sábado, 28 de julho de 2012

Notícias do Brasil

                          O carro de Dilma está parado!

Gente, vocês vão me desculpar mas meu artigo de hoje é dirigido ao pessoal que acessa o meu blog no exterior. É que já tenho mais de dez mil acessos em 150 países que vão da América do Sul á Austrália. Da Patagônia ás Ilhas Fiji. E, afinal, é justo que de vez em quando me lembre deles. Pensei então em dar notícias do Brasil a esta rapaziada que tem bom gosto.
Na nossa terra continuam jogando futebol, e tem muito samba, choro e rock. Mas o que não disse Chico Buarque naquele tempo é que chegou a crise. Ela havia sido empurrada com a barriga por Lula em 2008, mas voltou em 2010.
                          Ele pelo menos pode ir embora!

O presidente, no entanto, adotou a mesma receita da burguesia internacional, distribuindo uns cem bilhões a bancos, indústria automobilística, empreiteiras, e comércio, e acabou a preocupação. É claro que aumentou também a verba de propaganda da mídia e com isso conseguiu que fosse considerado crime falar da crise.
O atual governo do PT tem apenas o papel de administrar a crise. Colocaram uma gerente que nada sabe fazer a não ser cortar gastos e o PIB, indicador com o qual ela não se importa, caiu lá pras calendas gregas. O Brasil está parado nos dois anos de Dilma.
                            Ah como é bom estar em Veneza!

Mas a novidade não é essa mas o fato de sermos o único país do mundo onde um governo promove uma política de austeridade e reduz a atividade econômica continua com o mesmo índice de aprovação nas pesquisas.
É por isso que somos diferentes de qualquer país do mundo. A expansão do crédito pegou mesmo os brasileiros que adoraram o cartãozinho de plástico. Enquanto o nível de endividamento não botar a turma em desespero Dilma está segura.
                       Não adianta Joel a crise veio pra ficar!

Mas pelo menos os funcionários públicos estão chiando. Tem até greve, como a dos professores da Bahia, que já passou dos cem dias. É a única coisa em que parecemos com a Grécia, Espanha, Itália e Portugal.
É que Dilma não está nem aí para os servidores, chegando sua ministra Miriam Belchior a dizer se surpreender por “os funcionários brasileiros estarem reivindicando em tempos de crise na Europa”.
    O Vitória até retirou o vermelho da camisa pra economizar!

A nossa delegação na Olimpíada já chegou a Londres e desfilou muito animada. Desta vez a nossa meta é chegar em vigésimo lugar. Como vocês sabem, a burguesia daqui é fissurada em ganhar medalhas de ouro na Europa e sair no New York Times.
Menos do que isso não serve, e o atleta que consegue só a medalha de prata é considerado um fracassado. Um cuidado todo especial foi tomado com os esportes coletivos, onde o país tem mais chance.
                    Rapaz tão matando até anjinho pra comer!

Esses atletas são tratados a pão de ló ficando nos melhores hotéis, ganhando polpudas gratificações, o escambau, porque, como vocês sabem, o amadorismo nas Olimpíadas virou coisa do passado e até pode se escolher jogadores da seleção brasileira de futebol pra disputar a medalha.  
O pessoal da ANVISA, que deveria fiscalizar a comercialização de remédios, tirou o seu da reta. Liberou geral. Acaba de aprovar o acesso a remédios sem receita até em gondolas das farmácias, desde que se coloque o cartaz:
 “Esses medicamentos podem causar efeitos indesejados. Evite a auto-medicação: informe-se com o farmaceutico”.
                       Só apelando pra Marx e Engels de novo!

E tudo isso “justificado” pelo direito de livre escolha do consumidor! Ora, deixem os conselhos federais de Medicina e Farmácia reclamarem e chamarem os burocratas de irresponsáveis, agora pelo menos posso comprar os remédios de meu pai á vontade sem a necessidade de correr atrás do médico pra pegar a receita!
Quero aproveitar a oportunidade e reclamar das autoridades o meu direito de pagar também a conta de luz mais barata. É que toda hora Dilma anuncia medidas pra livrar a cara do empresariado na crise.
              Eu também já tentei ficar na cama pra esquecer!

É um programa atrás do outro. São bilhões pra cá, bilhões pra lá. Basta qualquer montadora reclamar das vendas que a presidenta prorroga o desconto do IPI e outros bichos para a galera.
Mas agora exorbitou. Imaginem que ela retirou diversos impostos que encarecem a conta de luz, mas só para as indústrias. Pode?Também quero o meu abatimento. Afinal não aguento mais pagar uma conta de luz de 150,00.
Já fiz tudo o que podia pra reduzir e nada. Me disseram que o problema era o chuveiro, aí passamos a tomar banho frio, sem ligar o chuveiro elétrico. E aí...nada! No mês seguinte veio os mesmos 150,00. Depois me falaram que era a porta da geladeira, que quando se abre muito aumenta a conta. Aí minha mulher baixou a ordem, só abrir a porta da geladeira três vezes ao dia, no café, no almoço e no jantar.
Quanto ao freezer nem pensar, era abrir apenas uma vez por semana. Foi um sufoco cumprir esta determinação, ficávamos morrendo de fome mas não podíamos meter a mão na cumbuca.
                       Até o Elevador Lacerda tá diferente!

