sábado, 26 de janeiro de 2013

O casamento

                                                    
Gente, a semana passada fui convidado para outro casamento que, como vocês sabem, é uma cerimônia anacrônica que, infelizmente na nossa sociedade, ainda é recorrente, pelo menos ainda faz as delicias de toda família que esteja a fim de desencalhar uma filha ou queira “dar responsabilidade” a um marmanjo.
Desta vez não dava pra sair pela tangente. É que as pessoas marcam “em cima”. Os pais vem em casa convidar, deixam convite, telefonam, e, no caso de serem amigos que merecem a nossa consideração, agente tem de fazer as honras da firma. Só tem uma coisa pior do que casamento é uma formatura.
Essa é mesmo um horror. Primeiro, é a composição da mesa, onde se presta homenagem a tudo quanto é dirigente da faculdade, professores, assim como aos paraninfos que pagaram a conta. Depois se chama um inferno de formandos, um a um, e eles, ao invés de ficarem em fila esperando a chamada, levantam, se encaminham ao palco, colam o grau, apertam a mão de todos os que estão na mesa (argh!) e voltam aos seus lugares. Aí vem os discursos, cada um mais cumprido do que o outro, as placas entregues aos professores, e a saudação final, quando sobrevém a única parte que presta da formatura... o coquetel.
                                                                Ah a noiva era linda!

Mas voltemos ao casamento. Um dia desses vou reunir coragem pra dizer aos amigos “casem sem mim”. Tem até um filme de Arnaldo Jabor falando desta infeliz cerimônia, assim como filmes de Hollywood tratando do tema. E o pior dos americanos é que fazem uma mistura de casamento com formatura tirando desta a coisa mais sacal que são os discursos.
No casamento de Rachel, por exemplo, os “amigos” fazem mais de cinquenta discursos e agente tem que aguentar duas horas de problemas de família! Depois disso fiquei com o pé atrás de filmes casamenteiros, quando vou vendo que a coisa caminha para as núpcias mudo logo de canal. Os caras fizeram até o grotesco O casamento do meu ex. Imaginem, se o casamento já é um saco, quem vai se dignar a ir a um casamento da ex-mulher ou do ex-marido? Só se tiver o mal gosto de reatar a relação.
                                                                  O noivo Petkovic!

O primeiro problema do casamento é escolher o presente. Mas um consolo, antigamente era pior, pois se tinha que ficar telefonando para os noivos ou os pais pra ficar sabendo o que é que queriam. Agora a coisa está mais “civilizada”, ou, dizendo melhor, mais capitalista. Imaginem que agente recebe o nome de uma loja e vai lá pra pegar a lista dos presentes. Não é coincidência que os caras têm tudo ali e. pelos olhos da cara. Como as listas são meticulosamente preparadas pra você gastar o que não tem, não é fácil conseguir achar alguma promoção tipo um prendedor, algumas fraldas, uma bijuteria, cílios postiços, então tem que marchar no cartão mesmo.
A segunda coisa é o preparo para a cerimônia. Acho que hoje os convidados gastam quase tanto tempo como os noivos. Minha mulher passa o dia no salão, desde a véspera separa as roupas com que vamos nesta malfadada cerimônia, pede emprestado uma bolsa (pois as que têm nunca servem), e, o interessante é que não coloca nela coisa nenhuma, joga toneladas de pinturas no rosto, e me dá um monte de coisas pra fazer.
                                     Como não tinha banheiro o pessoal fazia alí mesmo!

Afinal, um casamento exige trabalho, e não só dos noivos, mas dos convidados. Eu tenho que engraxar os sapatos, escolher minha melhor meia, tentar achar uma calça que ainda entre em mim. Neste dia, o único terno que deu foi um bege, o que me causou o maior mico, pois era o único com roupa “esporte” num casamento que mais parecia um enterro, onde todos os homens estavam de terno escuro e me olhavam.
É nessas ocasiões que você se depara com uma das maiores desgraças que o Brasil importou da Inglaterra, a gravata. Suportei esse apetrecho durante anos por uma série de razões, geralmente de trabalho. Só quando tomei juízo é que passei a questionar essa coisa que nada tem a ver com nosso clima tropical, mas que é de “bom tom” se pendurar no pescoço, e aí procurei alternativas. A primeira foi comprar um sortimento de gravatas alegres no exterior. Mas isso não funcionou muito e até hoje eu tenho um montão lá em casa que não uso, pois imagina você chegar num enterro com uma gravata dos Beatles!
                                                 Por baixo o negócio estava ardendo!

