quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Em Abbey Road

 
                                    
Naquele dia dormir não foi fácil por perdermos a noite no bairro do Soho. Mas conseguimos acordar às oito e meia da madruga porque era dia do Beatles Social Club ir à Abbey Road. Era mais um sonho antigo que iria ser realizado. Como todo mundo sabe como os baianos atrasam fomos tomar café na esquina. Foi barbada tomarmos nosso primeiro breakfast em Londres. Nem precisava saber inglês. O cardápio estava na mesa e os “petiscos” eram expostos em uma cristaleira. Eu ainda pronunciava o que estava escrito,
- Coffee and milk, please.
Pedir um sandwich foi canja mesmo. Enquanto eu estava todo orgulhoso vomitando meu inglês Cybele ia mesmo, na mão grande, apontando pras coisas da vitrine. O que sei é que, por um ou por outro caminho, não nos apertamos. Depois ainda tivemos que esperar na recepção pelo pessoal do grupo que chegou aos poucos.
                                        Pô não dixaram nem um espacinho na placa! 

Foi lá pras dez e meia que fomos pro metrô de Queensway na rua vizinha. Aí Valdir deu a dica que foi indispensável por todo o tempo em que estivemos em Londres, comprar a carteirinha de passe para uma semana. Foi caro, (cerca de 65 libras pra eu e Cybele) mas extremamente útil. Imaginem que não pegamos ônibus e usamos apenas dois taxis nos oito dias que ficamos. E olhem que nem precisa tirar o passe da carteirinha bastando passar em cima do leitor pra acender a luzinha verde e abrir a catraca.
O metrô é bem sinalizado e até nós conseguimos sozinho andar nele. É só ler as placas, tomar cuidado pra não enfiar o pé entre o carro e a plataforma, e ficar observando em quais estações o trem para.  Mas nem tudo são flores no metrô. Confesso que nunca vi gente tão apressada. Tem, que ter cuidado pra não ser atropelado, até nas escadas rolantes onde nos ensinaram a manter a direita pois tem um pessoal que está sempre correndo. Meus sobrinhos nos disseram que é para o trabalho mas eu tenho minhas dúvidas, acho que nem eles sabem mais por que correm.
                                               Não parece o que vai ter em Salvador?

Além do mais foi nesse dia que eu e Cybele fomos “separados” pela primeira vez. Nem me lembro mais qual foi a estação. É que quando trocamos de plataforma e o grupo foi entrando no vagão na Bond Street Station a porta fechou em minha cara quando Cybele já estava dentro. Bati no vidro, fiz escândalo, mas nada adiantou pois lá nem o primeiro ministro consegue abrir a porta.  Mas o pessoal do grupo que ficou fora me tranquilizou dizendo que eles iam nos esperar no ponto onde saltaríamos. Não deu outra, e foi bom pra renovar os abraços do casal.
Aí fomos a pé pra Abbey Road. Nesse dia eu tinha preparado uma surpresa. Fui vestido com a camisa do Vitória e era com ela que iria aparecer para o mundo e o Sport TV. Já tinha avisado, inclusive, o pessoal pela internet mas acho que ninguém deve ter se animado a acordar as seis da matina pra ver agente passar pela câmera que filma todo mundo na sinaleira famosa. Mas não é que meu amigo Roberto Cabus (ferrenho torcedor tricolor) pensou da mesma maneira? O resultado é que deu pra sacar a baianidade irreconciliável daquele grupo que não se entendia nem no futebol, pois um vestia a camisa do Vitória e outro a do Bahia.
                                                E ainda vimos um cover de Paul!

Mas voltemos á vaca fria. Saímos do metrô dobramos prum lado, entramos numa rua, e de repente fomos seguindo por outra, aparentemente sem nenhuma diferença das outras do bairro, e, de repente, não mais do que de repente, eu vi a sinaleira famosa. Meu coração bateu mais forte. Poxa, me lembrei logo da foto que singrou o mundo e que tantas vezes vi na Bahia. Estava até na capa de um CD, aliás não se chamava assim na época, mas disco. Atrás da gente tinham umas casas cuja principal era a onde funciona o estúdio onde gravaram John, Ringo, Paul e George há quase cinquenta anos!
A rua é movimentada e passam carros a todo minuto. Pra tirar fotos só contando com a compreensão dos apressados ingleses. Bem que a maioria para ou diminui a velocidade mas tem o pessoal que não está nem aí e até acelera. Será que não gostam dos Beatles? Já havia algumas pessoas atravessando e tirando fotos e, creio que chegaram a uns cinquenta enquanto estivermos ali.
                                              A troca de guarda eu conto outro dia!

Perdi as contas de quantas vezes atravessei a rua. Pra Cybele bastou uma mas acho que pra mim foram umas dez. Duas delas a pedido de Valdir (que surpreendeu levou uma bandeira do Vitória) e mais duas marchando ritmicamente pra imitar o posicionamento de cada Beatles na foto famosa. AÍ o grupo todo quis atravessar dessa forma, os homens e (sim) as mulheres, o que é inédito pois só conheço fotografias assim ali de homens. Ainda levamos quase uma hora andando de um lado pra outro, tirando fotografias de todo jeito com o pessoal que batia as fotos sempre procurando uma melhor posição arriscando-se a serem atropelados.
Houve um momento que eu passei a fotografar o estúdio. Andei pelo passeio procurando um ângulo melhor, e foi quando vi um cara na entrada tirando fotos com uma guitarra. Aí não cacei conversa e fui procurando o portão de entrada. Imagine como são respeitadores da lei esse ingleses. Não é que o diabo do portão estava aberto e só uma pessoa havia se arriscado a entrar! Certamente era brasileiro, pensei. Pois então iriam ser dois. Passei pelo portão que tinha uma placa onde estava escrito No trespassing, percorri os vinte metros que me separavam da escada famosa e me fixei perto dela pedindo a Cybele e ao pessoal para tirar fotos.
                                                 Todo mundo quer sair na foto!

