terça-feira, 29 de novembro de 2011

O empréstimo


O empréstimo é um conto que faz parte de uma antologia do nosso grande escritor Machado de Assis. A história gira em torno de um honesto tabelião que recebe uma proposta inusitada emprestar cinco mil reis a um conhecido para montar um grande negócio. Mas como o mesmo se fez de rogado este começou a diminuir o pedido e quanto mais o fazia mais a situação constrangia seu interlocutor. No final da história o abusado saiu apenas com cinco mil reis...o suficiente para um lauto jantar!
Mas não é só na literatura que essas coisas acontecem, no futebol baiano também. Só que o jantar foi outro! No ano de 1970 o anel superior do Estádio da Fonte Nova estava sendo construído. Pra não deixar de realizar o campeonato baiano o jeito foi voltar a jogar no antigo Campo da Graça. Deve ter sido seguramente um dos piores certames já realizados. A disputa desde 1963 era um equilíbrio só. Em 63 ganhou o Fluminense de Feira de Santana, em 64 e 65 o Vitória, em 66 deu Leônico na cabeça, em 67 o Bahia, 68 o Galícia e em 69 de novo o Fluminense.

O campeonato havia sido interiorizado desde 67 e não era brincadeira para os clubes da capital jogarem nos verdadeiros alçapões do interior. De forma que mesmo naquele ano dois clubes diferentes ganharam os turnos, Bahia e Itabuna. Osório Vilas Boas conta em seu livro como foram as finais.
A final seria em dois jogos, um lá e outro cá e, em Itabuna, esperava-se as mesmas dificuldades dos outros jogos. Brigas, pancadarias, pressões de todos os tipos, juiz caseiro, etc. Enquanto Osório pensava em uma alternativa pra tudo isso eis que aparece em sua casa às sete e meia da matina o presidente da FBF, Carlos Alberto de Andrade, que trabalhava no gabinete do prefeito.   
 
        Foi no tempo em que se viajava pra Itabuna em diligência!

   
- Fiquei surpreso com a visita, desde que o Carlinhos só me procurava em casa as dez ou onze horas da noite. Eu disse “vá entrando” e ele não se perdeu em parolagens, em conversa cumprida. Falou:
- Osório, eu preciso de vinte mil cruzeiros para pagar uma letra da Federação, já vencida, e irá para o cartório de Protestos amanhã.
- Engraçado. Você está com este problema e eu com outro: isto de o Bahia jogar em Itabuna nas circunstancias atuais.   
- Eu resolvo.
                                                                  Ói quem era o prefeito!

Então Osório emprestou dinheiro do tricolor, tendo o presidente da FBF dado a garantia de uma nota promissória correspondente a quantia emprestada.
- Fiquei feliz quando ele saiu. Mas ao meio dia todas as resenhas esportivas das rádios anunciavam que uma caravana de esportistas e políticos de Itabuna tinham obtido uma audiência com o prefeito para que interviesse no sentido de se garantir um jogo na cidade.
                                                    O pessoal saía cheio de grana!

E aí, como Osório sabia da sua disponibilidade no gabinete decidiu procura-lo falando com toda a franqueza.
- Olhe aqui Carlinhos, se vire! De modo algum o Bahia jogará em Itabuna.
- Deixe comigo. AS partida será adiada sine die. Fique tranquilo.
                                                           Ainda nem tinha o BNDES!

Resultado, quando o pessoal de Itabuna estava reunido com o prefeito este convocou o presidente da Federação ao seu gabinete dizendo:
- Você vai marcar o jogo em Itabuna no domingo. Entendido?
Mas a resposta de Carlos Alberto Andrade surpreendeu a autoridade:
- Não vou marcar coisa nenhuma! Se a Prefeitura é aqui, a Federação é lá em São Pedro, e seu presidente sou eu. Aqui sou apenas funcionário. Os casos concernentes à Federação eu decido é lá...
                                                   Foi aí que Osório conheceu ACM!

- Eu estou dando uma ordem!
- Sabe de uma coisa senhor prefeito? O Bahia não vai jogar em Itabuna agora e não sei mesmo quando irá!
Aí o prefeito não aguentou mais e explodiu:>
- Suma da minha vista, agora!

                                           O futebol baiano "era" a casa da mãe Joana!