Depois, entrei na onda do blazer. É que esse paletó é bem mais esportivo, não combina com gravata, e dá pra você não usar abotoar a camisa social e ainda desfrutar da glória de andar pela cerimônia com a mão nos bolsos. Mas o problema é o mesmo das gravatas alegres, só dá pra usar quando os pais não colocam lá bem em cima do convite a temível informação, “traje social”.
Aí descarei. O pessoal não me quer no casamento? Então tem que aceitar qualquer traje com que eu for. Sabem o que aconteceu com Einstein?  Não sei se é verdade, mas contam como se fosse. Ele teria recebido o convite para ir numa festa e foi com a roupa com que pesquisava. Quando chegou lá o anfitrião se dirigiu a ele e disse:
- Mas Doutor Einstein, essa roupa?
Aí ele perguntou com que roupa é que deveria vir e disseram que era a roupa social. O cientista nem pestanejou. Saiu da festa e entrou na primeira loja de roupas que achou aberta, comprando o tal traje e mandou um mensageiro entregar ao promotor da festa. Bem feito, na verdade o mais importante não somos nós os convidados, mas o traje com que vamos!
                                               As damas de honra quase roubam a cena!

Bem, agendamos o taxi que ia nos levar e, na hora marcada, nos empirulitamos para a missa. Quase que me esqueço de falar a vocês desse tormento. Fico invocado do fato da Igreja Católica ter a cada dia menos seguidores e todo mundo que eu conheço casarem nessa igreja. Quando chegamos lá estava quase cheio e foi com dificuldades que achamos um lugarzinho.
Tentei me concentrar nas musicas, mas não dava, pois até elas são um mix do casamento dos outros, não tendo em sua maioria a menor criatividade. Que diabo, será que esses filhos dos meus amigos não tem nenhuma musica deles, de quando se conheceram? Aí o jeito foi olhar em volta como todo mundo faz. A moda hoje é enfeitar a igreja de flores, e quanto mais rico mais há dificuldades de apreciar os móveis e obras de arte da igreja, devidamente coberto de rosas brancas. Mas será que não há outra flor pra usar?
                                                       Tem de tudo em casamento!

Num casamento que se preze as mulheres estão sempre olhando as vestes das outras, e os homens com cara de que estão enfadados e com pressa de sair dali. Eu não comento, só fico ouvindo, as críticas que rolam de todos os lados:
- Mas veja o tamanho desse sapato-plataforma?
- Esse vestido ela deve ter feito da cortina de casa, e deve ser promessa costura-lo tão cumprido!
- Minha nossa, que decote sem vergonha!
Minha expressão não muda ao ouvir esses comentários, mas uma coisa atraiu minha atenção, foi quando ouvi que tinha umas meninas que vestem a roupa de noite sem calcinha. Os homens tem esse que de tarado, e vire e mexe olham os peitos e os lances das senhoras nos casamentos. Quanto a mim, pra não fugir à regra, confesso que, desde então, olhei de soslaio pra ver se as roupas de baixo estavam ali, o que é uma tremenda bobagem, pois não dá pra ver nada, você fica só na imaginação.
                                         Não podiam faltar as musicas de Roberto Carlos!

Agente pensa em todas essas bobagens porque a noiva atrasa paca, nesse dia o casamento começou uma hora depois. E, enquanto estava em todas essas conjecturas, depois de ver gato e cachorro, digo as testemunhas passarem (dizem que se casamento fosse bom não precisaria delas), a porta da entrada da igreja fechou e começou a solene marcha nupcial. Rapaz, Mendelssohn deve estar se virando no túmulo. Ele nunca imaginou tanta pompa e circunstância em suas musicas. Agora fizeram um arranjo mais lento onde os trompetes estão pra lá do Handel das monarquias do Século XVIII, e nessa hora não há outro olhar que não seja pra noiva. Ou seja, o centro das atenções na liturgia do casamento atual não é pros nubentes mas só para a parte feminina da celebração.
Depois de muito discurso do padre e de juramentos dos noivos, começam a chamar as testemunhas. Nessa hora falei com a parte da minha família que3 estava presente para nos arrancar para o coquetel. É que eu estava desconfiado de que poderia não haver lugar pra sentarmos na casa de eventos, pois havia umas quinhentas pessoas na igreja. Mas, nem deram bola! O resultado é que só saímos quando tudo acabou.
                                                                 O beijo nupcial!

