Criado por trabalhadores de ofícios e negros como reação aos clubes criados pelas elites e classes médias o glorioso Esporte Clube Ypiranga é o segundo mais antigo do estado em atividade. O clube conquistaria dez campeonatos baianos sendo o primeiro obtido no ano da revolução soviética, seguido imediatamente de bicampeonato.
O estádio da Graça foi inaugurado em 1920 como o grande templo do clube que ali, na década de vinte, acumularia metade dos títulos, e inclusive dois bicampeonatos. A adoção do profissionalismo, porém, imporia um sério revés ao Ypiranga que, ainda obteria dois títulos nos anos 30, para “passar em branco” os anos 40. A pá de cal definitiva no clube seria jogada pelo clima de desenvolvimentismo que percorreu o estado nos anos 50, cujo ícone futebolístico foi à construção de um estádio mais sintonizado com o entretenimento de massa, a Fonte Nova, estádio onde seria exacerbado o profissionalismo e ofuscadas as glorias do Ypiranga.
Curiosamente, o estádio que seria tão hostil ao Ypiranga veria o primeiro campeonato ser conquistado pelo clube. Pelo menos alguns jogos, pois não deixariam que a decisão fosse jogada ali. Durante a década de 50 pagaria com sobras esta façanha, com a consolidação de um novo clássico no estado, o BA-VI. No entanto foi ainda possível manter a pluralidade do nosso futebol até o início dos anos 70, agora o clube se reduziria apenas a conquistar torneios inícios, o que faz em 1956, 1959 e 1963.
Quando a CBD faz a opção pela representação fixa daqueles no Campeonato Brasileiro se dá o naufrágio de vez do Ypiranga, assim como de outros clubes tradicionais como o Botafogo e o Galícia. Não haveria espaço para mais de dois clubes na capital, que iria engolindo vorazmente o Leônico, o Monte Líbano, a AABB, o Redenção, o Guarany e o São Cristóvão. Quanto ao Ypiranga e Galícia resistem bravamente na segunda divisão.
Mas lembremos da última façanha do Ypiranga, a conquista do campeonato de 1951. Na verdade devemos falar de campeonato 1951-1952, pois o campeonato se estendeu de abril a fevereiro. O regulamento dos certames da época previa a disputa em três turnos dando ao clube que ganhasse mais de um turno a vantagem de jogar uma partida final pelo empate. Só participaram clubes de Salvador e os clubes fariam seis partidas em cada turno.
O campeonato começou apenas três meses após a inauguração do novo estádio, ainda só com poucas arquibancadas e pegando 20.000 pessoas. Desenrolou-se em meio de obras que se estenderiam por uns oito anos. O Ypiranga teria o prazer de jogar na Fonte Nova o Torneio Início(onde perderia a final para o Bahia) e um clássico contra o Bahia. E foi só! Estrearia na Graça, empatando contra o Guarany de 1 X 1 fazando uma campanha regular no primeiro turno onde ficando em terceiro lugar e sofreria sua única derrota em todo o campeonato, 2 X 0 para o Galícia. O clube obtém apenas duas vitórias, contra três empates e uma derrota, sendo o turno empalmado pelo EC Vitória que, no entanto, seria esmagado pelo Ypiranga no campinho da Graça por cinco a zero.
A derrota do primeiro turno seria aprendida pelo clube que não mais perderia turnos nem partidas. Com uma capacidade enorme de reação o time começaria o segundo turno, ainda no campo da Graça, com quatro empates de 1 X 1(contra Guarany, Galícia, Vitória e Bahia) deixando pra ganhar o turno nos jogos finais contra São Cristóvão (2 X 1) e Botafogo (1 X 0). A estratégia se repete no terceiro turno quando, faltando duas rodadas para o final, supera Bahia e o Vitória.
Parte então para a decisão do título em partida que poderia ser fulminante para a obtenção do título que não conquista há doze anos. A ingratidão da Fonte Nova com o Ypiranga se manifesta inclusive nesta situação. É que não deixaram que o jogo final fosse disputado no estádio tendo que os finalistas se contentarem a decidir o título no acanhado campo da Graça. Foi por isto que intitulamos este artigo de título obtido na “era da Fonte Nova”, pois, na verdade, o clube jamais ganhou um título naquele estádio.
Naquele dia de fevereiro de 1952 o Ypiranga entrou no campo da Graça no tradicional esquema WM com Ferrari, Pequeno e Valder; Valter, Zizo e Raimundo I; Antônio Mário, Chaves, Novinha, Israel e Raimundinho. A renda apurada foi apenas de Crs. 59.047,00. O Vitória saiu de novo na frente, com Juvenal anotando belo gol aos 17 minutos do primeiro tempo. Mas os deuses do futebol não permitiriam que o Ypiranga passasse um mau pedaço. Nove minutos depois Raimundinho chutaria de fora da área e Periperi, que tinha vários jogadores á frente, aceitaria, fazendo com que o primeiro tempo terminasse empatado. Bastaria administrar o segundo tempo para garantir o título para o clube amarelo e preto.
No próximo ano completará sessenta anos desta conquista, ao mesmo tempo do aniversário da Fonte Nova. Não seria o caso de celebrar esta façanha?
· Agradeço as informações constantes dos arquivos de Alexandre Alves Lima.
oi! galega, bons momentos de recordação me trouxe seu texto sobre o Ypiranga de Sotero, e sua "chave 57". Novinha era o talentoso filho de Nova, grande goleiro do Galícia, "os granadeiros da Bahia", também chamado pelos galegos de "Ralícia". Walder jogou depois no Vitória, os "Leões da Barra", formando zaga com o baixinho Alírio, que travava grande duelo com Carlito, artilheiromor do Bahia, o "Esquadrão de Aço", no Campo da Graça. não me lembro se este Valter é o mesmo que compôs com Walder uma grande zaga rubronegra. Sotero, ao que me lembro surgiu no Guarany, time em que inventou a "chave 57", que era aplicada pela zaga Bolívar e Bacamarte, zagueiros vigorosos mas não muito técnicos, e também pelo lateral esquerdo Baixa, baixinho e trocudo. a bola passava, mas o jogador não, princípio da chave 57. este time do Guarany, acho, foi o campeão baiano de 1947. confira.
ResponderExcluirOlá. Gostaria de saber se existe material fotográfico do EC Ypiranga da época de Novinha e Pelágio Lemos?
ExcluirAgradeço imensamente por qualquer informação.
complemento. esse Guarany de 1947 tinha um atacante fabuloso cujo nome não consegui me lembrar. ah! acho que era Tuta.
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