Desta vez Carlos Alberto atendeu a ordem saindo prontamente da sala. No dia seguinte perdia a disponibilidade no gabinete do prefeito retornando à repartição de origem.
Bendito empréstimo. Por vinte mil reis o Bahia jogou as finais em Salvador e jantou fácil o título. Na primeira deu de três a zero no Itabuna, e na segunda foi ainda pior: seis a zero.

·         Agradeço as informações do livro Futebol, paixão & catimba e do site Releituras.com.

sábado, 19 de novembro de 2011

Crepúsculo

                                  
A palavra crepúsculo quer dizer muita coisa. Está na astronomia, no tarô, no clima, nas estações, e em todas elas em suas vertentes matutina e vespertina. Na verdade é um momento de transição, onde nem é bem dia, nem é bem noite, quando surge e desaparece o astro rei.
Mas o crepúsculo ficou famoso não por ser um fenômeno da natureza mas por ser a saga escrita por Stephanie Meyer e adaptada para o cinema vampiresco. Já nem sei mais as quantas estamos, pois é público jovem certo. Agora está enchendo os cinemas Amanhecer – parte I e os fãs terão que esperar pois a parte II só vai pras telas em novembro de 2012.
             
                                                 Só os namoros que não parecem os baianos!

O diretor é Bill Condon e as estrelas são o casal Edward (Robert Pattinson), o vampiro, e Bella (Kristen Stewart), fazendo o papel da mocinha. Fizeram o que puderam pra melhorar o roteiro da escritora mas o filme continua com uma série de clichês e breguices. Desta vez até o Brasil apareceu no roteiro com os protagonistas passando a lua de mel no Rio de Janeiro.
Mas o que os apreciadores da série não sabem é que a escritora se inspirou em muita coisa na Bahia. Em 1958, por exemplo, dois dos maiores dirigentes vampiros do nosso futebol armavam jogadas para chupar sangue. O Galícia recuperava-se no futebol baiano. Havia sido campeão do Torneio Início no ano anterior e neste ano abria o certame começando bem abiscoitando o vice.
                                          Mas os vampiros baianos são regados a dinheiro!

Mas no certame estadual o azulino tinha que se embater com as fortes representações da dupla BA-VI. O rubro negro, campeão do ano anterior, e o tricolor, que tinha vindo de uma excursão á Europa, iria viver páginas gloriosas de sua história nestes tempos. Em uma das importantes partidas jogadas contra o esquadrão o clube da colônia espanhola iria estrear o ponta esquerda Eliezer dotado de um chute fortíssimo.
A transferência, porém, não chegava, preocupando os dirigentes do azulino. Só no último dia da semana antes do jogo é que o tal telegrama da CBD chegou à federação baiana autorizando a transferência do atleta.  Eliezer jogou e foi a estrela da partida vencida pelo Galícia por dois a zero, com ambos os gols anotados pelo ponteiro. O resultado voltou a equilibrar o campeonato colocando os três clubes na disputa pelo turno.
                                      A visita deles atraiu todos os vampiros pra Bahia!

No entanto, vários dias depois, chegou outro telegrama da CBD autorizando “de novo” a transferência do jogador, e sem fazer a menor referência ao anterior. Os olheiros do Bahia na FBF reagiram na mesma hora telefonando pra Osório para lhe informar do estranho acontecimento. O dirigente então percebeu que debaixo daquele angu tinha caroço.
Após uma investigação nos documentos os vampiros tricolores concluíram que o primeiro telegrama não tinha a redação habitual da funcionária, Dona Marina, da CBD. Consultados os vampiros advogados esses disseram que a possibilidade da anulação do jogo era mínima pois já havia expirado o prazo para protesto.
                            Haviam bolsas de sangue em toda esquina de Salvador nessa época!

O vampiro-mor Osório Vilas Boas, entretanto, estava com uma espinha atravessada na garganta pois havia bancado o bobo. O dirigente então mandou seu irmão ao Rio, não para passar a lua de mel, mas pra pegar certidões sobre a autenticidade dos documentos junto à CBD e a Western. A fraude havia sido caracterizada, com os vampiros galicianos forjado o documento.
O caso chegou aos jornais ocasionando grande celeuma. Mas o Vitória, concorrente ao título com a derrota do tricolor, estrilou na hora. Na ocasião o vampiro Ney Ferreira chegou a afirmar que:
- Vai correr sangue na federação! O Vitória não pode ser esbulhado.
                                     Não era fácil o vampiro Edward passear na Rua Chile!

