segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Chuva de balas na Fonte Nova

                                                      
Em 1967 o campeonato baiano foi definitivamente interiorizado. Até então só o Fluminense de feira vinha participando. Neste ano, porém, metade dos quatorze times que disputaram era do interior, entrando o Bahia (Feira), o Itabuna, o Conquista, e três clubes de Ilhéus (!), o Vitória, o Flamengo e o Colo Colo. 
A inspiração era justa quebrando sessenta anos de predomínio absoluto da capital do estado no futebol e tornava o nosso campeonato realmente estadual e não resumido aos clubes de Salvador. Não faltou quem contestasse a novidade. Havia quem achasse “muito” a inclusão de chofre de sete clubes. Outros objetavam a entrada de dois clubes de Feira de Santana e três de Ilhéus.
O futebol nesse último era bastante antigo, remetendo ao início do século passado. Seu estádio havia sido construído nos anos 30 como um dos mais modernos do país. Mas o período áureo do futebol da cidade começou neste ano. Depois surgiriam o Ilhéus e o River nos anos 90, e o Colo Colo se sagraria campeão baiano de 2006 aproveitando-se de uma situação onde os grandes clubes da Bahia estavam na terceira divisão.
No entanto, mesmo com toda a justiça, só houve vontade política da interiorização após sair do governo o municipalista Antônio Lomanto Jr.
Eu e meu irmão “Toínho” éramos assíduos á Fonte Nova. No campeonato deste ano estreamos uma enorme bandeira amarrada a um cano de mais de dois metros de altura. Era a maior da torcida do EC Vitória e tínhamos orgulho de balança-la ao vento. Cedo, porém percebemos que dava um trabalho danado. Nos jogos pequenos podíamos ficar com a bandeira em pé nos revezando no trabalho. No entanto nos jogos maiores tínhamos de erguer e baixar constantemente, pois incomodava quem estava sentado atrás.
Em um desses jogos pequenos, quase houve uma tragédia na Fonte Nova. Era um dia de noite e jogavam Vitória X Flamengo de Ilhéus. Nosso time estava se arrastando no campeonato e neste dia jogava ainda pior. O primeiro gol do time de Ilhéus foi recebido por nós como “fogo de palha”, só se preocupando quando saiu o segundo. Nesta ocasião um sujeito que estava sentado um pouco acima de nós começou a falar bastante alto demonstrando satisfação com o resultado. Isto nos irritou bastante!
Mais tarde, quando o Flamengo fez o terceiro gol o sujeito pulou e comemorou. Era um acinte, e não podíamos permitir isto dentro da nossa própria torcida. Aí, não nos fizemos de rogado. Levantamos eu e meu irmão e tacamos-lhe a pesada bandeira nas costas. Qual não foi a nossa surpresa quando o “cara” meteu a mão na cintura e sacou de uma arma começando a ameaçar a todos.
Foi uma corrida só de torcedores para todos os lados. Eu e meu irmão pulamos para degraus das arquibancadas situados mais abaixo e, protegidos convenientemente, começamos a xingá-lo de nomes impublicáveis. O “cara” ai começou a dar tiros pra cima.  Só parou quando chegou à polícia e o levou! Nós fomos cumprimentados pelos torcedores, mas não havia mais clima para o jogo. O Vitória fez dois gols, mas o jogo se arrastou até o final na mesma toada, apresentando ao final o resultado de 3 X 2 para os nossos adversários. Mas, pelo menos, neste dia conseguimos sair vivos do estádio.

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