Não se passou nem um minuto para que eu ouvisse o grito:
- Excuse me!
Bem, meu inglês não era tão ruim e deu pra entender que o cara não estava pedindo desculpa porra nenhuma! Mas fingi que não entendia deixando que batessem o restante das fotos. Mas o cara insistia:
- Excuse me!
Depois de mais umas duas vezes o cara certamente percebeu que não adiantaria ficar pedindo desculpas e tinha de agir. Ouvindo seus passos considerei ser mais prudente encaminhar-me em direção ao portão, aliás atendendo aos nervosos apelos de Cybele e do pessoal do grupo que gesticulava lá fora.
Lembrei-me na ocasião do episódio de uma aristocrata francesa durante a revolução daquele país:
- Ande o mais devagar possível para não demonstrar medo, e o mais depressa possível para não considerarem como provocação a sua atitude.
                                     A sacanagem é quem nem Paul nem Ringo apareceram!

Nem olhei pra traz e consegui chegar ao portão antes que ele me alcançasse. Só ouvi o barulho do portão batendo às minhas costas. Aí foi só me vangloriar com a travessura. Mas houve quem me dissesse que isso poderia ser até considerado invasão de propriedade privada... Mas valeria a pena pela foto que consegui.
Na saída reparei que todo o muro da casa estava ocupado com mensagens. Aí procurei um lugar pra inserir a minha. Confesso que me custou um pouco descobrir um lugarzinho. Acabei achando uns dez centímetros quadrados onde escrevi
Franklin e Cybele has have, 3/9/11.
                                   Todo mundo do grupo queia sair na foto em Abbey Road!

Quando vocês forem lá podem procurar. Depois de mais um tempo respirando aquele momento Valdir lembrou que tínhamos de ir pra casa de Paul McCartney, e aí nos dirigimos a pé para a Cavendish Avenue que não fica muito longe dali. Não sei por que os ingleses tem a mania de chamar de nomes diferentes uma rua. Em um lugar é Street, em outro é Road, e há também as Avenue. Uma pessoa tentou me explicar dizendo que são diferentes, que um é rua, outro é rodovia e o outro avenida, mas achei tudo com cara de rua mesmo.
A casa, como não podia deixar de ser, estava fechada, e é do beatle desde os anos 60. Mas só é usada quando ele fica em Londres. É grande, bonita, vi árvores lá dentro, mas o muro era muito alto pra se ver alguma coisa, além do mais havia os danados dos portões... Assim, tiramos fotos individuais e do grupo nos portões, na placa da rua, e foi só. Não teve muita emoção como Abbey Road.
                                          Desse aí tem um montão no metrô!

Saímos dali para outro lugar da excursão o Brother Coffee Shop que fica na St John Station. Na verdade era uma pequena loja que só vendia artigos sobre os Beatles. Pra vocês terem uma ideia se vendia até cópia das placas das ruas onde moraram os membros do famoso conjunto. Foi só ficar corujando mas comprando pouca coisa pois Valdir alertou que existiria maior variedade, e melhores preços (argumento determinante para convencer o pessoal) em Liverpool.
Pegamos de novo o metrô e nos dirigimos para o almoço/merenda, pois iriamos nos encontrar com o guia que nos levaria para conhecer os pontos relacionados aos Beatles em Londres. E quando saltamos na Green Park Station tinha um musico cantando Norwegian Wood. Será que isso tinha sido armado?
                               Ah que arrependimento não ter ido aos shows de Paul no Brasil!

O encontro era no Starbrucks Coffee em Westminster e o guia apareceu para dizer que seu pai estava internado num hospital e não poderia fazer o programa naquele dia. Valdir ainda conseguiu arrancar dele a esperança de que o compromisso poderia ser cumprido no dia posterior ou na volta mas nada rolou.
O jeito foi Valdir ser o nosso guia, aliás o que já estava sendo na prática. Logo depois do almoço/lanche (lá almoço é lunch mesmo!) já fomos a pé para a rua que viu a última apresentação dos Beatles em 1969 num terraço de um prédio que hoje está fechado, em obras, para a instalação de uma loja. Confesso que me decepcionei com o prédio. Não tanto pela altura mas pela largura pequena. Na verdade esperava tudo grandioso e o prédio tem, praticamente a mesma largura de muitas casas. Mas deu pra tirar muitas fotos e ficar olhando pra parte de cima do prédio. Ah como suspirei por aquele concerto em meus 21 anos!
                                            Mas atravessar assim já é sacanagem!