Quando o processo chegou aos tribunais a situação chegou ás raias do drama deixando fichinha o filme Amanhecer. Na ocasião todos os vampiros apareceram pra ver o julgamento de seus pares. O bacharel Renato Reis defendeu o recurso tricolor mas a coação de Ney Ferreira pesou na balança, sendo responsável pelo escore de quatro a três pra dupla Vi-Gal contra o Bahia.
Aí rolou recurso para o STJD e foi tudo diferente. Quem defendeu o Bahia foi o próprio irmão do vampiro Osório, dando de goleada, sete a zero pro tricolor. Mesmo com os prazos esgotados para recurso o superior tribunal abriu uma “exceção” e deu ganho de causa pro esquadrão dos vampiros. Não disse que isso inspirou Stephanie Meyer?

·         Agradeço ao livro de Osório Futebol, paixão & Catimba.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A PROFISSÃO MAIS ANTIGA DO MUNDO

              
   
Dizem que a profissão mais antiga do mundo é a de prostituta, mas isso não se vê na Bahia. Aqui, o prazer dos torcedores é contar histórias de malandragens no futebol. E hoje nós vamos contar uma dessas que houve na Fonte Nova. No longínquo ano de 1955 o campeonato baiano do ano anterior estava mais atrasado do que de costume.
O Vitória havia sido campeão de 1953 mas naquele ano Botafogo, Bahia e Vitória haviam cada um ganho um turno sendo necessário um turno extra para decidir o campeão. A disputa foi uma das mais renhidas da história da Fonte Nova. O tricolor tinha Marito, Carlito e Isaltino e o rubro negro, mesmo tendo saído seu ídolo Quarentinha contava com Pinguela, Matos e Alencar.
                                                 Esperando os jogadores no túnel!

Mas o bambambã do pedaço era mesmo o Botafogo que, entre outros, tinha jogadores como o fenomenal Zague (que depois brilhou no Corinthians e no México), o zagueiro Nelinho, o goleiro Leça, e ainda o ponta Lamarona. E na primeira partida os diabos rubros já praticamente despachavam o leão vencendo incontestavelmente por dois a um com gols de Roliço e Lamarona, só conseguindo o rubro negro marcar graças a um gol contra de Nelinho.
Mas uma grande surpresa ocorreu logo no meu aniversário de seis anos, quando o tricolor bateu o verdadeiro escrete que o alvirrubro havia formado por três a um. A derrota foi bastante estranha não se entendendo o grande ataque com que contava em campo. E o negócio ficou ainda mais de se desconfiar quando o Vitória ganhou do Bahia, e em pleno Dia do Trabalhador, deixando tudo empatado de novo. Tudo levava a crer que estávamos perante as marmeladas habituais para esticar a decisão para o último momento à custa de enganar os torcedores.
                                                   Pô, mais aí é discriminação!

O segundo turno começou em oito de maio com nova vitória dos diabos rubros sobre os leões, dois a zero, mostrando que este não era adversário, e marcando Roliço outra vez e Zague.  Todos os olhares se voltaram então para Bahia x Botafogo, uma verdadeira decisão antecipada que poderia deixar o clássico do domingo seguinte sem função.
Mas, apesar do verdadeiro tiroteio sobre as duas metas o placar não conseguiu ser movimentado, mantendo o interesse no BA-VI. Durante muito tempo meu pai falou desse jogo, que decidiria quem iria disputar uma decisão contra o Botafogo. Mas o leão mostrou que não era páreo este ano, caindo por dois a zero, com gols feitos pelo meia Naninho.
                                                  Os diabos rubros pediram a morte!

A grande decisão foi fulminante no domingo seguinte. Desta vez não deu para as famosas “melhor de três”. Ora, depois de dois meses jogando um turno extra o público já estava se cansando de tanta decisão. Os jornais tratavam o alvi rubro como virtual campeão. O ex-presidente do Bahia, Osório Vilas Boas, trata desse jogo no seu livro Futebol, paixão & catimba que trata das malandragens feitas por ele no futebol baiano.
Ali confessa que o Botafogo dispunha de um plantel de melhor qualidade. Após pesar a situação da equipe para o jogo decisivo chegou á conclusão que suas condições físicas eram deploráveis e que os jogadores “eram uns farristas de marca maior”. Decidiram então concentrar o time na pensão de Dona Anita na Ilha de Itaparica pagando vinte mil reis por dia. Para piorar a história tinha havido uma briga no plantel tricolor entre o goleiro Osvaldo Baliza e o meia Naninho por motivo fútil.
                                   Alex, se fosse Osório o leão subia na base da mala branca!

