segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ladrão de casaca

                                          
O filme Ladrão de casaca surgiu muito antes de eu nascer. Acho que a novela policial do escritor francês Maurice Leblanc que levou o título de “Arséne Lupin ladrão-cavalheiro” é de 1907. Acabou se tornando uma série que foi adaptada para o cinema várias vezes. Tomei contato com ela quando passou para a TV nos anos 60. Poxa não deixávamos de assistir um capítulo.
Era imperdível a audácia, a elegância e a impertinência de Lupin, sempre desafiando o inspetor Ganimard, deixando atrás de si muitas paixões, zombando e ridicularizando os burgueses e as autoridades. Era o Robin Hood da minha adolescência quando eu sequer tinha uma consciência social. Quem sabe se ajudou a que eu me tornasse um militante político?
Mas o tempo passou e Arséne Lupin também. Nunca mais foi encenado. Talvez porque seja uma criação francesa. Engraçado, somos obrigados a assistir Rim tin tin, Bonanza, e tudo quanto é série norte-americana dos anos 50 e 60 e de Arséne Lupin nem sinal. Pra piorar não se fazem mais ladrões como antes. Os habilidosos batedores de carteira baianos que atuavam nos bondes, nos ônibus e na Rua Chile, e que nem atuavam armados, agora são os vulgares assaltantes que nenhum talento possuem não ser o revolver.
Até os bons ladrões, que desafiavam as autoridades do meu tempo, desapareceram do mapa. Só sobraram os picaretas que agem em nome próprio, inclusive no mundo do futebol. Um deles é o comandante maior da CBF e do Comitê Organizador da Copa Ricardo Teixeira.  Como quer ficar sozinho com os lucros da copa todo dia saem matérias sobre suas andanças.
                                                                Arséne era "o fino"...

A última veio á luz a semana passada. É a ação de improbidade movida na 5ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal que acusa de fraude uma empresa ligada a ele, a empresa Ailanto Marketing Ltda., no contrato de nove milhões para promover o jogo Brasil X Portugal (2008) em Brasília.
O documento, segundo o Ministério Público, está “eivado de vícios”, foi assinado sem licitação e contém “indícios de que houve um pacto para desviar dinheiro público”. Segundo a ação “feriu-se o interesse público, submetendo-o ao deleite pessoal e político de se ter uma partida de futebol de alto nível, que já estava há muito acertada, mas que não obedeceu aos padrões legais”.  

                                           ...e Teixeira é o grosso(o da esquerda)!

A Ailanto tem como sócio-gerente o empresário espanhol e presidente do Barcelona Sandro Roseli, amigo de Ricardo Teixeira.  A cara de pau, porém não para aí. Imaginem que a empresa funcionou vários meses em uma fazenda do próprio Teixeira, e a polícia encontrou cheques da sócia brasileira da empresa (Vanessa Almeida Precht) depositados na conta do chefão.
A empresa sequer teria cumprido com as clausulas contratuais que a obrigavam a arcar com os custos de execução da segurança, hospedagem e translado, num total de 1,3 milhão de reais, que foram saldados com a venda de ingressos pela Federação Brasiliense de Futebol. O processo ainda envolve o ex-governador de Brasília José Roberto Arruda e o ex-secretário de esportes Agnaldo Silva de Oliveira. O primeiro mandou firmar o contrato com a Ailanto passando por cima de normas legais e de parecer contrário da Corregedoria do governo.
                                                      Alguém lembra do livro?

O fato ganha ainda maior destaque em função da proximidade das eleições na CBF. É que está se verificando um tímido movimento por parte de algumas federações estaduais para lançar um candidato alternativo a Teixeira. Este, porém, que está mais pro juiz Lalau do que pra Arséne Lupin, agiu rapidamente convocando uma assembleia geral da entidade para o mesmo horário da reunião de seus possíveis “opositores”. Outras forças, no entanto apostam na renúncia de Teixeira em troca de passar a mão pela cabeça de seus crimes.
                         Marlon Brando é que era vivo entrou logo num sindicato de ladrões!