Depois o programa ganhou ares turísticos. Fomos pegar o metrô para o centro da cidade. Na saída do buraco fomos subindo a escada rolante e, demos de cara com o Big Ben. E ao lado dele vinha tudo, o Parlamento, as pontes as barcas, a London Eye, etc., etc. Havia uma multidão andando por ali e nós tentávamos tirar fotos como podíamos. Mas era só pra dar uma “geral” só fomos parar perto da London Eye que já fica do outro lado da ponte.
Aí o grupo começou a discutir a subida nesta roda gigante monstro que dizem que é a melhor vista de Londres. Eu e Augusto dissemos logo a nossa opinião contra subir naquele negócio. Foi um tal de querer nos convencer que nem conto a vocês. Disseram que roda muito devagar, que as bolhas são muito seguras, entre outros. Não sei Augusto mas meu problema mesmo é com a altura! Ora eu não subo nessas coisas no Brasil porque vou subir na Inglaterra?
                                       E olhem que eu entrei no quarto de John...sem ele!

A maioria estava com fogo de subir (até Cybele) e foi pro guichê comprar os tickets mas desistiu loguinho. É que estava apinhado de gente pra subir na London Eye. A fila se estendia por quase toda a largura da praça.  Aí nova sessão de fotos e aproveitamos pra passar o telefone pra nosso sobrinho Matheus explicar como chegar a seu apto em Willesden Green. Mas aí já é assunto pra outro dia.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Um dia muito agitado


                                           
Naquela noite não dormi. O avião saiu do Rio de janeiro mais de meia noite, e olhem que antes nosso voo havia sido antecipado na Bahia e mofamos algumas horas no Aeroporto Antônio Carlos Jobim. Passamos  o tempo nos revirando na cadeira e Cybele pegou uma dor nas costas.
Eram onze horas e meia pra Londres e tentei de tudo pra matar o tempo. O jantar sequer matava a fome. Aliás as comidas dessas companhias de aviação são de dar dó. Encontrei um bom papo na fileira com um paulista que havia feito mestrado na London School Economics. Foi bom pra saber a situação social e política de Londres e pra trocarmos ideias sobre a dura vida de escritor e blogueiro. Rolou tudo quanto foi assunto e a conversa morreu quando chegamos na China.
Aí o jeito foi procurar os filmes que a TAM estava oferecendo. Pelo meu cálculo precisava assistir uns cinco filmes pro avião chegar no Canal da mancha. Mas a pobreza era total. Thor, uma comédia romântica que já havia assistido, uns filmes nacionais sem graça, e Água para elefantes. Acabei ficando com o último do diretor Francis Lawrence. Pelo menos me diverti com as recordações do ex-estudante de veterinária que fez do circo (e da encantadora de cavalos) sua paixão. Nem vi o final pois consegui cochilar.  
                                                       São jóias essas casinhas!

Mudei então o canal para aquelas informações de voo, e imaginem onde estávamos passando, pois é por cima de Salvador. Era demais esse capitalismo. Por um problema de mercado nois obrigam a ir para o Rio e passar pela própria Bahia para alcançar Londres. Se houvesse voo direto de Salvador economizaríamos duas boas horas.
O tempo que faltava era imenso e (acreditem!) consegui até assistir Thor.  Foi realmente um “pé no saco”. Muita ficção somada a efeitos especiais de todo tipo a serviço de mais um herói de plantão. Não sei nem onde foi parar a história pois cochilei quando nosso herói estava destruindo uma ponte que ligava o nada a lugar nenhum.
Pelo menos já estávamos em cima do Oceano Atlântico. Olhava Cybele com inveja de seu sono. Basta botar a cabeça no travesseiro que ela pega no sono. Tentei fingir que dormia. Havia torcido pra não sentar mais ninguém na nossa fila pra que pudéssemos estirar as pernas mas veio o paulista. Me estirei na poltrona do lado. Acho que chegamos á costa da África após umas 25 vezes que troquei de lado.
                                          Pô Wagner, cadê o voo direto Salvador-Londres? 

Resolvi então praticar meu inglês nas revistas que essas empresas de aviação fornecem. Mas isso só iria ocorrer na volta pois na ida estavam todas em português e abaixo da crítica. Aproveitei que meu vizinho foi ao banheiro pra fazer o mesmo. Chegamos a Grã Bretanha com outras dezenas de ações inúteis como essas. Aí foi só contar os minutos até a aterrisagem.
Chegamos ás quatro da tarde, passamos o maior nervosismo na famosa imigração, fomos entulhados em duas vans na viagem pro hotel (onde tivemos a nossa primeira experiência com a concepção de hospedagem faça-tudo-você-mesmo) e ainda deu tempo de desfrutar a noite londrina.
O aeroporto de Hearthrow é uma imensidão. Deixa no chulé o Dois de Julho em Salvador. Mas a tensão que passamos com os agentes não foi mole! Tinha duas filas, uma da “gente bem” (que tem título de cidadão europeu ou é norte-americano) e a outra para os mortais comuns, africanos, latinos, asiáticos, brasileiros e outros bichos.
                                     O esporte na Inglaterra é se atirar embaixo dos trens!

Trata-se de uma fila por natureza suspeita e tem que ser investigada. O grupo deixou as brincadeiras pra trás assim que entrou no recinto fatídico da imigração. Uns quatro batiam um inglês legal, outros enrolavam, e haviam os que não entendiam bulhufas. Imaginem como ficariam com as perguntas que os agentes fazem costumeiramente.
Nas reuniões em Salvador se falou de tudo que podia acontecer. Eu acessei até um blog que arriscava as perguntas básicas mas preferi ler as experiências concretas de brasileiros com esses distintos funcionários. E olhem que havia coisas de arrepiar. Um deles, que chegou para participar da Semana Beatles em Liverpool, teve que responder quantos Beatles estavam vivos e ainda cantar duas musicas do grupo! Outros tiveram que tirar as libras e os cartões da carteira, e o escambau.
Até que o grupo procurou acalmar a todos mostrando que não era nenhum “bicho de sete cabeças” mas ficou no subconsciente. Mas quando entramos no inferno, digo na área da imigração, as caras e até o papo rareou. A fila era monstruosa e me pareceu serpentear por milhares de linhas. Mas bastou uns vinte minutos porá chegarmos perto dos guichês, e aí, expontaneamente, todos chegaram a mesma tática: ir todo mundo atrás de Valdir, o coordenador do grupo e o que melhor falava inglês.
                                    Depois eu conto quando fomos no Estádio do Liverpool!

