terça-feira, 30 de agosto de 2011

Amor a toda prova

       

Nesses últimos dias “bateu” o maior romantismo aqui em casa. Pudera, depois de amanhã vamos na viagem da nossa vida visitar Londres, Liverpool e tudo o mais dos Beatles que sempre sonhamos nos anos 60. A excursão é promovida pelo Beatles Social Club e soubemos dela quase sem querer durante uma das apresentações dos covers dos Beatles que ocorrem toda última terça feira do mês na Companhia da Pizza no bairro do Rio Vermelho. Aí foi só procurar os organizadores, e pronto, ói nós na terra de John, Paul, Ringo e George!
Vou ficar afastado de vocês por três semanas, mas não se preocupem, pois, quando voltar, terei muitas coisas pra contar. É por isso que dei pra postar coisas românticas. A de hoje parece até com a comédia Amor a toda prova dirigido por P.J. Hogan que estreará nos cinemas esta semana.
                                       Carl pegou a maior depressão quando perdeu Emily! 

O filme vai na contramão daqueles que acham que só as mulheres que sofrem por amor. A vida do quarentão Carl Weaver (Steve Carell) desaba quando a mulher Emily (Julianne Moore) confessa ter transado com um colega de trabalho e pede divórcio. E o pior é a “justificativa”, a de se sentir sufocada pelo relacionamento de 25 anos de matrimônio!
Depois daí é só confusão amorosa. A babá declara seu amor pelo patrão, enquanto é cortejada pelo filho da casa, Carl volta ao mercado sexual de conquistas amorosas contando com a ajuda de um verdadeiro guru do sexo, Jacob (Lyan Gosling), e a Emily está em outras. Mas, quando os relacionamentos acabam dando em nada e o próprio garanhão se apaixona todo mundo “cai na real” e Carl e Emily voltam a ficar sozinhos com seus problemas amorosos. Desta vez nem vou contar o final pra ver se vocês deixam de ler minhas crônicas e vão ao cinema.
                                       Oh quem botou esses diabos do Rollings Stones aqui?

Como todo mundo já sabe, todos esses filmes de Hollywood são copiados do roteiro real que se passa na Bahia. E o pior é que nosso estado nada recebe de direitos autorais, pra desespero do nosso governador. O jeito é economizar uns trocados reduzindo o atendimento do PLANSERV.
Carl veio a primeira vez na Bahia bem mocinho, passando aqui quase vinte dias. Já tinha o apelido de “pó de arroz” e se deu muito bem no estádio da Graça jogando com os clubes da elite. Assim venceu o Baiano de Tênis (2 X 0), a Associação Atlética (3 X 1) e empatou com o Vitória (1 X 1). O povo nem deu bola ao Fluminense, que só tropeçou mesmo quando enfrentou o popular Botafogo (1 X 2 e 2 X 0) e a seleção baiana (4 X 5). Foi por isso que Emily não se encontrou com Carl.
                                         Carl morria de ciúmes com esses anúncios!

Depois, muitas coisas se colocaram entre Carl e a Emily. O povo deu pra contestar a chamada “república velha”, que acabou caindo de madura, e tome-lhe guerra e manifestações em 1924, 1930, 1932, 1935, 1937. Pra piorar a situação ainda houve a Segunda Grande Guerra afugentando Carl da Bahia. Mas a família de Emily sempre ficou por aqui.
Carl só voltou à Bahia quando o nazi-fascismo já estava derrotado, em fevereiro de 1945, e Emily já era uma senhora madura que sonhava com um amor em sua janela no Barbalho, um bairro popular. Mas só jogou com o leão decano (6 X 2) e o time da colônia espanhola (1 X 1). E, também nesta vez, não viu Emília, extravasando o seu “amor” nos simpáticos prostíbulos da capital.
Foi só no ano seguinte, antes do carnaval, que conheceria Emily. O Fluminense viria a Bahia numa excursão de uma semana, e pela primeira vez estrearia jogando contra times populares. Nossa heroína, que era torcedora do Ypiranga, compareceu ao estádio da Graça pra ver o pó de arroz e se apaixonou perdidamente por Carl. E ele também.
                                                           Emily chorou "paca"!

Tanto assim que passaram o jogo todo se olhando, ela com seu guarda chuva na tribuna de honra, e ele sujo de lama. Estava tão distraído que deixou a bola passar várias vezes. Foi um escândalo a goleada do Ipiranguinha por cinco a zero no poderoso time das Laranjeiras! Depois disso Emily não saiu da Graça, onde viu o Fluminense vencer o Bahia (3 X 0) e o Vitória (5 X 0).
Antes de Carl viajar fizeram juras de amor e, no próximo ano, eis que o Flu voltaria novamente na mesma época. Agora pouco jogava contra os clubes da elite, e estreou enfrentando o Guarany (2 X 2).  Mas, quando foi a vez de jogar com o Ypiranga, o time que Emily torcia, Carl ficou em conflito. Deveria causar o sofrimento da namorada ou esmagar os auri negros sem dó nem piedade? O amo0r trinfou fazendo com que Carl, de tão distraído, não se desse conta de três bolas atiradas contra a sua meta, que foram responsáveis pela derrota do pó de arroz por três a dois. Ainda bem que ainda havia o tricolor em seu caminho e se despediria com a vitória de três a um.
                                                   O mundo caiu na cabeça deles!