Infelizmente isso é comum no Brasil, um conchavo para a substituição de uma autoridade incômoda e fica tudo por isso mesmo. Só não sei é como vão evitar as conclusões dos processos que tendem a se avolumar a cada dia contra Teixeira.


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

À beira do abismo

                                                    Pô, esse cara é torcedor do Vitória!

Lançado este ano por Hollywood, o filme À beira do abismo não parece novidade para os brasileiros. É que a Warner Brothers produziu outro filme em 1946, cuja péssima tradução levou este nome, adaptado do romance The big sleep de Raymond Chandler. Foi em tudo e por tudo diferente do atual, a começar pelo diretor (Howard Hawks) e elenco de primeira qualidade, com Humphrey Bogart, Dorothy Malone e Lauren Bacall nos papéis principais.
O atual (Man on a ledge) é um filme que tem a direção do desconhecido Asger Leth e a participação dos ainda mais obscuros Elizabeth Banks e Sam Worthington. Mas não é que mesmo assim já está na terceira semana em várias salas? É que, pelo menos, usou do outro o gênero policial e o suspense que adota ingredientes que prendem a atenção dos espectadores, como roubos espetaculares, ações ousadas e erotismo. Tá na cara que esse pessoal que frequenta os cinemas de hoje nunca viu ou leu sobre os grandes roubos do passado e das tramas de Arséne Lupin, Sherlock Holmes, e outros menos votados.
                                              Ah não se fazem artistas como antigamente!

Esse À beira do abismo tem mais baixos do que altos. Um ex-policial condenado por roubo ameaça jogar-se d0o parapeito de um prédio (Sam Worthington). A primeira parte do filme dá a entender que ele escapou da prisão para conseguir provar sua inocência. Não é a toa que é recheada de lances midiáticos, psicologismo, e outros babados. Mas, ao correr do filme vai se descobrindo que o que está por traz da atitude do ex-policial é bem mais do que aparenta, um grande roubo. A emenda, no entanto sai pior do que o soneto. Antes ficasse com as multidões que esperam que ele pule do prédio pois a trama do assalto está pra lá de Marrakesh.
Mas, se o roteiro não traz nenhuma novidade em matéria de filmes de grandes roubos atinge em cheio o futebol baiano. É que estamos terminando o primeiro turno do nosso chato campeonato e as coisas para o EC Vitória estão lá pela beira do abismo. Só há uma diferença, é que o desespero dos torcedores do rubro negro é de verdade. E olhem que a diretoria contratou um time e um técnico novo pra tentar se recuperar da vergonheira do ano passado quando deixou de subir para a Primeira Divisão por um ponto e perdeu dentro de casa o tetracampeonato.
                                      Tem gente que escoilhe outras maneiras de suicídio!

Mas, mesmo assim, o campeonato começou como o filme com o time empatando com o fraquíssimo Feirense (1 X 1) e a torcida botou as mãos na cabeça. Aí as coisas andaram parecendo que tinha dado jeito. O time enfiou seis no balaio do lanterna Juazeiro e cinco no time do Vitória da Conquista. Bastou isso pra animar a torcida e a imprensa colocar o Vitória como favorito pra ganhar o certame.
Qual nada! Aí o técnico Toninho Cerezo atarrachou uma máscara que não tinha tamanho e transformou a equipe em laboratório para treinar o time para a fase final. Em sete jogos só ganhou duas partidas. Começou empatando em casa sem gols com o vice-lanterna Itabuna. Depois empatou de novo em Feira de Santana contra o Fluminense. Mas aí surpreendeu todo mundo vencendo o líder Bahia de Feira por goleada (4 x 0).
                              E a mulher que não agarra o cara? Deve ser torcedora do Bahia!