Pegamos o carro e todo o transito pra chegar à Avenida Tancredo Neves. Lá, enfrentamos outro engarrafamento pra entrar na casa de eventos. Na ocasião falei pro pessoal que iria sair pra conseguir um bom lugar na casa. Mais uma vez nem me deram bola. O resultado foi o previsto, quando chegamos não havia nenhuma mesa disponível e ainda tinha gente em pé.
Ficamos a noite toda em três lugares diferentes. Eu e minha mulher sentamos do lado de fora. Minha cunhada e o marido sentaram perto de uma mesa de salgados, e meu sobrinho e a companheira sentaram no miolo. Foi o único casamento que fomos que quase não nos falamos. Aliás, em nossa mesa só tinham políticos falando das suas peripécias e de como enganam o povo e melhoram a vida dos parentes no seu dia a dia.  
                                                            Agora é a lua de mel!

Conversamos um pouco, nos empanturramos e enchemos a cara. Que outras coisas se pode fazer na recepção de um casamento? Como sempre eu misturei a bebida, de sorte que depois da meia noite já estava trocando as pernas e pedindo uma cama. Lá em casa há sempre essa diferença de ritmo, pois minha mulher quer sempre aproveitar de todas as delícias do high society.
Nem sei dizer a hora que ela aceitou ir pra casa. Desculpem a confissão de idoso, é que já não tenho mais idade de ficar tarde em festas.  Nesse dia tive que andar pela casa umas quatrocentas vezes pra tirar os excessos, pois o mesmo casamento que é uma formalidade sacal tem de bom agente encher o bucho.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Como roubar dinheiro público

                                     
                                          Pra que tudo isso?


Roubar dinheiro público no Brasil é um bom negócio. Isso quem diz não sou eu, mas o procuradorfederal Lucas Furtado, representante do Ministério Público Federal no Tribunal de Contas da União.  É ele quem estima que o montante da corrupção em 50 bi por ano. O roubo é tanto que nem se tem ideia da dimensão, pois o jornal a Folha de São Paulo avalia em 40 bi os roubos e desvios da máquina pública, e o especialista norte – americano Stuart Gilman calcula em 40% do PIB brasileiro, ou seja, em quase 100 bi.
Se compararmos com o maior golpe da construção onde o juiz Nicolau desviou 169 mi na construção do Fórum Trabalhista de SP; com o maior assalto do Brasil, o do Banco Central de Fortaleza em 2005, onde roubaram 156 mi; a maior fraude da Previdência, onde a advogada Georgina levou 112 mi, veremos que tudo isso é coisa pequena.
                             
 A corrupção é tão endêmica no Brasil que a Organização Transparência Internacional criou um mapa da corrupção, que tem um IPC (Índice de Percepção de Corrupção) que mede a gravidade do problema. Pra vocês terem uma ideia sobre como anda o Brasil, éramos o 69º pior em corrupção e passamos este ano para no ano passado para o 73º lugar, atrás do Chile, da Coreia do Sul, do Kuwait e da Malásia.
Vinte por cento do trabalho da polícia já é ocupado pela corrupção e 15% pelo tráfico de drogas. O juiz federal Odilon de Oliveira expõe um dos motivos para estarmos nesta situação, é que “a legislação no Brasil é uma brincadeira e os corruptos tem melhores advogados. Em 2010 tínhamos 105 mil presos por tráfico e apenas 749 por corrupção. Dos grandes cabeças da corrupção, preso você não vai achar nenhum”.

                              
                                                 Gente fina é outra coisa!

Pensei assim em fazer um curso sobre como se roubar dinheiro público explicando todos os esquemas pra lavar dinheiro, fraudar, fazer tráfico de influência e subornar pessoas. Só tenho medo de a iniciativa demorar mais de quatro anos, que é quanto dura uma graduação universitária. Dá até pra se fazer um mestrado e um doutorado em ladroagem.
Vou falar hoje só dos roubos mais comuns, os que ocorrem nos municípios.  Quem quiser roubar dinheiro público deve procurar é ocupar um cargo de administrador, de preferência prefeito, secretário, governador, ministro ou presidente. A primeira coisa a fazer é ser eleito. Pra isso precisa de dinheiro, da “base aliada” e de amigos e parentes.
Mas se você tiver pouco dinheiro não se preocupe, é só procurar um empreiteiro, dono de posto de gasolina, construtora, e outros empresários prometendo o que cada um quer pra poder ser eleito. Vou logo falando que deve dizer a eles que fará obras à vontade, que colocará os postos de gasolina onde eles quiserem que botará motéis em ruas residenciais, que vai rebaixar o IPTU das “áreas nobres”, e aprovar leis de interesse deles. 
                       
                                              Desse nem adianta falar!