O clima tinha que ser mudado pro tricolor ter alguma chance na partida e não deu outra coisa. Osório então procurou os dois jogadores e contornou o incidente. Mas, quando voltou pra cidade um conselheiro lhe procurou para dizer que soube que o goleiro do Bahia havia sido comprado pelo Botafogo. Verdade ou não era o fim da picada e a diretoria do Bahia ficou em pânico!
Na manhã do domingo Osório reuniu o elenco e deu um golpe de mestre. Colocou as cartas na mesa:
- Chegou ao nosso conhecimento que um de vocês se vendeu. Eu não acredito, mas estou com a pulga na orelha. Se desconfiar jogo para que a torcida o estraçalhe e numa situação dessas não haverá crime.
                                            Não tem quem ganhe de Joseph Blatter da FIFA!

Conta que,
- fiquei olhando o goleiro Osvaldo Baliza para sentir a sua reação. E o Osvaldo tranquilo, sem demonstrar qualquer nervosismo.
E o dirigente se preocupou ainda mais quando o mesmo conselheiro revelou que a confirmação da venda do jogador seria a batida de mão na trave por duas vezes. E, quando o time entrou em campo não deu outra coisa, com Osvaldo chegando no arco e dando as duas batidinhas.
                                                    Na Bahia fazem até propaganda!

Mas a malandragem de Osório havia dado certo. Tivesse havido ou não alguma coisa o certo é que Osvaldo foi a grande figura de uma partida equilibrada, onde o tricolor se superou e o goleiro pegou até pensamento sendo responsável pela vitória por dois a zero, com gols de Carlito e do próprio enraivado Naninho. Contra malandragem, malandragem e meia.

·         Agradeço ao site RSSSF Brasil e, postumamente, a Osório Vilas Boas em seu livro Futebol, paixão e catimba.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Salvador e a Arca de Noé

                              
         Nau navegando na Avenida Bonocô!


Conta o Livro do Genesis, em seus capítulos VI e IX, que Deus um dia se encheu com a perversidade humana e resolveu destruir o mundo que Ele tinha feito. Só salvou a cara de Noé, que segundo Ele, seria o "únco homem justo" do planeta, lhe mandando construir uma arca. Era um grande navio com lugar pra muita gente e até Deus sucumbiu ao nepotismo, autorizando a que Noé trouxesse sua esposa e seus filhos (com as respectivas mulheres) e um casal de todos os seres vivos do mundo.

Não deve ter sido brincadeira reunir toda essa bicharada. Será que Noé fez tudo isso sozinho ou chamou seus filhos? E como será que ele fez pra trazer os tubarões e baleias? A biblia não conta que tinha aquários na arca por isso pode ser que não foram exatamente TODOS os animais que ele trouxe. E, já que tinha de trazer um casal de cada espécie, como será que conseguiram diferenciar a barata macho da barata fêmea?

                            Piratas na Avenida Tancredo Neves!


Será que Deus não deu nem uma caminhonete pra trazer os bichos? Como é que misturou aranhas, girafas e macacos? Será que vieram pacificamente os rinocerantes e leões? Quantas viagens eles fizeram pra trazer tudo isso? Afinal, só darwin estudou centenas de espécies, e hoje passam de centenas de milhares! E olhem que deve ter sido dificil desapartar as brigas ou outras coisas que certamente rolavam entre os casais da arca.

Conta-se que o diluvio que Deus mandou sobre a Terra foi feio. Durou quarenta dias e quarenta noites e não deixou pedra sob pedra. Ele foi obrigado a recuar mandando parar a chuvarada. Aí Noé e sua arca foram parar no alto do monte Ararat e teve que mandar um pombo pra ver se tinha passado a chuva. Sacanagem de Noé pois o pombo teve que voar uma semana pra achar um lugar seco pra pousar.

              O pessoal estava pegando tubarão no Comércio!