A vitória foi cantada em prosa e verso enquanto Cerezo continuava as experiências. O resultado foi perder do obscuro Juazeirense (2 X 3) e só empatar sem gols com seu tradicional adversário Bahia por encher o time de volantes pra garantir o emprego. Continuou perdendo pontos esta semana onde, se venceu o fraco Camaçari (3 X 1), empatou de novo, agora com o Atlético, que é de Alagoinhas mas joga em Serrinha.
O resultado é que decorridas dez rodadas estamos em terceiro lugar disputando com Vitória da Conquista, Feirense e Atlético quem vai para a segunda fase do certame já que os Bahias, o de Salvador e o de Feira estão garantidos. E o pior é que estamos muitos pontos atrás dos dois o que compromete tudo para as finais uma vez que o que decide o local do jogo e quem vai passar é a vantagem dos pontos acumulados na primeira fase.
                                           Tem gente que faz qualquer coisa por dinheiro!

O Vitória faz a pior campanha em dez anos onde ganhou oito campeonatos e foi vice em dois, enquanto seu arqui-inimigo não venceu nem no jogo de damas. Haja parapeitos de prédios em salvador para caber os torcedores do Vitória que estão vendo o tempo passar e o técnico Toninho Cerezo não definir um padrão de jogo. Na semana passada adotava o 4-2-4 e ontem contra o Atlético ficou mesmo foi com o 4-3-3. Durma-se com um barulho desses! E o pior é que não tem nem mais a greve da PM pra deixar desprotegido um banco desses pra assaltar como no filme.


sábado, 11 de fevereiro de 2012

Top Dez da Fonte Nova

Semi-final do Campeonato Brasileiro de 1988 com recorde de público pagante. 


Outro dia estava pensando nesse negócio que está muito em moda, a de escolher os dez fatos mais importantes de alguma coisa e colocá-los no ar. Na internet ou na TV o pessoal geralmente escolhe quedas hilariantes, assassinatos e outras aberrações. Já aqui no meu blog eu voiu escolher mesmo é as dez mais da Fonte Nova. No entanto não vou por ordem ficando esse trabalho pra voces. Escreva pra mim dizendo qual deles merece ser o primeiro lugar, quem não merece estar nem aí, bote uma ordem, ou mande qualquer coisa!

TOP  - A inauguração da Fonte Nova em janeiro de 1951. na véspera de acabar o mandato de Octávio Mangabeira, que entregou o estádio ás pressas sem acabar as arquibancadas, e com Tribuna de Honra e portões de entrada de madeira. O estádio estava lotado e os locutores foram atrapalhados pelo público para fazer a transmissão pois o povo levantava toda hora e atrapalhava a visão das cabines que ficava colada nas arquibancadas. Só não aconteceu uma desgraça porque Deus é baiano. O acontecimento foi muito maior do que o torneio chinfrim que realizaram(aos moldes dos torneios inicios)onde a dupla BA-VI colocou times mistos, e mesmo assim(graças a banca do Ypiranga)o tricolor venceu por três a dois a final, quando os assistentes invadiram o campo.

                               Ah que saudades do "Balbininho"!


TOP - A nova inauguração da Fonte Nova(do anel superior) em março de 1971 com os jogos Bahia X Flamengo na preliminar, e Vitória X Grêmio na principal. O recorde de público no estádio, estimado entre 130 e 140 mil pessoas. O esquadrão venceu a primeira por um a zero, gol, de Zé Eduardo(que marcou o primeiro gol no estádio ampliado) e os gaúchos fizeram um gol no início do segundo tempo, mas uma tragédia de grandes proporções fez com que se suspendesse o espetáculo. Até hoje não se sabe quantos morreram já que o país estava sob censura e numa ditadura militar.  

TOP - As semifinais do Campeonato Brasileiro de 1988 quando se enfrentaram Bahia X Fluminense e o tricolor venceu por dois a um indo para a final do certame daquele ano. É o recorde de público pagante na Fonte Nova com 110.000 espectadores.

Fonte Nova degradada pela interdição!


TOP - A decisão do Campeonato Brasileiro de 1993, entre Vitória e Palmeiras, com público de aproximadamente 80 mil pessoas, onde o alvi-verde venceu por um a zero gol de Edilson e o juiz deixou de marcar um pênalti escandaloso a favor do leão baiano.

