Galdino Antônio Ferreira da Silva
Financista, desportista e colaborador dos blogs História do Futebol, Futebol 80 e Memórias da Fonte Nova.
Financista, desportista e colaborador dos blogs História do Futebol, Futebol 80 e Memórias da Fonte Nova.
Sabe aqueles dias que nada dá certo? Que tudo que nós fazemos não fica do jeito que desejamos e tudo vai por água abaixo? Vou contar aqui o que aconteceu com um jogador chamado “Guerreiro”. Atuava em 1978 como zagueiro e capitão de um clube pouco conhecido, a Associação Desportiva Guarani, mas que em 1946 conseguiu seu único título de campeão baiano.
Era um domingo e dia dois de julho, data da verdadeira independência do Brasil conseguida na Bahia 155 anos antes ás custas de muitas vidas. Nesse dia, iria acontecer o grande jogo Bahia e Corinthians pelo campeonato brasileiro, e que foi ganho pelo tricolor baiano por um a zero. Estávamos no tempo em que o público aguardava o jogo assistindo uma “preliminar”, e nela peleavam Guarani e Fluminense de Feira. Disputava-se na ocasião um torneio criado pela Federação Baiana de Futebol-FBF, pra manter em atividade os clubes que não disputavam o brasileiro. Este reunia equipes como Galícia, Ypiranga, Leônico, Redenção, Jequié e outras.
O jogo valia a classificação para as semifinais do torneio. Em Feira de Santana o Fluminense havia derrotado o Guarani por 3×2 e uma simples vitória por um gol de diferença dava a classificação ao time do bairro do Barbalho, apelidado assim por ser onde ficava a sede do clube.·.
Antônio Guerreiro é da família do musico Cid Guerreiro que fez como cantor e compositor. Além de ser jogador de futebol era também funcionário do Hospital Juliano Moreira, onde foi colega de meu pai. Assim, ele me convidou pra assistir o jogo. Disse que em Feira que ele não tinha podido ir, mas que neste domingo ele jogaria muito na Fonte Nova e levaria o Guarani para as semifinais.
No dia do jogo eu e meu primo Salvador chegamos mais cedo no estádio. O sol estava “a píno” por volta das 14 horas. Estavam presentes ainda outros amigos e parentes de Guerreiro que ele tinha convidado pra vê-lo jogar pela primeira vez na Fonte Nova. Apenas uma hora depois os times entram em campo. Vi em campo alguns jogadores que conhecia. No Fluminense jogava o lateral Edinho “Jacaré” e o ponta esquerda “Touro”. O primeiro veio a ser campeão brasileiro pelo Bahia dez anos depois, e o segundo ex-jogador do Vitória. No Guarani além do colega de meu pai Guerreiro, eu reconheci seu colega de zaga Berto (que hoje é revelador de jogadores, como Dante Bomfim, com passagem pelo Lille da França e Bélgica) e o atacante “Quizomba”.·.
O jogo começou “quente”. O Guarani partiu logo “pra cima” do Fluminense. Era muita pressão, mas nada de gols. À medida que o tempo passava os nervos dos jogadores iam ficando a flor da pele. E foi ai que começou o dia de cão do nosso amigo Guerreiro. Em um contra ataque do tricolor feirense Touro passa por ele aplicando um “drible da vaca” e abre o placar. Meu amigo tinha uma cabeleira parecida com a de Valderrama, o futuro craque da Colômbia, e estava muito afoito e nervoso com a situação. Gesticulava e gritava muito. Mas, perto do fim do primeiro tempo o Guarani consegue empatar o jogo.
Após o intervalo, mais animado, o Guarani voltou a ir “pra cima” do Flu, no entanto deixava espaços na defesa para os ataques de Touro, que era muito rápido. Num desses ataques Guerreiro entra duro no ponta esquerda e leva cartão amarelo. A partir daí nada mais deu certo para o nosso amigo que, com medo de ser expulso, era driblado com facilidade, errava passes e lançamentos.
Mesmo assim, lá perto dos trinta minutos, o time consegue “virar” o jogo marcando o segundo gol. A torcida do Bahia, que já enchia a velha Fonte para o jogo principal, comemorou, pois estava torcendo pro Guarani. Nos minutos finais os “touros do sertão” foi quem vieram “pra cima” a todo vapor. Mas num contra ataque do Guarani sua defesa comete pênalti. É delírio na Fonte Nova, pois todo mundo havia chegado.
Enquanto o time discute quem bate o pênalti Guerreiro não quer. Coloca a bola debaixo do braço e põe na marca de cal. É ele quem bate e pronto! O juiz apita e ele chuta a bola lá no Dique do Tororó, a léguas do gol de Mundinho. Deve ter sido o pior pênalti batido na Fonte Nova em 60 anos.
Mas o pior ainda estava por vir, acreditem! No lance seguinte ele segurou Touro na área e o juiz marcou outro pênalti, agora para o Fluminense. O tricolor feirense não tem pena convertendo a falta máxima. Agora a partida está 2 a 2. O resultado classificava os “touros do sertão”. Havia ainda alguns minutos desse jogo “emocionante”, mas nada dava mais certo para o Guarani.
Logo depois Guerreiro sai como louco para evitar um contra ataque do Flu e não vê o goleiro Doda fora do gol fazendo um gol contra. É o fim da picada e a “virada” do tricolor feirense! Pra completar o desastre, o Guarani dá a saída e o time perde a bola, quando Guerreiro entra duro no atacante Tatá do Fluminense sendo expulso de campo.
Era o dia de cão da vida de Antônio Guerreiro, o “xerife” da zaga e capitão do Guarani em sua estreia na Fonte Nova. Muitos anos depois ele ainda não conseguia esquecer-se desta partida.
Depois desse fiasco ele ainda conseguiu ser contratado pelo Redenção onde jogou até 1980, indo no ano posterior para o Botafogo local onde pendurou as chuteiras. Há, no entanto, amigos que quando o veem vem logo com aquele papo do jogo daquela tarde infeliz onde Guerreiro conseguiu:
tomar um “baile” de Touro, perder um pênalti, cometer outro, marcar um gol contra, e ser expulso
Este Record de ruindade nunca foi quebrado na Fonte Nova. Realmente, um dia pra esquecer!
tomar um “baile” de Touro, perder um pênalti, cometer outro, marcar um gol contra, e ser expulso
Este Record de ruindade nunca foi quebrado na Fonte Nova. Realmente, um dia pra esquecer!
* Agradeçemos pelas imagens aos blogs copadomundo.uol.com.br e copa2010.ig.com.br.
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