Mas por pior que fosse o dilúvio duvido que tenha sido pior do que o que se abateu sobre Salvador na semana passada. Foi realmente o fim dos fins da picada! E sem arca certa pro pessoal se abrigar. Será que os soteropolitanos são mais perversos que o povo no tempo de Abraaõ? Será que estamos irremediávelmente perdidos?

Não teve lugar pra se esconder. Seja na Sussuarana, Pituba, Itaigara, Pernambués ou Nazaré o negócio era chuva. Choveu tanto que a "defesa civil" mandou o pessoal ficar em casa(sic!). Até lá em casa á coisa engrossou fazendo com que entupíssemos as janelas com panos pra aguentar e enguiçando o computador. Só o prefeito João Henrique não passou por isso pois se mandou pra Brasília.

            Teve gente que se escondeu nos edifícios da Vitória!


Não teve um só canal que não transbordasse. O Vale do Canela e o Bonocô ficaram de dar dó. E só se passsava no Comércio nadando. Carro nessas horas não serviu pra nada. Era comum passarem boiando por baixo do meu apartamento. Ainda bem que não constuiram a tal ponte pra Itaparica pois senão já tinha sido encoberta. Quanto à Fonte Nova, que é a justificativa pra esse blog existir, ficou debaixo dagua.

Os baianos passaram da noite pro dia a chamar Noé, pelo menos é parecido com o "não é" quando viram as coisas desabando.Quanto aos demais filhos do herói da bíblia ninguém soube pronunciar, pois falar em Sham, Ham e Japheth ninguém merece!


                   
                              O próprio Cara apareceu na Paralela!


Os baianos só não morreram como aqueles do Genesis pois são protegidos também por outros livros e não só os da Igreja Católica. Se bem que teve gente no Cabula pensando em construir a tal arca. Aliás, como no ano que vem tem eleições pra prefeito, se espera que apareça um político propondo como grande saída para o diluvio que enfrentamos anualmente que se construa uma arca.

Soube que até a Câmara Municipal está pensando na questão. Só que os critérios são bem diferentes daqueles de Deus. O homem justo é o prefeito e nem tem conversa. Mas ao invés de sua esposa(nem tem mais!) e seus filhos e mulheres, vai se aumentar a arca pra caber vereadores e secretários com suas famílias.
A oposição já prepara um projeto de mega arca, que ficaria permanentemente ancorada na Baía de Todos os Santos, colocando nela os eleitores de cada vereador e os financiadores das suas campanhas assim como suas famílias.


                     
                   Se encontrava de tudo na avenida Juracy Magalhães!


Que animais que nada. Se Salvador chegar até 2012, será uma excelente ocasião pra se livrar dos ratos, cobras, baratas e do mosquito da dengue. A PM vai ficar na porta pra que não entre nenhum, e, se possível, também os inimigos políticos do prefeito.

Mas a essa altura o povo já está reclamando da bíblia. Afinal, alí diz que só foram 40 dias e que depois até Deus recuou quando viu o sufoco de Noé. O que dizem é que Ele se esqueceu do calendário. Swerá que tudo isso é culpa da Bahia ter entrado no horário de verão?

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Contágio


                               
A ficção científica continua a todo vapor. E é nos EUA onde tem o seu maior público e onde Hollywood mistura duas receitas que deram certo na bilheteria, esse gênero com o filme catástrofe. A Warner Bros está lançando um deles: Contágio, dirigido por Steven Soderbergh, e que trata de um vírus transmissível pelo ar que se dissemina rapidamente virando uma epidemia.  
Tem todos os ingredientes que costumam agradar a quem gosta de histórias surrealistas e ficar apavorado, pânico, efeitos especiais, terror, tragédia, entre outros menos votados. Do elenco só conheci o Matt Damon, pois como vocês sabem nem precisa de atores decentes pra vender o gênero. Só pra não dizer que não citei estão lá os desconhecidos Gwyneth Paltrow, Kate Winslet, Judy Law e Marlon Cotillard.
                                                           Não pode isso pega!

