domingo, 31 de outubro de 2010

O dia em que o EC Bahia escalou o céu




Galdino Antônio Ferreira da Silva
Financista, desportista e colaborador dos blogs História do Futebol, Futebol 80 e Memórias da Fonte Nova.                                                                                        
                   
O futebol talvez seja o único esporte em que o favorito não vença sempre. Acontece muitas vezes um resultado inesperado, e até sobrenatural. E olhe que não estou falando somente de “zebras” históricas, mas de resultados quase impossíveis se realizarem debaixo de nossos olhos.
O fato que vou contar hoje aconteceu há 27 anos, no dia cinco de abril na Fonte Nova. Naquela tarde jogavam Bahia X Santa Cruz (PE) pela última rodada do Campeonato Brasileiro, os tricolores mais tradicionais do Nordeste portando a rivalidade histórica entre os estados da Bahia e Pernambuco.
Cada jogo tem sua história e aquele não foi diferente. O EC Bahia começou o ano de 1981 disputando a “Taça de Prata” do Campeonato Brasileiro. O certame era equivalente à segunda divisão da época, só que seu regulamento previa que as equipes poderiam ascender á “Taça de Ouro” (segunda fase), desde que vencessem seus grupos. Desta forma, ao vencer o grupo que tinha também Remo (PA) e Botafogo (PB), o tricolor baiano conquistou esse direito. O Palmeiras também “subiu” neste ano e da mesma forma.
A nova chave era difícil. Além de seu rival pernambucano havia as equipes paulistas da Ponte Preta e Corinthians, embora este último não viesse bem das pernas, tanto que acabou ficando na lanterna do grupo com apenas um ponto. Assim caiu em sua estreia para o EC Bahia por 3 a 0 que, ainda em Salvador, empatou com o outro representante de São Paulo por 1 a 1.

                           
No entanto, as coisas complicaram fora de casa, quando em Recife, o tricolor (outrora de aço) foi goleado impiedosamente pelo Santa Cruz por 4 a 0 caindo pelas tabelas e passando a ter saldo negativo de gols no torneio. Abalado mas ainda confiante o clube seguiu para São Paulo onde venceu o Corinthians no estádio do Pacaembu por uma a zero e viu o Santa Cruz perder para a Ponte Preta por 3 a 1 na rodada. As esperanças haviam voltado ao “Fazendão”, onde se localiza a concentração tricolor.
No entanto, na nova rodada as coisas complicariam novamente. A Ponte Preta ocupava isoladamente a liderança, e, no jogo seguinte em Campinas, em meio a uma guerra de nervos, bateu o Bahia por um à zero, complicando-se a situação do tricolor baiano pela vitória do Santa Cruz sobre o Corinthians por 2 a 0. A Ponte tinha obtido uma das duas vagas com oito pontos ganhos. A outra vaga também parecia decidida, pois, embora os tricolores nordestinos estivessem empatados com sete pontos havia um saldo de cinco gols a favor dos pernambucanos.
Mas o último jogo era na Fonte Nova onde, pra ser sincero, a tarefa era árdua, mas não impossível! Durante os quatro dias que antecederam a partida as expectativas eram grandes nos dois estados. Os “inimigos” do Vitória não perderam a chance para “secar” o tricolor baiano. O rubro negro já participava do Campeonato Brasileiro há vários anos, e enfrentariam a Portuguesa um dia antes do jogo do Bahia podendo vencer por qualquer placar pra se classificar em sua chave. Assim, prometeram comparecer ao estádio para ver o time da Santa Cruz eliminar o Bahia.
Em Recife também a confiança era geral. O folclórico atacante Dario (o “Dadá maravilha”) curtiu com a cara dos baianos na ocasião. Seria mais fácil o torcedor do Bahia ganhar na quina da loto do que o Santa Cruz perder por cinco gols de diferença na Fonte Nova.
                                       
