a jogar na Fonte Nova.  É bem verdade que algumas das partidas não foram grande coisa, as realizadas contra o Ypiranga (0 X 1 e 2 X 0) e Colo Colo de Ilhéus (6 X 0). Mas houve bons testes contra o Vasco da Gama (1 X 3) e o torneio vencido no São João contra Galícia (2 X 0 e 4 X 1) e Sport (3 X 1).
                                           Pô, nesse frio da Rússia não há quem ganhe!


Voltaria a empregar o time titular no campeonato embora sem deixar de fazer amistosos. No dia da Queda da Bastilha (14 de julho) empataria com o Santa Cruz na Fonte Nova, e em nove de agosto faria o jogo da despedida contra o Vitória vencendo pelo escore mínimo. Dizemos despedida porque o Bahia embarcaria na semana seguinte para a Europa enquanto o Vitória ficaria por aqui jogando o certame só chegando a Suíça em meados de setembro.
Mas o Bahia sairia de Salvador com o calor a pino e estrearia logo no “frio desgraçado” da Rússia em dezesseis de agosto, apanhando do Dínamo de Kiev por quatro a um. Nesse dia os torcedores rubro negros gozaram os tricolores, mas ficaram com um frio na espinha. Se fosse pra isso que os jogadores viajariam era melhor ficar. Mais dois dias depois viria a recuperação contra a “Central do Exército” (sic!) por dois a um.
E tome-lhe trem!

Aí o time ganhou moral e choveram telegramas de congratulações, ainda mais que iam agora pra desconhecida cidade de Tibilissi jogar com outro Dínamo. Mas não é que o Bahia não dá sorte com esses dínamos? Na oportunidade cairia de quatro a zero para os russos, imaginem que numa época onde só os torcedores do Vitória torciam “pros comunistas”.
Essa partida deu uma bruta desanimada na torcida por aqui. Até os tão zelosos confrades dos Diários Associados resolveram deixar de dar destaque aos jogos, passando a colocar as derrotas fora das páginas esportivas. Foi quando o Bahia decidiu sair do frio e dar uma escapadinha a Bélgica jogar com o Beercholt conseguindo um empate em um gol. Pronto, agora tinha “livrado a cara” dos baianos e poderiam voltar para o frio russo. Que nada, dois dias depois caiam de novo, desta vez para o Admiral por quatro a um.
                                            Teve alemão que pensou que era o Flamengo!


Um verdadeiro desespero bateu na delegação. Teve gente que jurou nunca mais voltar na Rússia. Agora iriam desfrutar do sol italiano. E não é desculpa de baiano não, mas foi aí, em Milão, que o EC Bahia conseguiria uma das suas maiores façanhas ao empatar com o Milan por um gol em pleno Estádio de San Siro.
O resultado levantaria definitivamente o astral da delegação na temporada. E ainda tinha outro fator. Os jogos agora seriam mais espaçados, dando tempo pros jogadores e dirigentes (é claro!) fazer turismo. Afinal não foi por isso que tinha ido á Europa? Imaginem que ficaram dez dias na Rússia e não tinham conhecido o Kremlin! Os jogadores do Bahia chegaram a formosa cidade de Bolonha no dia da chamada independência do Brasil. Mas, como todo mundo desconfia dessa tal independência, não lhes deu muita sorte. Viram as enormes torres do centro da cidade, passearam na Piazza Maggiore, mas de noite, não teve jeito, perderam por dois a um.
Cinco dias depois estreavam na Escócia. Deu tempo pra visitar os castelos e ainda deu pra Biriba se apavorar com o monstro do Lago Ness, que por sinal não apareceu. A cidade de Aberdeen era linda, cheia de edifícios de granito e Marito ficou inebriado. Quando a delegação soube que tinha 1300 anos ficou boquiaberta e passou o resto do dia passeando nas pontes. Chegou ao estádio na hora do jogo e talvez isso explique a nova derrota, agora por três a dois contra o time local.
                                                             E nem tinha lap top!

Quando as coisas apertavam o dirigente Osório Vilas Boas já sabia, era arranjar jogo na Bélgica, e dito e feito. Dois dias depois iam bater na linda cidade de Bruxelas, pra pegar nada menos que o famoso Anderlecht. Desta vez tomaram todo o cuidado. No primeiro dia “caíram na gandaia” e tomaram todas a que tinham direito na Grand Place. Encheram-se de chocolate, subiram naquele monumento das esferas, mas Alencar se enrolou todo.
Ainda visitaram (que chique) o Parlamento Europeu! Mas no dia seguinte tiveram vida de freira se preparando para o jogo. E não é que deu certo? O Bahia surpreendeu até os Diários Associados ganhando de dois a zero. Aí voltou as páginas esportivas. Saíram de Bruxelas e foram á simpática Liége, na época uma pequena cidade que ficava ás margens do rio Meuse. Ai não deu outra coisa, nova vitória tricolor por dois a zero.
Mas aqui fazemos um parênteses. É que en2quanto o Bahia estava fazendo turismo... digo jogando na Bélgica eis que seu arquirrival, o EC Vitória, chega á Europa, e, parece que não aprendeu nada com a lição do Bahia, chegando também no frio da Suíça. A turma rubro negra se encantou com o lago Genebra. Acharam até parecido com o Dique do Tororó. Ninguém deixou de ir ao Museu Olímpico, mesmo com todo o frio que fez com que o leão fosse batido pelo time local por um a zero.
                                                 Foi uma verdadeira baianada na Europa!