O primeiro vírus é transmitido através de um aperto de mãos em uma viagem de negócios. O resto todo mundo já sabe, tosse, febre, convulsões, hemorragia cerebral e morte. O filme não explica bem a incrível velocidade com que o vírus se espalha a não ser se o debitarmos ás intenções do roteiro. Mas não se preocupem pois o final foi copiado da Bahia embora, todo mundo sabe, que só tem cientistas nos EUA.
Em 1970 estávamos em um dos períodos mais sombrios da ditadura militar mas o Brasil ganhava a Copa do Mundo no México. E foi esse quadro de euforia que permitiu que se completasse a transição para a organização do Campeonato Brasileiro que começaria no ano seguinte.
                                           Praga da ministra Eliana Calmon também pega!

Nesse ano seria realizada a última edição do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, com 17 participantes, o maior de sua história. Tanto é assim que foram divididos em duas chaves, ou séries como depois ficariam conhecidas as próprias divisões do certame pra Rede Globo, que adquiria os direitos de transmissão, esconder esse negócio de Segundona e Terceirona que não fica bem!
Mas apesar de ter tantos clubes apenas dois estados eram de fora do eixo Sul-Sudeste, Bahia e Pernambuco, que estavam representados pelo EC Bahia e pelo Santa Cruz FC. A disputa entre baianos e pernambucanos é histórica e em todos os terrenos, e contagiou o futebol. Mas esse ano a influência de um sobre o outro iria penetrar até pela saúde esportiva.
                                                      O virus matava pra cachorro!

A CBD escalou o jogo entre os dois na primeira rodada, 20 de setembro, pra começar o certame embora tenha sido aí que o vírus pegou. Dizem que foi no aperto de mãos dos jogadores pra escolher quem dava a saída e o campo de jogo. A partida foi no Estádio do Arruda e, mesmo com muita luta dos contendores, terminou com o empate em um gol. Três dias depois o tricolor estreava na Fonte Nova mas amargando novo empate, desta vez sem gols, contra o Atlético Mineiro. E era o galo que levaria novo vírus para Pernambuco, onde jogaria quatro dias depois com o time coral, registrando-se mais um empate (1 X 1).
Esse negócio de vírus espalhado tão rápido é só em filme pois na Bahia as coisas são mais devagar. Basta ver que, apesar da tosse o esquadrão de aço entrou bem no mês de outubro, ganhando da Ponte Preta (2 X 1) e do São Paulo (1 X 0). Mas enquanto isso em Recife o negócio já estava na base da febre, foi por isso que o Santa continuou empatando, agora com a Ponte em um gol. Mas logo o tricolor caiu também de febre, e isso foi quando saiu pra enfrentar o Atlético Paranaense perdendo de um a zero e levando o vírus para aquelas paragens.
                                                          Vai ver que pegou Lula!

Em meados do mês o Santa empatava com os paranaenses em um gol e pedia em casa pro Fluminense (0 X 1). Enquanto isso o tricolor baiano, que tinha arranjado forças pra vencer o pó de arroz na Fonte Nova (1 X 0) empatava ali mesmo com o Internacional injetando o vírus nos gaúchos.
Só no dia 21 de outubro é que o clube coral ganhou alguém, do estropiado clube colorado gaúcho que já tinha metade do time com febre. Mas os cariocas estavam sãos da Silva e alguns dias depois o Vasco da gama foi a Recife pra enfiar três a zero, mas...pegou o vírus! Tanto é que veio pra Bahia e, com os dois times caindo em campo, não saíram do zero a zero.
Parecia brincadeira a situação. E foi nas vésperas do Dia dos Finados (vigem santa!) que o esquadrão perdeu em casa pro Grêmio que só começava a sentir os efeitos do vírus. Mas seus jogadores já saíram tossindo de Salvador pra empatarem com o clube coral (1 X 1) passando mal no hotel em Recife. A partir desse dia o contágio comia solto. A Ponte tomou de seis do Fluminense, e, logo depois, foi a vez do Atlético Paranaense tomar de cinco do Grêmio ocorrendo inclusive convulsões nos jogadores.
                                                  Não era brincadeira o danado!

Estávamos no mês de novembro e, foi com os jogadores do Bahia caindo pelas tabelas que o América veio á fonte do futebol pra conseguir arrancar um empate sem gols. Mas não deixou de levar seu virusinho não conseguindo repetir o resultado em recife onde caiu por dois a um.
Em meados do mês os médicos norte-americano haviam chegado ao Brasil pra tentar debelar a epidemia ou pandemia como eles dizem. Vocês sabem que só lá nos EUA tem médicos e foi assim, á base dos remédios, que o Bahia ganhou do doente Flamengo na Fonte Nova, mas pelo escore mínimo. E continuou sua recuperação no fim do mês ao ganhar do Corinthians por três a dois. Mas em Recife a coisa continuava feia com o Santa empatando com os mosqueteiros sem gols e perdendo do Cruzeiro (1 X 2).
                                          Também que mandou botar tanta pimenta?