Não se esqueça, se você não puder devolver tudo que tomou emprestado, tem sempre a alternativa de nomear um amigo do empresário para consultor da prefeitura. Já pra resolver a situação da base aliada é só demitir todos os funcionários ligados á antiga administração colocando seus partidários e apaniguados no lugar. Os amigos e parentes se resolvem com a contratação de terceirizados e fazendo concursos públicos, desde que você não se esqueça de incluir no regulamento destas provas subjetivas, entrevistas classificatórias, e de contratar empresa conhecida por fraude e vazamento de provas.
Não se esqueça de itens importantes. Primeiro, transformar o orçamento em verdadeira peça de ficção e conseguir liberar o máximo dele para gastar como quiser, assim como o belo exemplo do governo federal que tem o DRU. Segundo, montar um esquema para-legal colocando pessoas em áreas-chave da prefeitura e da Câmara. A quadrilha, digo, o grupo, deve ter pouca gente pra que não deem com a língua nos dentes quando forem pegos com essa fiscalização deletéria do Ministério Público, procuradorias e outros bichos. É necessário também pagar tudo no cash mesmo, evitando deixar vestígios em contas bancárias em função da possibilidade de quebra do sigilo.
                               
                                                       E chegando mais...
Em praticamente toda área da prefeitura pode se roubar. Vamos dar aqui apenas alguns exemplos. Uma das melhores são as compras. Estas, apesar de serem reguladas pela lei 8666, que prega belos princípios, de que o poder público deve escolher a proposta mais vantajosa, ter isonomia, legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade e publicidade, usar da melhor técnica, o menor preço, o maior lance ou oferta, isso é tudo “pra inglês ver”.  
É que no Brasil quanto mais leis e regras melhor pra não serem aplicadas. Muitos empresários que costumam concorrer aos vários tipos de licitação sabem que cada uma tem limite. O convite é 150 mil, a tomada de preços é 1,5 mi e a concorrência é acima disso.
A tal lei tem 126 artigos, a maioria aparentemente muito sérios. No entanto, o legislador colocou, no artigo 24, 31 tipos de “dispensa de licitação”, e, no artigo 25, vários casos de “inexibilidade de licitação”. Mas não ria não, pois ainda não acabou. É que há, ainda, um item de compras e serviços onde se pode gastar 10% do convite (ou seja, no limite de 14.999,00) sem problemas, se faz licitações dirigidas, o escambau.  

                              
                                             Não precisa nem correr!

O almoxarifado é outro lugar joia pra meter a mão. Bote ali pessoa estritamente de sua confiança, se possível um irmão ou a mulher. Diga-lhe pra esquecer-se de registrar entradas e saídas, fazer do estoque uma tremenda desorganização, e articular com outros almoxarifados uma lista enorme de transferência de peças sem conta-las.
A contabilidade é outra área-chave da prefeitura. Não preciso dizer que o contador deve ser muito amigo pra lhe quebrar todos os galhos. Nessa área os lançamentos e as notas são o ouro. Quanto mais você fizer recibo melhor do que aquelas chatas notas fiscais. Uma nota friazinha de vez em quando também não faz mal, e, se não der, preencha-a com informações bem vagas. Mas não se esqueça de que as contas tem que “bater” de qualquer jeito no fim do ano. A tesouraria deve estar juntinho da contabilidade. Aqui o mais interessante é ninguém saber quantas contas a prefeitura tem e em que bancos. Afinal, pra que mais do que o prefeito e tesoureiro saberem dessas coisas?

                                 
Não deixe de fazer muitos convênios e estabelecer brilhantes funções sociais para eles, que devem ser de todas as entidades suas conhecidas combinando antes quanto cada um vai levar.  A criação de empresas com sócios laranjas é essencial, para que se possa                   fornecer mercadorias e serviços superfaturados, não entregar o que se declara, usar e abusar de acordos nas ações judiciais (pois dá porá fazer vários conluios nos pagamentos) e dar muitas anistias, pois dificultam a fiscalização.   
Todo prefeito que queira sair da gestão com um dinheirinho a mais do que aquele ridículo salário que recebe, deve fazer um monte de eventos. Use e abuse desta matéria, fazendo carnavais na época e fora de época, festas da cidade, e outras comemorações populares. É que além do povo gostar dá pra levantar uma quantia boa. Mas é preciso trazer muita gente de fora, pois fica mais difícil com parar preços, e dá pra superfaturar no pagamentos de cachês, palcos, sonorização e iluminação.