Depois da Suíça, onde ficou (infelizmente) alguns dias, foi a vez da Bulgária. Ih, que susto, iriam entrar na tal da “Cortina de ferro”. Pelo menos foi esse pavor que incutiram os norte-americanos em nossas cabeças na época da guerra fria. Foi a vez dos rubro negros virem uma cidade com 1.200 anos banhada pelo rio Iskar. Estiveram na praça do parlamento, nas catedrais, mesmo debaixo do frio. Também não é desculpa, mas não é que perderam novamente? Desta vez foi de dois a um para o Levski Sofia.
Aí o jeito foi fazer como o Bahia e arranjar sua “Bélgica”. Pediram aos empresários pra sair de Sofia e enfrentaram tal de Botev. Minha gente, aí é um total mistério. Nem no Almanaque do Futebol Brasileiro sabe a cidade que o Vitória jogou e olhem que tem uns quatro Botevs por lá. Mas o que interessa é que o Vitória foi desta vez pra página esportiva do jornal Estado da Bahia ao conseguir um empate em dois gols.
Na época o “quente” do futebol búlgaro era o tal CNDA que estava conseguindo o heptacampeonato quando o Vitória passou por lá, mas ainda bem que o rubro negro não jogou com ele. O próximo jogo foi com o Miners Club (clube dos mineiros) e aí os leões da barra conseguiram a sua primeira vitória na excursão, três a dois.  Até aí não deu pra fazer turismo. Vocês imaginem que é um clube tão conhecido que procurei a morrer toda a história do futebol da Bulgária e não achei nem na Terceira Divisão!
                                                Não é verdade que tem isto na Romenia!

Mas voltemos para o Bahia que depois da sua Bélgica voltou para o outro país onde tinha vencido a Escócia. Ali jogaria com o Motherwell e pediria uma revanche ao Aberdeen. Na verdade é que o pessoal da delegação tinha gostado muito da cidade, (especialmente dos pubs), mas desta vez se deu muito mal perdendo as duas (0 X 3 e 0 X 2). 
O tricolor então foi para a Europa Central e aí se inspirou nos germanos. Começou em Berlim jogando contra um combinado Victoria-Berlim. Dizem na ocasião, que a delegação pensou que era o seu arquirrival que estava passando por ali e “deu a louca” ganhando por dois a zero. Ai acabou voltando aos Países Baixos, desta vez não mais para a sua Bélgica, mas para a Holanda jogar contra a seleção nacional.
O jogo foi na bela cidade portuária de Roterdã. Já estava terminando a primavera, mas ainda deu pra ver as lindas flores. Foram também ao quarteirão histórico, o Delfshaven. E, de noite, conseguiriam a façanha de derrotar a seleção da Holanda por dois a zero.  Voltariam para a Alemanha para enfrentar o poderoso Bayern Munich.
                                                      Só faltou passar pela Grécia!

A cidade já tinha mais de um milhão de habitantes e ficava na região da Baviera. Como Osório não gostava de musica, teatro, igrejas nem universidades, acabou lavando a delegação pra conhecer a Marienplatz e o museu dos brinquedos.  Mas foi bom que o jogo acabou sendo uma brincadeira pro Bahia que conseguiu uma vitória histórica contra o clube que um dia iria ser famoso, seis a um.
Na Bahia o Diário de Notícias “encheu a bola” do esquadrão de aço. Foi porque naquela época os jornais não saiam na segunda feira. E no outro dia aconteceu uma verdadeira tragédia com o Vitória que foi literalmente arrasado por um combinado da Silésia por sete a zero!  Assim, destacaram a vitória tricolor e empurraram o decano pra fora da páginas esportiva anotando a sua vergonha. A região concentra a indústria polonesa e deu sempre grandes jogadores á Polônia, mas ninguém aqui queria saber disto. Aliás, o rubro negro havia ficado parado fazendo turismo por dez dias antes do jogo fatídico.
Ai os jogadores do Bahia “encheram a cara” do famoso Chopp alemão, embora lá ele seja tomado quente (sic!), e foi assim que desembarcaram em Lisboa no dia 25 de outubro. Osório liberou então o pessoal pra conhecer a cidade que se parece com Salvador. P pessoal passeou no Rio Tejo, comeu os pastéis do bairro de Belém, assistiu fado, foi no Museu do Descobrimento, e, é claro, tomaram vinho á vontade. O resultado é que o Sporting vingou os alemães enfiando cinco um no tricolor.
                                                                  O leão turista...