Bastou chegar a vez do último cara que estava em nossa frente e um pelotão de baianos seguiu atrás do líder em direção o último guichê. A ousadia foi ditada pelo puro e simples medo mesmo! Pensei que iam nos barrar, já estava até preparado, decorando um Sorry but no understand!
Mas não foi necessário pois a turma chegou toda em frente do surpreso funcionário todo mundo vestindo a camisa do Beatles Social Club. Valdir logo se apresentou cuspindo um inglês de fazer inveja. Encheu de documentos a mão do funcionário. Convenhamos, ali tinha tudo. Nome e telefone dos hotéis, dos caras que nos guiariam, datas e horários das passagens de volta, todos os nossos passaportes e até os tickets da viagem de trem Londres-Liverpool-Londres. O agente então se rendeu, mas antes disso fez algumas perguntas a Valdir sobre os Beatles e confirmando algumas informações dos documentos. Depois disso não é que o cara ainda chamou a todos pelo passaporte? Mas acho que era só pra conferir a cara. Deu pra ouvir o “ufa” quando chegamos do lado de fora.
Depois foi nos acotovelar nas vans e rumar pra Bayswater. O motorista até que tentou conversar mas desistiu ao ver que não estávamos nem aí, não por desinteresse, mas por terem concentrado em nosso veículo os que menos se defendiam em inglês. Aí ele apelou colocando uma fita latina pra tocar que abria logo com uma bossa nova instrumental. Aí arrisquei um beautiful para a sua satisfação.
                                           Quero ver sorrir viajando onze horas!

Enquanto isto a van já ultrapassava a rodovia por onde se vai ao aeroporto (Londres tem uns quatro) e avançava sobre o tráfego de Londres. Não nos surpreendeu os ônibus de dois andares, as cabines telefônicas, ou os famosos taxis pretos mas a arquitetura da cidade, cheia de bairros com casas em série com dois andares, uma porta, quatro janelas, e uma escadinha na frente. Só variava a cor mais ou menos sem graça das construções.
Já era umas sete da noite quando chegamos ao Hyde Park Hotels. Quando entramos na rua já achei estranho. Não havia lugar para um edifício naquela rua pois só tinha prédios de dois e três andares. A van parou em frente ao número 55, vendido pela internet como o endereço do hotel. Mas era somente outra casa de dois andares. Aí foi fazer uma vaquinha pra pagar a corrida, tirar as malas amontoando-as devidamente no pequeno recinto da recepção e do corredor.
Depois de deixarmos de novo toda a iniciativa com Valdir, e quando este voltou com as chaves, é que descobrimos que iriamos nos hospedar num hotel diferente, com uma concepção moderna de faça-tudo-você-mesmo. Eu e Cybele ficamos no apartamento 9 do prédio 30 mas só recebemos uma chave que abria os dois. Depois disso o grupo se dividiu, percorrendo a rua para buscar o local onde estava. Nós caminhamos uns quatrocentos metros arrastando malas pra achar o prédio 30. Pelo menos a chave abria a porta, mas a dificuldade foi descobrir o quarto nove.
                                                             Passeata no Soho!

Tinha entradas á direita, escadas pra cima e pra baixo (onde existiam quartos),e uma porta fechada no fim do corredor do primeiro andar.  Deixei tudo ali e saí a procurar. Confesso que subi e desci algumas vezes e nada. Aí então decidi ir até aquela porta fechada, e não é que dava pra dois quartos, e entre esses o nove? Ficamos vizinhos do casal de sócios do Cheiro de Pizza Almira e Dorival.
Mas o problema mesmo foi no quarto. O primeiro problema foi ligar a luz e o segundo tomar banho morno. Levamos uns bons quinze minutos pra achar a mágica que iluminasse o ambiente. Quanto ao banho tentamos misturar de todas as formas a agua fria com a agua quente. O jeito foi deixar o banho pra de manhã quando chamamos Cabus que resolveu tudo simplesmente.
Não posso deixar de contar o que passamos em matéria de hospedagem em Londres e Liverpool. No resto até que ficamos em hotéis mesmo, mas nessas cidades a hospedagem tinha um “conceito moderno”. Não foi tanto pelo “apertamento” pequeno e pior que um kitchenette baiano, mas pelo fato dos que imaginaram esse sistema ter o desplante de colocar no mesmo quarto a cama, o armário, a cozinha (com fogão, gás e tudo) e a TV. Só deixaram o banheiro separado.
                         Na Irlanda se diz do Titanic: feito na Irlanda e afundado por um inglês! 