TOP - A tragédia de 25 de novembro de 2007, no jogo Bahia 0 x 0 Vila Nova(GO), na decisão de quem subiria para a Segundona, quando cedeu uma parte das arquibancadas superiores matando sete torcedores e o governo interditou o estádio.

TOP - A  tragédia de março de 1953, num torneio em "homenagem" ao governador Regis Pacheco quando a dupla BA-VI foi esmagada por Internacional(RS) e Flamengo, o primeiro por 7 X 1 e o segundo por 8 X 2. Nesse dia, em outro estádio, o Ypiranga ainda perdeu pro Vasco da Gama por 8 X 1.

Fonte Nova sendo destruída!


TOP -  A segunda partida da primeira Taça Brasil, realizada nas proximidades do natal de 1959, quando o EC Bahia perdeu de 2 X 0 para o Santos decepcionando a sua torcida e com a maior lotação do estádio até então. Quatro meses depois o esquadrão conquistaria o título no Maracanã.

TOP - Decisão do campeonato baiano de 1994 com mais de cem mil presentes, com o nosso maior clássico, onde Raudnei fez um gol aos 42 minutos do segundo tempo empatando o jogo em um a um e dando o título ao tricolor.

TOP -  O BA-VI mais sensacional de toda a história, realizado em 2007, com a espetacular vitória do rubro-negro por 6 X 5, com quatro gols do avante Índio, em uma partida com várias alternâncias no placar.

        E se estivéssemos na Itália não preservaríamos o Coliseu?

TOP - A implosão fatídica da Fonte Nova em agosto de 2010 para a construção de uma arena para a Copa de 2014. De passagem foram destruídos também a única piscina olímpica da Bahia e o "Balbinínho", este para construir um estacionamento, que dinamizou vários esportes no estado e ainda serviu como local de produções culturais memoráveis.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Viagem 2 – A ilha misteriosa

                                   
O filme A ilha misteriosa, dirigido por Brad Peyton, está em sua segunda parte. Desta vez o jovem Sean Anderson vai procurar a avó que está perdida em uma ilha mítica. Nesta nova viagem é acompanhado pelo namorado da mãe. No elenco há desconhecidos como Josh Hutcherson, Dwayne Johnson e Vanessa Hudgens, sendo a exceção o veterano ator de aventuras Michel Caine. 
Mas o que ninguém sabe é que a série é inspirada na Bahia. Afinal foi aqui que aconteceram quiproquós que desmoralizou os poderes públicos.  O primeiro foi há exatamente duzentos anos atrás quando brigavam os grupos políticos de Ruy Barbosa e JJ Seabra. O primeiro era a referência da oposição para as eleições presidenciais e o segundo era ministro. A oposição entrou em desespero ao se aproximar a data do pleito (fevereiro de 1912) sem candidato que pudesse fazer frente ao velho caudilho.
           Até os piratas apareceram pra roubar em Salvador!

Foi assim que imaginou um tresloucado ardil. Assim, fez renunciar o governador e o vice para assumir o presidente da Assembleia Legislativa. Como o órgão estava em recesso não pode ser convocado para decidir sobre a eleição o que garantiria o adiamento do pleito. Ciente da manobra espúria os adeptos de Seabra foram para a rua (acompanhados de gente que ficou indignada com a situação) e aí o novo “governador” mudou a capital para Jequié (acreditem!) para reunir-se sem pressões populares.
Os partidários de Seabra obtiveram sucesso no juízo federal para manter a eleição mas o “governador” não acatou entrando com outro processo na instância estadual obtendo parecer diametralmente oposto. E aí? Aplica-se a decisão estadual ou federal? Enquanto estava nesta pendenga houve a intervenção federal na Bahia. É que o presidente da república aproveitou a ocasião para afrontar seu adversário político e foi drástico e violento. O comando do Exército não quis saber de conversa comparecendo ao Palácio na Praça Municipal para advertir que só esperava até o fim da manhã para o cumprimento da decisão federal.
                                                   Quase sái porrada em Itabuna!

