segunda-feira, 22 de agosto de 2011

À procura da felicidade


O filme À procura da felicidade, do diretor Gabrielle Muccino, foge da safra habitual hollywoodiana mostrando um vendedor que, numa situação de total insolvência financeira, é abandonado pela mulher, perde a casa, vira pai solteiro, e tem que apelar pra sobreviver. Podia acontecer com qualquer trabalhador nesses tempos de crise do capitalismo.
Will Smith passa pelo maior sufoco, trabalhando como estagiário, dormindo em albergues, estações de trem e banheiros. O final, é bem dentro da cultura judaico-cristã mas diferente da vida real, quando ele se recupera e volta a ter tudo o que perdeu, mostrando que é mesmo “o trabalho que dignifica o homem”! Pode ser implicância minha mas acho que os baianos conhecem o enredo do filme que já foi estrelado nos campos da Bahia.
                                       A mulher de Will foi catar xêpa em Agua de Meninos!

Foi  exatamente no ano da chamada revolução de 30, que destituiu o governo de Washington Luiz, é que o Baiano de Tênis e a Associação Athlética, os principais clubes da elite baiana, decidiram acabar com os seus departamentos de futebol. Pra não ficar na rua da amargura os desprezados se reuniram e, após uma série de reuniões e providências, fundaram um novo clube resolvendo adotar ao nome a as cores da bandeira da Bahia. Já tinha existido um time com esse nome, o SC Bahia, que inclusive se sagrou campeão uma vez, mas o pessoal mesmo assim insistiu.
Não é à toa que o clube até hoje usa a sigla “nasceu pra vencer”. Surgiu de forma afortunada quando, o fato de contar com jogadores de dois dos maiores clubes da época, lhe dava um handicap especial. Era uma família feliz tal como no filme. E no primeiro ano que disputou encontrou a felicidade.
                                                     O filho perdeu até o lap top!

Na sua primeira partida oficial já ganhava o São Cristóvão por três a um. Logo depois esmagava o temível Ypiranga por seis a dois! Depois empatou com o Botafogo (2 X 2) e ganhou do Fluminense (2 X 0), sendo que o Royal se retirou do certame.
No segundo turno a felicidade do tricolor continuou, caindo sucessivamente, o Botafogo (2 X 1),o Fluminense (5 X 0) e o São Cristóvão (5 X 1), somente resistindo ao seu rolo compressor o mais querido, que à custo conseguiu um empate em dois gols.  Mais isso não evitou que ficasse com o vice, a cinco pontos do esquadrão recém-fundado, campeão invicto na primeira vez em que disputou o campeonato baiano.
                                            Will queria sair sem pagar do Paes Mendonça!

No ano seguinte o clube já era uma referência, não só pra vendedores como Will Smith, como pra todo o mundinho da Bahia. Mas nesse ano dobraram os clubes participantes, o que quer dizer que dobrou a concorrência dos que disputavam o emprego, digo título de campeão baiano.  Que sacanagem com nosso Will Smith local!
Nessa situação a estreia do nosso herói foi um horror, perdendo de quatro a dois do auri negro, e sem conseguir vender nada.  O jeito foi afogar as mágoas na bebida (falo sério!) ao enfrentar o time da Antarctica, e vencer por cinco a dois.
                                                      Ficou liso, leso e louco!

O time colocou toda a esperança de pagar os jogadores no jogo contra o Democrata. Afinal de contas a democracia naquele tempo não estava com nada mesmo! Mas, teve o grande azar de perder por três a dois!(2 X 3). O antigo invicto time não estava acostumado com esses revezes da vida e as esposas de vários jogadores os abandonaram na véspera do “grande jogo” onde enfrentaria o Guarany, habitual lanterna dos certames. Aí Will pode se recuperar e mandar seus credores às favas vencendo por cinco a um!
E quase que elas voltam quando emendou as vitórias no próximo jogo onde venceu o Botafogo por três a um. Mas foi alarme falso, pois elas voltariam para a casa da mamãe quando o Bahia perdeu de novo, desta vez do Fluminense por três a um.(1 X 3). Perdido por um perdido por mil. E aí nosso Will Smith passou a trabalhar de qualquer coisa no comércio da Bahia pra sustentar o time tricolor. Bem que tentou apelar para o “amadorismo” que se vivia na época, mas os jogadores não estiveram nem aí. Também naquele tempo só Frienderich mesmo é que não jogava por dinheiro, o resto vivia com o CPF (comissão por fora).
                                                      Pensou até em armações!

Mas o esforço hercúleo do nosso herói acabou melhorando as coisas fazendo com que o esquadrão vencesse seguidamente o Vitória (3 X 0), o São Cristóvão (5 X 0) e o Energia Circular (2 X 1). Mas de nada adiantou isso pois o Ypiranga disparou na frente e acabou fazendo com que a liga cancelasse todos os demais jogos do Bahia sob a alegação de que não influíam na decisão do caneco.
Aí se instalou o caos na família tricolor. Ainda nem chegara o fim do ano e ficaram sem ter como se sustentar. Como as empresas não contratavam estagiários naquele tempo o jeito foi todo mundo engrossar os camelôs da Praça castro Alves. Ficavam ali vendendo tudo o que podiam pro pessoal que tomava os bondes. Foi duro pra nosso Will Smith baiano que chegou a morar no próprio abrigo escondido das autoridades. Até no entrado não lhe deixaram entrar pois não tinha dinheiro pra pagar ingresso.
                                            Nosso herói pegava  o que via pra comer!

Foi á custo que arranjou o dinheiro pra inscrever o Bahia no campeonato de 1933. Só conseguiu porque a liga baixou o valor em função de haver diminuído o número dos inscritos, só oito clubes. Mas conseguiu negociar com quem seria sua primeira partida, com os “índios” do Guarany, e o resultado deu a maior animação nos camelôs, digo, nos jogadores tricolores, que venceram de nove a zero!
Até aí podia ser azarão, mas ninguém teve dúvidas mesmo que o Bahia estava a procura da felicidade, quando enfiou seis na dois no Botafogo. Ai até algumas mulheres de jogadores telefonaram pedindo arrego. Mas esses esperaram tempo melhor, e esse veio nas vitórias contra o São Cristóvão (6 X 1) e no clássico contra o Vitória, vencido por três a dois. Will Smith estava voltando a ser uma realidade. Ganhara a vaga de vendedor de novo e circulava pela Bolsa de Nova York, digo do Comércio, vendendo ações. Antes de terminar o primeiro turno empataria com o mais querido (1 X 1) e venceria o Fluminense (5 X 1).
                                               Will apelava pra qualquer coisa!

No segundo turno, a disputa não deu nem pra “melar”. Will começou batendo o Energia Circular, o time da empresa de bondes, por três a dois, e emendou vencendo o Botafogo (1 X 0), o Ypiranga (4 X 1), o São Cristóvão (5 X 0) e Fluminense (4 X 1). Depois daí o “pau que deu em Chico acabou dando em Francisco” sendo canceladas as demais partidas pois Will Smith havia disparado na frente voltando a ganhar o certame invicto e com um “pé nas costas”.
Levaria muito tempo pra o nosso Will baiano entrar numa pior e “matar cachorro a tapa”, isso só foi acontecer quando a Fonte Nova estava pra acabar e aí o time foi parar na Terceirona e foi jogar até em Feira de Santana. Mas isso é motivo para outros filmes!

·          Agradeço aos sites RSSSF Brasil e Adoro Cinema.

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