De forma que quando estirávamos o pé pra fora da cama quase batíamos no extintor, e tínhamos que ter cuidado ao acordar pra não chutar o fogão. Era tanto botão pra apertar que fomos embora e não descobrimos como fazer café no quarto, embora o restante do grupo não combinasse com a nossa ignorância. Mas vamos voltar a Marx, quero dizer ao passeio com nossos sobrinhos.
Mas nossa passagem pelo quarto foi super rápida. Foi só inspecionar o local, largar as malas, dar uma ajeitada geral na aparência e estávamos novinhos em folha. Valdir tinha nos avisado que nossa rua era paralela com a Queensway Street e que lá tinha muitas coisas. Mas não esperávamos tanto. O pessoal que circulava alí era de todos os lugares do planeta menos ingleses. Havia mil lojas, lanchonetes, restaurantes (gregos, italianos, indianos e chineses), duas estações de metrô (a Queensway e a Bayswater), lan houses, pubs, e até uma igreja, a Apostólica Brasileira.
Entramos logo em uma loja pra comprar um chip da operadora Lebara (como Valdir havia nos ensinado) pra habilitar o telefone de Cybele na Europa. Só aí é que conseguimos telefonar pra nosso sobrinho Matheus que vive e trabalha em Londres. Mas qualquer acerto dependeria da programação do Beatles Social Club do dia posterior.
                                                                     Ói ele aí!

Eram quase nove da noite quando fomos jantar no Restaurante Bela Itália. Só depois é que soubemos que Matheus já havia trabalhado lá e não recomenda pra ninguém essa cadeia. O pessoal todo do grupo entrou mas só nossa mesa ficou, tendo como companhia Almira, Dorivcal, Portela(Companhia da Pizza).A comida foi ruim de dar dó abrindo uma temporada de comidas sofríveis que iríamos encontrar na viagem. O que se salvou foi o garçon português que conhecia a Bahia e pretendia voltar para o estado durante o duro inverno inglês.
Na saída conhecemos Daniel, outro estudante brasileiro em Londres, que era amigo de Faustão, e, como o pessoal estava no fogo, ele propôs nos ciceronear numa visita ao centro. Nessa altura já eram quase onze da noite e estávamos cansados, mas quem sabe quando teríamos outra oportunidade? Bastou uma troca de olhares entre eu e Cybele pra decidirmos topar.
                                            Rapaz, entrei no quarto de John e tudo!

Foi assim que passamos pela Oxford Street (onde estão muitas grifes), por Piccadilly Circus, e fomos terminar a noite no Soho. O Bar Itália ficava quase em frente do Clube de Jazz Rowney Scott que tinha uma programação de encher os olhos, a qual copiei toda até o fim da viagem. Quando acabamos o tour não tinha mais metrô e o jeito foi pegar dois taxis grandes pra voltar pro hotel onde chegamos quase as três da madruga. E o pior é que nesse dia precisaríamos estar cedo em pé pois era quando conheceríamos o estúdio dos Beatles em Abbey Road. Mas isso é assunto do próximo capítulo.

sábado, 24 de setembro de 2011

De Londres, Marx e do bicho doido


                   Dizem que o capitalismo está por um fio!

Não sabia que aquela noite no fim de junho que fomos à Companhia da Pizza em Salvador iria me proporcionar tantas emoções. Quando o locutor, entre uma musica e outra de um conjunto cover dos Beatles (que já não me lembro do nome) anunciou que o Beatles Social Club – BSC faria uma excursão temática em Londres e Liverpool em setembro não tive dúvidas. Procurei na hora Valdir, do grupo de rock Travolta, solicitando a programação, o preço e as datas das reuniões dos viajantes.
O resto foi só convencer minha companheira Cybele. Não foi necessário muito esforço. A excursão era barata (12 dias por 3.600,00 com passagens, hospedagem e passeios incluídos), e já havia tempo que ela não via os sobrinhos Rafa e Matheus, que se encontravam, respectivamente, em Dublin e Londres.
                                                   E tinha lá até a Ana Paula Arosio!

Aí me motivei a voltar às aulas de inglês (desta vez com a excelente professora Elvira), compramos libras e euros e fomos às reuniões do grupo, que começou com uns doze e chegou a quinze em Liverpool. Ainda deu pra convidar Roberto Cabus, velho camarada de batalhas de solidariedade internacional a Cuba nos anos 80.
Foi com este que comecei a discutir, ainda antes da viagem, uma excursão paralela, o “roteiro Marx”. É que, entre as pesquisas para a viagem incluí informações sobre a casa onde viveu Marx e o pub onde dava aulas, o túmulo onde se encontra em Highgate, a casa onde viveu Engels, e o antigo teatro onde foi fundada a I Internacional. Cabus topou logo, outra pessoa da excursão também confirmou o programa (entre vários outros), Vitor não topou e o resto do grupo sequer se pronunciou.
                                                                   Eu vi no Soho!

Percebi então que só o roteiro dos Beatles iria ser comum a todos, e cada um teria que fazer a programação que lhe dissesse algo mais. Desta forma, coloquei nove dias a mais após a excursão para que pudéssemos dar conta de nossas necessidades políticas, familiares e turísticas. A riqueza do roteiro do BSC, no entanto previa bastante atividades e tivemos que utilizar os poucos momentos livres e o encerramento da excursão original pra cumprir a nossa programação particular.
Desta forma nosso “roteiro Marx” teve que ser feito em etapas. A primeira foi a visita ao seu túmulo. Pra isso contamos com um problema na excursão. É que o pai de nosso cicerone em Londres baixou ao hospital e os passeios do sábado não puderam ser realizados. Assim, pudemos encontrar com Matheus e Karen nesse dia e combinar para o outro dia a visita a Highgate e outros locais. Mas como tudo que é bom tem que abdicar de alguma coisa, perdemos a visita á feira e ao bairro de Camden Town, deixando de conhecer uma região criativa que deu ao mundo, entre outras, a figura de Amy Winehouse. E o pior é que ainda perdemos Cabus para este programa.
                                           Reunião clandestina da Liga dos Comunistas!

