sábado, 29 de dezembro de 2012

Não aguento mais o show de Roberto Carlos na Globo no fim do ano!



                                
Não sei quando começou esse negócio de comemorar o ano novo. Aqui no Ocidente se diz que Júlio Cesar foi o culpado, mas, ao bem da verdade, é uma festa que se encontra em tudo quanto é cultura para assinalar o fim de um ano e o início do próximo. Aqui na Bahia chamamos pedantemente de réveillon pra imitar os franceses, mas mudando o dia, ao invés de primeiro de janeiro para o momento da passagem da ½ noite para o dia posterior.
Sabe como o ser humano é gregário? Pois é, aí se reúnem na Times Square, na Porta do Sol, no Terreiro do Paço, ou ficamos por aqui mesmo em Copacabana, Avenida Paulista, Praia de Iracema ou no Porto da Barra. Mas há quem pegue uma ponga no romper do ano, tais como o Dia da fraternidade universal, o Dia Mundial da Paz, e, porque não dizer, a Corrida de São Silvestre, a festa de Bom Jesus dos Navegantes, entre outras menos votadas. A onda é se vestir de branco, ver os fogos, encher a cara e dar beijos em quem podemos.
                                                      Come, se empanturra no Ano novo!

O momento solene é concentrado em meia hora, entre os dez últimos minutos da noite e os vinte minutos depois até acabarem os fogos.  Como bom Durango Kid, desde criancinha passei o “ano novo” na Bahia. Meu pai comprava uma champanhe, e minha mãe caprichava no queijo cuia, nos figos, uvas e passas, fazia um baita bolo, assava um peru, e estávamos conversados. A maioria era o resto que sobrava do Natal.
Mas o momento do ano novo não fica só restrito á festa, ele já percorre todas as atividades da vida humana. Poetas e escritores que pretendam ser conhecidos, não têm como não falar da festa. Imagine que até o sisudo Luís de Camões (aquele que Caetano disse que gosta de roçar a sua língua!) já tratou do tema.  E o que dizer de Clarice Lispector que alega não pedir muita coisa a Deus nesse período por Ele se encontrar sempre ocupado? Carlos Drummond chegou a dar uma receita como se comportar no ano novo onde não se precisa nem beber champanhe nem chorar arrependido do que se fez (ou pelo que não fez).  
                                  Quando será que a felicidade deixará de ser individual?

Mais, tarde, quando eu casei, nossas mães se foram, e eu passei a ganhar melhor, passamos o fim do ano em lugares inusitados. Lembro-me, por exemplo, da comemoração que tivemos em um restaurante cubano em Santiago do Chile que ficava perto da torre de telecomunicações onde soltavam os fogos. Só faltou aparecer mesmo Fidel castro.
Outra foi num restaurante em Puerto Madero em Buenos Aires, o Madalena, que cobravam um preço salgadíssimo por algumas horas. Mas não podemos nos queixar. A comida era boa, repetimos a garrafa de vinho, abraçamos tudo quanto foi argentino e, ainda por cima, vimos o foguetório como pano de fundo do belíssimo monumento á mulher. Só o final não foi tão legal. Vocês sabem como é que é difícil arranjar taxi no final da festa. Mas mesmo aí deu pra ver a diferença do Brasil. Saímos meio tocados uma duas e meia e rodamos Puerto Madero todo e nada de taxi. A concorrência também era desleal, quando inclusive brasileiros só faltavam se jogar em baixo dos carros atrás desse meio de transporte.
                                                   Será que vamos lembrar desse ano?

Se fosse na Bahia a gente já teria sido assaltado umas dez vezes. Mas com os portenhos não, imaginem que fomos da orla até no hotel no centro, uns três quilômetros. A pé, sem um pingo de gente na rua, sem nada nos acontecer. Tudo bem, no outro dia fomos assaltados quando voltávamos do café, mas essa não conta, pois foi pura burrice, uma vez que estávamos há cinquenta metros do hotel e o serviço foi muito bem feito.
Quando passávamos debaixo de uma construção uma tinta caiu nos cabelos de Cybele e apareceu logo um casal pra ajudar com agua. Lembro-me que elogiei até a sua solidariedade e só quando chegamos ao hotel é que percebemos que haviam levado minha carteira que estava no bolso de baixo da bermuda. Nem conto a vocês as dificuldades que passamos pra cancelar os cartões, dar queixa do roubo na delegacia pra pegar um documento provisório da embaixada pra viajar.
                                        Um saco esse negócio de se empiriquitar toda!

Cybele deu o maior vexame no hotel. Fez tudo o que tinha direito, chorou, estrebuchou, fechou a cara, passou o dia todo emburrada. Quanto a mim assumi uma atitude olímpica de conformação com a tragédia. Ainda mais quando conversamos com os porteiros. Ali descobrimos que a Argentina é um verdadeiro céu. Li um jornal, por exemplo, que se queixava dos “seis assassinatos” que teriam ocorrido no país durante as festas, enquanto em qualquer capital de estado decente do Brasil este número não é menor do que vinte! Só aqui em Salvador são uns 25 assassinatos e 25 mortos no transito em cada fim de semana.
Não desejo a ninguém ser roubado no exterior. Tente ligar para o Banco do Brasil pra ver como é fácil? A menina do 0800 nem sabe lhe orientar no que fazer. O jeito foi ligar pro meu gerente na Bahia e pedir para que cancelasse o cartão. Não tivemos dificuldade em saber onde havia uma delegacia de polícia funcionando. O papo foi tranquilo e demos pra nos entender bem ele no espanguês e eu no meu portunhol.
                                          O pessoal enche a cara e beija qualquer coisa!