No dia do jogo fez um lindo domingo de sol. O estado estava em festa, pois na véspera o Vitória havia se classificado para a terceira fase ao vencer a Portuguesa por um a zero. Só faltava o EC Bahia para a festa ser completa. Mas nesse dia houve uma dificuldade extra. É que meu saudoso pai, tricolor roxo e funcionário do Bahia, relutou em dar o dinheiro dos ingressos, pois não tinha fé no resultado. Foi só quase na hora do jogo que “sentiu uma vibração” e liberou a grana.
Assim, fomos correndo para o estádio e nos abancamos no mesmo local de sempre perto da torcida BAMOR. Às 17 horas a bola rolou. O Bahia começou o jogo “em cima” do Santa, e, para a nossa alegria, Gilson “gênio” fez um a zero logo aos quatro minutos. Nove minutos depois o mesmo Gilson voltava a marcar. Parecia possível tirar a diferença. No entanto, os pernambucanos tinham um time bom e experiente, onde, além de Dario, jogavam Carlos Roberto, Hilton Brunis, Baiano e Joãozinho, este último era um ponta esquerda arisco e veloz, e levou perigo á meta do Bahia nos contra ataques.
Já perto do final do primeiro tempo, faltando dois minutos para o intervalo, Dirceu “catimba” livre na área, marcou de cabeça o terceiro gol para deliro da massa na Fonte Nova. A confiança havia subido 100%, com a torcida sentindo que dava. Foi a primeira vez que vi torcedores comprando entradas para assistirem somente o segundo tempo.
Este começou com um Santa Cruz retrancado e acuado e um Bahia empurrado pela turba. Mas um novo balanço das redes demorava com as pressões não dando muito resultado. Até que aos 22 minutos Gilson saiu da esquerda para direita e lançou Toninho Taino para marcar o quarto gol e fazer o estádio delirar. Só se ouvia gritos de “Baêa, Baêa, Baêa”. Só faltava agora um gol. O Santa tremia! Os jogadores faziam “cera” e caiam simulando contusões por qualquer motivo.
O tempo passava e nada do quinto gol. O experiente técnico Aimoré Moreira, entretanto, mantinha a calma e a serenidade animando seus jogadores. Finalmente, faltando cinco minutos para o fim do jogo, quando os pernambucanos fizeram à famosa “linha burra” dos zagueiros, Toninho Taino entrou para fazer história na Fonte Nova. Esta quase veio abaixo. Foi uma loucura! O juiz Carlos Sergio Rosa Martins deu ainda dois longos minutos de desconto, mas o Santa estava abalado e sem força não oferecendo mais perigo. Após o apito do juiz a festa rolou pelo gramado e por toda a Bahia. Parecia que o tricolor havia ganhado um título naquele domingo de abril.

Na terceira fase não o clube não foi muito adiante. O Bahia seria eliminado pelo Flamengo no “mata a mata”: zero a zero em Salvador, e dois a zero para o rubro negro carioca no Maracanã. Mas a torcida pouco ligou. O feito havia sido conseguido. Quanto a mim, jamais esquecerei daquele dia e daquela vitória, que reputo como a maior do Bahia que meus olhos viram:
BAHIA 5 X 0 SANTA CRUZ.
Relembro os times que tomaram parte naquele espetáculo. Renato; Edinho, Zé Augusto, Edson Soares e Ricardo Longhi; Washington Luiz, Emo e Léo Oliveira; Toninho Taino, Dirceu Catimba e Gilson Gênio. O técnico era o famoso Aimoré Moreira campeão pela seleção brasileira. O Santa Cruz veio com Wendell; Celso Augusto, Silva (Pedrinho), Alfredo e Hilton Brunis; Deínho (Wilson), Carlos Roberto e Baiano; Agnaldo, Dario e Joãozinho. O técnico era Hilton Chaves

*   Agradecemos as imagens aos blogs esporteclubebahia.com.br, coraisdaserie.esporteblog.com.br e cranik.com.

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