segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Biriba, o pescador de laterais da Fonte Nova


Galdino Antônio Ferreira da Silva
Financista, desportista e colaborador dos blogs História do Futebol, Futebol 80 e Memórias da Fonte Nova.
 

Em 1954 chega ao Esporte Clube Bahia, um jovem de jeito mirrado e sorridente de peito estufado, pernas arqueadas e saltitante. Logo no primeiro teste foi aprovado pela maneira agressiva de partir para cima da zaga adversária com seus dribles feito um açougue voraz. Após o teste ele compareceu a sala da diretoria para preencher sua ficha e, ao dizer que morava em Itapuã, na época uma colônia de pesca muito distante do centro de Salvador, quase que o clube perderia um dos seus maiores ídolos da sua história pela distância e transporte difícil.
Galdino Antônio Ferreira da SilvaFinancista, desportista e colaborador dos blogs História do Futebol, Memórias da Fonte Nova e Futebol 80.                                                                                       

Foi assim que Armindo Avelino de Santana, nascido 10 de novembro de 1938, passou  aos 16 anos a fazer parte do EC Bahia. Filho de pescador e lavadeira do Abaeté Biriba acompanhava o pai nas pescarias diarias, Entrou para a história como um dos maiores pontas em todos os tempos. Preferia jogar na direita, mas aceitou mudar de lado para formar uma dupla infernal com Marito dono da camisa 7 do Tricolor de Aço.


Nesse inicio treinava apenas em dias alternados três anos. Só depois, em 1957, ele assumiu a ponta direita no quadro de aspirantes, quando o time principal do Bahia parte em sua primeira excursão ao velho continente. Em meio ao Campeonato Baiano o misto quente do Bahia passou a disputar o certame e foi vencendo jogos e encantando a torcida, fazendo brilhar o jovem jogador ao lado de Bombeiro e Careca (campeões da Taça Brasil em 1959)e de outros bons valores como Marivaldo, Aduce, Ruy Tanus e Naninha.

Biriba se destacava e caia de vez nas graças do público. Naquela mesma temporada o Benfica em excursão pelo Brasil faz uma amistoso na Fonte Nova contra o time que passou a ser conhecido como “JUVENTUDE TRANSVIADA” por ter os jovens arrebentando como no filme estrelado por James Dean, com o Bahia não tendo dó e enfiado quatro a um nos encarnados de Lisboa deixando Biriba o seu gol, um dos 113 assinalados pelo tricolor.

Só em 20 de julho de 1958, porém, é que conseguiria vaga no time principal caindo nas graças da torcida. Foi um BA-VI onde teve atuação de gala. Neste dia fez um gol e deu passe para outro, de Hamilton, após driblar meio time do Vitória. O marco da trajetória de Biriba pelo Esquadrão foi o ano de 1959, quando o clube conquistou o primeiro Campeonato Brasileiro. O ponta fez gols decisivos, como o que garantiu a classificação para as semifinais, contra o Sport/PE, e o de empate em um dos jogos finais contra o Santos de Pelé, na Vila Belmiro. O Tricolor acabaria vencendo aquele jogo por 3 a 2.


Em 14 anos de clube ele venceu os campeonatos baiano de 1958,1959,1960, 1961,1962 e 1967, a Taça Brasil de 1959, os Norte-Nordestes de 1958, 1960 e 1962. Fez parte do quadro que foi a segunda excursão do Bahia a Europa em 1960, já como titular,  deixando muito gringo com dores no nervo ciático. Jogou duas Taça Libertadores.

Biriba transformava os laterais direitos em peixes que caiam nas iscas das suas pernas arqueadas e eram fisgados com facilidade e na sua rede caiam gols e muitos gols. Ainda em 1959 o Palmeiras fez um amistoso contra o Bahia devido a transferência do atacante Alencar do Tricolor para o time paulista e Djalma Santos(campeão do mundo no ano anterior) sentiu a dureza de marcar Biriba e abusou de jogadas violenta na maioria das vezes para parar o ponta tricolor.

Ainda pela Taça Brasil de 1959 nas semifinais contra o Vasco nas três partidas o lateral vascaíno Paulinho de Almeida ex-treinador, se viu “doido” pra marcar Biriba. Pelo menos foi o que ele disse quando vaio pro treinar o Bahia:

- Nas três partidas eu e Coronel sofremos com Biriba e Marito que hora trocavam de pontas e o inferno continuava. Na maioria das vezes usei de faltas violentas para brecar os moleques atrevidos, foi um dos maiores pontas que tive de marcar.


Biriba era o ponta pescador que com duas pernas multiplicava os dribles em cima de seus marcadores. Mas ele não é um dos maiores ídolos da torcida tricolor apenas pela alta técnica e dribles desconcertantes, mas também pela raça. Era um incansável em campo. O que representa bem o espírito de Biriba é o fato de ter jogado com a cabeça enfaixada nas semifinais do Brasileiro de 1959, contra o próprio Vasco. Está presente no time do Bahia de todos os tempos, ao lado de Douglas, Beijoca, Carlitos, Léo Briglia, Mario e Marito.

O dia 25 de outubro de 2006 foi triste para a nação tricolor. É que neste dia o pescador de laterais faleceu, aos 68 anos, no hospital Jaar Andrade, no bairro de Cajazeiras, em Salvador, após sofrer quatro paradas cardíacas. Foi sepultado em Itapoâ, bairro onde nasceu e onde jamais deixou de morar mesmo depois de tantas glórias. Era o responsável pelo Estádio Municipal do bairro, onde treinava garotos e batia seus “babas” nos finais de semana.

Sua memória jamais será esquecida. É ídolo eterno da torcida do Bahia. Foi o percussor de uma dínastía  de pontas canhotos magistrais como Canhoteiro, Marquinhos, Jesum, Gilson Gênio, Sandro e Marquinhos. Este último jogou aqui de 1987 a 1990, sendo campeão brasileiro de 1988 ,e parecia muito com Biriba com seu jeito de jogar com dribles e arrancadas certeiras rumo ao gol.


*  Pesquisa: Livro Esporte Clube da Felicidade 70 anos de Glória de Nestor Mendes Junior.Agradecemos também as imagens dos blogscacellain.com.br,chuteirasdeouro.blogspot.com, millenio.blogspot.com e alatof.com.br.  






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