Nossa infelicidade foi que a hora de mudança de plantão foi enquanto estávamos sendo atendidos. Se fosse no Brasil o cara atendia e só depois ia embora, mas na Argentina não. Chegou a hora já era, se interrompe tudo o que está fazendo e vai embora. Aí tivemos que esperar uma senhora assumir o posto, fazer todas as perguntas outra vez, apanhar outra ficha e começar a preencher, e nisso se passou um bom par de horas.
Mas pior do que isto foi na embaixada brasileira. Esta funciona num prédio de escritórios comerciais cujos elevadores são um inferno. Depois de uns dez minutos numa fila que saía do prédio entendemos que não iríamos a lugar nenhum e subimos cinco ou seis andares a pé até a embaixada. Mas a surpresa mesmo foi ao chegar e encontrar um mundão de gente. Os funcionários nem pareciam brasileiros de tão “gentis e atenciosos”. Quando tentamos nos informar com o guarda este apenas deu um muxoxo e apontou onde deveríamos sentar.  
                                                     E essas caras continuam em 2013!

A mulher do guichê deveria estar em horário ou esperando a troca de turno pois não teve a mínima paciência de nos explicar como os novatos em assalto em Buenos Aires deveriam fazer. Tive que ir no guichê umas três vezes até que entendi o procedimento, preencher uma ficha (já repararam que há sempre uma ficha?) e, em caso de assalto, deveríamos ter uma entrevista com uma assessora da embaixada que tomaria as providências que o caso requeria.
Preenchemos a tal ficha e esperamos um bocado até sermos introduzidos numa sala onde logo surgiu a assessora. Mas esta pelo menos não estava trocando de turno. O aspecto de desconfiança inicial (imaginem os enrolões que aparecem por ali dizendo que foram roubados) acabou resultando em simpatia pelo depoimento de uma desesperada Cybele. Aí nos disse como proceder e mandou digitar uma carta da embaixada autorizando-nos por algum tempo a viajar.
                                  Pelo menos o Vitória estará em 2013 na Primeira Divisão!

Bem mais voltemos ás passagens de ano. A mais esquisita mesmo foi num restaurante espanhol nesta mesma cidade onde, imaginem, éramos os mais novos na casa. O mestre de cerimônias era um senhor de 90 anos. Os dançarinos se arrastavam pela casa, os garçons eram surdos, numa festa onde o Buffet era frio e as bebidas quentes. O que valeu mesmo foi estar próximo do hotel na Avenida de Mayo, e só aguentamos ali até 12 e meia.
Esse ano, com a crise, o ano novo está meio chinfrim. Temos agora um chester (peru não é mais de bom tom!) e até um pernil na geladeira. Cybele comprou um pedaço do queijo cuia da minha infância. Tem umas duas garrafas de vinho argentino e até um espumante, pois champanhe está caro. Mas a essa altura, faltando apenas três dias, ainda não resolvi onde vou passar.
                                      Olho aberto pras promessas de ACM Neto pra 2013!

Festa não quero mais, é um inferno de gente, ninguém ouve o que se fala e, ainda de quebra, o Buffet é de Segunda Divisão (ora o meu Vitória subiu então que é que eu vou fazer lá?) e não se acha cerveja gelada. Resta ficar bem agasalhado num restaurante mas os preços estão pela hora da morte e você ainda pode ter uma má surpresa. Imaginem que no ano passado fomos no chique Baby Beef aproveitar uma promoção e ao invés da comida deliciosa daquele estabelecimento fomos surpreendidos com um Buffet terceirizado!
Dizem que este blog está a cada dia mais saudosista mas não posso deixar de comparar os anos novos de hoje com os de antigamente. É que no capitalismo a festa é só pra ganhar dinheiro. O dono de o evento comprar uma cerveja no supermercado por 1,80 e cobra 7,00 na conta. Ao invés de servir a La carte prefere Buffet pois pode ter muito mais lucro. Só que toda comida que você come ali tem o mesmo tempero e pouco gosto, isso sem contar que tem, que comer rápido pois o prato fica frio em cinco minutos.
                                                  Pô, essa show já tem trinta anos!

As cidades disputam uma contra a outra por mais turistas e vale tudo. Brigam por mais fogos, por artistas mais famosos, gastam os tubos de propaganda, e chutam um número de frequentadores maior do que a outra. É comum se falar nos “milhões de pessoas” que circulam por ali. As redes de TV, naturalmente, transmitem as festas que lhes pagam a divulgação, e as elegem como novo fetiche.
Botam durante o dia na telinha uma série de personagens para dizer o quanto esperam que o ano novo seja diferente. Auguram prognósticos otimistas sobre a política econômica, o fim da crise e que o país irá crescer. De meia em meia hora passam o comercial onde os artistas da Globo cantam aquela chatíssima musica “hoje é novo dia” que há décadas aguentamos sem reclamar.
                                       Quem diria, até a festa de Ano novo virou negócio!

Ora isso é um saco mesmo, será que vai valer a pena nós irmos para os programas que nos convidaram? Talvez vá mas prometo se não der pra conversar, trocar ideias sobre o que fizeram do meu Ano novo, só vou encher a cara. Se duvidar tomo a champanhe, dou os abraços e me meto na cama até o dia raiar!

2 comentários:

  1. Adorei o texto, Franklin! Quando criança, minha família sempre passou reunida. O que conta mesmo é estar com quem a gente gosta. Feliz 2013 para vc e sua esposa. Abraços.
    Helyom

    ResponderExcluir