No mês de dezembro os médicos americanos acharam de dar alta aos pacientes baianos e foram para Pernambuco salvar o Santa Cruz. Qual, imaginem que o estropiado Santos, chegou aqui e aplicou cinco a um no “recuperado” tricolor, com, direito a três gols de Picolé, um de Pelé e outro de Edu, marcando Sanfillipo para o Bahia. A desgraceira continuou logo depois quando o Botafogo também veio na ladeira da Fonte das Pedras pra enfiar quatro a zero no esquadrão.
Os médicos norte-americanos lenharam com os baianos mas salvaram o Santa Cruz que pelo menos conseguiu encerrar o certame condignamente ganhando do poderoso santos por um a zero. Na classificação final o que deu pra rir deu pra chorar pois o vírus sobrou pros dois, ambos ficando em sexto lugar nos seus grupos. Mas ninguém, podia tirar onda pois era sexto lugar com apenas oito clubes. Ah vírus desgraçado. E vai assistir ao filme o mesmo número de pessoas que iam às partidas daquele ano.

·         Agradeço aos sites Cinema 10 e RSSF Brasil.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Gigantes de aço

                  
Schawn Levy lançou recentemente uma ficção científica. Tudo bem que não é uma grande novidade afinal já estamos cheios de monstros de metal no cinema. Mas dessa vez Hollywood atacou no esporte colocando como personagens robôs gigantes lutando boxe. Atores mesmos são poucos pois é mais barato construir figuras que pagar cachês, mas aqui e ali se percebe Hugh Jackman, Kevin Durand e Evangeline Lilly.
Mas a principal novidade do filme não são os gigantes artificiais se pegando mas a nova cópia das coisas que acontecem na Bahia e não reclamamos. A Meca do cinema continuará nos devendo, só não sei até quando. É que há exatos oitenta anos atrás o certame baiano parecia alvissareiro. Tinha ocorrido uma revolução no país há pouco tempo e a Bahia era governada (vejam se pode!) por um interventor cearense, que nem sequer tinha um alto posto, era simplesmente o tenente Juracy Magalhães. E o pior é que faria carreira política no estado.
                                                            Mas o que é isso?

Depois da união que ocorreu na Bahia para a inauguração do campo da Graça em 1920 vários clubes haviam abandonado a liga e o campeonato era disputado por umas sete equipes. Mas dessa vez havia vários motivos para a animação geral. Os clubes das elites (Associação Athlética, Baiano de Tênis, Yankee e outros), se enfraqueceram e a conjuntura ajudou a ascensão dos clubes populares.
Começava lentamente a mudar o público que frequentava a praça esportiva da Graça pra desgosto das elites que choravam a perda de seus clubes tradicionais. A última vez que as elites paparam o caneco foi em 1927. Mas logo depois saiu outro bicampeonato do Ypiranga. No primeiro botando quatro pontos na frente do aristocrata Bahiano de Tênis, e no segundo, disputando com outro clube popular, o Botafogo. O Yankee já tinha deixado de disputar e Associação e Bahiano se conformaram com o terceiro e quarto lugares.
                                        E olhem que nem precisa de boxeador de verdade!

O ano da chamada revolução foi um dos mais fracos que se tem notícia. Parecia com os primórdios do certame com a participação de apenas cinco clubes. Inscreveram-se apenas Botafogo, Ypiranga, Fluminense FC, Royal e Democrata, esse último tal vez pra mostrar ao regime que nem todos os baianos ficaram com a velha república de Washington Luiz. Mas o Democrata FC, mostrando a insidia dos baianos, ficaram na lanterna. Sem Vitória, Bahiano ou Associação as elites estavam mal e deu Botafogo na cabeça. Tiveram que acabar o certame às pressas pois estava começando a tal da revolução.
Foi por isso que a liga apostou todas as fichas no certame de 1931. Havia outra novidade. Os clubes Associação e Bahiano acabavam com seus departamentos de futebol. Mas há males que vem pra bem e o que parecia uma calamidade, colocando por terra a tradicional disputa povo X elites, terminou por beneficiar o nosso futebol. Os desprezados jogadores dos dois clubes se reuniram e criaram um novo clube, o EC Bahia, inscrevendo-o logo no campeonato.
                                                         O negócio era na porrada!

