sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Os azarados torneios políticos da Fonte Nova


O futebol nasceu com a politicagem. Mas duvido que em outro estádio houvesse tanto “puxa-saquismo”, oh me desculpem, quero dizer tantas justas homenagens, como a Fonte Nova em Salvador! O estádio foi criado como um órgão estadual. Imaginem um governante ser “homenageado” pela própria repartição pública!   
Ao contrário que se pode imaginar, a iniciativa não era só dos políticos, mas também dos dirigentes esportivos. Sabe como é que é, né? Bota o nome do “cara” e aí entra mais dinheiro para a federação e pros clubes, financiam-se torneios, pagam-se passagens, e outras cositas mais. Nos anos eleitorais nem é bom falar. É um “toma lá dá cá”!
A sanha das “homenagens” não poupou nada do nosso complexo esportivo. O estádio e o ginásio ficaram com o nome dos governadores que mandaram construir, Octávio Mangabeira e Antônio Balbino. Como não tinham mais nada a dar, e ainda faltava acabar algumas coisas, o jeito foi dar o nome da piscina de governador Juracy Magalhães.
                                                      O governador Octávio Mangabeira 
A Fonte Nova resistiu a treze governadores, grande parte lembrados em “homenagens”.  A coisa começou cedo, em 1951, quando, não contentes em dar o nome do governador ao estádio, fizeram ás pressas um torneio de inauguração em janeiro antes de sua saída do cargo. No entanto, “meteram os pés pelas mãos”.
Como foi organizado de última hora, e não ficava bem que algum time de fora do estado ganhasse o certame, fizeram uma coisa “caseira”. Todos os clubes quiseram participar para se despedir do governador, e, se possível, “tirar uma lasquinha” dos seus últimos dias no cargo. Esqueceram que foi ele mesmo que disse:
- Diga-me um absurdo e eu lhe mostrarei antecedente na Bahia!
Foi um dos maiores torneios organizados na era da Fonte Nova. Acabaram fazendo uma espécie de “torneio início” com jogos eliminatórios. Mas tiveram a infelicidade de programar como primeiro jogo o “grande clássico” Botafogo X Guarany (?) que acabou entrando para a história. Peço desculpas aos antigos botafoguenses para dizer que até hoje ninguém entendeu tanta falta de sensibilidade! Bem, mas pra encurtar a história, o torneio foi ganho pelo EC Bahia após decidir com o Ypiranga que seria campeão baiano daquele ano.

O próximo governador, Regis Pacheco, assumiria naquele ano, e teve mais de um torneio em seu nome. Será que foi pra “salvar a cara” por ter dado o nome do estádio a seu antecessor e adversário político? O primeiro foi organizado em 1953. Na ocasião, resolveram corrigir os erros anteriores e trouxeram as grandes equipes do Flamengo e Internacional (RS) para jogar com a dupla BA-VI, que já era o melhor que havia no futebol do estado.
A emenda saiu pior do que o soneto. Foi a maior vergonha que os baianos passaram na Fonte Nova! A primeira rodada foi um verdadeiro “desespero a caminho da feira”. O Bahia levou de sete do Inter e o Vitória de oito do Flamengo. Quando acabaram os jogos imagino o que devem ter ouvido os dirigentes esportivos do governador:
- Mas que é isto, vocês querem acabar comigo?
O jeito foi melhorar na segunda rodada. E bem que os clubes baianos se esforçaram, mas não deu. Mas, pelo menos, apanharam por contagens “mais honrosas”. O Vitória caiu de quatro para o Inter e o tricolor até que não foi tão mal, perdendo apenas de dois a um para o rubro negro carioca.  A gota d’água foi à rodada final.  Na preliminar os leões da Barra deixaram a lanterna pro esquadrão de aço. Porém, no jogo de fundo, quando Flamengo e Internacional disputavam o título, faltou luz quando estava dois a dois. Que fazer, pois não dava pra segurar os times de fora por aqui mais alguns dias? O jeito, pra não desmoralizar o “Doutor Regis”, foi dar o título ao Inter pelo saldo de gols no torneio.
Talvez seja por isso que a Bahia não ganhou nada no futebol no tempo de Regis Pacheco. Pra tentar remediar as coisas, organizaram outro torneio com seu nome. Desta vez tomaram todas as precauções. Convidaram apenas um clube de fora, escolhido “a dedo”, o Sport Clube Recife, e colocaram para enfrenta-lo os três melhores clubes do estado na ocasião, Bahia, Vitória e Botafogo. A coisa acabou ficando mesmo entre rubro negros. O baiano ficou com o título e o pernambucano com a lanterna. Estava salva a honra do governador, mas este não aproveitou politicamente, pois já havia saído do cargo.
                                                       O governador Juracy Magalhães
Agora, quem estava no governo era Antônio Balbino, que preferiu investir suas fichas no ginásio que levou o seu nome. Foi ali que organizaram competições com seu nome, o que se repetiu (no ginásio, a Vila Olímpica e na piscina) com o governador Juracy Magalhães. É que este já tinha uma experiência negativa no período anterior que foi governador onde a taça que levou seu nome acabaria sendo ganha pelo Botafogo do Rio de Janeiro (1935).  
O governador Lomanto Jr fui um dos que mais utilizou o nosso complexo esportivo para promoção pessoal. Até seu aniversário era comemorado no Ginásio Antônio Balbino. Em seu governo o futebol se interiorizou. Acho que isto animou os dirigentes a voltarem a organizar torneios pros governadores ainda em seu primeiro ano de mandato. A capitalização política, porém, seria mínima, pois só foram convidados clubes locais, Bahia, Galícia, Vitória e Leônico. E, pra piorar a história, o certame foi ganho pelo “moleque grená”.
Com o golpe de 64 o Brasil entraria num período sombrio da sua existência e os generais preferiram outras manifestações esportivas de massa. A Fonte Nova tornou-se palco das Olimpíadas Baianas da Primavera e outros desfiles. Os torneios de “homenagem” pareciam ter acabado com os sisudos militares. Mas, durante os anos sombrios houve pelo menos dois desses torneios. Um deles foi entre maior/junho de 1970, com o nome do futuro governador Antônio Carlos Magalhães, mas ao invés de ser ganho por um dos times de massa, foi ganho pelo Galícia.

