quinta-feira, 3 de março de 2011

A seleção de ouro


Já falei nesse blog anteriormente sobre o Campeonato Brasileiro de Seleções. Desde que foi criado em 1922 foram poucos anos em que não foi realizado coincidindo com as bruscas alterações do calendário político. Não houve em 1930 e em 1932 devido ao contexto revolucionário. E, em 1937, quando houve o golpe do Estado Novo. Apesar de ser jogada em todos os anos da Segunda Grande Guerra deu uma parada no ano em que esta acabou.
A partir de 1946 passou a ser bienal com o agravante de terem pulado 1948. Esta periodização durou até 1956 quando virou trienal. A nova periodização só resistiria até 1962 sendo substituído pelos torneios entre clubes. Quando eu era menino o certame ainda tinha o seu encanto. Aconteciam geralmente no início do ano, entre janeiro e março. Em 1952 a seleção baiana teve até uma boa participação. Caiu no grupo Sul (sic!) e ali eliminou o Paraná e Santa Catarina, só esbarrando no Rio Grande do Sul.
No fim de 1953 a seleção baiana começou a treinar pra estrear no certame do ano seguinte. Na ocasião se marcavam vários amistosos e este ano não foi diferente. Os primeiros foram jogos treinos com os times daqui, mas depois vieram os mais pesados, mostrando que a seleção queria desta vez ir bem mais longe. Quem sabe repetir 1934?

                                        Essa seleção era tão surrealista como Salvador Dali

Assim, em dezembro foram acertados jogos contra o Botafogo (RJ) e o Internacional (RS). Era um empreendimento de risco. A seleção não estava ainda bem treinada e, caso fosse mal poderia afetar o próprio rendimento no certame. No dia oito chegaram os cariocas. O jogo foi uma das maiores derrotas que os alvinegros tiveram em toda a sua história no estado: quatro a um. Os próprios torcedores tiveram dificuldade de acreditar no desempenho da nossa seleção.
A imprensa celebrou o episódio com certa descrição. Afinal poderia ser “fogo de palha”. Vamos ver como se portaria com o poderoso Internacional que havia ganhado poucos meses antes o Torneio em homenagem ao governador Regis Pacheco massacrando o Bahia (7 x 1) e o Vitória (4 X 1).
Cinco dias depois os gaúchos estavam novamente na fonte do futebol pra enfrentar o nosso selecionado. Desta vez a partida foi muito mais disputada e os baianos não contariam com as facilidades da véspera, mas, mesmo assim, conseguiram outra vitória: dois a um sobre o esquadrão encarnado.
                                                        Getúlio iria cair neste ano!
Aí não deu mais pra segurar a imprensa. Todo dia saía artigos elogiosos. Houve quem comparasse com a equipe que ganhou o campeonato brasileiro exatamente vinte anos antes. Poucas vozes fizeram ponderações, lembrando que se tratavam de jogos amistosos, mas, como é comum nestas horas de entusiasmo ninguém ouviu. Pra não ficar muito tempo sem treinar antes da estreia foi marcado mais um jogo, contra o EC Bahia, no dia do Natal. Neste dia mais alguns se somaram aos ponderados, é que o nosso selecionado acabou apanhando de três a zero do tricolor.
Nas próximas edições dos jornais já haviam algumas criticas ao desempenho de certos jogadores e as orientações técnicas. No entanto, ainda houve quem debitasse o episódio a habitual generosidade natalina pouca propícia a disputas do futebol.
No dia três de janeiro finalmente estreou a nossa seleção no certame nacional. O jogo foi em Curitiba e os paranaenses não tiveram a mínima consideração dando de quatro a um na nossa seleção que “iria ser campeã”. O episódio fez desabar definitivamente a empáfia. Até o jogo de volta não se passou um dia sem que jornalistas “sentassem a ripa” nos nossos jogadores, admitindo até a falta de qualidade de alguns.
                                                              Lembram dele?
 O jogo de volta ocorreu uma semana depois. E, se tivéssemos memória lembraríamos que no último certame, realizado em 1952, houve uma situação curiosamente semelhante. Na ocasião perdemos do Paraná por cinco a um e vencemos lá em Curitiba por três a dois no tempo normal, e na prorrogação por dois a zero.
No dia dez de janeiro os dois selecionados entraram no gramado da Fonte Nova. Desde o início se percebeu que as coisas iriam ser diferentes. Os baianos atacavam e os paranaenses praticamente só se defendiam. No entanto, a perda de alguns gols foram decisivas no final que apresentou o resultado de quatro a um para o nosso selecionado. O escore obrigava a que mais uma vez houvesse uma prorrogação com dois tempos de quinze minutos pra decidir com quem ficaria a classificação.
Mas aí, por mais incrível que possa parecer, os paranaenses mudaram totalmente. Jogaram fechadinhos na defesa e arriscaram-se mais nos contra-ataques. A Bahia atacava bastando-lhe fazer um gol para garantir a passagem para outra fase. O estádio estava quase ás escuras tendo que ser providenciada a tradicional bola branca. E foi aí que, numa escapada dos visitantes, a bola foi para o fundo das redes baianas. Ainda tinha tempo para a reação, mas não teve santo que desse jeito.
                                                                   A turma do contra!
Os paranaenses se vingariam do certame anterior classificando-se em plena Fonte Nova. Os torcedores demoraram pra levantar das arquibancadas. Os narradores não acreditavam. O que é que iriam dizer em casa! É por isto que pouca gente foi no novo amistoso da seleção baiana na semana seguinte, mesmo sendo o poderoso Vasco da Gama o adversário. Ninguém entendia pra que uma seleção eliminada continuava jogando se arriscando ao ridículo. E o pior é que ele ocorreu com nova derrota baiana, agora por dois a zero.
Quanto ao Paraná passaria com imensa dificuldade pelo Espírito Santo quando empatou duas vezes tendo que eliminar os capixabas mediante outra prorrogação. Esbarraria nos mesmos gaúchos que eliminaram os baianos dois anos antes. Desta vez não haveria outra prorrogação na qual se especializaram, e perderiam as duas partidas. Os gaúchos continuariam passando pelo Ceará... mas seriam eliminados pelos paulistas que ganhariam mais uma vez o campeonato numa decisão com o Rio de Janeiro.

·         Agradeço as informações do Almanaque do Futebol Brasileiro e do site RSSSF Brasil. Sou grato as imagens do site Filmes de cinema e dos blogs juniordocamba.com,themusicmp3.blogspot.com e man-meucantinhoasonhar.blogspot.com.

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