Mas, voltemos ao turismo... quero dizer aos jogos do Vitória. Antes da vergonha da Polônia havia atuado na Turquia e na Romênia, inclusive com grande equipes, superando a situação anterior de jogar com clubes desconhecidos. No dia primeiro de outubro enfrentou nada menos do que o Fenerbache turco na cidade histórica de Istambul. Foi a glória para a delegação. Imaginem que haviam chegado à antiga Bizâncio, a Constantinopla do mundo antigo. Passearam a morrer por suas mesquitas e catedrais. Viram de lá o encontro dos dois continentes. E á noite venceram o grande clube por dois a um.
Depois foram para Bucareste jogar contra a seleção nacional. Era a primeira vez que o clube jogava contra uma seleção europeia e dividiu os cinco dias que passou na cidade entre o turismo e os treinos. Ao contrário do que se diz não viu por lá nenhum vampiro. Como não tinham ido a Roma vibraram com a cópia da coluna de Trajano. Ainda deu até pra passear no delta do Danúbio. Mas no dia seis de outubro não deu, perderam de dois a zero para a seleção do país. No entanto, três dias depois, empatavam com um combinado romeno por quatro gols.
                                                             Os turistas tricolores!

A despedida do Vitória seria na Alemanha, enquanto o Bahia ia para a África. Ali, na cidade de Oman seria muito bem recebido e Osório visitaria mesquitas. Nunca o atraíram as igrejas, mas como essas eram diferentes acabou indo. Aliás, isso foi muito bom, pois os muçulmanos gostam dessas coisas. O tricolor estrearia com o apoio da torcida, o que não é nenhum favor, pois a Argélia foi colonizada pelos franceses durante muito tempo.
Foi por isso que o pessoal torceu contra o Racing (Paris) que apanhou dos baianos por quatro a dois. No outro dia jogou contra uma “seleção” que eu nunca ouvi falar: Montingasen. Essa tenha paciência, mas pareceu os mineiros do Vitória, nem no google se acha. Deve ter sido por isso que o Bahia programou este jogo como despedida, oito a zero.
Mas Osório estava insatisfeito com a goleada de Lisboa (ou queria comer os pastéis de Belém?). Aí acertou uma revanche com os portugueses. Pode assim comer os seus pastéis, e, pra não passar mais vexame visitou a Câmara Municipal fazendo a maior média com os portugueses em Lisboa. Resultado, empate de dois gols na despedida, que coincidiu logo com o dia de finados.
                                                   Sacanagem, não ir ver o Big Ben!


Enquanto isto o Vitória estava na Alemanha e só viria pra Bahia na semana seguinte. Como ficaria após a humilhante goleada na Polônia?  O clube é um dos da antiga Alemanha do Leste, e se chama agora Carl Jeiss Jena. Hoje, entretanto está nas divisões inferiores da Alemanha, onde foi parar com a reunificação do país. No entanto, quando o Vitória passou por lá ele conquistaria o campeonato da República Democrática da Alemanha. Nesta excursão ajudaria ao rubro negro se recuperar da goleada ao perder por um a zero pros baianos.
Depois daí a delegação faria turismo aproveitaria pra visitar a casa de Marx, o antigo em Berlim, navegariam de barco pelo rio Reno. A delegação bateria o recorde de ir a todos os bares de Frankfurt. Talvez tenha sido por isso que, quando, enfim, arranjaram um jogo para a despedida do Vitória da Europa, contra o Eintracht Frankfurt os jogadores entraram no gramado tropeçando nas próprias pernas. Só podiam encerrar com uma derrota, dois a um.
                                                      Aí só pode ser na Holanda!

Mas vocês imaginem que o carrasco Vasco da Gama é que coube receber o EC Bahia. Tinha jogado com o tricolor antes da excursão batendo-o por três a um. Agora como ia ficar depois de tantos resultados memoráveis na Europa. A torcida acorreu em cheio pra ver o Bahia de novo, mas qual, o Vasco não teve consideração com os baianos derrotando-os de novo, agora por três a zero.
A dupla, entretanto, nunca se esqueceria daquele ano. Haviam esquecido das derrotas, só lembrando das vitórias e, principalmente, do turismo que fizeram lá pras bandas da Europa!

·    Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro, dos sites Wikipédia, Google, Trip e Ping. blog.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Os Paralamas e a Fonte Nova


* Homenagem aos trinta anos do maior e mais antigo grupo de rock do Brasil

E a cidade que tem braços abertos
num cartão postal
com os punhos fechados na vida real
          Hebert Viana/Bi Ribeiro (Alagados)

Este ano o grupo de rock Paralamas do Sucesso completa trinta anos de carreira.  E no último mês de fevereiro transcorreu dez anos do acidente de ultraleve que matou Lucy, a esposa de Hebert Viana e o deixou numa cadeira de rodas. As dificuldades que seus membros Hebert, Bi Ribeiro e João Barone encontraram parecem até as da Fonte Nova.
O grupo foi criado com outra formação em 1981, quando o nosso histórico estádio presenciava a retomada da hegemonia do EC Bahia no futebol baiano, no tempo em que as almas dois dois,como dizia Hebert, eram lavadas, desincardidas. O rubro negro havia “papado” o título no ano anterior mas quando a FBF soube que havia sido criado os Paralamas “mexeu os pauzinhos” para que voltasse a ganhar o clube que desde 1970 detinha uma hegemonia de sucesso.
Os primeiros anos dos Paralamas seria de construção, ao tempo em que ´vibravam com o campeonato baiano onde só dava o tricolor. Sairiam os cantores Ronel e Naldo em 1982 e o baterista Vital em 1983 passando o grupo a ter a formação atual. É neste ano que lança o seu primeiro álbum Cinema mudo pela gravadora EMI, logo seguido no ano seguinte pelo O passo de Lui.
                                                                Esse é mais antigo!