O jeito foi deixar muita coisa fora da dita cuja, mesmo que houvesse a ameaça de estragar. Pra não surgir problema com o sorvete tivemos de deixar de comprar. No final do mês fomos ver todos alegres a conta e...necas de pitibiribas 150,00 no pedaço!
Aí surgiu a oportunidade de viajarmos ao exterior. A estadia foi legal, fomos com o Beatles Social Clube a Londres e Liverpool e tomamos todas a que tínhamos direito. Aproveitamos pra gastar antecipadamente o dinheiro da conta de luz acreditando que estaria zerada. Qual nada...veio de novo os 150,00.
                       O pior é que nem Danuza fala da crise!  

Pedimos a verificação do nosso registro e não adiantou. O cara dizia que estava contando certo. Acho que deve ter entrado algum ladrão no nosso apartamento e gastado esta luz toda. Realmente esta COELBA depois de privatizada virou o fim da picada!

domingo, 22 de julho de 2012

Na sala de espera

                                      Agente e os sobrinhos esperando a comida em Londres 

Gente, hoje eu me preparei para ser líder da Segundona. A oposição não diz que o Vitória não tem título nacional? Então esse ano vão ter que nos aguentar. Desta vez nem liguei pro fato de Carpegiani não estar no banco. Acho mesmo que ele gostou de ser suspenso por alguns jogos.
A torcida está no maior stress para que o leão saia desta posição de ficar na sala de espera. Esteve em quarto lugar muito tempo, depois passou pra terceiro, e, na semana passada, chegou ao segundo. Passaram por ali todos os Américas mas agora é nossa vez de chegar ao primeiro.
                                                           Esse negócio de esperar é um saco!

Essa semana eu também fiquei na sala de espera rezando pra terminar esta crise da coluna. Como tinha dado alta a minha ureia aproveitei ontem pra ver como estavam rins, fígado, próstata, e outros bichos. Só no COT do Canela foi uma hora e meia esperando o exame, e olhem que em jejum!
Ninguém merece acordar as sete da madruga, ficar sem tomar café, se encher de agua, e ainda ficar esperando até as nove e meia pelo exame. Mas pelo menos saiu tudo ok. O exame deu normal, e até a dedada que ia tomar por esses dias no urologista está adiada.
                                               E que é que me diz de esperar a mordidinha?

Nesse dia peguei o ortopedista depois do almoço. Já disse a Cybele que não vou mais a nenhum médico sem horário marcado. A consulta tinha sido adiada pois o médico teve que fazer uma operação. Mas quem amargou a “operação espera” fui eu. Sai de casa às uma e meia pra ser atendido depois das quatro. E era apenas uma consulta de revisão, pra mostrar os exames!
O resultado frustrou as minhas expectativas. O médico mandou suspender as sessões de fisioterapia (que eu pensei que estavam me fazendo bem), esculhambou os bloqueios que eu estava tomando nas costas, e confirmou um diagnóstico que o anterior jurava que não existia. Enquanto um diz que eu tenho estreitamento nas vertebras da coluna o outro afirma que sofro de uma doença chamada fibromialgia. Durma-se com um barulho desses! O nome é bonito, até que não pega mal, mas que pelo menos os diagnósticos coincidam!
                                                                 O leão está comendo a bola!

Nesse dia aguentei mais salas de espera do que o Vitória na Segundona. Aproveitei pra observar o povo que me acompanhava nas quase cinco horas que passei lendo revistas e jornais. De manhã só havia senhoras de meia idade, ou talvez de muita idade, quase dobrando o cabo da Boa Esperança. A conversa girou sobre a demora da médica que fazia os exames, oscilando o papo entre a insatisfação com a espera e a péssima assistência dos planos de saúde.
Não sei se vocês viram as “providências” tomadas pela presidenta Dilma, na véspera das eleições municipais, contra o serviço! Pra responder a aquele que é apontado pelas classes médias como um dos maiores problemas do país, ela...puniu os pequenos planos evitando que possam ser vendidos prestando um favor inestimável a Sul América, Saúde Bradesco, e outros menos votados.
                                           Só sentado mesmo pra esperar o Criciúma perder!