Sem resposta no início da tarde começaram os bombardeios, desde o Forte do Mar e o Quartel do Barbalho. A Praça Municipal e a Rua Chile foram quase destroçadas com as bombas destruindo vários prédios e danificando seriamente o próprio palácio que perdeu parte de seu acervo histórico pra não mais recuperar. A eleição houve e Seabra venceu disparado. Como sempre na Bahia ninguém foi punido e tiraram o sofá da sala. Mas o estado guarda até hoje sinais desse confronto político que manietou o Poder Legislativo e o próprio Exército Nacional.
Pois não é que as elites não aprenderam a lição? Cem anos depois, estamos assistindo na Bahia uma história semelhante mas como disse o filósofo a história só se repete como farsa. O motivo é fútil uma greve de policiais militares. Mas as razões que colocaram em movimento os atores são muito reais.
                                          Não adianta se benzer e depois intervir na Bahia!

Em meio a uma crise econômica que afeta diversos países da Europa e a outrora impugnável economia norte-americana o discurso das nossas autoridades (reforçado pela mídia á serviço do seu generoso patrocínio) é de que “o Brasil não será atingido pela crise”. Na verdade isso começou com Lula que, ao lado de dizer que a mesma não se tratava mais do que uma “marolinha” gastou os tubos do dinheiro do país dando dinheiro aos empresários para evitar a recessão. Só para os bancos foram 91 bilhões. Foi assim que Lula contornou a crise num processo que até hoje está em aberto pois nenhum veículo sério da imprensa quis se dedicar a isso até hoje.
Na verdade as ações de Lula em 2008/2009 não foram diferentes daquelas adotadas por muitos países que entregaram trilhões de dólares aos banqueiros e outros empresários para...adiar a crise por dois a três anos. Hoje estamos pagando o que Lula fez pra empurrar a crise com a barriga e as benesses que fez pra eleger Dilma.
                                                             Esse é o dono da bola!

Logo que assumiu o poder a presidenta começou a cortar gastos e despesas, voltando-se para enxugar a máquina, e especialmente para arrochar os funcionários públicos. As medidas de Dilma são semelhantes aquelas que estão sendo adotadas nos países que passam por graves crises econômicas. E foi nesse quadro que impôs severos cortes no Orçamento da União para 2012 e atingiu os estados. Só para se ter uma ideia, para a segurança pública estão alocados apenas 0,43% enquanto 47,19% são disponibilizados para o pagamento de juros e serviços e refinanciamento da dívida.
O setor de segurança gravemente afetado pela situação vem reagindo desde o ano passado quando os bombeiros do Rio de janeiro fizeram uma greve memorável e devidamente criminalizada pelo governo. Os policiais militares reagiram com uma PEC que garante a isonomia salarial da categoria em todo o Brasil acabando os absurdos que reinam, por exemplo, entre os rendimentos dos policiais de Brasília e os de Rondônia.
                                             Oh Eliana cadê o tal Poder Judiciário?

Houve diversos movimentos desde então mas a bola da vez estava reservada para a Bahia. É que aqui há um contencioso desde a greve da PM de 2001 e que foi praticamente ignorado pelo governador Jacques Wagner logo após ser eleito. Não foi á toa que a associação criada por algumas das lideranças daquela greve acabou se constituindo na maior referência da greve da categoria.
Os policiais começaram seu movimento desde novembro do ano passado sem qualquer atenção do governo estadual que preferiu ignorá-los. Diversos sinais mostravam a insatisfação nos quartéis mas o governo achou que poderia resolver a situação com o ridículo reajuste dado aos servidores públicos que sempre ignora as perdas das categorias. Pagou pra ver e viu, depois de onze anos, outra greve da PM que já dura uma semana.
                                         
                              Até os shows musicais foram cancelados!