                                             

Outras áreas boas são a da alimentação, principalmente merenda escolar, pois dá preá fazer acordos com fornecedores pra baixar a qualidade dos produtos, inchar o número de alunos, e, depois, botar uns amigos no Conselho Municipal de Educação, pra aprovar as contas. É indispensável que haja carros oficiais na prefeitura. Pois senão como faturar as despesas nos postos de gasolina e da manutenção das oficinas? Aqui, não se esqueça de sempre abastece-los em outra cidade pois pode entrar em rubricas diferentes.
Para os que tem oposição na Câmara Municipal basta atender as demandas dos partidos da “base aliada” e alguns da oposição. Não esqueça que relação entre os poderes no Brasil só funciona na base da chantagem: aumento de salário, repasse das verbas, melhorias para gabinete, e as CPFs nos projetos de interesse do executivo.
                                 

Boa parte dos processos que vão ao TCM são de interesse de alguém, oposição, situação, e quem julga tem padrinhos, portanto, não dá pra deixar de ir sempre beijar a mão dessas autoridades. Se você for esperto não vai ter problemas, a não ser quando algum chato presidente da Câmara aspirar lhe suceder e buscar aliados com o governador, tribunal de contas, etc. Vade retro!    
Depois de um ano frutífero roubando pra valer, passe boas festas com um dinheirinho extra, arranje alguma mercadoria e dê entrada no recibo, faça o empenho da despesa, emita você mesmo o cheque do pagamento para terceiros, e divida o montante do roubo, digo da transação. Afinal, prefeito também é gente!  

sábado, 12 de janeiro de 2013

Marido de cama e mesa

                                             
                                                    E depois ainda tem que ter tesão!

Gente, vocês devem ter reparado que nos dois últimos meses estou escrevendo pouco. O motivo disso é um só, a doença da nossa secretária, a Cida. Ela já tem oito anos de casa e é boa gente, assim tivemos que fazer um acordo. De saída propomos reduzir as vindas na semana. Mas o negócio que começou sem sábado, evoluiu para quatro, três e até apenas duas vezes por semana.
Nessa época foi um horror e fizemos negociação em casa ás duras penas. Lavar o sanitário, que é o mais duro, foi canja, ficou pra própria Cida no dia em que viesse. A comida só podia sobrar pra minha mulher, pois eu só sei fazer farofa e ovo. Então sobrou pra mim arrumar a cama, fazer a varrição, lavar os pratos e os panos que encobrem minhas partes baixas e altas, botar a mesa, comprar o vinho, o iogurte, o queijo e as frutas, e pagar algumas contas na esquina. Ufa! Assim também é muita exploração!
                                                  
                                      Cama só é boa pra dormir!

Olhem que eu perguntei aos meus sobrinhos e amigos e quase ninguém faz nada em casa! Aliás, a minha santa mama não deixava agente fazer nada. Só fui aprender a arrumar a cama quando casei, pois, como vocês sabem, casamento envolve sacrifícios! O resultado desses meses foi triste. Depois de uma boa noite de sono e de ter de acordar ás oito da matina, a primeira coisa que faço ao acordar é... fazer a cama.
É um saco! Tem que dobrar o lençol com cuidado, e, junto com os travesseiros, empurrá-lo no armário. Depois ir buscar a colcha no quarto ao lado e cobrir a cama evitando que um lado fique maior do que o outro, e, finalmente, pegar as almofadas pra colocar na cabeceira. Digo “finalmente” em termos ideais, pois se a mulher pega qualquer coisa mal feita manda fazer tudo outra vez.
                                                     
                                                           Cadê tempo pra viagem?

Mas pior do que isso é mesmo lavar os pratos. Imaginem que mal se acaba o café e tem que enfiar tudo na pia, jogar detergente na esponja, deitar agua em cima, jogar tudo no escorredor (que, aliás, não deixa escorrer coisa nenhuma), enxugar tudo e, depois, botar a mesa outra vez pra de noite.
Com o tempo fui aprendendo uns macetes. Quando agente usa guardanapo de papel não precisa lavar o de pano. Pode também deixar tudo pra escorrer e só botar a mesa na hora do jantar. Mas minha mulher está sempre atenta pra essas coisas. Primeiro, exige pratos limpinhos, um espelho onde se veja a nossa cara. Segundo, não suporta que tenha alguma coisa na pia pra fazer depois. Eu tive que aprender rapidamente onde se guardava cada uma daquelas coisas inúteis que se tem na cozinha.
                                                     
                                             É comer é bom, mas limpar dá um trabalho danado!