De tarde deu pra se ter uma boa visão em como se criam as crianças nesse país. Quando cheguei parecia uma creche com mães de tudo quanto é tipo. Havia crianças de oito meses a quatro anos. Mas quem ficava de colo, por mais incrível que possa parecer, era o mais velho. Enquanto isso os menores circulavam com desenvoltura pela sala de estar do consultório, pintando, gritando, e fazendo tudo a que tinham direito.
Só um menino usava chupeta, mas não todo o tempo, só quando chorava, momento em que a prestimosa mãe enfiava o apetrecho em sua boca como uma forma de dizer que não incomodasse. O garoto quieto só despertou quando os meninos passaram a bulinar os brinquedos que haviam na sala de espera.
                                           Olha um torcedor do Bahia desesperado com o Z 4!

Ele ficou olhando com atenção a festança, e, bastou os brinquedos caírem no chão, pra sair a toda velocidade para apanhá-los. Apesar dos pais o criarem como um retardado o menino não é besta. Vi quando a mãe dele falava com outra mãe sobre o filho desta. Quando ela afirmou que seu filho era “uma criança ótima” sua reação foi dizer
- É quietinha, né?
Quer dizer que criança boa é aquela que fica na sua, em ordem, sem fazer nada que não seja previsível. Enfim, uma criança “normal”. Enquanto isso eu torcia para que o Vitória não fosse tão previsível. Já estávamos sem Neto Baiano, que a incompetência da diretoria ajudou a que fosse pro Japão, e jogava no interior do Paraná contra um bicho papão tradicional, o Atlético Paranaense.
                                                     Aqui tá todo mundo esperando a crise!

Nesse dia eu acabei indo pra casa do vizinho pois o jogo ia ser transmitido pela Rede Bahia. Nos enpirulitamos nos sofás e o jogo começou. O time estava disposto, correndo atrás da bola, mas futebol que é bom esqueceu em Salvador. Também a partida estava muito marcada e só houve praticamente lances de meio de campo no primeiro tempo. Parecia que tínhamos voltado ao tempo em que a marcação era homem a homem.
Aos três minutos Nino fez um cruzamento, mas a bola passou por toda a pequena área sem ninguém que metesse o pé pra fazer o gol. Mas, logo aos cinco, Paulo Bayer chutou de longe e Gustavo fez golpe de vista. Depois o goleiro se contundiu ao bater um tiro de meta de mau jeito. Levou o primeiro tempo todo enrolado neste dilema shakespeariano: sai ou não sai?
                           Pô, vamos dar sangue logo pra camisa do leão voltar a ficar vermelha!

Enquanto isso o jogo se arrastava no meio de campo. Aos 22 minutos é que ocorre o primeiro “chute” a gol, na verdade uma escapada de Leilson pela esquerda fazendo um cruzamento pro goleiro do Atlético pegar. Muito pouco! E quatro minutos depois, num cruzamento pra área, Paulo Bayer cabeceou fraco pra Gustavo pegar e ficar no chão sem saber o que queria da vida. Aqui pra nós essa bola até eu defendia!
Aos 32 minutos, enfim, uma bela jogada do leão quando Pedro Ken enfia pra área e quase Marcelo Nicácio alcança de cabeça. O Atlético toma a iniciativa das ações mas o jogo era mesmo um “baba” e não iria pra lugar nenhum com nossos ex-jogadores Marcelo, na direita, e Wellington Saci, na esquerda, que, graças a Deus, estavam do outro lado. O leão ia bem até a grande área mas depois morria. Nino entrou bem pelo meio, mas adiantou demais a bola, aos 45 minutos, e, cinco minutos depois, Leilson teve a melhor oportunidade numa falha da zaga mas chutou por cima do gol.
                                                         Aí só esperando passar a chuva!

No intervalo eu e meu vizinho torcíamos pra que Paulo Bayer não voltasse e que Carpé resolvesse o problema do goleiro. Não podíamos continuar assim, com medo de qualquer bola que fosse pro gol. E não é que fomos atendidos pelo homem lá de cima? O Paulão não voltou e o Atlético substituiu dois. No Vitória entrou o Caio Secco no gol. Será que é parente da atriz Deborah Secco?
O segundo tempo começou um pouco melhor. Aos três o tal do Secco já mostrava que não era tão ruim, saindo bem num escanteio e batendo rápido pra Marquinhos fazer bela jogada lá na frente, embora chutasse fraco nas mãos do goleiro.  Dois minutos depois foi a vez de Leilson estar na grande área, só que deu um furo antológico. O Atlético melhora e Carpé ainda levou certo tempo pra substituir Marcelo Nicácio pelo juvenil Willie. Do outro lado sai Saci.  E aos 24, Marcelo agradece ao tempo que passou no Vitória perdendo o maior gol da paróquia debaixo da trave num rebote do goleiro Caio.
                                                                Mão na bunda não vale!