Uma greve da PM não é simples, pois se trata de uma corporação que assegura hoje quase 90% da segurança do estado que tem uma capital em 22º lugar no mundo em matéria de mortes violentas. Mas o que chama a atenção nesta greve é o procedimento do PT e seu governador usando de força completamente desproporcional a “ameaça” sofrida e politizando a greve de forma incompetente.
Foi aqui realmente que os produtores da ilha misteriosa vieram buscar os argumentos. Em que outro lugar se veria tanto descalabro que fizeram o governador Octávio Mangabeira dizer alguma coisa como “Diga-me um absurdo e eu lhe apontarei na Bahia”. O governo agiu de forma a suspender as garantias constitucionais. Suas pressões levaram ao Ministério Público local a lacrar a sede da Associação dos Policiais, uma sociedade civil!!! A juízes efetivarem mandatos de prisão sem processos constituídos e sem direito de defesa e de constituição de advogado como manda a lei para os acusados.
                                     Será que vão jogar bombas na Assembléia Legislativa?

Amordaçou assim o Judiciário e o Legislativo que fizeram de conta que as ilegalidades não existem. A mídia local permanece autocensurada tentando agradar ao governador. Desinforma a população sobre a greve, divulga que os policiais estão por traz de todos os atos criminosos cometidos na cidade, e transmite tudo o que os governantes declaram sem entrevistar praticamente os grevistas.
Mas faltava um ato tresloucado para mostrar que a Bahia é uma terra sem lei mostrando que ficou a cultura política legada pelo famoso “cabeça branca” que governou o estado durante 40 anos com mão de ferro: a nova intervenção federal na Bahia. Quem diria que esta fosse patrocinada pelo PT, o partido que um dia ajudei a fundar e militei por tanto tempo?
                                             Nossa, me lembrou o tempo da ditadura!

Foi Wagner que pediu a presidenta Dilma a intervenção federal. E esta se faz mostrando que a Bahia pouco vale na dita federação brasileira pois sequer o assunto foi parar no Congresso Nacional, como exige a lei que trata das intervenções determinando sua discussão naquele órgão 24 horas após a decretação. O governo do estado alienou o território do CAB (onde fica a Assembleia Legislativa) em favor da União por tempo indeterminado, e a presidenta nomeou um interventor, o próprio comandante do Exército para interditar a sede da administração do estado baiano.
O Poder Legislativo da Bahia é tratado como coisa chinfrim. Cortaram - lhe a luz, cercaram-lhe, retiraram aos seus frequentadores o direito de ir e vir, fazem-lhe voos rasantes de helicópteros, e impedem até os deputados de entrar no prédio. Tudo isso, nas mais caras tradições das repúblicas de banana. Pra gozar com a cara da população baiana enquanto esta sofre todo tipo de violências e tem que se refugiar em suas casas pra escapar dos assaltos e mortes, mil soldados da tal Força Nacional ficam tomando sol na porta da Assembleia cercando os grevistas que lá estão acantonados. Em numa semana de greve da PM contabilizamos cem mortes e quase trezentos carros roubados em Salvador e região.
                                               A morte caminha solta por Salvador!

No último domingo a crise política e militar atingiu o futebol. O Comando da PM teve que levar até recrutas para garantir a rodada do campeonato baiano mas mesmo assim o policiamento foi bastante reduzido. Mas o pior mesmo ocorreu em Itabuna que recebeu o EC Bahia para jogar contra o clube local. É que os policiais da região estavam em greve e não aceitaram fazer o policiamento do jogo trancando-se no quartel. No entanto, como a Rede Bahia (que faz parte da Rede Globo) comprou os direitos de transmissão do campeonato é ela quem manda na FBF, nos estádios, nos clubes, e quem mais vir pela frente.
O que aconteceu então foi surreal. O próprio presidente da FBF telefonou para o árbitro do jogo para que desse o limite de espera previsto no regulamento, uma hora. A população de Itabuna quebrou os dois portões do estádio e entrou de graça. A tal da Força Nacional só “chegou” ás 17:15, quando já tinha começado a 6ª rodada do certame em todos os outros estádios. Mas a Rede Bahia só informou aos espectadores que estavam tendo problemas ás 17:00, quando isso não podia mais ser escondido.
                                        Os baianos estão se escondendo com outra pele!

