História da Fonte Nova


Fonte Nova, 1951-2010

A introdução moderna do futebol em Salvador se deu no início do século passado de forma contemporânea com o que se verificou em alguns estados do Brasil. A prática do esporte teria começado após a volta da Inglaterra de Zuza Ferreira, filho do tesoureiro do British Bank. Desde então vários terrenos da cidade foram utilizados para isto, sendo adotados o Campo da Pólvora e o Rio Vermelho durante os primeiros campeonatos estaduais.
O primeiro estádio, nos termos que se conhecia este nome na ocasião, foi o da Graça, inaugurado em Salvador em 1922. Durante os quase trinta anos em que funcionou sozinho cumpriu tarefas fundamentais para o desenvolvimento do futebol baiano. Ajudou a formar os clubes tradicionais do estado, consolidou um público apreciador do esporte e o próprio campeonato local, intensificou o intercâmbio com clubes de outros estados e exportou jogadores em pequena escala.
Nesta era a Bahia colheu frutos importantes. Fora do Sudeste seria o primeiro estado a ver a Seleção Brasileira e a ter um jogador convocado para esta em 1923, Mica do Botafogo (BA). Mas o principal ocorreria durante os anos da Revolução de 30. Nesta época, aproveitando a crise que marcou a introdução do profissionalismo no país e enfraqueceu momentaneamente a CBD, a Bahia conquistou o Campeonato Brasileiro de Seleções de 1934, até então exclusivo da dobradinha Rio - São Paulo. Nesta década seria realizada na Graça a primeira transmissão de futebol pelo rádio.
Nos anos 40 Salvador experimentou ascensão econômica e crescimento da sua população. No esporte saltaram aos olhos que a cidade não poderia permanecer com um acanhado estádio com arquibancadas de madeira. O projeto ganhou fôlego após a Segunda Grande Guerra quando o Brasil, aproveitando a conjuntura de reconstrução da Europa, obteve a permissão de sediar a quarta Copa do Mundo. Interesses de ocasião, pressões populares, e outros fatores, contribuíram para que a construção evoluísse. Mas, mesmo acelerando as obras, o estádio não ficou pronto para o torneio de 1950, e só, graças aos interesses políticos do governador Octávio Mangabeira, que daria seu nome ao estádio, é que conseguiu ser inaugurado em 28 de janeiro de 1951, três dias antes de entregar o governo.
A “inauguração”,porém, seria simbólica, como anotou a própria imprensa da época. Na verdade o novo estádio registrou poucas partidas no primeiro ano só funcionando, mais ou menos regularmente, a partir de um ano e meio após sua inauguração. Levaria pelo menos oito anos para a Fonte Nova estar concluída conforme seu projeto de complexo educacional e esportivo, com seu ginásio, piscina, pista olímpica e prédios da Vila Olímpica. A Fonte Nova foi uma das grandes construções de estilo modernista do país, e tem autoria do escritório do arquiteto e urbanista Diógenes Rebouças.
O estádio marcaria decisivamente o esporte baiano. Nele, clubes baianos como o EC Vitória, se profissionalizariam definitivamente, voltando a ganhar títulos ainda na década de 50. Os clubes do interior do estado começariam a participar do campeonato estadual, que ganhariam em 1963 e 1969(Fluminense-BA), e em 2006(Colo Colo-BA). Os torneios e amistosos que agilizaram o intercâmbio desportivo do estado fariam com que clubes locais fizessem suas primeiras excursões internacionais e, ao fim da sua primeira década de funcionamento, ganhassem seu primeiro título nacional através do EC Bahia em 1959.
Os anos 60 são de transição em nosso futebol. São tempos de crise política e esportiva, mas também de dois vice-campeonatos na Taça Brasil e do primeiro pentacampeonato baiano obtidos pela equipe tricolor que havia sido mantida. O processo político-esportivo levaria a uma renovação de dirigentes esportivos que afetaria a federação democratizando durante certo tempo os títulos possibilitando conquistas ao Galícia, Leônico e Fluminense-BA (por duas vezes).
No início dos anos 70 a capital do estado sofreria um crescimento populacional vertiginoso tendo em vista a atração de indústrias para o seu entorno. Sua população dobraria em apenas uma década. No futebol, inaugurava-se a grande era de massas do futebol baiano com a inauguração do anel superior da Fonte Nova, embora com uma inesquecível tragédia que ceifou inúmeras vidas em quatro de março de 1971. 
Foram nos anos mais duros da ditadura que se iniciavam os certames nacionais, desta vez para ficar, e inaugurariam uma hegemonia do EC Bahia que perdurou durante quase duas décadas, onde o clube obteria, entre outros, o inédito título de heptacampeão baiano. Este tempo, de muitas mudanças e de consolidação da indústria cultural e de entretenimento no país, viu  entrar em declínio e até se extinguirem clubes tradicionais do estado. Sequer a CBD resistiria ao processo, sendo substituída por uma entidade dedicada exclusivamente ao futebol, a CBF.
A fase que marcou o final da ditadura militar no Brasil levaria ao reerguimento do EC Vitória, que encontraria novas brechas para avançar, começando a construir o seu estádio e adotando critérios mais profissionais de atuação. Mas antes que a correlação de forças no nosso futebol mudasse o EC Bahia coroaria anos de hegemonia com uma conquista memorável, a última do futebol baiano, a de campeão brasileiro de 1988.
O EC Vitória deixaria praticamente de jogar na Fonte Nova em meados dos anos 90, mas o intercâmbio propiciado pelo  “Barradão” alavancaria inclusive alguns grandes momentos na Fonte Nova, como os dois vices nacionais conseguidos em 1992(Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão) e 1993(Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão). Seria a sua vez de hegemonizar o futebol baiano que se estenderia até a implosão da Fonte Nova, ano em que, agora em seu próprio estádio, chegaria mais uma vez a uma final nacional contra o Santos, a Copa Brasil 2010.
Na era de massas da Fonte Nova os grandes atores foram às torcidas. A ela acorriam dezenas de milhares de pessoas, aproveitando o fato de sua construção e ampliação haver ocorrido num entroncamento de diversos bairros e nas proximidades da Estação da Lapa, o maior terminal de ônibus do Norte e Nordeste. Os anos 70, 80 e 90 registram mais de duas dezenas de jogos com mais de 80.000 pessoas na Fonte Nova. Dois deles ultrapassaram os cem mil, onde foram obtidos o Recorde de pessoas (a inauguração do anel superior) com aproximadamente 130/140.000, e o Recorde de pagantes (Bahia X Fluminense pelo Campeonato Brasileiro de 1988) com 110.000.
No novo milênio agravaram-se os problemas de manutenção do estádio que funcionou por anos sem que se cuidasse efetivamente de sua estrutura. Isso levou a que no dia 25 de novembro de 2007, durante o jogo Bahia X Vila Nova pela Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro, cedesse um trecho das arquibancadas ocasionando a morte de sete pessoas. Aí foram tomadas “providências”: interditaram o estádio. No entanto continuaram a funcionar, mesmo a título precário, a piscina, o Ginásio Antônio Balbino e outras dependências da Vila Olímpica.
Mas aí já estava em processo à confirmação da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. A confirmação de Salvador como uma das suas sub sedes e a aprovação do projeto de uma Arena no mesmo local (com a metade da capacidade e voltado exclusivamente para o futebol) levou a destruição da Fonte Nova ás vésperas das eleições de 2010. Independente da oposição que fizeram urbanistas, arquitetos e muitos cidadãos. Mas, a morte do estádio é que faria com que alcançasse a fama, sendo noticiado a sua dramática implosão em todos os cantos do mundo.