As duas vitórias do mais querido estabeleceram o nexo de confiança entre os dois. Mas pra precaver, quando veio no ano seguinte pra casar, Carl pediu para não incluir o Ypiranga na programação. Dito e feito, mas a federação acabou exagerando tirando todos os baianos forçando o pó de arroz a jogar contra o Flamengo. O susto de Carl de encontrar o Flamengo foi tão grande que acabou levando de cinco!
Carl ficou morando na Bahia e disputando o campeonato carioca, tendo que pra isso de fazer um crediário na Panair do Brasil. Dois anos depois o pó de arroz seria a primeira equipe de fora do estado a jogar no novo estádio da Fonte Nova. E olha que foi em pleno dois de julho, data magna dos baianos, vencendo o tricolor por dois a zero.
                                            Bem que Carl tentou afastar os concorrentes!

A relação de Carl com Emily ia às mil maravilhas e nem mais o Fluminense precisou jogar por aqui. Em 1956, porém, o seu casamento seria abalado. Só não deu em divórcio, pois nem isso havia naquele tempo. No fim de março o time das Laranjeiras apareceu pra jogar por aqui contra a dupla BA-Vi. Em campo até que se saiu bem vencendo o Vitória (2 X 1) e perdendo do Bahia (1 X 2). Mas o pior foi viajar de volta com a delegação e ficar dois meses fora de casa. Emily não perdoou esta falseta e acabou saindo com o touro do sertão e o demolidor de campeões.
E o pior é que ainda confessou isso quando o Flu voltou em maio e saiu pra passear com Carl na Sorveteria Cubana da Praça Municipal. Era demais e ele ficou louco da vida esmagando o seu querido Ipiranguinha por quatro a zero, e, de quebra, venceu o tricolor por três a dois. Carl entregou-se a galinhagem e Emily também. Não havia time com quem não transassem.
                                         Até Ricardo Teixeira quiz "papar" a Emily!

O Flu já estava acostumado com a Bahia para onde voltaria em 1958 e 1959, mas sem querer nada nem com o Ipiranguinha nem com Emily. Seu próprio filho foi treinar no Bahia de Feira. Era muito desaforo pra nossa heroína aguentar. Ainda mais que Carl só voltou em 1968. Nem estava mesmo com um grande cartaz somente jogando contra o Galícia, o qual venceu por três a um. Emily até que compareceu, escondendo-se nas arquibancadas pra ver um herói mulherengo que não estava nem aí para as baianas.
Nos próximos dez anos Carl voltaria na Bahia pra disputar amistosos cinco vezes, mas, fora do esporte, só aparecia em puteiros como o “63”, o “Maria da Vovó”, e a zona da Gameleira. Tinha chegado ao ponto mais baixo de sua solidão. É tanto que em 1979 chegou a enfrentar o Leônico na Fonte Nova, ganhando às duras penas pelo escore mínimo! Nunca mais se encontraria com o Ypiranga. Enquanto isso se passava Emily ficava reduzida a namorar com o pessoal dos times da várzea, onde, por sinal, encontrava com o auri negro, seu velho amor.
                                                Vou passear até no Lago Ness!

Mas todos os gurus de sexo da Bahia conspiravam para uni-los outra vez. Emily “deu” pra João Havelange e não é que este deixou de fazer certames pífios e criou o campeonato brasileiro? Foi assim que os dois se reconciliaram fazendo com que o Flu viesse jogar na Bahia duas vezes por ano. Durante seis meses cada um continuou transando com quem queria na Bahia ou no Rio, mas, pelo menos duas vezes por ano, voltaram a ficar juntos e a renovar seus laços de felicidade.

·          Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro e ao site Cinema. terra.

domingo, 28 de agosto de 2011

Vejo você no próximo verão!


Até que enfim o ator Phillip Seymour Hoffman estreou como diretor de cinema. Ele que é um dos principais atores de Hollywood e tinha obtido inclusive um Oscar por sua interpretação no filme Capote, desta vez estrela um romance sobre a solidão nas grandes cidades. Trata-se do filme Vejo você no próximo verão onde faz o papel de Ralf, motorista de uma limusine que tenta mudar de vida sem conseguir.
Mal sabe, porém que há outros solitários e tão desajeitados como ele em matéria de natação e gastronomia, é o caso de Connie (Amy Ryan), e como não poderia deixar de ser na Meca do cinema, surge uma relação entre os dois. Mas vou escrever para Hoffman pra exigir os direitos autorais da Bahia. É que, mais uma vez, copiam cuspido e escarrado o que acontece no futebol da Bahia. Só que vocês sabem como esse pessoal da Academia enfeita o final pra tudo terminar bem, mas na vida real não tem nada disso!
                               Ralf e Connie ficavam passeando no Parque São Bartolomeu! 

Como na Bahia tudo é diferente o verão acontece aqui entre novembro e março. E, foi no ano de 1932, no idílico mês de novembro, que Ralf, quero dizer o Flamengo, veio pela primeira vez na Bahia. Tinha até um motorista na delegação mas o restante eram jogadores, técnico, massagista, alguns cartolas, e um juiz para apitar os jogos como era comum na época onde os baianos só faziam perder!
A estreia de Hoffmann foi a desgraça do Vitória, quando sem dó nem piedade arrasou o seu irmão de cor por sete a dois! Quatro dias depois enfiou quatro a um no Botafogo. Aí o pessoal não entendeu nada. Mas Ralf não era um fracassado? Não só dava errado tudo o que fazia? Aí o jeito foi se fechar na defesa pra não fazer a alegria dos cariocas. Mas nem assim a coisa resolveu, com o time da Gávea vencendo o Ypiranga (1 X 0), o Bahia (3 X 2) e a própria Seleção baiana (3 X 1).
                                            Só perdia mesmo pro desgraçado do Ypiranga!

