O ano de 1975 foi um ano atípico no futebol baiano. O Bahia começaria o ano com um amistoso caseiro com o mais querido obtendo empate em um gol. Os clubes aproveitaram pra jogar antes do carnaval. E aí o Botafogo sofreu fracasso financeiro ao trazer o XIII de Campinas (PB), empatando em três gols na Fonte Nova, e o Vitória resolver trazer nada menos que o Fluminense carioca pra “ganhar algum”.
Em matéria de dinheiro sairia “elas por elas” mas no futebol quem venceria seria o pós de arroz aplicando dois a zero no rubro negro. Os leões da Barra, porém, insistiriam, programando mais um amistoso, desta vez com o Ypiranga perdendo de “gude preso”. Chumbo grosso!
Três dias depois estrearia no campeonato baiano sendo mais feliz, ao ganhar do Itabuna por três a zero na Fonte Nova. Lembro-me que as derrotas tinham a “justificativas” que eram amistosos só pra entrosar o time. Fui nesta conversa e vibrei com a nossa estreia. Mas, no meio da semana a desgraça, perdemos de um a zero pro Botafogo. Depois veio um empate com o Leônico. Enquanto isto o tricolor já tinha cinco pontos, com duas vitórias e um empate.
O cara é brincadeira!
Até o fim de março, porém, o time se recuperaria, ganhando fora de casa do Jequié (1 X 0) e do Ypiranga (2 X 0), mas o tricolor ia também do mesmo jeito. Os dois só se “pegaram” uma semana antes do meu aniversário de 27 anos, 17 de abril, empatando sem gols. Depois daí o rubro negro conseguiria ganhar do Galícia (1 X 0) e do Fluminense de Feira de Santana (3 X 1), terminando o turno em segundo lugar, com dois pontos atrás do Bahia.
No quadrangular final, no entanto, foi um desastre, sem ganhar de ninguém. Fiquei “doente” pelo ponto que perdeu logo na primeira rodada, ao empatar com o Atlético de Alagoinhas (1 X 1), enquanto o Bahia saía na frente ganhando do Botafogo (1 X 0). Mas no meio da semana seria ainda pior, quando perdemos para os diabos rubros (1 X 2), embora o tricolor também empatasse com a equipe da terra da laranja.
Já chegamos sem chances no domingo, quando, pelo menos empatamos, de novo sem gols, contra o Bahia, mas, como o Atlético só empatava em um gol, desta feita com o Botafogo, a taça foi pra Boca do Rio (onde o esquadrão de aço tinha a sua sede).Chumbo grosso!
Até o Rambo!
O segundo turno começou com uma rodada dupla que fui assistir, num domingo, 21 de maio. Deixei Cybele sozinha pra assistir, debaixo do sol, aquela preliminar chinfrim, onde o Vitória jogava com o Jequié. Mas nem, o Todo poderoso faria o time ganhar naquele dia. Ah os gols que perdeu debaixo da trave! Acabaria empatando sem gols. E o pior é que teríamos de assistir o jogo principal ponde o Bahia começava o turno ganhando do Itabuna (2 X 1).
Fiquei com tanta raiva que não fui ao jogo seguinte, contra o Leônico. Foi um dos atos mais errados de minha vida. É que neste dia o time estava “com a macaca” e enfiou oito a um no mesmo moleque grená que havia empatado no primeiro turno. Só o ponteiro Osny fez quatro gols, completando André (3) e o lateral Cláudio Deodato. Renê fez o “gol de desonra” do Leônico e nem comemorou. Não era pra menos! O resultado deu a maior animada no clube, ainda mais que o Bahia havia novamente empatado em um gol com o Atlético.
Agora o rubro negro iria jogar em Feira de Santana, de onde trouxe mais uma vitória, dois a um contra o Fluminense. Mas o tricolor ganhou também, o “clássico do pote” contra o Botafogo (2 X 1). Continuamos pelo mês de junho ganhando de novo o Ypiranga por convincentes quatro a dois. Logo depois o aurinegro traria o Vasco da Gama na Fonte Nova, tentando reeditar seus tempos de glória, mas perderia pelo escore mínimo.
Serão os imperialistas atrás do petróleo da Líbia?
A maré do Vitória acabaria em Itabuna no dia 15 de junho nos pés do atacante Da Silva, responsável pela nossa derrota por um a zero. Três dias depois eu acompanharia pelo rádio o tricolor ganhar do Flamengo por dois a um mostrando continuar em boa fase! Será que levaria o “tri”. Só em pensar nisto dava um arrepio na espinha! No entanto, o BA-VI, jogado quatro dias depois deu novo empate (1 X 1), marcando Osny para o rubro negro e Douglas para os tricolores, todos dois, por coincidência, vindo do Santos FC.