Não podia haver um dia melhor pra visitar Marx que um domingo, uma semana antes do aniversário de dez anos do atentado às torres gêmeas. Como ainda não sabíamos operar com esses irritantes “hotéis” ingleses (estilo faça tudo você mesmo) tivemos que acordar as nove horas da madrugada, tomar nosso breakfast num café da esquina, e voltar pra encontrar Matheus e Karen pouco depois das dez na porta do Hyde Park Hotels em Bayswater.
Desculpem o parêntesis, mas não posso deixar de contar o que passamos em matéria de hospedagem em Londres e Liverpool. No resto até que ficamos em hotéis mesmo, mas nessas cidades a hospedagem tinha um conceito muito moderno para o nosso gosto. Não foi tanto pelo “apertamento” pequeno e pior que um kitchenette baiano, mas pelo fato dos que imaginaram esse sistema ter o desplante de colocar no mesmo quarto a cama, o armário, a cozinha (com fogão, gás e tudo) e a TV. Só deixaram o banheiro separado.
                                               Droga, só perdi a casa da Amy Winehouse!

De forma que quando estirávamos o pé pra fora da cama quase batíamos no extintor, e tínhamos que ter cuidado ao acordar pra não chutar o fogão. Era tanto botão pra apertar que fomos embora e não descobrimos como fazer café no quarto, embora o restante do grupo não combinasse com a nossa ignorância. Mas vamos voltar a Marx, quero dizer ao passeio com nossos sobrinhos.
A nossa opção foi deixar o cemitério por último, por necessitar pegar o metrô. Desta forma fomos, em primeiro lugar, ao Hyde Park a uma quadra de onde estávamos. Ali pudemos gozar de breves instantes de tranquilidade numa Londres que vive apressada (caminhando não se sabe pra onde) junto as margens de seu lago apreciando cisnes, barquinhos e o Cooper dos residentes em uma capital que conta, pelo menos, com 40% de imigrantes.

                                                         Pô, esse é o Groucho Marx!

Ainda a pé fomos a Nothing Hill em uns dez minutos de caminhada. Eu já conhecia o bairro do filme Um lugar em Nothing Hill e confesso que o visitei esperando a qualquer momento ver Julia Roberts e Hugh Grant saindo de alguma de suas belíssimas e coloridas casas. Mas desci logo dos sonhos do cinema com a informação de Matheus sobre os preços das casas e aluguéis no bairro, estando explicado porque a livraria do personagem Will (Hugh Grant) faliu.
Mesmo com uma casa beirando as 700 mil e aluguéis a 1.500 libras mensais o comércio local é pequeno e de fazer inveja. São casas com fachada de madeira onde se pode encontrar de tudo, desde produtos tradicionais a antiguidades, pubs e mercadorias dignas de colecionadores. Mas ali nos limitamos a tomar um sorvete italiano e visitar um legítimo pub irlandês onde encontramos inclusive a foto de um show dos Beatles em 1966. Pensamos em almoçar por ali, mas preferimos fazer isso em Highgate pra ganhar tempo.
                                        Vejam se o Benazzi não parece um revolucionário!

O lugar é longe à beça, fica no Condado de Isligton, e tivemos que pegar alguns trens trocando de plataforma no metrô. Descemos na estação de Artway e aproveitamos pra almoçar num excelente restaurante persa das proximidades. Nessa hora a presença dos sobrinhos foi essencial, pois um cardápio em inglês e nomes de comidas turcas ninguém merece! Foi assim que conseguimos pedir e desfrutar de alguns dos bons pratos da culinária asiática.
Depois do almoço enfrentamos uma longa ladeira até a colina de Highgate. Na ocasião ainda pensava que Marx havia sido trazido para ali desde o Soho, e me intrigava, pois o bairro era ainda mais longe de Nothing Hill. Para encontrar o túmulo do herói da minha juventude tivemos que caminhar até o Waterlow Park (não confundir com Waterloo), cuja entrada é à direita, perto da Igreja de Saint Joseph.
                             Grito de minha mulher quando eu caí das escadas do lago Ness!

Tem que atravessar o parque pra encontrar o cemitério onde Marx está. Mas lhe asseguro que se trata de um passeio muito agradável. O lugar é lindo, aliás, sem querer parecer lúgubre, é onde qualquer um escolheria pra ser enterrado. Como Matheus já sabia o caminho foi só caminhar meio quilômetro para sair no caminho dos cemitérios. Reparem que falo no plural. É que atualmente existem dois cemitérios em Highgate embora na época em que Marx morreu era um só com alas diferentes, sendo nosso revolucionário enterrado na dos banidos pela Igreja Anglicana.
O cemitério onde Marx está fica à esquerda do caminho e nem tem um portal de entrada como o outro, limitando-se a um portão e uma portaria, onde se paga a visita e se pode comprar alguns folhetos. Mas atenção é preciso que se saiba que há dois túmulos de Marx, aquele onde ele foi enterrado e o novo, criado nos anos 50. Sabendo do fato pedi a meu sobrinho para perguntar ao responsável pela portaria mas ele disse não saber onde ficava o primeiro túmulo, seja por ignorância ou por não gostar da hora em que chegamos.
                                                      Não foi eu que botei as flores!