Era uma vergonha para o futebol baiano e o jeito foi apresentar Ralf a Connie. Aí o negócio mudou totalmente no campo da Graça. No jogo de despedida ela o levou o dia todo pra passearem na Barra e, quando chegou na hora da revanche contra o mais aurinegro este venceu o poderoso Flamengo por três a dois!
Ralf ficou emputecido com o fato. Pensou até em não ver mais Connie. Mas era muito solitário e acabou admitindo voltar no próximo verão. Ela esperou sentada. Passou o tempo e nada de Ralf voltar. No próximo verão apareceu o Andaraí carioca, e Connie foi até a Graça perguntar por Ralf mas ele não sabia onde estava o motorista. Aliás esse clube não sabia de nada mesmo porque não ganhou uma por aqui!
O jeito foi esperar 1934 e....nada também. Meu Deus cadê Ralf, vá ser solitário assim no inferno! Só em janeiro de 1935 é que apareceu outra delegação carioca, o Brasil (sic!) e a pobre da Connie lá na Graça de novo. Como todo mundo já havia “sacado” esse tal do Ypiranga desta vez venceram de três a um, assim como o alvirrubro (5 X 1) mas caíram para o time granadeiro (1 X 2). Foi embora o Brasil e nem sinal de Ralf.
                                               Connie apelou pra tudo pra ver Ralf!

No fim do ano, enquanto o país pegava fogo na insurreição da Aliança Nacional Libertadora, chegou o Botafogo do Rio mas este nada contou de Ralf mesmo porque era um inimigo histórico do rubro negro carioca. E, no ano seguinte, foi a vez do Vasco da Gama, outro adversário de seu Ralf querido cuja delegação nem deu bola pra Connie.
Olhem, hoje eu não quero “encher o saco” de vocês. Mas esse Ralf foi sacana mesmo com a Connie! Quando falaram que uma delegação carioca viria em 1937 ela se enfeitou toda pra ir ao bairro da Graça, mas era o São Cristóvão. Ralf só veio em pessoa em março de 1938, seis anos depois, quando o verão já estava quase acabando.  Mas, pelo manos, passou duas semanas.
A nova estreia de Ralf foi tão demolidora quanto a anterior, dando de sete a um no pobre do Botafogo. Os baianos perderam o eixo e levaram uma semana pra arranjar um novo adversário para o urubu. Só quem topou jogar foi o Bahia que acabou levando de cinco a dois. Era demais e aí mais uma vez foi Connie que “pagou o pato”.
                                            Nem Benazzi deu um jeito na solidão de Ralf!

Arranjaram um carro para Ralf e ela passearem o dia todo, encheram o motorista de acarajé, e foram buscar (adivinhem quem?) nada menos do que o Ypiranga pra enfrentar o Flamengo. A escrita se manteve contra o pobre do Ralf com novas vitória do mais querido, agora por três a um. Tá certo que Ralf depois disso até venceu o time da colônia espanhola (4 X 2) mas saiu de novo da Bahia fissurado. Fez a mesma promessa pra Connie de “voltar no próximo verão” só que desta vez todo mundo desconfiou. Pensaram até em expulsar os ipiranguenses do campeonato só pra juntar Ralf e Connie, mas nada!
Passaram-se os anos e novamente nada de Ralf. No verão de 1939 veio o América carioca e fez feio perdendo pros diabos rubros e tricolores, e aí é claro que não informaram nada sobre a vida de Ralf. Dois anos depois até o suburbano Bonsucesso esteve aqui mas, além de perder do Bahia, não sabia era de nada do motorista! O mesmo fez o inimigo almirante, que se vingou por Ralf derrotando o aurinegro por cinco a zero.
                                                 E o pior é que ainda ficou com a bola!

Mesmo com a guerra os cariocas não deixaram de vir à Bahia, só o sacana do Ralf. O Botafogo apareceu em 1942, dando paulada a torto e à direito, o São Cristóvão voltou em 1944, saindo invicto, e o Fluminense no último ano da guerra, massacrando inclusive o rubro negro baiano por seis a dois.
Ralf só voltou a Bahia no verão de 1946. Já estava com uns cabelos brancos mas chegou “tirando onda”. Connie pediu, implorou, e conseguiu que não jogasse com o Ypiranga. Aí só deu o motorista que passou o facão em todo o mundo, vencendo o Vitória (4 X 1), o Botafogo (2 X 1) e, na despedida de Connie, ainda arrasou o Bahia por sete a dois.
A passagem do Flamengo invicta deu esperanças a Connie e todos os seus amigos, desta vez Ralf voltaria. E foi verdade. No próximo ano Ralf voltou de novo, embora fosse no São João, passou todo mundo no fio, vencendo o Vitória (5 X 2), o Guarany (2 X 1) e o Bahia (2 X 1). Mas desta feita não encontrou Connie pois ela havia saído de férias. O problema foi que Ralf, feliz por não ver o Ypiranga no seu caminho, até “furou” o roteiro do filme aparecendo fora do verão.
                                                   Connie ficou sozinha com a bola!