Outra coisa desgraçada é varrer a casa, digo o apartamento. Imaginem, que agente discute até hoje se basta varrer uma ou duas vezes por dia. Meu Deus não é possível quanto tempo se desperdiça com essas coisas! E a internet, minhas pesquisas, meus livros, a política, os jogos do Vitória, como vão ficar? Aprendi rapidamente o macete de varrer quando ela não está em casa. Aí a coisa vai mais rápido. Não é que eu não varra, mas, convenhamos, pra que se abaixar tanto pra tirar o lixo debaixo do sofá se ninguém mesmo vai olhar ali?
Como Cida lava o sanitário e o quarto dos fundos é invarrível, acabei livrando os dois da varrição e fazendo economia de esforço. Acabei com uma técnica invejável e hoje posso dizer que está disponível pra exportação. Varro todo o apartamento em cinco minutos. Pra isso trabalho com uma mão na vassoura e outra no apanhador. É só no nosso quarto que gasto uns segundos a mais, pois tem a peça do computador, os guardas roupas, os criados - mudo, (ah, quase ia me esquecendo), e o diabo das coisas de cima dos móveis que agente tem de espanar.

                                          
                                             Um dia desses vou jogar fora essa tralha toda!

Adquiri a mesma técnica pra botar a mesa. Aqui eu só levo três minutos. E o que me ajuda é que não usamos toalha para as refeições. É só, rapidinho, botar o centro de mesa e a fruteira numa cadeira, jogar dois jogos americanos no tampo, arremessar dois pratos e dois copos,  pegar com uma mão só os talheres, o paliteiro e os guardanapos, e estamos conversados. Minha mulher me manda tirar a comida da geladeira sempre às dez horas da manhã, de sorte que sou um cronômetro, quando chega o horário é só ir à geladeira fazer o serviço. Bem, às vezes não sei o que tirar e acaba saindo tudo de forma que eu levo mais uma bronca. Mas casamento tem dessas coisas!
Os pagamentos não são lá grande coisa, é só pegar a fila prioritária. O mesmo para as compras, pois minha mulher, espertamente, só deixou para que eu comprasse aquilo que eu uso. O problema mesmo é lavar as coisas. Bem, quem passa ferro é ela, mas, já pensaram em lavar cuecas e camisas de ginástica? Vade retro! É por isso que escondo-as (as camisas e não as cuecas!) atrás da porta do banheiro pra minha mulher não ver. Só quando não tem mais nenhuma é que eu as lavo todas de vez. Aliás, nos últimos dias estou corujando como se usa a máquina de lavar, pois acho que dá menos trabalho.

                                          
                                                          Ói outro coitado trabalhando!

É um inferno lavar roupa. Imaginem que agente bota aquela coisa debaixo d’água, e enfrega, enfrega, mas nada de ficar limpo. Pô será que ninguém percebeu que isso acaba com os dedos? Mas quando dói eu saio de baixo, jogo agua, espremo e penduro a desgraçada na corda.  Foi pra prevenir esta atividade dolorosa que inventei uma coisa que vou patentear! Pra economizar esforço e saúde nesse azáfama, é só lavar apenas os lugares que sujam mais. Numa camisa, por exemplo, basta lavar as golas e o sovaco (ainda se usa essa palavra?). Numa cueca não vou dizer não, pois é muito porco.
Mas foi em dezembro que a coisa degringolou de vez, pois Cida entrou de licença e não pode ir mais, assim tivemos que nos acertar com uma diarista, a Nerildes. E como ela só vai no sábado o último mês do ano foi um verdadeiro horror. Lá em casa parece um drama, só há lamúrias e reclamações.

                                        
                                                 Ah cansei, afinal também sou gente!

Só sentamos à mesa para reclamar o que deixou de ser feito ou o que foi mal feito (da minha parte). Minha mulher só faz reclamar da sua exploração capitalista, diz que quer receber salário como doméstica, e que é preciso renegociar o pacto anterior. Mas eu também tenho argumentos, afinal, a lei dando pleno direito ás domesticas ainda não entrou em vigor, e, onde ficam nesta zorra os direitos dos intelectuais? Graças a Deus Cida chega na segunda feira.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Ah, enfim, férias!

                                           
                                              A Casa Rosada é parada obrigatória!