O Vitória aproveitaria uma data pra trazer novamente o Fluminense carioca. O jogo foi muito disputado e mostrou que o rubro negro já estava à altura dos grandes times, terminando em um empate de dois gols. Três dias depois, cederia jogadores para a celebração do Dois de julho com uma grande partida entre a Seleção baiana e a Seleção mineira.
A equipe baiana na ocasião foi quase um combinado BA-VI acabando por obter um empate em um gol contra os fortes mineiros. Acho que tudo isto inspirou o rubro negro para que, uma semana depois, fize4sse uma exibição contra a boa equipe do Botafogo vencendo por quatro a zero, dois gols de Jorge Costa e dois de Osny (sempre ele!).
As esperanças voltaram...até a próxima rodada quando não saímos do zero contra o Galícia. Mas, pelo menos, conseguimos depois furar a “retranca” do Atlético, vencendo-o na Fonte Nova por dois a um encerrando a fase classificatória do segundo turno. O Vitória ficava mais uma vez em segundo, a um ponto do Bahia, e os mesmos clubes se classificaram.
Fomos então para a fase final que começa com nova rodada dupla. Vitória e Botafogo e Bahia e Atlético. Como jogávamos na preliminar os jogadores tiveram de pegar muito sol. Bastava repetirmos o resultado anterior pra começar bem, mas qual, não teve jeito de marcar contra os alvi rubros que acabaram conseguindo um empate sem gols. Quanto ao Bahia havia cometido o erro de jogar na véspera contra o Botafogo do Rio de Janeiro, num amistoso que venceu por uma zero. O esforço repercutiu na partida que terminou empatada por um a um. Naquele dia faltou pouco para o time da laranja despachar o tricolor.
No meio da semana tive que chegar da Escola de Música mais cedo pra pegar a preliminar, onde conseguiríamos a façanha de ultrapassar a “retranca” do Atlético. O gol de Osny saiu “a muque”. Mas, na partida principal o Botafogo degringolou tomando de quatro do tricolor. Ficavam elas por elas, mas o pior é que o saldo do Bahia era inalcançável. No domingo o Botafogo perdia de novo (1 X 2) pro Atlético. Só tinha vindo neste turno pra atrapalhar a vida do rubro negro. Quanto ao BA-VI terminou no quatro empate este ano. Douglas, mais uma vez, marcou pro tricolor, enquanto André assinalaria pro rubro negro.
Vejam que covardia!
Como o Bahia tinha ganhado dois pontos por cada turno que ganhou e o Vitória um ponto, teve uma partida extra entre os dois no dia sete de agosto. Naquele tempo os jogos entre eles eram muito equilibrados. Todo mundo apostava num empate. O Vitória até que tomou mais a iniciativa conseguindo ter certo domínio da partida mas depois o Bahia equilibrou as ações.
No fim do jogo fizemos as substituições de praxe pra tornar o time mais agressivo, mas uns quinze minutos antes do final eu e meu irmão “Toínho” corremos pra entrada das arquibancadas da torcida do Vitória. Chumbo grosso! Nas finais de quase toda a década de setenta era lá que ficávamos, saindo nos momentos finais do jogo e subindo rapidamente a Ladeira da Fonte pra não ver a comemoração tricolor de mais um título.
O campeonato brasileiro só começou duas semanas depois do final do certame baiano. Eram 42 clubes (vige Nossa Senhora!) divididos em quatro chaves, onde as A e B tinham dez e as C e D(exatamente as que os baianos participavam) tinha onze. Mas se classificavam cinco de cada chave. Não era possível que ficássemos de fora.
É mole?
O Vitória pegou logo duas partidas fora de casa em apenas três dias. Mas começou bem, empatando com a Desportiva (ES) sem gols. No entanto, no sábado, foi arrasado pelo Internacional por cinco a zero. Foi o maior baixo astral lá em casa! Aí começamos a desconfiar que poderíamos não nos classificar.
O Bahia começou também empatando sem gols, só que contra o Flamengo na Fonte Nova no domingo. Mas no meio da semana cairia para a Portuguesa de Desportos por dois a um. Mas, na próxima rodada se recuperaria ganhando do Santos na Vila Belmiro (2 X 0) enquanto o Vitória empatava com o Vasco da Gama na fonte do futebol em dois gols.
Na sexta rodada vinha o clássico baiano, o qual, adivinhem o resultado...novo empate, deste vez por um a um. Era o sexto aquele ano! O Vitória continuava sem ganhar apanhando, na sétima rodada, para o São Paulo no Morumbi por três a zero. Tínhamos chegado à metade do certame e o rubro negro não tinha ganhado uma. Que fazer? Desse jeito estávamos arriscados de ficar com a lanterna. Mas o Bahia também deu pra empatar.
Iriamos fazer agora duas partidas fora de casa, o nosso desespero. Nelas fizemos a façanha de perder para o CEUB (o que é isto?) de um a zero, e, depois, para o Goiás, pelo mesmo escore. Faltavam só quatro rodadas e, nas duas seguintes, jogaríamos com clubes do Nordeste na Fonte Nova. Só então o clube resolveu dar o ar de sua graça. Venceu o Náutico, de forma convincente, por dois a zero, e, logo depois o CSA de Alagoas, por dois a um.