O Criciúma ganhava e parecia que nós iriamos sair da sala de espera pra ficar bem longe, fora do consultório. Aos 26, Marquinhos, usando a mão, bota uma bola que passa raspando a trave superior. Uéliton começa a ir mais pra frente. Será que foi orientação de alguém? O que sei é que numa dessas enfia uma bola açucarada pra Leilson que, assim como fez com o Paraná, corre pra caramba e, sem ângulo, acerta no cantinho esquerdo do goleiro que ainda pega na bola mas esta bate na trave e entra: um a zero.
Valeu, agora é bola pro mato que é jogo de campeonato. O Atlético passa a pressionar mas os três zagueiros (Dankler, Vitor Ramos e Gabriel) de Carpé dão conta do recado. Mas como eles não são de ferro uma bola acaba sendo cruzada pra pequena área aos 42 e aí o Caio dá um pulo canastrão sem pegar nada, e a bola sobra pra quem...Marcelo lógico, que chuta sem direção perdendo outro gol impossível. Nunca esqueceremos de você Marcelo, continue assim nos jogos contra o Vitória.
 
                      Cadê os super herois? Não fizeram nada pra evitar mortes num filme do Batman.
E um minuto depois a bola é enfiada pra Willie que penetra até ficar ele e o goleiro mas dá uma de Marcelo chutando na trave. O menino teve a chance de matar o jogo mas tremeu, é normal! Logo após Seneme apita encerrando o jogo. Ufa passamos por mais um. Agora só faltam 28 partidas. O Criciúma acabou vencendo o Paraná mas o que eu sei é que o Vitória tá lá coladinho na sala de espera em segundo lugar.

sábado, 14 de julho de 2012

O último lugar do mundo



Não sei por que ninguém fala do sanitário. Se agente olha a literatura nem pensar, ele está literalmente excluído. Parece que nem existe nem inspira qualquer poesia. Ali se fala de tudo, sexo, drogas, discos voadores, futebol, mas de sanitário nem pensar. É um verdadeiro tema tabu. Apesar de haver sanitários por todo o mundo eles não são um tema universal como os demais.
Nas conversas em sociedade não é de bom tom se falar no sanitário. Imaginem que quando alguém sai da mesa diz que vai ao “toillette” afrancesando este ato tão comum na vida dos seres humanos. Outros simplesmente falam no banheiro como se fossem tomar banho e não fazer outros serviços igualmente impublicáveis.
                                                 Aí não!

Já estou cheio de falar da crise mundial. Isso todo mundo já sabe embora escondam que já chegou ao Brasil. Da corrupção aqui não tem nem graça pois, numa semana que cassaram o Demóstenes, deixaram impune seu suplente que é ainda pior. Aliás na Bahia o governo não está nem aí para a educação, pois professores de todos os níveis do Estado estão em greve. Também pra que se preocupar se os filhos dos políticos estudam em escolas particulares?
Foi por tudo isso que resolvi escrever sobre o sanitário num dia em que não achei assunto para a minha crônica. Primeiro acessei o Google pra ver o significado da palavra e descobri que o nome desse espaço sagrado veio do vaso que contém. Nossos antepassados usavam qualquer lugar pra livrar-se do que o intestino não queria. Desde as moitas até um buraco cava no chão.
                                                               Isso era antigamente!

Na Grécia, que dizem que foi onde surgiu a civilização, as pessoas preferiam usar a rua para isso, pelo menos até o Século V AC. E olha que os romanos fizeram isso até bem depois. Dizem até que os pinicos, ou os urinóis como alguns chamam, são mais antigos que os vasos sanitários.
Com o aparecimento da civilização, as pessoas deixaram de fazer em qualquer lugar e passaram a ter um espaço em casa para a função deixando na tarefa de livrar-se deles por conta do poder público. Tem historiador que data isso no terceiro milênio antes de JC. Teriam começado as aves que lá trinam no Vale do Indo que hoje é o Paquistão. Havia até agua corrente ligando os vasos a canais construídos com tijolos integrando um sistema sanitário que tinha câmaras e bueiros.
                                                Marx e Weber iam também ao sanitário!