Tem coisa melhor do que tirar férias? Quando me aposentei tive um dos melhores tempos da minha vida. A primeira mudança foi não ter mais hora pra acordar... nem pra dormir. Ah que tempo bom. Toda semana escrevia duas crônicas pra meu blog e, ainda de quebra, gravava um vídeo na TV Servidor. Adiantei dois livros, um sobre a Fonte Nova e o outro sobre minha estadia na terra dos Beatles.
Mas não contava com os problemas que vivem os aposentados. O primeiro é você se aposentar sozinho e a mulher continuar trabalhando. Não recomendo pra ninguém. É motivo certo de incompreensões.  Primeiro são as férias que você pode tirar e ela não. Discutíamos muito pra ela usar suas licenças-prêmio pra viajarmos umas quatro vezes por ano, pelo menos.
É que em 2010, como funcionário federal, achava que tinha me aposentado muito bem. E queria torrar o dinheirinho do PASEP e do FGTS que tinha levado. Mas não fiquem de olho não, pois não foi muita coisa. Além do mais esses bancos oficiais são o fim da picada. Quando fui ao BB pegar meu PASEP, depois de esperar duas horas pra mostrar o Diário Oficial com a concessão da aposentadoria e outros bichos o cara disse que eu não tinha direito á nada. Falei, estrebuchei, e voltei para a UFBA pra saber o que tinha acontecido.
                                   
 E lá me disseram que aquilo era um absurdo e que eu fosse lá de novo reclamar do gerente. No outro dia mais duas horas de espera e fui bater em outro funcionário, justamente na carteira ao lado do que tinha me atendido no dia anterior. Mostrei a ele os documentos e aí ele entrou naquelas telas que só eles têm o direito de acessar e viu que... havia quatro mil e cem reais na minha conta!
Confesso que perdi a paciência e disse a ele o que tinha acontecido no dia anterior com o cara do lado. Ele ficou sério e foi chamar o gerente, que ficou com o olhar grave também. Ao final das contas me entregaram um papel para eu receber a bufunfa depois de quatro dias. Não sei se puniram o cara, mas pelo menos eu tinha resolvido um problema.
Agora era o FGTS, e fui à CEF todo feliz, pois devia ser uma grana bem maior. Peguei a fila de sempre, mostrei os mesmos documentos, e o cara procurou, procurou, e achou... dois mil e duzentos reais! Assim fica difícil! Mas, menos do que o PASEP, não pode ser! Como eu estava desconfiado, ele me mostrou o visor, tirou cópias das planilhas e me entregou. Fui pra casa p. da vida.
                                             
                                                   Pô, não aguento mais de parrilla!

Passei a noite sem dormir anotando todas os números que estavam nas minhas duas carteiras de trabalho em todos os empregos que trabalhei na vida. Depois digitei num papel tudo aquilo e no outro dia oi eu de novo na CEF! Mas naquele dia peguei uma fila menor e o cara que tinha me atendido não estava, Foi quando descobri que tudo depende do momento, do “saco” do funcionário que lhe atende, e outros fatores conjunturais.
Quando chegou minha vez, mostrei o documento e o papel que eu tinha elaborado com as contas. Vocês acreditam que o cara passou quase uma hora olhando as contas, uma por uma, e descobriu que eu tinha... vinte mil e oitocentos reais!  Era a glória, dava pra agente dar a volta ao mundo, começando em Aracaju e terminando em Buenos Aires. Fiquei tão feliz que levei pra ele uma garrafa de vinho de presente. Tomara que não o tenham enquadrado nesses códigos de conduta que estão na moda. Mas quando chego todo feliz em casa, Cybele apreendeu o dinheiro para colocar na poupança!
Outro problema com a aposentadoria é que a mulher lhe enche de coisas pra fazer com a alegação de que você “não faz nada”. Tem que varrer a casa, aprender a cozinhar, telefonar nos aniversários dos amigos, pagar as contas na rua, e ainda fazer um monte de exames. Parece até que se está com o pé na cova.
                                                   
Além do mais é comum nas saídas com os amigos perguntarem:
- Mas você não faz nada, nada mesmo? Não ganha nem um dinheirinho pra complementar a aposentadoria?
Aí eu entendi a razão de toda essa xaropada. É que na sociedade capitalista você só é um ser considerado produtivo quando ganha dinheiro. Quer dizer, eu trabalhava mais do que estava na ativa, escrevendo livros, artigos, crônicas, dando aulas pros movimentos sociais que me pediam, orientava amigos e amigas que concorriam aos mestrados da vida, e nada disso era considerado trabalho só porque eu não cobrava!
Assim, nesses pouco mais de dois anos de minha aposentadoria, só viajamos quatro vezes, Londres, Vitória, Aracaju e Buenos Aires, adotando a política de dar uma no cravo e outra na ferradura quando começou a fazer água o dinheiro da universidade. É que sou um aposentado da era Dilma, a gerentona que arrochou os salários dos servidores com a parceria de certos sindicalistas que foram em sua conversa. Enquanto isso para os empresários tudo. Nem com FHC estivemos em uma situação tão desgraçada, quando o PIB “cresce” 1% já é coisa de se comemorar. E ela desconta toda essa situação em cima dos funcionários federais.
                           
