Galdino Antônio Ferreira da Silva
Financista, desportista e colaborador dos blogs História do Futebol, Futebol 80 e Memórias da Fonte Nova.
Desde que passei a entender o futebol, eu tinha uma terrível raiva de um time! O Clube Atlético Mineiro, O Galo das Alterosas me dava ódio, pois o meu Bahia jamais conseguia vencer o clube mineiro, fosse o jogo aqui ou em Belo Horizonte. Passei os dezesseis primeiros anos da minha vida, sofrendo com goleadas. Bastava enfrentar os mineiros e ai o mundo vinha abaixo e o vexame vinha a caminho. O Bahia apanhou de quatro, de cinco e até de seis do clube mineiro. Padecíamos diante de temíveis goleadores como Reinaldo que fazia a festa diante nossos zagueiros, mesmo quando tivemos times de qualidade. A última vez em que o Tricolor de Aço venceu o Atlético Mineiro havia sido em 1959 quando a equipe ganhou a Taça Brasil e bateu os mineiros por sonoros três a zero na Fonte Nova com gols de Léo Briglia (2) e Marito. Já se passavam longos 29 anos, e um dos que enfrentaram o galo foi Florisvaldo Barreto médio e futuro treinador da equipe que veio a se sagrar tricampeã baiana no final de 1983.
O ano de 1984 prometia. Era ano de Olimpíadas e as movimentações para as Diretas Já para presidente da republica ganhava as ruas de todo o Brasil. O campeonato brasileiro era realizado desde o inicio da década no primeiro semestre e no sorteio das chaves o Bahia caira num grupo com Bangu/RJ, CRB/AL, Treze/PB e, para o meu temor, com o Atlético Mineiro. Para piorar a CBF visando renda colocou logo de saída o temível confronto.
As contratações do tricolor não havia atendido as expectativas do torcedor. Vieram Ozires, veterano zagueiro do Cruzeiro, Ralph, volante que jogou pelo Galícia, Toninho Taino, que tivera uma boa passagem pelo clube em 1981, o ponta Tiziu, da Desportiva/ES, o meia Gabriel (que não me lembro mais de onde veio), Souza, revelado pelo Atlético de Alagoinhas, e Beijoca, o veterano e irreverente atacante que havia marcado época na década anterior. Como se vê, era muito pouco pra fazer uma boa campanha, embora isto terminasse acontecendo.
Mas o que valeu mesmo foi o dia 29 de janeiro de 1984 que lavou a minha alma acabando com um tabu de quase trinta anos. Nesse dia, mesmo em casa ouvindo pelo radio ao lado do meu falecido pai Antônio Galdino da Silva, vibrei com a locução de Fernando José pela Radio Sociedade. O time fez um bom primeiro tempo e Osni ou Robson já poderiam ter dado a vitória parcial ao Bahia ainda neste período. Mas o temor não passava.
O Bahia veio ainda mais vibrante no segundo tempo. E ai aos 13 minutos veio o primeiro gol, marcado por Beijoca em jogada de Edinho Jacaré. O jogo se tornou ainda mais dramático, mas o tricolor dez minutos depois, novamente Beijoca, em jogada de Emo, carimbava a quebra de um dos maiores tabus do futebol. Meu pai vibrou muito, pois ele assistiu em 1959 a última vitória diante o encardido Atlético Mineiro.
Pra mim foi um alivio. Daquela tarde em diante a hegemonia do galo sobre os clubes baianos foi pra cucuia. Vi depois grandes vitórias do meu Bahia sobre o Galo, inclusive no “Mineirão” no ano seguinte por 3 x 2 com um golaço de Marinho Apolônio. Compareci pessoalmente, a goleada de quatro a zero com show e golaço de Nonato em 1995, e a um extravagante cinco a três em 2002 comandados por Geraldo. Mas nunca vou esquecer daquela tarde de Janeiro de 1984 quando, finalmente, o Bahia deixou de ser capacho e pontos certos do galo mineiro.
Deixo pra vocês a ficha técnica do jogo.
Bahia 2 x 0 Atlético-MG Data: 29 de janeiro de 1984
Campeonato Brasileiro - 1ª Fase Local: Fonte Nova (Salvador)
Árbitro: Emídio Marques de Mesquita (SP) Renda: Cr$ 64.230.600,00 - Público: 46.029
Bahia: Ronaldo, Edinho, Amadeu, Ozires e Paulo César; Helinho, Ralph e Emo; Osni, Beijoca (Héber, 29) e Róbson. Técnico: Florisvaldo Barreto. Atlético-MG: Pereira, Nelinho, Fred, Luizinho e Jorge Valença; Heleno, Everton e Paulinho; Catatau, Reinaldo e Éder (Luís Carlos, intervalo). Técnico: Rubens Minelli.
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