Os anos se passaram e até que Ralf voltou à Bahia, mas não achava Connie que só estava em Salvador no verão. Quando veio nesta época já havia a Fonte Nova em março de 1953. Foi a gloria do motorista da Gávea, esmagou o Vitória por oito a dois e venceu o Bahia (2 X 1) ficando pra decidir o título do Torneio Régis Pacheco com o Internacional (RS). Aí os gaúchos sabendo do “caso” foram buscar Connie para entreter os cariocas. E não é que saíram com o caneco com o empate em dois gols?
Ralf só voltaria a aparecer num verão quando foi inaugurado o anel superior da Fonte Nova em 1971. Já tinha toma a cabeça grisalha e Connie também. O amor deles não era mais o mesmo. Continuavam sem colocar o Ypiranga na programação mas, desta vez, bastou o Bahia pra derrota-lo pelo escore mínimo. Voltou dois verões depois pra reatar suas relações com Connie e ganhar de alguém, mas só fez empatar com o tricolor em um gol, ocorrendo o mesmo em 1976.
                                              Não adiantava Connie se enfeitar toda!

Os verões dos jogos amistosos na Bahia haviam acabado. Doravante Ralf só viria a Bahia em outras épocas do ano, quando se disputada o Brasileirão e a Copa do Brasil. Nunca mais veria Connie. Dizem que ele continua solteirão, lá pros lados do Irajá. Já Connie, que é quem vocês acham? Não podia ficar esperando Ralf a vida toda. Acabou casando com um diretor do Ypiranga e pode ser encontrada na Vila Canária nos treinos desse time glorioso que está na Segundona baiana.

·          Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Como tomar o poder...no futebol!


                                               O "povo líbio" bombardeando Kadhafi!

Gente, hoje eu estou na maior “deprê”! Nem me mandem mensagens! Quando me lembro do tempo que passei na juventude maquinando como tomar o poder no Brasil e vejo o que esses “rebeldes” da OTAN fizeram em apenas seis meses fico puto da vida.
Nos 70, quando li Princípios fundamentais de filosofia, de Georges Politzer, e entrei numa organização comunista minha vida mudou. Passei anos discutindo a revolução. Ia numas quarenta reuniões por semana. Tinha quase toda a coleção dos livros de Lenin, Trotsky, Mao Tse Tung e Che Guevara. Decorava as táticas e as estratégias e sabia tudo da Russia e da III Internacional. Só não sabia mesmo o que ocorreu no Brasil pro proletariado não fazer a revolução!
Pensamos primeiro na insurreição, quando as massas iriam tomar o Palácio do Inverno, não o de Petrogrado mas o do Planalto em Brasília! Ficamos muito tempo nessa viagem de botar o povo na rua. Só deixei de idealizar os operários quando contratei um pra pintar o apartamento onde iria morar com Cybele e que me roubou legal! Quando ia na Fonte Nova só pensava em despertar todo aquele pessoal para a revolução.
Enquanto isso os baianos estavam novamente em guerra!

Mas um dia alguém leu Regis Debray e achou que a solução era a guerrilha. Foi assim que o pessoal começou a organizar a guerra popular. Nem lhes conto o tanto de viagens pro interior pra escolher as áreas onde iria começar a luta armada! Em vez do operário passamos a gostar  do camponês e de treinar com espingardas substituíndo os badogues da minha infância.
Alguns anos depois, quando cheguei numa reunião, me disseram que a última novidade era a “luta democrática”. A conjuntura tinha mudado e tínhamos de acumular forças pra derrotar a ditadura. Aí a coisa mudou radicalmente. Guardamos as armas e as botas, deixamos de ler os guias militares e saímos à luz do dia frequentando abertamente sindicatos e partidos e disputando eleições.
Passei anos nessa brincadeira onde o argumento da força foi substituído pela força do argumento. Mas confesso que mudávamos de estratégia e a tal da revolução não vinha. De conversa em conversa ganhamos uma eleição sindical aqui, uma associação de bairro ali, mas parlamentar que é bom levamos dez anos pra eleger! E, a maioria, pouco depois de estar lá no parlamento, nos deixava com a brocha na mão.
                          Não sei na Líbia mas na Bahia era assim que se guardavam as vítimas!

É por isso que me “bateu” depressão quando li o noticiário de ontem e vi que os “rebeldes” da OTAN fizeram em seis meses o que não fizemos em trinta anos. Será que eles se reuniam tanto quanto a gente? Não sei nem se podia com gente falando líbio, inglês, francês e italiano, dialetos tribais, isso sem contar os mercenários!
Mas o certo é que conseguiram e nos deram a “receita” pra fazer a revolução no Brasil. E olhem que nem precisa de muita gente pois isso atrapalha. A primeira coisa a fazer é arranjar uma meia dúzia de insatisfeitos com a situação e dar-lhes o status de “rebeldes”. Logo depois temos que fazer um programa político que, entre outras coisas, inclua a entrega de um bom pedaço da Amazônia e do Pré Sal para os Estados Unidos, a França, a Inglaterra e a Itália.
O restante é, como dizíamos antigamente, articulação política. Tem que esperar Obama estar em dificuldades no congresso e querer aproximar-se dos republicanos e procurar a CNN, a ABC e a NBC, dizendo a ambos que não aguentamos mais a ditadura de Dilma e estamos muito interessados em fazer parcerias com eles. Exigir que conste o nome da presidenta na lista dos terroristas, e aliás isso é bem feito pois ela militou em uma organização concorrente no meu tempo!
                                                O cara gosta mesmo de petróleo!