Depois sairia pra jogar duas partidas fora de casa, terminando a fase do certame. Na primeira conseguiu ganhar do Americano de Campos por um a zero, animando a torcida pois passou a disputar a classificação.
A coisa ficou assim no Grupo C. O Flamengo e o Grêmio já estavam classificados. Mais ainda tinham três vagas a ser disputadas por América (RN), Figueirense, Santa Cruz, Portuguesa de Desportos, e...Vitória. Bastava ganhar o Sport pra estarmos dentro. A Portuguesa empatou e o América perdeu, embora o Santa Cruz houvesse ganhado do CSA (1 X 0). Aí tivemos de torcer pro Bahia, que não aspirava mais nada, ganhar na Fonte Nova do Figueirense.
Poxa, de serra não!
Imaginem o que aconteceu? A classificação foi pro brejo pois perdfemos pros pernambucanos (0 X 2) e os próprios torcedores tricolores pediram pra equipe entregar o jogo, sendo esta derrotada por um a zero. Mais um sonho de uma noite de verão que se ia. O ano tinha mesmo sido chumbo grosso pro rubro negro baiano! Vitória e Bahia ficaram em oitavo em seus grupos. Chumbo grosso!
Mas era ainda cinco de outubro e ainda tinha mais de dois meses pra encerrar o ano. O que faria a dupla até lá? Era prejuízo na certa, e ainda tinha que pagar o 13º aos jogadores e funcionários! Aí entrou a mão salvadora do Estado. O governador Roberto Santos inventou tal de Torneio Cidade de Salvador, investindo maciços recursos da Bahia para “salvar a cara” dos clubes. Já tinha passado o aniversário da cidade(que era em 29 de março) mas insistiram em comprar uma taça e colocar seu nome.
Foi o maior torneio da história da Fonte Nova. Até então a praxe era fazer um quadrangular convidando um, dois, ou até três clubes de fora. Mas deste vez foram convidados Santos, Vasco da Gama, Atlético Mineiro, Remo, Figueirense e Curitiba. Foi um mini campeonato nacional. Era a oportunidade pra um dos dois, Bahia ou Vitória, terminarem o ano bem.
O torneio começou em 25 de novembro com uma rodada dupla reunindo o clássico Vasco e Santos e Bahia e Remo, com os jogos não passando de empates em um gol. Logo depois nova rodada, entre Vitória e Figueirense e Atlético Mineiro e Curitiba. Na preliminar os mineiros ganhariam de dois a zero dos paranaenses, mas, no jogo de fundo, tivermos que amargar nova a derrota do Vitória pelo escore mínimo. Assim ficava difícil!
No dia 30, porém, ganharíamos o primeiro clássico este ano, no sétimo BA-VI, por um a zero, no sufoco. O jogo seguinte seria contra o Atlético e, se ganhássemos, disputaríamos a liderança com o Santos. A torcida rubro negra acorreu. Viu na preliminar o Vasco derrotar o Remo por três a dois, mas, na principal, o Vitória esteve irreconhecível, caindo de quatro a um.
Na semana seguinte o tricolor conseguiria um bom empate com o peixe em um gol. E, na próxima o Vitória desandava, perdendo pros cruzmaltinos por três a um. No outro dia o tricolor empatava de novo, agora com o Curitiba sem gols. Mas, graças ao regulamento esdrúxulo o Vitória se classificou. Irias pegar o Vasco, se passasse, o Santos na final.
É ver se ganhamos uma!
Foi com muita felicidade que vimos, há duas semanas de terminar o ano o nosso rubro negro ganhar da equipe de São Januário por um a zero. Fez um gol e jogou a bola “pro mato” pra garantir o resultado. O Vasco já tinha ido, agora era pegar o peixe no outro dia.
Foi com muita felicidade que vimos, há duas semanas de terminar o ano o nosso rubro negro ganhar da equipe de São Januário por um a zero. Fez um gol e jogou a bola “pro mato” pra garantir o resultado. O Vasco já tinha ido, agora era pegar o peixe no outro dia.
Foi um dos maiores públicos do torneio. Mas a alegria dos torcedores rubro negros não demorou muito. Logo o time do Santos começou a tomar conta das ações e mostrar que era superior. A bola foi entrando uma, duas, três vezes, na meta do Vitória, quando o Santos parou. Não precisava mais, havia ganhado o título com o nome da cidade. Chumbo grosso!
· Agradeço as informações dos sites RSSSF Brasil e Bola na Área, e do Almanaque do Futebol Brasileiro. Sou grato ainda as imagens dos blogs sobrenada.org,baziingaa.blogspot.com,remilton.zip.net,wagnermarques.blogspot.com e porraman.com.
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