                                             Encontrávamos com ele sempre por lá!

Foi assim que, para gáudio de meus amigos e de minha mulher, tive que voltar a dar aulas atendendo a um gentil convite de minha amiga professora Sylvia da UNIJORGE. Como sempre gostei de ensinar a coisa não ficou pesada, embora ajudasse se eu tivesse uma noitinha livre por semana.
Mas, toda essa enrolação foi só pra dizer que chegamos. Finalmente, a outro período de férias. É que no dia 17 de dezembro terminaram as aulas e começamos a planejar a nova viagem. Um imprevisto, porém, adiou a comemoração das festas de fim de ano: é que painho apresentou falta de adaptação a alguns remédios, ficou desidratado e quase sem comer, e boa parte das despesas com médico e exames caíram em minhas costas. Assim, o Money ficou curto até pra sair de férias em janeiro.
Agora estamos organizando de novo nossa viagem para o carnaval, uma vez que vamos receber nossos grandes salários no fim do mês. Mas as opções não são muito novas, pois tivemos de desistir do México, Equador e Colômbia, por serem caras, e até de conhecer Mendoza, Rosário ou Córdoba, pois já tivemos por três vezes em Buenos Aires. Do Brasil resta pra conhecer Fortaleza, São Luiz, Manaus, e o Centro Oeste, mas o problema é que todos tem carnaval.
                                         
                         Poxa já fui em todos, Senor Tango, Café Tortoni, Teatro de Piazzola...

Nesse fim de semana vamos decidir na base de contar o dinheirinho. Mas o que vai mesmo pesar na decisão é mesmo o dinheiro. No fim do ano passado uma colega de trabalho de Cybele pensou em ir pra Argentina, aí eu pensei, pela quarta vez? Mas, tendo em vista os preços dos pacotes que estão pela hora da morte acabei pensando nesta possibilidade.
Nesta última semana consultei tudo quanto é site de vendas. Não faltou nenhum, Hotel urbano, Submarino, Americanas, Viajar. Net, Decolar.com, nem as companhias de aviação TAM, Gol, LAN, Aerolineas Argentinas, etc. Ataquei também todas as agencias que eu conhecia, CVC, Pinheiro, Alcance, Lobotur, Turismar, Amaralina, Atlas e Bússola e o negócio não está brincadeira. Vocês imaginem que chegaram a me cobrar nove mil reais por oito dias em Buenos Aires!
Nem pensar em perguntar nada a esses operadores de agencias que só querem ganhar os tubos nas costas dos clientes. A coisa chega ao ponto de dizerem que os pacotes já vem blocados, ou seja qualquer alteração nele é caríssima. Quer dizer, o direito internacional de pagar pela noite extra hospedado não existe por aqui. Um deles chegou a me oferecer passar o carnaval na Síria, que estava mais barato. Aí fica difícil!
                                         
Tentamos inicialmente comprar a passagem pra fora do país por pontos do Cartão Fidelidade da TAM. Vocês sabem como funciona, né? Você faz compras o ano inteiro, viaja pra aqui e acolá, e ganha pontos esperando usar na sua viagem de férias. E o que acontece? Perto das férias a companhia aumenta os pontos necessários ou inventa um monte de normas burocráticas para atrapalhar o cliente. No caso de Buenos Aires, por exemplo, que já necessitou apenas dez mil pontos, agora são quarentinha, mas eu desgraçadamente só tenho 39 mil.
Em relação aos grandes sites depende do momento em que você entra. Meu computador está ligado há uma semana e procuro promoções a qualquer hora. É que meu sobrinho me informou que, a depender do horário, você pode ter diferenças de preços de até dois mil reais. Descobri também que a depender da data o preço pode sair mais em conta. Foi assim que fomos aumentando nossos dias de férias e, aquilo que estava em uma semana, já está até em quinze dias. Tudo isso só pra pagar menos de avião.
                                       
                         Já conheço uns vinte restaurantes de Puerto Madero!

Mas ontem baixou meu tesão. É que quando fui mostrar a Cybele minhas contas, onde o menor preço de passagens era 2.793,00 pra Buenos Aires (que não é mais aquela) ela já preferia ficar no Brasil mesmo. Chegou até a arriscar a proposta indecente de ficarmos pelo interior mesmo, até Cacheira e Canavieiras (BA) apareceram entre suas opções.
Até agora não sei pronde vamos. O negócio continua russo. Como vamos almoçar fora hoje ainda dá pra aliciar ela pra sair do país, pois nossas viagens acabaram se reduzindo mesmo ao carnaval. Quem sabe aparece um dinheirinho extra de última hora e salva a pátria?