Depois disso é só esperar pra eles prepararem o clima. Tudo começa com umas notinhas mas depois é que vem a informação mais pesada, espalhando pra opinião pública mundial que está existindo no Brasil supressão das “liberdades”, “matança” da oposição, fabricação de armas de “destruição em massa”, e crimes de “lesa-humanidade”. Nem se preocupem com as grandes redes de TV e agencias de informação pois elas só farão copiar.
O próximo passo é arranjar um “pistolão” no Conselho de (In) Segurança da ONU pra exigir uma resolução dura sobre a ditadura brasileira. Nem adianta desanimar pensando que nos 21 anos de ditadura militar ele nem aprovou uma resoluçãozinha condenando o país. Mas isso foi porque não souberam operar com malícia. O negócio tem que ser mesmo por “debaixo do pano”. É prometer repartir a PETROBRAS e a Amazônia entre os países aliados dos EUA e arranjar umas obras pros outros se absterem. E se o chato do Hugo Chaves aparecer, sempre se pode aumentar a lista dos terroristas...
                                            Ah, esses pacifistas não estão com nada!

Se houver muita chiada basta aprovar qualquer resoluçãozinha condenando o Brasil. Aí pode deixar a coisa com a OTAN que ninguém vai reclamar. E é certo pois “condenação” é pra quem cometeu crimes e esses não podem ficar sem castigo, logo, bloqueia-se todos os fundos do país no exterior (pra que não possa pagar os funcionários e que haja fome) e tasca bomba nele. Não sei porque não pensei nisso antes, tinha poupado muito treinamento e leituras. Agora é só mandar encomendar o terno de posse, posar na porta do Quartel general de arma na mão e jogar no chão o feio retrato de Dilma.
Mas se naquele tempo eu me preocupasse com a Bahia saberia que isso já tinha ocorrido no nosso futebol, na fabricação da crise que abalou o futebol baiano entre 1965 e 1966. Como todo mundo sabe em 1964 os “milicos” tomaram o poder na marra em 1964. O golpe atingiu a Bahia em cheio, afastando centenas de pessoas de seus empregos, prendendo e matando outros, destituindo políticos, sindicalistas, dirigentes de entidades e instituições e afetar também o nosso futebol.
                                   Foi tanta ajuda que os "rebeldes" nem sabiam como usar!

Na época o negócio fugiu um pouco da receita da Líbia. Já tinham havido crises no passado, em uma delas o jornalista Cléo Meireles foi agredido por policiais no gramado do estádio da Fonte Nova. E em outra o futuro presidente da ABCD Moacir Nery foi agredido pelo próprio presidente da federação, o coronel Bendocchi Alves.
Nestas duas crises o comportamento dos Diários Associados foi o de jogar areia na questão, exigindo do comando militar a punição dos que participaram da agressão, e agindo nos bastidores pra transferir o coronel da Bahia. Mas na crise de 1964 o jornal “soltou as cachorras”.
O campeonato estadual de 1964 começou em abril, quando havia muita gente presa em Salvador, e o Vitória saiu na frente ganhando o título do turno. Nessa época Cléo Meirelles começa a divulgar que um jogador rubro negro estaria irregular (o que depois não se confirmou) e que o clube iria perder pontos, sofrendo uma agressão num ônibus, atribuída aos deputados Ney Ferreira e Henrique Cardoso (o "Henriquinho”), respectivamente presidente e diretor de esportes do EC Vitória.
                                           Enquanto o "couro comia" o leão papava a bola!

A coisa engrossou mas, só esquentaria mesmo com a “invasão” dos Diários Associados que mereceu manchete de primeira página do Diário de Notícias:
Ney Ferreira e seus bandidos invadem “Associados” para matar os diretores
O jornal transformou o ato em tentativa de assassinato.  O motivo era
fazer a imprensa e o rádio baianos, não intimidados com o crime, sob o mando protetor da imunidade parlamentar.
Na época a federação era dirigida pelo Bel. Renato Reis e o próprio general presidente do Conselho Nacional de Desportos-CND Elói Menezes comparece a Bahia pra “botar panos quentes”. Nesse clima a federação toma a decisão absurda (pois se tratava de um clube privado) da intervenção no EC Vitória. No entanto, passou-se duas semanas em que o interventor conseguisse entrar na sede rubro-negra que mas parecia a fortaleza de Kadhafi.
                                                 Gente da OTAN procurando Kadhafi!

O CND, tendo em vista o impasse, suspende todas as atividades futebolísticas no Estado da Bahia, “até a solução do impasse”, e seu general-presidente passa um telegrama para o governador Lomanto Junior pedindo a sua interferência na questão. É a justificativa, tal como a do Conselho de Segurança da ONU, pra que os Diários Associados deixem de falar do EC Vitória, logo estendida aos órgãos de imprensa local, à exceção do corajoso Esporte Jornal, de Luiz Eugenio Tarquínio e Fernando Protázio.
Dias depois o DN aderia a “firme decisão” da FBF de sustar a programação de jogos oficiais na Fonte Nova, embora continuassem ali a ocorrer amistosos de todo tipo, á exceção, naturalmente, os do EC Vitória. Continuava, por exemplo, o caça níquel também chamado de Torneio Lomanto Junior, e, cinco dias após a decisão pomposa do CND o Náutico viria ao estado empatando em dois gols com o tricolor para um público de pouco mais de seis mil pessoas, o que já constituía um indicador de que a crise chegava aos torcedores.
                                           Nosso blog achou finalmente o povo da Líbia! 