Sendo comunicados que o cemitério fechava às cinco e não às seis como pensávamos, descemos com a expectativa (como bons brasileiros) de ultrapassar o horário permitido. O cemitério é belo e, pelo menos os túmulos que se encontram nas suas ruas estão bem conservados. Ali estão comunistas de alguns países que escolheram compartilhar o local de sua última morada com o revolucionário.
Não foi preciso caminhar muito. Bastou descer o caminho ao lado da portaria e andar mais um pouco até uma esquina. É um misto de monumento e túmulo constituindo-se de uma pequenina base de pedra sobre a qual se ergue um bloco de granito que serve como lápide, e, em cima deste, uma grande cabeça de Marx. É de autoria do escultor Laurence Bradshaw.
                               Concorrida representação comunista no Parlamento Britânico!
Na frente do bloco está uma versão da famosa frase Trabalhadores de todo o mundo uni-vos. Em baixo da lápide encontra-se uma das afirmações das suas Teses sobre Feuerbach: Os filósofos apenas interpretaram o mundo em vários sentidos, a questão é transformá-lo. Estão ali, além de Marx, sua esposa Jenny, sua filha Eleanor, o genro Harry Longuet(casado com sua filha Jenny), e a governanta da família Helena Demuth (com quem Marx teve um caso).
Confesso que, mesmo depois de todo esse tempo de batalha, fui tomado por uma emoção muito grande por estar ali onde inclusive Engels havia pronunciado uma oração fúnebre.  Depois de observá-lo, andar em volta dele e tirar várias fotos, minha sobrinha Karen filmou minha presença ao lado do túmulo. Até que chamei Cybele pra sair na foto ao meu lado mas ela não aceitou. Pode ter sido por não gostar de visitar cemitérios, por querer que eu desfrutasse sozinho aquele momento, ou por não querer aparecer em “fotos comprometedoras”. Na ocasião Karen pediu que eu dissesse como me sentia mas fiz um papelão. Só consegui balbuciar algumas palavras, tipo “é difícil falar”, lembrar de minha saudosa mãe (talvez porque Marx fosse meu pai na política)e chorar.
                                                       Ói o prédio onde morou Marx!

Depois foi a febril procura do túmulo verdadeiro. Tinha algumas indicações para isso. Estaria a uns duzentos metros atrás do atual, e seria uma lápide rasa e quebrada. Meus acompanhantes puseram em dúvida as minhas informações. Matheus disse que nunca tinha ouvido falar do assunto mas me ajudou a procurar.
Descemos a ladeira numa caça inútil verificando os túmulos que tinham essas características que estavam no caminho até uns quinhentos metros. Entrei pela floresta adentro em numerosos caminhos onde existem centenas de túmulos rasos. E foi quando estávamos nesta busca é que chegou uma senhora que trabalha no cemitério avisando que havia se esgotado a hora da visita.
                         Marx sentado ouvindo Engels falar numa sessão da I Internacional!

Não sei se foi a raiva mas achamos a mulher com uma cara mal assombrada. Parecia um fantasma. Mas pelo menos confirmou pro pessoal a existência do túmulo embora sem apontar onde se localizava.  Agora era a vez da subida mas continuei olhando pros lados do caminho, e digo a vocês, se encontrasse o túmulo não haveriam guardas suficientes pra me tirar de Highgate. Mas isso não seria necessário pois chegamos à portaria sem encontra-lo e as 17:02. Ah como são miseráveis esses britânicos em matéria de horário!
Após esta emocionante experiência atravessamos o Waterlow Park de novo e precisei sentar duas vezes. Não estava cansado mas digerindo a emoção deste inesquecível dia 4 de setembro de 2011 quando reencontrei meu herói da juventude. E foi ainda aéreo que visitei a Igreja Saint Joseph, descemos a ladeira pelo outro lado, tiramos fotos na Karl Marx casa de chá e pegamos o metrô em direção ao Soho onde fomos assistir a Orquestra do Clube de Jazz de Rowney Scott.
                            Ex-marxistas confabulando sobre como dificultar a aposentadoria!

Meu “roteiro Marx” não poderia ter começado melhor. Depois dali cumpriríamos mil programas, iríamos a Liverpool, visitaríamos as casas onde viveram os Beatles, mas só sentiria emoção ao entrar no quarto da casa da Tia Mimi onde outro herói da minha juventude, John Lennon, viveu sua adolescência e juventude. Em Edimburgo chegamos bem perto do túmulo de Adam Smith mas não havia tempo na excursão pra procura-lo no cemitério da igreja onde se encontra.
O restante do “roteiro Marx” só seria cumprido oito dias depois, e novamente sem Cabus que já havia partido. Aproveitando as férias da sobrinha Karen, percorrermos as ruas do bairro vibrante de Soho, onde encontramos o apartamento onde viveu Marx, entre fins de 1850 e 1856, o pub onde o revolucionário deu aulas, e o prédio onde foi fundada a I Internacional. Não nos deixaram subir pra ver onde Marx morou. Consolei-me pensando que nada devia estar como antes no clube privado que ali funciona num prédio que tem no térreo o Restaurante Marx (sic!) e agregados.
                                       Não dá Will pra procurar a felicidade no capitalismo!