A infelicidade total veio mesmo quando da construção do anel superior do estádio pra fazer com que o regime dos militares se parecesse com os dos políticos de sempre. Na ocasião da inauguração, fizeram um torneio com o nome do governador Luiz Viana Filho, já de saída do cargo. Desta vez trouxeram Grêmio e Flamengo pra jogar com a dupla BA-VI e o próprio general-presidente Garrastazu Médici se fez presente. Mas com certeza Luiz Viana Filho dispensaria esta “homenagem”.
                                                   Quadro do governador Luiz Viana Filho
Na preliminar o Bahia ganhou do Flamengo por dois a um, mas no segundo tempo da partida principal, quando o Grêmio ganhava o Vitória por um a zero, uma confusão estourou na parte de cima da “geral”. O “corre” fez o estádio balançar levando a milhares de pessoas a se atirarem das arquibancadas. Foi a maior tragédia da Fonte Nova! Há quem calcule em dezenas os mortos, porém isto dificilmente será apurado, pois a imprensa era censurada. Nesta hora ninguém viu Médici, Antônio Carlos Magalhães ou Luiz Viana. Devem ter corrido também como todo mundo.  Alguns dias depois o restante dos jogos seriam cumpridos e, para “salvar a cara” do ex-governador, o Grêmio se recusaria a ir para a disputa de pênaltis com o Bahia entregando a taça ao tricolor.  
Depois desta nunca mais houve um governador “homenageado” em torneios. Pra isto pode ter contribuído a Lei 6454/77 que, logo em seu artigo primeiro, “proibia em todo o território nacional atribuir nome de pessoa viva a bem público, de qualquer natureza, pertencente á União ou as pessoas jurídicas na administração indireta”. Mas no Brasil a lei precisa “pegar”. Mesmo depois disto ACM colocou seu nome em centenas de prédios. Não fez mais torneios, entretanto! João Durval contentou-se em dar o seu nome a torneio realizado em Feira de Santana antes que assumisse o cargo. E, Roberto Santos, acabou virando o nome do estádio de Pituaçu.
Os torneios da Fonte Nova foram rareando com o fim da ditadura. Em 1987 é aprovada nova lei proibindo colocar o nome de pessoas vivas em bens públicos evitando a promoção pessoal das autoridades. Para ficar ainda mais claro, um ano depois a Constituição Federal consagrou o princípio da impessoalidade na administração pública, logo acompanhada pela própria constituição do estado da Bahia. Parecia não ter mais jeito! Assim, os novos torneios passaram a levar o nome do estado, da capital, entre outros. Mas homenagem justa mesmo viria com a taça que levou o nome da heroína do Dois de Julho Maria Quitéria.

                                                                 A implosão em charge
A Fonte Nova não mais existe. Mas será que acabaram mesmo os torneios políticos? Não os veremos na nova Arena? Será que é pacífico o entendimento que um torneio de futebol também é um bem público? Então porque o Ministério Público Estadual esta fazendo este ano a campanha “bens públicos legais” alertando os administradores públicos para essas leis?

·          Agradeço as informações dos sites da Jus Brasil, da RSSFBrasil e da AD Leônico, a Galdino Ferreira.Sou grato também as imagens dos blogs nucleo14cpers.blogspot.com, experimentosdevida.blogspot.com,academiadeletrasdabahia.org.br e porsimas.blogspot.com.

2 comentários:

  1. O sempre candidato Jose Serra (do KIT RACISMO e KIT ENTREGÃO) não é uma pessoa má, ele fez muitas coisas boas, mas ele segue uma cartilha do mal (que é contras as cotas raciais, reparações, incentivos. programas, projetos e leis para nós negros afros-decendentes paulistanos e brasileiros) que representa a (Elite escravagista conservadora neoliberal burguesa racista a serviço do imperialismo mundial) apesar do Serracista usar imagens de negro, as em seu programa eleitoral para atrair os votos da comunidade afros paulistanos ele Jo$erra P$DB, DEM, ETC. sempre foram contra os NegrÓS. Taryk Al Jamahiriya. Afro-indigena brasileira da Organização Negra Nacional Quilombo - ONNQ 20/11/1970 -REQBRA Revolução Quilombolivariana do Brasil QUILOMBONNQ@BOL.COM.BR

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  2. Obrigado pela demonstração, em, outra área, do que os políticos fazem neste país...

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