O mês de abril se inicia com a ida de uma comissão ao Rio de janeiro para tratar da crise enquanto o Bahia negocia Gilson Porto para o Santos.  Enquanto isto o DN divulga...o Torneio Rio-São Paulo. Não se passa um dia sem que os clubes do Sul não tenham manchetes nas páginas esportivas divulgando as mumunhas deste certame, num evidente desserviço ao futebol baiano. E, finalmente, no mês de maio, se verifica a decisão do Campeonato Baiano.
Foi à primeira vez na história que os jornais não noticiaram um BA-VI. Na ocasião, após uma vitória para cada lado, o rubro negro, pra decepção de grande parte da imprensa, recupera o título após sete anos, derrotando o seu arquirrival por dois a um, aliás a mesma contagem dos três jogos.  Os jornais, rádios e televisão ignoraram o título do Vitória mas a torcida não estava nem aí. Eu mesmo comemorei a valer, inclusive sendo a única vez em minha vida que cheguei bêbado em casa.
                                                  Pô até o homem de ferro foi pra Líbia!

Em junho os jornais puderam ocupar suas páginas esportivas com a realização do Miss Brasil no Ginásio Antônio Balbino.  Mas nesta estava até o pessoal de lá de casa que chegou cedo pra ver Marilda Mascarenhas da Associação Atlética ser eleita representante da Bahia no Miss Brasil. Começava o Campeonato Baiano de 1965 que, mesmo com todo o boicote da imprensa, seria o último certame equilibrado que tive a ocasião de presenciar. O governo anuncia que os funcionários públicos não terão aumento neste ano e o Bahia volta a superar a “proibição” de jogos, trazendo o Fluminense do Rio de Janeiro (pra perder por dois a zero) e o Vasco da Gama, no dia de São João (perdendo de novo, agora por três a zero).
Em julho O JORNAL Estado da Bahia mostrava imagens do planeta Marte e do futebol do Sul em suas manchetes. Ali parecia até que os clubes baianos não existiam excetuando-se os amadores. Em agosto a imprensa voltou-se para as Olimpíadas Baianas da Primavera (lembram-se?). Foi a gloria pros colégios da Bahia que todo dia estavam na “crista da onda” ocupando as manchetes de jornal como se os jogos amadores que fizeram fosse à coisa mais importante do mundo.
                                                  Qual dos dois é o "povo" da Líbia?

Em outubro, enfim, uma nota sobre o amistoso ocorrido na Fonte Nova entre os dois Botafogos, o da Bahia e o do Rio de Janeiro, que não podia terminar diferente que num empate em um gol. Na ocasião alguns times conseguem espaço pra os seus amistosos no interior que eram uma tentativa de jogar e escapar da falência. Enquanto isto o jornal Estado da Bahia anuncia a realização da festa do box baiano no “Balbininho” com a presença de Augêncio Almeida exatamente quando a FBF começa uma luta pra reduzir as taxas cobradas pela Prefeitura na Fonte Nova.                                
O início de novembro começava o sensacional super turno do Campeonato baiano entre Fluminense, Ypiranga e Botafogo, ganho espetacularmente pelo ultimo. Mas foi quando da convocação do selecionado brasileiro para a Copa do Mundo do próximo ano é que se viu a inconsequência da atitude da imprensa da Bahia. Pela primeira vez houve grande quantidade de atletas, 43, e até se abriu espaço pra Pernambuco mas os baianos ficaram fora.
                                    Concorrida manifestação do povo líbio após a "vitória"!

O jornal Estado da Bahia se preocupava com assuntos mais importantes, como a instituição do horário de verão e a entrada em órbita do Gemini 7 mas quem está fora de órbita é o jornal. Já o jornal Diário de Notícias começa o ano de 1966 sem sequer mais ter página esportiva. O Botafogo (BA) aparece no noticiário, mas, não nos enganemos, é em função de organizar um grito de carnaval em sua sede.
Abre-se um pequeno espaço na imprensa pras eleições da FBF onde há uma oposição que lança o presidente do Galícia Graça Lessa como alternativa, mas acaba vencendo Degrimaldo Miranda. E, nessa onda, acabamos por ficar sabendo da disputa do Torneio dos Campeões do Norte entre Bahia e Sport e que a seleção baiana infantil conquistou o III Campeonato Brasileiro de Voleibol. O jornal divulga a ação do grupo constituído do Fluminense, Bahia, Galícia, Botafogo e Leônico que teriam mostrado “acessíveis a uma solução conciliatória” na crise. 
                                           Onde é que o "povo líbio" arranjou tanta arma?

Três destes (Fluminense, Galícia e Leônico) vão a audiência ao governador relatar a crise. Mas as noticias do jornal merecem o mesmo crédito daquela que divulga no dia 12, copiada da UPI, que dá conta da “morte de Che Guevara” numa ação de guerra na República Dominicana, onde, aliás, desconheço que esteve.
Enquanto isto se verifica um sensacional super turno na Bahia, agora pra decidir o campeão do segundo turno entre Vitória e Galícia, ganho pelo rubro negro, a imprensa divulga o Torneio Rio-São Paulo. Anuncia o roubo da Taça Jules Rimet e a instituição pela CBD do livro de ponto dos jogadores (ninguém merece!). A partir daí somente a seleção ocupa as suas páginas. Se o Esporte Jornal não existisse seria preciso cria-lo, pois foi ele quem cobriu as grandes finais do Campeonato de 1965 entre Vitória e Botafogo. Foram jogos sensacionais e muito disputados, onde o leão se sagrou bi-campeão. Seria a última vez que o alvi rubro disputaria títulos no estado e esta seria ignorada pela imprensa baiana.
                                             Camarim de apresentador da CNN!