O jogo foi realizado, mas com o ridículo de....quatro soldados do Exército. Não fossem a compreensão da população da cidade as equipes do Bahia e Itabuna, além do público e pessoal que foi trabalhar no jogo, correria sério risco. Esta semana tem mais duas rodadas pelo campeonato, e domingo tem nosso maior clássico, o BA-VI. Corre por aí que o Comando da PM está “recrutando” tudo que é estudante da polícia pra botar uma farda e leva-los ao estádio. Se a greve durar até domingo isso será o cúmulo da irresponsabilidade!  De onde provém esse mistérios da Bahia?

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

E se fosse o Coliseu?

 

Davi Caires, fotógrafo 

Uma das minhas últimas lembranças de Diógenes Rebouças foi ele pintando uma aquarela, no início dos anos noventa, na varanda da casa de praia da nossa família (que ele próprio projetou), no litoral norte de Salvador. Dezesseis anos  após sua morte, a casa ainda continua firme e elegante, a imprimir uma atmosfera rústica e bucólica em meio a um vasto coqueiral. Sentado na sala desta casa, contemplando a vista do mar agitado que surge pela grande janela de madeira, começo a escrever esse artigo que me fora encomendado pelo amigo Franklin, sobre a demolição da Fonte Nova.

Pelo acaso do destino, em meados de setembro de 2010, recebi uma ligação de um grande amigo e parceiro de trabalho, Tiago Cavalcanti, me convidando à integrar uma equipe de documentaristas canadenses que estavam em Salvador para registrar o fim do estádio, em 3D, para um programa da National Geographics. Fiquei excitado com a proposta de participar de um momento tão marcante para a cidade além de presenciar o final de uma obra composta por meu tio-avô.

O notável arquiteto e urbanista Diógenes Rebouças, autor do projeto da Fonte Nova


Durante as duas semanas que antecederam a implosão minha função na equipe era de produtor de campo. Contudo, prevendo que aquele momento seria único, decidi levar minha câmera de fotografia e fazer o meu registro pessoal sobre o tema, e deixar para posteridade minha homenagem ao estádio e a Diógenes Rebouças. Durante os dias que estive pelos escombros e no entorno do estádio (sobretudo fazendo produção de locação) percebi o quanto querida era a Fonte Nova.

Conversando com as pessoas e percebendo a energia que circulava pelo local cheguei a conclusão que o estádio havia se tornado em uma forte entidade mítica, durante os dias que antecederam à demolição. Fiquei impressionado como algo inanimado havia conquistado a patente de um bravo personagem, desses que lemos nas grandes narrativas épicas da literatura. A morte estava anunciada. Talvez essa informação tenha sido crucial para elevar ao status de herói, a Fonte Nova.

                   A Fonte Nova, depois de interditada em 2007, e sem manutenção!


Na véspera da demolição, estávamos montando as câmeras suicidas (aquelas que são destruídas durante a implosão) ali nas colunas que ficam próximas à avenida principal, do Dique. Havia um enorme nuvem cinza cobrindo toda a região. Era cinco horas da tarde e de repente, pela brecha da nuvem, o sol alaranjado do fim de tarde apareceu imprimindo uma das luzes mais geniais que tive o prazer de presenciar.

Ao mesmo tempo em que vários carros que por ali transitavam, pararam no acostamento para tirar a última foto do estádio. Foi impressionante. Com celulares ou câmeras amadoras todos queriam guardar para si a imagem do herói de pé, pois sabiam, que no outro dia apenas restariam as cinzas e as lembranças do estádio. Chamei a atenção dos colegas canadenses para aquele momento. Eles se emocionaram comigo e disseram nunca terem vistos aquele grau de envolvimento com uma construção, durante suas viagens ao redor do mundo. Disse-lhes, e isso não tem como esquecer, que aquilo era uma particularidade dos brasileiros e as palavras em português que expressavam aquele fenômeno era “saudade” e “carinho”. Eles demoraram um pouco para absorver a denotação da coisa, porém bastava olhar para a avenida, que aquilo que desejava explicar tornava-se mais palpável.