Mas as pessoas tinham que se agachar para usar o primitivo sanitário. Só no Egito é que teria surgido o sanitário das pessoas sentadas e apenas mil anos depois foi usado no Golfo Pérsico a descarga hidráulica. Os romanos levaram muito tempo preferindo fazer esse negócio coletivamente. Foi por isso que construíram os banheiros públicos onde as pessoas faziam suas necessidades socialmente. Tinha gente que marcava reunião no sanitário público. Mas o governo não provia esses lugares das necessidades mais básicas e, como não havia papel, usava-se qualquer coisa pra se aliviar, até areia ou grama.
O negócio foi evoluindo de forma a virar cômodo da casa. Só no Século XVI um poeta inglês da Corte inventou um vaso parecido com o que temos hoje, uma peça de louça com a boca em formato oval. Sua obra (sem trocadilho) foi saudada nas elites (que se tornaram menos sujas) e a partir daí o hábito foi descendo para toda a escala social fazendo com que em 1668 o Comissário de Polícia de Paris determinasse que todas as casas da cidade devessem ter um banheiro. No Século XVIII foi criada a bacia sanitária e ainda teríamos que esperar cem anos para que fosse inventado o tão útil papel higiênico.  
                                            Uns amigos meus usam pra outras coisas!

Como vocês o hábito que surgiu público acabou “evoluindo” pra privado ao longo desses mais de 2000 anos de história Agora é que entendi porque minha mulher vai entrando, sem a menor cerimônia, no sanitário quando estou fazendo tanto esforço para entender o mundo.
É que aqui em casa nós destoamos do comportamento dos demais seres humanos. Começa por dar o nome aos bois. Quanto há visitas em casa e alguém precisa se ausentar falamos claramente aonde vamos, é bem verdade que usamos o diminutivo. Assim dizemos “um minuto pois vou ao sany”.
                                             Realmente, pode-se fazer tudo no sanitário!

Minha mulher deu um toque todo especial a aquele que, ao ser privatizado, virou o último repouso do guerreiro. Colocou um piso de cerâmica azul e ladrilhos da mesma cor. Tacou-lhe uma imitação de mármore na pia, e um bonito Box no banheiro, dando um clima de nobreza ao espaço. Foi por conta disso que o sanitário moderno virou um local bem diferente do passado. Ali se faz de tudo e é onde, inclusive posso sentar na privada e refletir sobre o mundo, a filosofia, e os destinos da humanidade.
Mas quem pensa que o sanitário é apenas o lugar onde se goza da intimidade com a merecida solidão está enganado. Os casados, infelizmente, face a herança pública desse espaço, são os que mais sofrem, vendo constantemente a invasão de seu espaço pela cara metade para tratar dos assuntos mais prosaicos ou escovar os dentes, isso da maneira mais cínica fazendo de conta que não percebe o seu esforço mental.
                                                               Socrates também usava!

Qualquer motivo é desculpa para invadir este recinto sagrado. Apanhar o lixo, tomar banho, utilizar as toalhas, e até se olhar no espelho. Um dia, confesso, num acesso de intimidade, tranquei a porta do dito cujo. Mas a experiência não foi feliz pois minha mulher batia no banheiro desconfiada do que eu poderia estar fazendo lá dentro. Foi aí que percebi que a solidão é um perigo para o casamento.
Mas, mesmo com todas essas invasões de privacidade, quero dizer que desde criança passo algumas horas do dia no sanitário. Uso as mais variadas desculpas, fazer a barba, tomar banho, colocar pra fora líquidos e sólidos, o escambau. Mas na verdade passo o tempo lendo jornais, fazendo projeções do Vitória na tabela da Segundona, pensando na vida e na última utopia de plantão. Li em algum lugar que a história é um carro que vai atropelando costumes, mitos e sistemas. Porque não vai criar um recinto realmente privado?
  

domingo, 8 de julho de 2012

Forró do ABC



                              Poxa pulamos a maior fogueira!


Ontem foi mais um jogo do Vitória pela Segundona. O leão enfrentava um alfabeto inteiro lá no estádio do Frasqueirão em Natal e nada como a musica que Moraes Moreira gravou em 1980 pela Ariola para demonstrar meu estado de espírito durante o jogo.
No forró do A nos vamos amar. Pelo menos a minha esperança era chegar ao terceiro lugar na tabela, mas o jogo começou meio sem graça, o Carpé nem estava no banco, e o meu rubro negro, apesar de estar melhor, nem chegava perto do gol.
                      Essa Segundona até parece filme policial!

No forró do B nós vamos beber e no forró do C nós vamos comer. Cadê esta parte Moraes? Aos 14 minutos Marco Aurélio até chegou chutando e o goleiro do ABC deu rebote mas a zaga cortou. Dois minutos depois foi a vez de Pedro Quem (?) mas chutou fraco e o goleiro defendeu. E, aos 19 minutos Tarte faz boa jogada pela esquerda e passa pra Neto Baiano que chutou em cima do goleiro. Que droga!
Me D pois E no forró do F nós vamos ferver. E quase ferve mesmo. O ABC levou um tempo com a iniciativa das ações e logo aos 21 minutos o cara recebeu um lançamento e colocou no fundo das redes. Falei mal até a décima geração de Gabriel mas graças ao bom Deus o bandeirinha levantou o bastão anulando corretamente o gol do ABC.
                                                    Foi um verdadeiro desespêro!