Em junho, no entanto, dois fatos se impõem ao jornal. No dia quinze o governo do estado baixa a Portaria 6362, assinada pelo diretor de educação e cultura Davi Mendes Pereira, fechando a Fonte Nova. E, três dias depois, é realizado no ginásio o Miss Bahia, sendo vitoriosa a representante de Ilhéus Florianael Portela. O campeonato de 1966 começa no campo da Graça, mesmo com a defecção de Bahia, Fluminense, Galícia e Leônico, com a conquista do primeiro turno pelo Vitória em dois meses. 
Em julho começa a Copa do Mundo que já era quase assunto exclusivo do jornal, mas o desastre da seleção faz afundar o empreendimento. Sobra agora aos jornais voltarem-se para a Olimpíada Baiana da Primavera pra poder preencher suas páginas esportivas. Até outubro não ouviremos falar de outra coisa.
                                                     A federação não era mole!

Tudo levava a crer que iríamos entrar em outro ano com esta bendita crise. Mas, dois dias depois da proclamação da república essa mostrou que servia para alguma coisa: resolver problemas do futebol. E enfim sai a notícia tão esperada em manchete de primeira página do Diário de Notícias:
Futebol baiano retornou á normalidade.
Depois de quase dois anos abdicando de seu papel de informar o jornal publica, por exemplo, que:
Dentro em pouco empresas de rádio, jornais e televisão, estarão novamente prestigiando nossas atividades esportivas, enquanto o público terá oportunidade de VOLTAR ao estádio da Fonte Nova para REVER seus ídolos e clubes preferidos.
                                            Nem Ronaldinho aguentava tanta bomba!

Muitos torcedores, porém se surpreenderam com tais palavras, pois, independente dos Diários Associados, continuaram assistindo aos jogos e vendo seus craques. Mas o jornal, sem “se mancar”, envereda pelo auto elogio:
A imprensa baiana e o público esportivo, QUE SOUBE COMPREENDER AS RAZÕES DO SILÊNCIO, deram assim um exemplo de unidade raramente observada em qualquer parte.
Debita a resolução da crise ao enviado da CBD, coronel João de Souza Carvalho que é motivo de um “torneio da paz ganho pelo Galícia.
O pequeno público presente mostrou que os torcedores ainda iriam demorar pra entender que a crise havia terminado, e com toda a interferência das OTANs da vida, a Líbia, digo o futebol baiano continuou o mesmo. Sim, porque o Iraque, o Afeganistão e a grande crise do futebol baiano, mostraram que uma coisa é uma coisa (tirar do poder) e a outra coisa é outra coisa (governar).

                                   Comandante da OTAN procurando o dinheiro imperialista!

O EC Vitória volta aos jornais no dia 24 de novembro, depois de 21 meses e onze dias fora das páginas do Diário de Notícias e, mesmo perdendo o "tri" já ganhou um monte de títulos desde então. Cleo Meirelles já foi desta para a melhor, quanto aos que fizeram o tal boicote poucos estão na ativa. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

À procura da felicidade


O filme À procura da felicidade, do diretor Gabrielle Muccino, foge da safra habitual hollywoodiana mostrando um vendedor que, numa situação de total insolvência financeira, é abandonado pela mulher, perde a casa, vira pai solteiro, e tem que apelar pra sobreviver. Podia acontecer com qualquer trabalhador nesses tempos de crise do capitalismo.
Will Smith passa pelo maior sufoco, trabalhando como estagiário, dormindo em albergues, estações de trem e banheiros. O final, é bem dentro da cultura judaico-cristã mas diferente da vida real, quando ele se recupera e volta a ter tudo o que perdeu, mostrando que é mesmo “o trabalho que dignifica o homem”! Pode ser implicância minha mas acho que os baianos conhecem o enredo do filme que já foi estrelado nos campos da Bahia.
                                       A mulher de Will foi catar xêpa em Agua de Meninos!

Foi  exatamente no ano da chamada revolução de 30, que destituiu o governo de Washington Luiz, é que o Baiano de Tênis e a Associação Athlética, os principais clubes da elite baiana, decidiram acabar com os seus departamentos de futebol. Pra não ficar na rua da amargura os desprezados se reuniram e, após uma série de reuniões e providências, fundaram um novo clube resolvendo adotar ao nome a as cores da bandeira da Bahia. Já tinha existido um time com esse nome, o SC Bahia, que inclusive se sagrou campeão uma vez, mas o pessoal mesmo assim insistiu.
Não é à toa que o clube até hoje usa a sigla “nasceu pra vencer”. Surgiu de forma afortunada quando, o fato de contar com jogadores de dois dos maiores clubes da época, lhe dava um handicap especial. Era uma família feliz tal como no filme. E no primeiro ano que disputou encontrou a felicidade.
                                                     O filho perdeu até o lap top!