Até então tudo ia bem no grupo, que participava do Rock in Rio e lançava sucessos como Óculos, Me liga e Meu erro. Mas em 1985, deixariam de gravar o álbum do ano em virtude do EC Vitória ganhar o certame baiano. Sei que é um absurdo deixar que o futebol atinja uma carreira de sucesso mas foi isto que aconteceu.
Nem a recuperação do título pelo tricolor faria passar a mágoa de Hebert e seus amigos. Tanto é assim que em 1986 gravam o álbum Selvagem, que mostra bem a chateação. Mas esse ano fizeram a primeira música falando da Bahia, Alagados, numa parceria musical com outro torcedor famoso do tricolor, Gilberto Gil.
Bem, aí fizeram as pazes com a Bahia, que iria emendar um novo tricampeonato, e foi nesta escalada que os Paralamas subiram. Estouraram com Alagados e Novidade, foram para o Festival de Montreaux na Suiça (que chique!). Nunca venderiam tantos discos em sua carreira.Em 1987 gravam seu primeiro álbum ao vivo, D, e, no ano seguinte, quando o tricolor emendaria o “tri” com a conquista do campeonato brasileiro, gravariam o álbum Bora Bora, com músicas de sucesso como Quase um segundo e Uns dias.

Mas, quis o destino que sua carreira fosse de altos e baixos, semelhante a da Fonte Nova. Aí o Vitória voltou a tomar as rédeas de nosso futebol conquistando um bicampeonato, entre 1989/1990. No início isso não abalou a cerreira dos Paralamas que pensaram que era “fogo de palha”. Foi por isso que lançaram o álbum Big bang no primeiro ano, e até tiveram suvcessos como Perplexo e Lanterna dos afogados. Mas, quando viram que era pra valer deixaram de gravar seu álbum de 1990 causando tristeza em seus inúmeros fâs. Ao inés de perguntar que país é este já falava: mas que Fonte Nova era esta?
Só voltariam a prosseguir sua carreira quando o Bahia voltou a ganhar o certame em 1991. Aí foi a glória pois o Vitória desceu para a Segunda Divisão do certame brasileiro. Foi pra comemorar que lançaram o álbum Os grãos, na certa pretendendo mostrar que o rubro negro ainda teria que juntar muitos quilos para emplacar seu novo estádio, o Barradão.
Em 1992 porém, o rubro negro voltaria a “papar” o título. Por conta disso é que os Paralamas só foram lançar álbum na Argentina, onde gravaram uma coletânea em espanhol, Paralamas. A chateação se estendeu até 1993 onde o rubro negro chegaria a disputar o título nacional com o Palmeiras. Foram anos difíceis para os Paralamas, onde ficaram dois anos sem gravar no Brasil, nem sequer amenizados com o título do tricolor em 1993. Mas o tricolor voltaria a emplacar um “bi” em 1994, ocasião em que o grupo lançaria o álbum Severino que alcançou grande sucesso.  
                                                                Beijo não vale!

Nesse ano, porém, a banda se reuniu. Falaram com Hebert que não era mais possível que atrelassem os humores da sua carreira ao que acontecia na Fonte Nova. Afinal de contas os leões da Barra agora tinham um estádio e a tendência era de crescimento. Do jeito que ia eram os fâs que sofreriam. Hebert pareceu aceitar estas ponderações. E vieram a tempo, pois o Vitória iria emendar um tricampeonato nos anos de 1995/1997. O que não atrapalho os Paralamas de lançarem seus álbuns.
Mas Hebert não deixou de provocar o Vitória. Afinal, o que podemos pensar do título do disco gravado em 1995 Vamos batê lata, e da música Trezentos picaretas? Manteria a promessa com o álbum Nove luas, gravado em 1996, quando estourava sua música Uma brasileira. Quando terminou o “tri” do rubro negro, saudou a retomada do título pelo tricolor gritando aos quatro cantos o novo álbum Hei na na,onde fez uma sacanagem com o Vitória gravando Ele disse adeus!
Os Paralamas tinham retomado a sua trajetória, e em 1999 gravariam o seu sucesso Acustico MTV no ano em que ganhariam o seu único prêmio Grammy Latino. Enquanto isto a baixaria tomava conta do futebol baiano quando o Bahia não foi ao Barradão na final e se encerraria o campeonato daquele ano sem se saber quem era campeão.
                                                      Oh, não sabia que ele foi preso!