No forró do G vamos agarrar, no forró do I que jogou pra J, nesse lêlêlê mas cadê você? Diga aí Carpegiani, porque o time é tão inconstante e vive de altos e baixos durante o jogo? Agora retomou sua presença no campo, digo tem mais controle da bola e fica passando um pro outro em jogo improdutivo, mas é o ABC que tem as melhores estocadas.
Aos 33 o lateral cruza perigosamente pra Douglas tirar de soco.  E, dois minutos depois, Washington é protagonista do melhor lance da partida. É que percebendo que Douglas estava fora do gol chutou do meio de campo para Douglas fazer bela defesa colocando pra escanteio.
                            Tá demorando pra camisa voltar ao vermelho!
A esta altura eu e meu vizinho já estávamos putos da vida. No forró do M nós vamos mexer, no forró do N vamos namorar, ora isso é uma piada. Tá certo que não há lugar pra namoro na Segundona onde só quatro sobem mas pelo menos que Carpegiani mexesse no time!
E, aos 45 minutos vem o verdadeiro milagre do bom Deus. O atacante passa como quer pela Avenida Mansur e aí a bola é cruzada no primeiro pau chegando um cara pra bater da pequena área e Douglas fazer uma defesa sensacional. Foi um desespero só! A bola voltou pra outro atacante que chutou e Nino salvou e voltou de novo pra bater em Pedro Quem. Arre, pra salvação o juiz terminou o primeiro tempo!
                    Socorro, assim meu coração não aguenta!

Vocês imaginem que a essa altura agente estava xingando até o Moraes Moreira. As coisas não estavam nada bem, só não estava pior do que o Goiás que tomava de dois a zero do Bragantino. Que bom que o América de Natal perdia pro CRB, é que esta Segundona está cheia de times de letrinhas e ainda tem o ASA.
Pensamos em mil soluções durante o intervalo. Esperávamos mais de Marco Aurélio mas ninguém estava bem, nem Tartá, Pedro Quem e Neto Baiano que costumam ser os melhores jogadores do time. A gente olhava a cara do filho de Carpé e era uma preocupação só!
                      O lanterna verde só apareceu no finzinho!

Tô aqui pra ver o seu X xi xi. O Vitória começou o segundo tempo com Michel em lugar do Mancha com o técnico fazendo justiça a melhor dupla de volantes que possuímos. O time começou mais disposto outra vez, embora mais encorpado. Aos dois minutos já Marco Aurélio começa chutando a gol e aos cinco, a zaga do ABC sai errado e o rubro negro perde o gol de cara.
Aos 14 o egoísmo de Nino não permitiu que passasse a bola prum jogador mais bem colocado e perdemos outro gol. Um minuto depois Uéliton dá uma bicicleta na área mas a bola vai pra fora. Na volta um cruzamento do ABC quase pega na cabeça de Washington. O suspense continua!
                                  Fique aí nesta prega e vá pensando que vai subir!
Aos 19 minutos Mansur faz a sua melhor jogada dando um pique de cinquenta metros e chegando á linha de fundo onde cruza na cabeça de Marco Aurélio que deu uma bela cabeçada mas o goleiro botou pra escanteio. E se o lateral está aprendendo a subir o mesmo não se pode dizer em relação á marcação. É que boa parte dos ataques do ABC vinham pelo seu lado e aos 22 quase eles chegam outra vez.
Quando chegou os trinta meu vizinho já tinha entregado os três pontos mas eu não embora exigisse mudanças no time. Só nos quinze minutos finais é que elas vieram. Primeiro com Eduardo Ramos no lugar de Tartá melhorando o passe ali na meiuca.  
                                               O jeito era torcer na telinha!
Douglas, no entanto, era o grande nome do jogo fazendo outra grande defesa aos 33 minutos. Pensei comigo temos que ir pra frente pois esse negócio de viver de um pontinho é coisa do esquadrão de lata.
O Vitória continua com mais posse de bola e é beneficiado aos 43 quando o juiz expulsa um dos volantes do ABC. Meu vizinho, porém, lembrou que era apenas por dois minutos, enquanto eu achava que era por cinco. Carpa sentiu o momento e colocou William no lugar de Marco Aurélio e aí o leão ficou dono do meio de campo.
                                                  Quase era um desastre!
Tô aqui pra ver o Seu Z zê zê e o bom juizinho deu cinco minutos de desconto, valeu cara! Aos 47 Neto dá de cabeça, a única coisa que fez no jogo, mas nas mãos do goleiro. Aí a mulher do vizinho entra na sala e não acredita no que vê.
- Zero a zero com o ABC?
O que eu disse a ela foi um estalo, não sei se desejo ou um presságio:
- O Vitória vai marcar no finalzinho, aos 49 e meio!
                               Não tem namoro que resista!
Ah um escanteio. Sobe todo mundo. Douglas vai lá pra frente! Não sei nem quem bateu, só queria que acertasse o pé! E não é que acertou? A bola veio exatamente na cabeça de Vitor Ramos que, assim como fez com o Guarany, cabeceou não muito forte no canto direito, mas como o goleiro estava do lado esquerdo não deu pra chegar.
Discordo de Moraes o jogo foi um sufoco, não pareceu nada com o forró do ABC, mas o que interessa é que levamos mais três pontos pra casa.  Agora era ligar a TV pra azarar o tricolor.