                 Pelé jogando na Fonte Nova no antigo Torneio do Povo em 1969


No dia da implosão, minha missão era subir no terraço de um prédio em Nazaré, e posicionar uma dupla de câmeras para registrar o momento exato da queda do estádio. Às nove da manhã, por conta do forte esquema de segurança (embora estivesse com todas as credenciais de trabalho), tive que deixar o alto do prédio e esperar a implosão de algum canto de Nazaré. Me encontrar com a equipe lá no Dique era uma missão difícil e por um surto de desapego decidi pegar o carro, me afastar do local e ver a implosão pela televisão, tomando uma cerveja gelada com meu pai, no bairro do Rio Vermelho.

Cheguei em casa poucos minutos antes da implosão. Na hora da derrubada do estádio ergui a copo ao alto e brindei ao fim do herói de concreto, sua memória e seu criador, Diógenes Rebouças. Pela televisão a implosão aparentou ter sido tudo muito bem calculada e executada pela empresa norte americana responsável pela empreitada.

                 O técnico Arturzinho rezando porum reesultado na fonte do futebol!


Cinco minutos depois estava de volta ao carro em direção a Nazaré para recolher os equipamentos no alto do terraço do prédio. As onze da manhã, reencontrei com o restante da equipe no estacionamento principal do estádio e realizamos a última filmagem do programa entre o grande entulho de concreto que se formou no local. Aproveitei e peguei um jogo de luzes do placar eletrônico (que apesar da demolição, ainda estava praticamente intacto) e um pedaço do concreto da arquibancada superior. Esses seriam meus suvenires que levaria daquele memorável dia.

No entanto, desejaria que a Fonte Nova não tivesse sido demolida. Salvador tem espaço para implantar um novo estádio, sem maiores transtornos, em uma outra região da cidade. A Fonte era um símbolo de uma época dourada do pensamento moderno baiano e isso eu sinto muita falta. Cada vez mais a cidade fecha-se ao regionalismo e continua a insistir em vender uma Salvador folclórica regada a dendê e fitinhas do Bonfim.

                                        A Fonte Nova era nossa Torre Eiffel!


Em algum momento da nossa história o tal bonde desandou e ficamos presos a idéia de que deveríamos nos mostrar ao mundo em  forma de um aconchegante balneário tropical - que na verdade, do jeito que as coisas andam, nem aconchegantes mais conseguimos ser. Basta sair de carro a qualquer hora do dia para constatar esse fato. Nem preciso falar da violência ou do inférnico calor que nos invade pelo verão.

Conheço pouco, ou quase nada sobre o novo estádio que será construído no lugar da Fonte. Não tenho informações suficientes para tomar uma posição a respeito do caso. Não sou um torcedor padrão do futebol. Adolescente, acompanhei o Esporte Clube Bahia na campanha de 1990, apenas. Fui aos principais jogos daquela temporada e sentia naturalmente a emoção de estar em um estádio com mais de 70 mil espectadores. Entretanto, não me recordo o ano, mas teve um campeonato baiano em que não houve vencedores. O título da temporada ficou na mão da cartolagem. Dali em diante, fiquei com náuseas toda a vez que ouvia falar em futebol. Perdi totalmente o interesse.

                                 Fonte Nova lotada em dia de BA-VI!


A missão agora é captar recursos para fazer uma exposição com as fotos que tirei do estádio. Tenho o desejo de que sejam ampliações grandes, que transmita a amplidão e a magnitude da Fonte Nova. A Odebrecht seria ideal para esse investimento; foram eles quem construíram a Fonte Nova e agora estão construindo a Nova Arena. De repente lança-se um livro, junto a exposição, com  as fotos do estádio e uma seleção de textos bacanas sobre a memória da Fonte. Seria um ótimo brinde de natal das Organizações Odebrecht.

Salve a memória da Fonte! Visite o blog com fotos da implosão do estádio:

 http://fontefinal.blogspot.com/


Salvador 26 de Outubro 2010