Hebert voltou a se chatear com as coisas do futebol da Bahia. E pior ainda foi quando o Vitória voltou a ganhar o título em 2000. Aí ele “empombou” a gravação do álbum naquele ano, aceitando, com muito custo que se gravassem uma coletânea das músicas do grupo Arquivo II. Dizem que, por causa disso, andava tão distraído que ocorreu a tragédia de ultraleve em 2001, quando deixaria de ver o tricolor ganhar seu último título na Fonte Nova.
A nova era dos Paralamas não podia ser a dois vinbte anos anteriores. Não podiam mais fazer tantos shows pois havia que ter cuidado com a saúde de Hebert. Dizem que a demora na recuperação se deve a má fase do tricolor baiano. Hebert retornaria sua promessa de continuar gravando.
Mas se percebe sua tristeza no nome de seu novo álbum gravado em 2002 Longo caminho e em músicas como Fora de lugar. É que haveria um longo caminho pro tricolor voltar a ganhar um título e isso realmente fazia com que a Bahia parecesse fora de lugar. O Vitória ganharia quase tudo nesta década e os Paralamas deixariam de lançar álbuns todo ano. Em 2004 continuariam optando pela solução de gravar Uns dias ao vivo. E, no ano seguinte, Hoje, acontecendo com músicas como De perto e Na pista.

Em 2006, quando o rubro negro perderia o título para o Colo Colo Hebert se entusiasmou e estrelou um documentário Hebert de perto. Quem diz que isto foi pra comemorar os vinte e cinco anos de carreira é porque não conhece sua ligação com o futebol baiano. Mas só fez repetir a gravação de Hoje, desta vez ao vivo.
O grupo sofreria bastante em 2007, quando foi interditada a Fonte Nova em função da tragédia de novembro que vitimou sete torcedores. Mas, fiel a sua promessa Hebert Viana aceitaria gravar com os Titãs no ano seguinte, num show que se tornaria outro álbum, Paralamas e Titãs: juntos ao vivo.
Em 2009 voltaria a gravar álbuns em estúdio, o Brasil afora, que foi motivo para uma longa temporada pelo país.  E foi quando estava excursionando que soube da implosão da Fonte Nova. Já tinha se conformado com o Vitória ganhar o campeonato todo ano., mas atingir a própria Fonte Nova foi demais. Não teve quem lhe fizesse gravar novo álbum em 2010. Depois de muita conversa aceitou apenas que regravassem as músicas do grupo, em Arquivo 3.
                                                      Pô, esse não é Hebert Viana!

Só se recuperaria do golpe meses depois, a tempo de participar do Multishow ao vivo: os Paralamas do sucesso. É que na época se convenceu que, se a Fonte Nova morreu com os Paralamas não podia acontecer o mesmo, inclusive pra que a memória do nosso histórico estádio seja sempre lembrada. Como Hebert mesmo disse, é a arte de viver da fé, só não se sabe fé em que!

·         Agradeço as informações do Jornal A Tarde e dos sites letra.com e RSSSF Brasil. Sou grato ainda as imagens dos blogs guarulhosonline.com,imotion.com.br,imagensgratis.com.br,mercadosebastian79.blogspot.com e mpnet.com.br.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Saramago e o vice do Vitória em 1993

              
         Não importa que Dali tivesse sido tão mau pintor
         se pintou a imagem necessária para os dias de 1993.               
                                                               José Saramago

O ano de 1993 é um livro de ficção de José Saramago, que utiliza uma metáfora da ocupação militar de uma cidade em trinta capítulos para questionar o  estilo de vida das nossas sociedades. Mas a história do grande escritor português bem que podia se aplicar á Fonte Nova.
O ano de 1993 na Bahia foi muito estranho. Até parece que a Bahia havia sido invadida por alienígenas. O campeonato baiano foi de uma estranheza só. Nele, o tricolor, desembestou a ganhar de todo mundo e só parou quando levou os quatro turno para o Fazendão. Coisa rara no nosso futebol.
A Fonte Nova já estava definitivamente enquadrada no calendário imoral da CBF que não deixava datas vagas para os clubes. Como o Vitória já tinha seu próprio estádio, o Barradão, a coisa “pegou” para o nosso histórico estádio, que teve o menor número de partidas em um ano, apenas quatro amistosos.

O ano foi marcado por uma série de despedidas em jogos amistosos. Em onze de julho foi o último o clássico BA-VI amistoso, e, em trinta e um desse mês, a última vez que o Sport vinha a Fonte Nova, sendo derrotado pelo Bahia por dois a zero, para logo depois empatar com o Vitória sem gols.
As partidas daquele ano se encerrariam em agosto, conhecido como mês das tragédias, também sendo o antepenúltimo jogo do Vitória na Fonte Nova, que terminaria com uma goleada de quatro a um no Santa Cruz.
Mas as surpresas estariam definitivamente reservadas para o campeonato brasileiro. O Vitória, que até o ano anterior estava na Segunda Divisão, voltava para a Primeira sem esperar grandes coisas neste primeiro ano. Como o Bahia estava muito bem esperava-se uma melhor campanha do tricolor.
                              Esse aí não arranjou nada!