domingo, 1 de julho de 2012

Hawai cinco zero, um seriado que não é mais o mesmo



Salvador esta semana foi um marasmo só. Também, quem manda São João cair num fim de semana? Aí o pessoal emendou com São Pedro e já ficou lá pelo interior. Foi por isso que esta semana pouca coisa funcionou de verdade por aqui. As repartições atenderam pouco. Os consultórios nem se fala, e pouca gente apareceu nos exames. Até os taxis reclamaram da falta de gente pra transportar.
Pensei que não ia poder ir ao jogo Vitória X Avaí devido a minha crise da coluna. Aí aproveitei a ocasião pra comprar um rádio e deixar de assistir ao jogo na internet pois ninguém merece ter que ficar olhando a telinha e o som interromper logo no ataque do meu rubro negro. Mas descobri que certas coisas não frequentam mais imaginário do comércio. Imaginem que não existem mais rádios! É MP3, MP sei lá de que, equipamentos paraguaios e chineses que também sintonizam emissoras, e o escambau. O que mais parece com o velho radinho só pega FM!
                     Pô Alex telefona pra contratar um goleiro!

Duas horas rodando e não consegui comprar um simples rádio. O jeito foi botar o rabo entre as pernas e capengando, esquecendo os choques e formigamentos da coluna, ir ao jogo. Pedi ao meu vizinho pra estacionar perto mas pra isso tivemos que chegar as quinze pras três.  Aí foi barbada arranjar vaga no posto logo em frente da ladeira do Barradão.
Entreguei as habituais dez “pilas” ao guardador e enfrentei a sofrida ladeira. Doía toda vez que respirava mas consegui chegar vivo lá em cima. Aí troquei minha carteira do programa Eu sou mais Vitória e adentrei feliz ao estádio. Puxa, parecia que a torcida tinha sofrido mais do que o normal a virada do Goiás no último jogo. Eu também tinha achado o fim da picada mas não estava ali?
                                             Não é fácil a subida para a Primeira Divisão!

Aos poucos começaram a chegar os amigos de sempre nas cadeiras. As opiniões variavam em relação ao time, desde os que querem reforços aos que (poucos) achavam que esse elenco mesmo já dá pra subir. Mas me preocupei pois o quase consenso é pau no técnico Carpegiani. Eu concordo que ele errou em Goiânia mas isso não é motivo pra sacá-lo do time, ainda mais pra botar quem: o eterno substituto Ricardo Silva.
A conversa estava tão boa que nem percebemos que as cadeiras quase foram se enchendo e melhorando o público. Aí o Vitória entrou em campo...de preto e branco. Será que tinha vindo assistir o jogo errado? Que a diretoria resolveu assustar o Avaí fantasiando o time como seu arqui adversário o Figueirense? Que estava pensando que o negócio era aquela série chata de TV Havaí 5 – 0?
A série era do tempo da onça, sendo exibida entre os anos 60 e 80. Foi uma série policial, que se passava em meio ao clima paradisíaco da ilha havaiana, que combatia o submundo através de uma polícia estadual de elite, a Hawaí 5-0. Lembro-me que levei anos cantando a musica tema da série que é muito conhecida.
                                          Hoje não tem mais policiais como antigamente!

A equipe policial não tinha onze mas três a cinco membros. Vibrávamos com Jack Lord (Steve McGarrett), Danny Williams (James Arthur), Kono Kalakaua (Zulu) (que foi substituído mais tarde por Ben Kokua (Al Harrington),e Chin Ho Kelly (Kam Fong). Mais tarde entrou Duke Lukela (Herman Wedermeyer). Isso até quando eu assistia, mas sei que depois entrou um monte de gente não sobrando quase ninguém dos que iniciaram. Os caras desmantelavam quadrilhas, prendiam mafiosos, o diabo! Tudo isso com muita ação e com roteiros que davam gosto de ver.
Os famosos detetives sequer apareceram no jogo do Vitória contra o falso Hawai que, aliás, nem foi bom de roteiro. A começar que a equipe policial nem usa mais o H e mudou o nome pra Avaí mesmo. Quando percebi isto vi que não tinha jeito de não dar Vitória. O time nem parecia o da série policial. Começou tímido em campo e o leão baiano aproveitou pra dominar a bola. Antes dos dez minutos Marquinhos já chegava na cara do goleiro e perdia bisonhamente o gol chutando em cima. Mas sabem como é, como o pessoal é da lei e da ordem o juiz não estava nem aí par as faltas desclassificantes que tomavam jogadores como Nino e Pedro Ken.
                                                         Esse nem chegava perto!