O antigo pub Red Lion também está no Soho, e ainda é um pub, só que tem hoje outro nome. Entrei e dei uma boa olhada para o ambiente lotado percebendo que os seus fins atuais são, digamos, menos nobres. Já o antigo St Martins Hall agora é o Queens Theather, um dos principais teatros da cidade, e encenava por coincidência o musical Les Miserables estando na fachada uma figura portando colossal bandeira vermelha.
Meu “roteiro Marx” em Londres havia terminado, não dando tempo pra ir na casa onde Engels viveu em Primrose Hill que sequer havia descoberto o número. Fica para outra oportunidade!

*  Agradeço ao blog de Barbieri memórias do rock brasileiro. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Na terra dos Beatles




Gente, chegamos hoje de mais uma cansativa viagem, desta vez para o Reino Unido e Irlanda. Já estava com saudades de voces mas lá não era fácil acessar internet. Só em Londres é que se achava Lan Houses mas tinha que pagar pois os hoteis inventaram agora de cobrar wi fi. Veja se pode? Só pra dar o sinal custa até 16 libras(45 reais) pra acessar mais de uma hora.

A viagem de volta foi um "saco". Devia ser proibido ficar mais de três horas em aeroportos, ainda mais viajando! Imaginem que ficamos 24 horas nos aeroportos de Dublin, Londres, Rio de Janeiro pra voltar pra Salvador. E olhem que no dia 17 havia passado pelo maior vexame, imaginem onde?, no Lago Ness. Ele mesmo, o do monstro.


                                        Pô, tivemos bem aí!

Essa era uma visita que eu estava me devendo. Desde a juventude que eu ouvia falar do monstro que todo mundo procurava e poucos tinham visto na Escócia. Pra isso tivemos de subir às Terras Altas daquele país, viajar mais de cinco horas, passar por tudo quanto foi lago, e olhem ele alí...com aquelas aguas escuras, o Lago Ness.

Voces sabem como é, brasileiro pobre viajando em excursão, com mais umas cem pessoas em três onibus é tudo corre corre. E foi nessa que eu "me lenhei"! Eu e Cybele não podiamos deixar de tirar uma foto com o monstro, digo, a estátua do monstro. O resultado é que ficamos ali, nos lambuzando de fotos até que não vi
mos mais o pessoal da excursão. Aí descermos sozinhos a escada do tunel que leva ao ancoradouro de onde saem os iates pra percorrer o lago. E aí, no meio da escada que não tinha corrimão, a tragédia, um baiano estatelado no chão em plenas margens do lago famoso.

                    Se não fosse a queda veriamos o monstro!


Foi uma machucada legal, feri as pernas, abriu um rombo no joelho esquerdo e ainda sobrou uma suspeita de fratura do dedão do pé esquerdo. Mas pior do que isso foi grito horroroso de Cybele que ecoou em todo o Lago Ness e por certo fará que o monstro não apareça pelos próximos duzentos anos.

Depois disso fiquei cheio de bandagens na parte de traz do iate, quase que não vimos bulufas do lago famoso, e andei de cadeirinha no castelo que fica às suas margens. E ainda tive que aguentar cinco horas no onibus pois não tinha nem gelo e o guia me apresentou a seguinte "opção", ficar no hospital de Fort William ou seguir pra Glasgow com a excursão para ser levado para o hospital da cidade.  Bem, entre ficar abandonado sem saber falar inglês as margens do lago, e ir pra uma cidade grande com boa assistencia de saúde preferi a segunda opção e pude comprovar meu acerto à noite.

                Ainda achamos essa cover de Amy em Camden Town!


Chegamos ás 21:30 na Enfermaria Real(é o nome do hospital público minha gente!) e deu pra ver a diferença da Escocia para o Brasil. O HGE não dá "nem pra melar" com a emergencia do hospital que estava "nos trinques". Tudo novinho em folha, com telão, cabines de atendimento, cadeiras de rodas, três consultórios atendendo num sábado(acreditem pois não é a Baixada Fluminense), etç. Fui o número 26 e olha que ninguém conhecia as atendentes ou os médicos nem passou em minha frente.

Aproveitei pra ligar pro meu sobrinho Rafa em Dublin que, com um amigo, me deu as dicas do que deveria dizer em ingles, e me sai muito bem com a médica. Tirei um raio X e ela veio com a alegre notícia "No break"(não quebrou), aí comemorei como se fosse um gol do Vitória. O paracetamol que ela passou é que de nada adiantou mas como minha mulher não existe me deu Novalgina pra me safar da dor.Foi capengando que cumpri o resto da excursão e estou aqui agora pronto pra outra.

               Passou até Thor no avião mas meu ingles não é de nada!

Em 21 dias fomos a Londres, Cambridge,York. Liverpool, Edinburgo, Durham,Terras Altas, Lago Ness, Fort William, Inverness, Glasgow, Belfast e Dublin. Deu pra visitar o Museu Britânico, ir ao Clube de Jazz de Rowney Scott, assistir uma manifestaçao contra a venda de armas na Trafalgar Square, e não faltou o roteiro lugubre dos tumulos de Marx e Adam Smith.

Como não poderia deixar de ser assistimos no bar Australiano(Dublin)uma parte do jogo Leeds 0 X 3 Manchester United,  a alegria dos moradores de Dublin ao acompanhar seu clube na primeira divisão da Republica da Irlanda, e visitamos a sede e o museu do Liverpool FC.

Mas é sempre bom estar com voces de novo!