O rubro negro caiu no grupo C e o Bahia no A. O Vitória estrearia no dia quatro de setembro ganhando fora de casa o Goiaís por três a zero. Quanto ao tricolor só no dia em que se diz que Dom Pedro I proclamou a independência as margens do riacho Ipiranga, ficando na fonte do futebol com o empate em um gol com o Flamengo.
Logo em seguida o Bahia perderia aqui mesmo para o Cruzeiro por três a um começando uma via crucis que iria leva-lo ao penúltimo lugar no grupo onde ganharia apenas duas partidas e perderia oito, anotando dez gols e tomando 29!Enfim, um verdadeiro desastre do time que havia sido campeão baiano disparado.
Enquanto isso lá ia o rubro negro. Empataria sem gols na Fonte Nova com o Fortaleza mas a seguir ganharia. Novamente fora de casa, deste vez o Ceará por três a zero. Estava jogando melhor fora que dentro de casa onde penaria pra ganhar do Remo(2 X 1).
                               "Rolou" tudo em 1993!

Sairia pra jogar com Paissandu e Náutico perdendo a primeira e ganhando a segunda pelo mesmo escore de dois a zero. Quando voltou ganhou do Santa Cruz(2 X 1) e do Goiais(3 X 1). Depois cansaria na mini excursão onde jogaria três partidas fora, com Fortaleza(1 X 3), Santa Cruz(0 X 0) e Remo(0 X 2).
Mas a vingança viria a cavalo na Fonte Nova onde faria as três partidas finais, contra Ceará(2 X 1), Nautico(4 X 1) e Paissandu(5 X 2). Foi assim que se classificou para a fase final em primeiro lugar com vinte pontos.
Esta fase previa dois grupos de quatro clubes e o Vitória caiu no pior deles, tendo como companhia o Santos, o Corintinhas e o Flamengo. Ninguém de sã consciência esperava mais do Vitória. Na primeira rodada, porém, o Corinthians ganhou do Santos(3 X 2), e 33.000 torcedores viram o Vitória derrotar o Flamengo na Fonte Nova por um a zero, gol de Roberto cavalo0 de pênalti.
                              E o caneco foi embora de novo!

E a surpresa ainda foi maior quando o rubro negro venceu o Corinthians por dois a um. Claudinho e Alex Alves marcaram para o Vitória e Tupanzinho fez o “gol de honra” mosqueteiro no último minuto, num jogo presenciado por 35.000 pessoas. Pra melhorar a situação Flamengo e Santos empataram. O primeiro turno terminaria com o Vitória empatando no Parque Antártica com o Santos(3 X 3), enquanto Corinthians e Flamengo empatavam também.
Seria fogo de palha? Agente veria no primeiro dia de dezembro quando os leões da Barra empatavam de novo com os santistas agora por dois gols. A partida foi presenciada por 42.000 pessoas e foi um verdadeiro jogão.
Nos primeiros quinze minutos o rubro negro colocou dois a zero, ambos os gols de Paulo Isidoro. Mas o Santos reagiu ainda no primeiro tempo com Guga e Cuca e o jogo acabaria empatado.Mas estava com sorte pois Corinthians e Flamengo também empatariam, e pelo mesmo placar.
                         E depois ele diz que só tem 40 anos!

Faltavam só duas partidas e o Vitória teria que conseguir pelo menos três pontos se todos ganhassem. No dia quatro de dezembro o Santos enfia dois a um no Flamengo enquanto o Vitória empata no Morumbi com o Corinthians(2 X 2). A decisão ficaria para o último jogo em oito de dezembro.
Mas era dia de Nossa Senhora da Conceição. E, por causa dela, o Santos perderia para o time do Parque São Jorge enquanto o Vitória empatava no Maracanã em um a um com o Flamengo se classificando pela primeira vez para uma final do campeonato brasileiro.   
A histórica final Vitória X Palmeiras começou na Fonte Nova no dia cinco de dezembro, um domingo, para 77.000 torcedores. A Fonte Nova se pintou de vermelho e preto. O jogo foi duro com o juiz aplicando vários cartões amarelos. Mas seria este e não os jogadores a “estrêla” da noite Renato Marsiglia(RS) ao não dar um  pênalti claro em Pichetti faltando apenas quinze minutos para acabar a partida.
                  Saramago se preocupava com a Fonte Nova! 

Logo depois, o baiano Edilson recebe um lançamento e entra pela direita da defesa do rubro negro pra decretar o único gol daquele dia que prometia ser tão radioso no gol do Dique do Tororó. O melhor time que o Vitória teve em sua vida, recheado de craques como Dida, Alex Alves, Roberto Cavalo, João Marcelo e Claudinho caiu para outra constelação onde haviam Edilson, Evair, Mazinho, Roberto Carlos, Zinho e Amaral.
No dia doze estava tudo consumado, com os dois a zero para o Palmeiras no Morumbi. Desta vez não houve “garfada” mas não precisava, o mal já estava feito, ficando o nosso rubro negro baiano com o vice nacional.Aliás o último feito de um clube baiano no campeonato brasileiro.
É por isso que interpreto assim os capítulos desse livro escrito para homenagear o EC Vitória.
                     O rubro negro estava iluminado neste ano!