Aos doze minutos a bola sobrou pra Neto Baiano mas o zagueiro tirou. O Vitória começava a marcar sob pressão mas os detetives passaram a tocar a bola e esfriaram legal o jogo. Ao invés do Hawaí ser aqui parecia que estávamos na Sibéria. E foi na casa dos vinte que os detetives se ensaiaram. Primeiro o ataque deu um peteleco pro gol que Douglas defendeu firme.
Logo depois, aos 22 e 23 minutos, os ex-detetives assustaram de novo. Na primeira oportunidade contaram com a colaboração de Douglas, que saiu de forma afobada e foi driblado com o cara chutando cruzado e a bola bateu na trave. Foi uma confusão mas a defesa acabou afastando. A próxima foi uma falha clamorosa de Rodrigo que o atacante aproveitou, entrou de cara, e...chutou lá pras bandas dos Estados Unidos.
Aos 25 a defesa deu outro presente mas o time da série famosa chuta mal. As coisas iam mal para o Vitória. Tartá, Neto e Marquinhos não estavam num dia inspirado e ainda tinha a Avenida Mansur. Olha que a equipe policial já podia ter feito o nome da série mas o leão baiano decidiu reagir e Marquinhos, entrando pela direita, acertou uma no gol para o goleiro espalmar pra escanteio. O jogo então ficou mais equilibrado até os 37 minutos quando Marquinhos (sempre ele) quase chega no gol, e, aos 42, quando houve uma bela troca de passes de cabeça que quase termina dentro do gol.
                                                           Qual é Arséne Lupin?

Que fazer no segundo tempo pra mudar o quadro? Do jeito que estava podia ter umas duas horas de jogo que os delegados não tomariam gol. Nas cadeiras, porém, não havia dúvidas tinha que ocorrer mudanças e o preferido pra sair era Pedro Ken entrando o novato Marco Aurélio em seu lugar.
Parece que Carpé gastou todos os seus erros em Goiânia pois, graças a Deus, entrou com Marco Aurélio e Gabriel após o intervalo. A surpresa foi quem saiu, Tartá e Rodrigo. Na oportunidade houve pouca reclamação, mesmo havendo quem defendesse a permanência de Tartá, pois vinha sendo o melhor jogador do time. Mas não é que o time melhorou?
O Vitória começou em cima com os detetives se defendendo. Aos três minutos causou o maior reboliço na área dos homens quando o goleiro deu rebote. E, aos treze, nova confusão, mas sem resultado concreto. O pessoal saudosista da série nem via Steve Mc Garret ou Zulu mas uma equipe toda voltada para a defesa. O Hawai mudou a equipe, da mesma forma que fez durante os doze anos da série, mas pouco adiantou.
                                       Haja barreira para conter os detetives do Hawai 5-0!

Aos 24 minutos Douglas quase mata a torcida do coração ao largar a bola no meio da área num escanteio, mas a defesa mandou pro espaço. Quatro minutos depois Jack Lord desceu num, contra ataque perigoso mas a bola bateu e voltou pra Marco Aurélio pegar de “prima” e o goleiro botar pra escanteio. Um minuto depois o mesmo Marco Aurélio passa a bola pra Pedro Ken chutar de fora da área e a bola bater na trave esquerda e ir morrer no cantinho da outra trave: 1 X 0.
Aí o Hawai foi pra cima e chegou mesmo a lembrar os velhos tempos da série. Os detetives deram sufoco. Foram mais de dez minutos de bolas cruzadas e cobranças de falta da intermediária. Numa dessas Douglas aceitou uma falta incrível cobrada do meio do campo. Ainda bem que tinha um bandeirinha camarada. Foi o melhor zagueiro do Vitória. Quando a zaga claudicava lá estava ele levantando o bastão. Gente boa esse paulista!
                                        007 era o outro policial que todo mundo assistia!

Enquanto os detetives atacavam Marco Aurélio enfiou outra bola com açúcar, agora pra Mineiro, que havia entrado no lugar de Marquinhos, e o menino fez um golaço aproveitando-se de um furo do zagueiro: 2 X 0.Ainda deu tempo pro Neto Baiano bater uma falta nas mãos do goleiro e prum detetive ser expulso. Quem te viu, quem te vê. A polícia não é a mesma nem lá nem, cá. E o Vitória passou por mais um.