Seria a primeira vez que os times da elite não iriam disputar, a não ser o malfadado Royal que nunca tinha chance. De quebra ainda apareceu o São Cristóvão que, durante muito tempo, seria um novo clube pequeno mas tradicional no futebol da Bahia. Esse ano começa a marcar o momento onde até os torcedores de classes médias começam a se bandear para os clubes populares. O certame prometia um duelo de verdadeiros gigantes de aço e olhem que não era ficção científica.
Na primeira rodada Ypiranga e Bahia venceram seus adversários e confirmaram seu favoritismo, no entanto o poderoso Botafogo só empatou. E logo em maio ocorre o confronto de gigantes, Bahia X Ypiranga. O aurinegro era o mais querido mas no entanto o tricolor havia herdado a torcida elitista ao tempo em que começava a ganhar simpatias também no campo popular. E quem em sua sã consciência poderia esperar o que se seguiu, com um banho do novato esquadrão de aço no recente bicampeão por seis a dois?
                                                             Não, aí é outro filme!

O massacre do gigante acordou a todos. O Botafogo voltou a ganhar assim como o Ypiranga. Em junho seria realizado aquele que seria depois chamado de Clássico do pote, Bahia X Botafogo. Mas desta vez os alvi rubros estavam atentos e terminou em dois gols para cada lado. As esperanças de impedir o remanescente das elites em ficar com o título agora estavam entregues aos diabos rubros, que, logo após, enfiou cinco no aurinegro.
O primeiro turno terminou com o Bahia na frente com sete pontos mas o Botafogo vinha logo atrás com seis, ficando o gigante Ypiranga com quatro. O alvi rubro inicia a segunda fase vencendo o São Cristóvão com dificuldade pelo escore mínimo e o Ypiranga cai outra vez, desta feita para o Fluminense por cinco a quatro.
                                                      Aí nem adianta meu filho!

A tabela marcava o clássico Bahia X Botafogo para o fim de setembro. Foi um jogo de agitar corações. Os gigantes se pegaram feio. Parece que foi daí que nasceu a inspiração para o filme pois foi faísca e lata pra todo lado. Mas o tricolor acabou levando vantagem por dois a um. Depois daí o Ypiuranga despertou ganhando duas vezes, quatro a zero no São Cristóvão, e devolveu a goleada nos diabos rubros por cinco a zero.
Agora era o Botafogo que ficava pra trás e o velho gigante Ypiranga encostava-se ao Bahia. Mas este não se fazia de rogado e enfiou, seguidamente, 5 X 0 no Fluminense e 5 X 1 no São Cristóvão disparando de novo na frente, enquanto o Botafogo voltava a ganhar. O clássico dos gigantes Bahia X Ypiranga foi justamente marcado para 15 de novembro, quando dizem que proclamaram a tal da república.
                                                        Isso foi no tempo de Juracy!

Nesse dia a interventoria promoveu todas as festas que tinha direito para celebrar os 42 anos da dita cuja que já estava ficando velha. Foi depois de todos os desfiles e homenagens que os times entraram em campo pra se pegarem. O time canário jogava ali a sua moral de gigante. Vencendo poderia tirar a glória do tricolor que ameaçava em sua primeira participação ganhar o certame invicto e entrar para o rol dos gigantes de aço.
Mas não obstante todos os esforços do aurinegro o jogo ficou no empate em dois gols.  Ninguém mais poderia derrotar o gigante Bahia, ainda mais que o Royal saiu do campeonato e não disputou seus últimos jogos. O final ficou tão melancólico que o Fluminense enfiou dez a zero no São Cristóvão. Quanto aos gigantes Botafogo e Ypiranga a sua disputa renhida tinha ajudado a se enterrarem mutuamente.
                                             Não havia despacho pros gigantes de aço!

Não teve choro nem vela, o novato Bahia levava o caneco com os antigos jogadores da Associação e do Bahiano e passaria a ser conhecido no futuro como o Esquadrão de Aço.
·         Agradeço ao site RSSSF Brasil.