2. Os habitantes da cidade doente de peste estão reunidos na praça grande(...)foram tirados de suas casas por uma ordem que ninguém ouviu(...). Isto significa a tristeza dos brasileiros de ver sempre os mesmos clubes disputando o título “nacional”.
3. O elevador deixou de funcionar não se sabe quando mas a escada ainda serve(...). Nenhuma novidade aqui até o Elevador Lacerda as vezes enguiça.
5. A cidade que os homens deixaram de habitar está agora sitiada por eles(...).Na cidade apenas vivem os lobos(...)alí onde em tempos mais felizes combinara com parentes e amigos intrigas calúnias. E caçadas aos lobos. Saramago está falando dos tempos antigos de Salvador.
6. Nenhum lugar é suficientemente belo na terra para que doutro lugar nos desloquemos a ele(...). Nossa, aqui se declara inimigo do turismo. É que ele não veio a Bahia!
                         Nesse ano os terreiros bateram forte!

8. Está determinado que hoje se travará uma grande batalha e não obstante o número de mortos previstos assim se fará(...). Foi uma previsão digna de Zaratustra, que só iria ocorrer 14 anos depois e interditaria a Fonte Nova.
9. Todas as noites três vezes se faz a contagem dos habitantes que foram autorizados a viver na cidade(...). Isso é o que os torcedores do Vitória disseram pros do Bahia neste ano.
10. Certos homens embora não adaptados morfologicamente passaram a viver debaixo do chão(...). É que os tricolores se esconderam...
12. A primeira vitima de que se houve notícia foi a mulher do governador escolhido pelo ocupante(...). Ah isso realmente não é na Bahia, aqui isto seria a última coisa a ocorrer!
        José e Pilar dando desculpas para o vice do Vitória!

14. Estão sentados de pernas cruzadas atentos a todas as sombras e gritam, quando há perigo(...). Não me venham dizer que Saramago falou da preguiça dos baianos!
17. A mais terrível arma da guerra do desprezo foi o elefante(...).Isso é lá em Portugal, aqui foi o juiz da final contra o Palmeiras.
18. Mas ao  apagar-se o fogo acontecera a desgraça de todas mais temida porque com ela seria o tempo do pavor sem remédio do negrume gelado da solidão(...). Nossa, como ele descreve bem o sentimento que os torcedores ficaram com o gol de Edilson naquela tarde!
20. Todas as calamidades haviam caído já sobre a tribo ao ponto de se falar da morte com esperança(...). Isso foi antes de 1993...

                               Mais um pra galeria de titulos...

22. Enquanto as águas por sua vez transportam ao céu e ao sol se o há a turvidão salgada das lágrimas e do suor(...). Aí é canja, está falando do Dique do Tororó.
24. Nenhumas armas a não ser os toscos paus arrancados dificilmente aos ramos mais baixos das árvores e as pedras raladas colhidas nos leitos das ribeiras(...). Perante o ataque do Vitória o adversário não tinha arma que prestasse.
25. Embora houvesse já muito tempo que não nasciam crianças não se perdera por completo a lembrança de um mundo fértil(...). Ora é claro que não podiam nascer pois os baianos estavam na Fonte Nova!
27. É este o preço da paz quando o amanhecer vem perto e o medo de morrer é esse mais humano de não viver bastante(...). O preço seria o Vitória ganhar o título é por isso que uma parte da Bahia briga até hoje.

*  Sou grato aos sites do Futipédia, Bola na Área, ao Almanaque do Futebol Brasileiro, ao próprio livro de Saramago da Editora Companhia das Letras, e aos blogs  aluzdoaboim.worpress.com,balsadanane.blogspot.com, e medabooks.com.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Férias em Nova York... no golpe de 64

                                                       E ainda fizeram compras!

O último golpe militar no Brasil começou de madrugada. Foi em 31 de março de 1964, quando as tropas do general Olympio Mourão Filho marcharam de Juiz de Fora (MG) para a antiga Guanabara. Apressaram as coisas pra que não se dissesse que foi uma piada de mau gosto de primeiro de abril. Já contei neste blog que neste dia minha irmã “Lena” deu o azar histórico de completar 18 anos.
Vivíamos a era do rádio, e tudo se acompanhava por ele, apesar de desde novembro de 1960 a TV Itapoan entrou em funcionamento na Bahia. O golpe militar começou numa terça feira, e mudou o calendário desportivo. Lembro-me que ocorreu no meio do Torneio Rio - São Paulo. Suas principais ações (golpistas e de resistência) se concentraram em dois dias. Até a quinta feira estava consumado.
Na quarta feira, aqui perto da minha casa, na Piedade, a PM invadiu o sindicato dos petroleiros e não deixou “pedra sobre pedra”. Os jornais começam a escancarar o apoio ao golpe. Na quinta feira só sobrava mesmo algumas rádios pra divulgar a versão do governo, e logo nem isto. Foi na sexta feira que o governador Lomanto Jr. foi à TV Itapoan fazer profissão de fé aos militares.             
                                        Teve tricolor que arranjou até namorada americana!