Na sua primeira partida oficial já ganhava o São Cristóvão por três a um. Logo depois esmagava o temível Ypiranga por seis a dois! Depois empatou com o Botafogo (2 X 2) e ganhou do Fluminense (2 X 0), sendo que o Royal se retirou do certame.
No segundo turno a felicidade do tricolor continuou, caindo sucessivamente, o Botafogo (2 X 1),o Fluminense (5 X 0) e o São Cristóvão (5 X 1), somente resistindo ao seu rolo compressor o mais querido, que à custo conseguiu um empate em dois gols.  Mais isso não evitou que ficasse com o vice, a cinco pontos do esquadrão recém-fundado, campeão invicto na primeira vez em que disputou o campeonato baiano.
                                            Will queria sair sem pagar do Paes Mendonça!

No ano seguinte o clube já era uma referência, não só pra vendedores como Will Smith, como pra todo o mundinho da Bahia. Mas nesse ano dobraram os clubes participantes, o que quer dizer que dobrou a concorrência dos que disputavam o emprego, digo título de campeão baiano.  Que sacanagem com nosso Will Smith local!
Nessa situação a estreia do nosso herói foi um horror, perdendo de quatro a dois do auri negro, e sem conseguir vender nada.  O jeito foi afogar as mágoas na bebida (falo sério!) ao enfrentar o time da Antarctica, e vencer por cinco a dois.
                                                      Ficou liso, leso e louco!

O time colocou toda a esperança de pagar os jogadores no jogo contra o Democrata. Afinal de contas a democracia naquele tempo não estava com nada mesmo! Mas, teve o grande azar de perder por três a dois!(2 X 3). O antigo invicto time não estava acostumado com esses revezes da vida e as esposas de vários jogadores os abandonaram na véspera do “grande jogo” onde enfrentaria o Guarany, habitual lanterna dos certames. Aí Will pode se recuperar e mandar seus credores às favas vencendo por cinco a um!
E quase que elas voltam quando emendou as vitórias no próximo jogo onde venceu o Botafogo por três a um. Mas foi alarme falso, pois elas voltariam para a casa da mamãe quando o Bahia perdeu de novo, desta vez do Fluminense por três a um.(1 X 3). Perdido por um perdido por mil. E aí nosso Will Smith passou a trabalhar de qualquer coisa no comércio da Bahia pra sustentar o time tricolor. Bem que tentou apelar para o “amadorismo” que se vivia na época, mas os jogadores não estiveram nem aí. Também naquele tempo só Frienderich mesmo é que não jogava por dinheiro, o resto vivia com o CPF (comissão por fora).
                                                      Pensou até em armações!

Mas o esforço hercúleo do nosso herói acabou melhorando as coisas fazendo com que o esquadrão vencesse seguidamente o Vitória (3 X 0), o São Cristóvão (5 X 0) e o Energia Circular (2 X 1). Mas de nada adiantou isso pois o Ypiranga disparou na frente e acabou fazendo com que a liga cancelasse todos os demais jogos do Bahia sob a alegação de que não influíam na decisão do caneco.
Aí se instalou o caos na família tricolor. Ainda nem chegara o fim do ano e ficaram sem ter como se sustentar. Como as empresas não contratavam estagiários naquele tempo o jeito foi todo mundo engrossar os camelôs da Praça castro Alves. Ficavam ali vendendo tudo o que podiam pro pessoal que tomava os bondes. Foi duro pra nosso Will Smith baiano que chegou a morar no próprio abrigo escondido das autoridades. Até no entrado não lhe deixaram entrar pois não tinha dinheiro pra pagar ingresso.
                                            Nosso herói pegava  o que via pra comer!

Foi á custo que arranjou o dinheiro pra inscrever o Bahia no campeonato de 1933. Só conseguiu porque a liga baixou o valor em função de haver diminuído o número dos inscritos, só oito clubes. Mas conseguiu negociar com quem seria sua primeira partida, com os “índios” do Guarany, e o resultado deu a maior animação nos camelôs, digo, nos jogadores tricolores, que venceram de nove a zero!
Até aí podia ser azarão, mas ninguém teve dúvidas mesmo que o Bahia estava a procura da felicidade, quando enfiou seis na dois no Botafogo. Ai até algumas mulheres de jogadores telefonaram pedindo arrego. Mas esses esperaram tempo melhor, e esse veio nas vitórias contra o São Cristóvão (6 X 1) e no clássico contra o Vitória, vencido por três a dois. Will Smith estava voltando a ser uma realidade. Ganhara a vaga de vendedor de novo e circulava pela Bolsa de Nova York, digo do Comércio, vendendo ações. Antes de terminar o primeiro turno empataria com o mais querido (1 X 1) e venceria o Fluminense (5 X 1).
                                               Will apelava pra qualquer coisa!

No segundo turno, a disputa não deu nem pra “melar”. Will começou batendo o Energia Circular, o time da empresa de bondes, por três a dois, e emendou vencendo o Botafogo (1 X 0), o Ypiranga (4 X 1), o São Cristóvão (5 X 0) e Fluminense (4 X 1). Depois daí o “pau que deu em Chico acabou dando em Francisco” sendo canceladas as demais partidas pois Will Smith havia disparado na frente voltando a ganhar o certame invicto e com um “pé nas costas”.
Levaria muito tempo pra o nosso Will baiano entrar numa pior e “matar cachorro a tapa”, isso só foi acontecer quando a Fonte Nova estava pra acabar e aí o time foi parar na Terceirona e foi jogar até em Feira de Santana. Mas isso é motivo para outros filmes!

·          Agradeço aos sites RSSSF Brasil e Adoro Cinema.