Sexta feira, enquanto havia apenas focos de resistência, as tropas de Mourão chegam ao Rio de Janeiro para a batalha que não houve e ficaram acantonados no Maracanã.  Foi nesse dia que o EC Bahia enfrentava o Desportivo Itália em Caracas pela Taça Libertadores da América conseguindo um empate sem gols. Os militares ficariam o fim de semana no estádio voltando pra Minas na segunda feira.  Mas sua estada causaria prejuízo para os clubes cariocas. Os jogos entre Vasco e Palmeiras e Bangu e Santos tiveram que ser transferidos pra São Paulo. Aliás, não sei de futebol nesse fim de semana em lugar nenhum. Enquanto isto os bancos tinham fechado e os tanques estavam estacionados nas ruas.
As aulas só recomeçariam na segunda feira, seis de abril. Na terça, o regime intervém nos sindicatos destituindo diretorias eleitas e nomeando interventores.  Na quarta feira, sai o Ato Institucional n°2 legalizando as prisões, impondo punições a civis e militares considerados “subversivos” ou corruptos, concentrando poderes, e marcando a “eleição” relâmpago de Castelo Branco.
Na quinta feira, dia nove, nova lista de cassados vem á público. E foi neste que o Bahia foi eliminado daquela taça ao perder pro Desportivo Galícia por três a um em Caracas. Lembro que a gozação foi perguntar pros torcedores do Bahia por que o time tinha se dado ao trabalho de perder na Venezuela quando podia perder pro Galícia aqui mesmo!
                                                    Pô, mas isso tem também na Bahia!

Depois daquilo muita coisa aconteceu. Na política e no futebol. O congresso contracenou com os militares ao “eleger” castelo presidente. O futebol voltava aos poucos ao normal ocorrendo clássicos neste fim de semana. Até o campeonato baiano recomeçaria, quando o Fluminense de Feira ganharia do São Cristóvão por cinco a três. O Bahia estrearia logo no dia da posse de Castelo, conseguindo só um empate contra o Botafogo por dois gols.
No fim de maio o Bahia viajaria novamente para o exterior, dessa vez pros states. Nossa que chique! Os torcedores rubro negros, como é claro, azararam o tricolor de todas as formas. Os jogos foram em Nova York onde se tentava firmar o gosto pelo futebol. O esquadrão de aço estrearia contra o Werder Bremen (Alemanha) no dia 31 de maio empatando em dois gols.
Na quarta feira seguinte enfrentaria o Blackburn (Inglaterra), empatando mais uma vez, desta feita em um gol. Até aí os torcedores tricolores estavam com a moral lá em cima. Mas ainda restavam quatro jogos. A tabela, porém, previa um descanso de uma semana para a equipe. Eram os únicos brasileiros que passavam o golpe de férias em Nova York. Mas, em pleno domingo, oito de junho, devem ter sabido da cassação do ex-presidente Juscelino. Logo ele que apoiou a “eleição” de Castelo Branco.
                                             Enquanto isto era chumbo grosso no Brasil!

Parece que este fato decepcionou de vez os dirigentes tricolores. Mostrando que os generais não tinham amigos e que tinham vindo pra ficar. Aí a equipe do Bahia desandou de vez em Nova York. Começou na quarta feira (11/6) perdendo na revanche pro Werder Bremen de três a um. No sábado (14/6) era a vez de apanhar do Hearts (Escócia) por um a zero.
A turma rubro negra perguntava aqui.
- Que foi isto? Foi pros EUA envergonhar a Bahia? Se é assim seria melhor não ter ido.
Os tricolores ficavam calados, esperando as duas últimas. Na terça (17/6) seria a vez do Lanerossi (Itália). Eu mesmo nunca tinha ouvido falar, e ninguém da época também. Acho que até já nem existe mais, e que o único feito de sua existência foi nesse dia ganhar o Bahia por dois a zero.

                                                      Mas não é o Elevador Lacerda?

A despedida do tricolor baiano de terras nova-iorquinas foi no sábado, dia 21 de junho de 1964. Era véspera de São João e os jogadores não queriam ficar lá no meio daquele frio. E os dirigentes atenderam. Também, já estavam cansados de perder. Já tinham escapado de muita coisa do golpe. O adversário já era conhecido, o Blackburn Rovers (Inglaterra) para o qual havia sido providenciado uma revanche. Mas aí, outra bordoada, três a um, mandando de vez para casa o ex-esquadrão de aço.
Mas, antes ficassem por lá. O dirigente Osório Vilas Boas, que era vereador da Câmara de Salvador, foi incluído na lista de cassações. A Emenda Constitucional n.9 prorroga o mandato de Castelo e Lomento reforma seu secretariado na Bahia para incorporar os grupos golpistas. Chegaria a tempo pra jogar o fim do primeiro turno do campeonato de 1964 quando organizavam na Fonte Nova um   torneio em homenagem do presidente da federação Renato Reis. Mas isto fica pra outro dia.   
                                   

·         Agradeço aos sites bola na área, aos blogs do Marcão, futipédia, soccerlogos.com.br e granadeiros azulinos. Sou grato as imagens dos blogs extra.globo.com,isatkmbrazil.com,blogcatalog.com e weheartit.com.