Está chegando o Dia Final!
Mateus, 3.10
Hoje a Fonte Nova completa sessenta anos de "inauguração". Peço que releiam os dois artigos que coloquei em meu blog sobre isto. Em homenagem falaremos hoje de um dos clubes tradicionais que jogaram nela, e, tal como ela, desapareceram.
A Associação Desportiva Guarany foi um dos clubes tradicionais da Bahia. Sua contribuição ao nosso futebol é tão importante que ainda é a décima equipe em número de participações em sua Primeira Divisão, mesmo tendo disputado há 45 anos o certame pela última vez. Eram chamados, carinhosamente, de “índios” tendo vestido a sua camisa jogadores como Roliço, Lamarone, Mila, Bacamarte e Camerino.
A Associação Desportiva Guarany foi um dos clubes tradicionais da Bahia. Sua contribuição ao nosso futebol é tão importante que ainda é a décima equipe em número de participações em sua Primeira Divisão, mesmo tendo disputado há 45 anos o certame pela última vez. Eram chamados, carinhosamente, de “índios” tendo vestido a sua camisa jogadores como Roliço, Lamarone, Mila, Bacamarte e Camerino.
O clube estreou no certame baiano em 1915, embora ficasse na lanterna. Na sua trajetória não fica bem explicado como voltou a Primeira Divisão nos últimos anos da década de vinte ou retornou a ela nos anos trinta, pois a Segunda havia sido criada quando surgiu o Estádio da Graça em 1922. Mas o certo é que nestes últimos anos ganhou seu primeiro título, campeão da Segunda Divisão em 1939.
O Guará, entretanto, não utilizaria imediatamente a promoção, acumulando, entre 1942 e 1966 a sua mais longa presença entre os maiores clubes do futebol da boa terra, onde só esteve ausente por duas vezes, 1954 e 1957. É certo que nem tudo foram flores durante a sua vida pois foi lanterna do certame por oito vezes, com o agravante de nos anos quarenta, enquanto o Galícia era tricampeão, o Guarany foi “tri lanterna” (se é que isto existe!).
A grande época do clube foi mesmo durante a construção da Fonte Nova. Foi nesta fase que obteve o título que os demais clubes tiveram que engolir e os seus poucos torcedores não se cansaram de comemorar, quando conquistou de forma espetacular o Campeonato Baiano de 1946 enfrentando em “melhor de quatro” a grande equipe do Ypiranga e, após o empate em dois gols, venceu duas vezes seguidas, por um a zero e dois a zero. Esse feito histórico foi conseguido por Menezes, Bolivar e Bacamarte; Manu, Berto e Sabino; Camerino, Mundinho, Elísio, Tuta e Aurélio. Na ocasião ficou com a vice (Elísio) e o quarto lugar(Camerino) na tabela de artilheiros.
Estaria ainda “na crista da onda” em 1947 e 1949 obtendo o terceiro lugar nos certames, embora, no ano seguinte, voltasse para a lanterna. A Era da Fonte Nova marcaria uma nova época no futebol baiano profissionalizando-o definitivamente. No entanto, o intercâmbio constante dos clubes, as taxas cobradas no estádio, e o verdadeiro leilão dos melhores jogadores trazem novas dificuldades para a prática do esporte. O futebol passa a ser cada vez mais um empreendimento caro onde a infraestrutura necessária para a disputa exige uma gestão cada vez mais complexa.
Os anos sessenta inauguram a Era da Televisão e das grandes audiências. Introduzem no Brasil os certames nacionais e começam a esboçar um calendário que prioriza a participação dos principais clubes dos estados. Mas o golpe mortal no Guarany foi dado pela crise que assolou o futebol baiano nos anos 1965/1966. Não foi o clube que a provocara, nem sequer contribuíra pra ela, mas as restrições da federação e do CND e o boicote da imprensa atingiria decisivamente o Guarany e outros clubes.
Isso é que é torcida, não são as de hoje não!
O ano de 1966 foi o segundo da crise do futebol baiano. O início do certame acentuou a crise, particularmente em função de Fluminense, Bahia, Galícia e Leônico se somarem ao boicote com a desculpa de não jogarem no campo da Graça. O regulamento aprovado preocupou o Guarany pois previa para este ano o descenso dos três últimos colocados na soma geral dos pontos. Mas a desistência dos quatro clubes poderia ser positiva para o clube. Foi assim que encarou o campeonato que se inicia no dia cinco de junho,estreando quatro dias depois perdendo pro Botafogo por três a zero.
O jogo do dia 18 de junho era chave para a diretoria, pois enfrentaria um clube do “seu tope”, o da empresa de transportes SMTC e candidato ao rebaixamento. Na ocasião os “índios” entraram pra decidir mas foram vergonhosamente abatidos por quatro a um! A nova derrota inaugurou um clima de pessimismo no clube que o levou a perder seguidamente pro Ypíranga(0 X 3) e para o bicampeão Vitória(0 X 4). Como o Vitória já tinha faturado o turno a FBF resolve cancelar os jogos restantes, inclusive o jogo Guarany X Estrêla de Março. Este último seria o lanterninha do certame e tomaria pelo menos duas goleadas astronômicas, 10 X 0 do Vitória e 9 X 0 do Fluminense de Feira de Santana.
A situação do futebol levou a que houvesse quatro meses de intervalo entre o primeiro e o segundo turno(!), tempo em que, pra azar do Guarany, se resolveu a crise. O futebol baiano estava “pacificado” mas quem estava mal ficou pior. O Guarany aproveitou o tempo pra treinar a sua equipe.
E os oceanos invadiram a terra...
O segundo turno continuou o calvário do Guarany. Mas o clime de generosidade das festas de fim de ano faria com que o clube estreasse com uma sensacional vitória contra o Botafogo por três a um, gols de Djalma, Valdir e Camacâ, contra o de Pão para os diabos rubros. Logo após nova pausa retirando o embalo dos “índios” que, no retorno do certame, dariam logo o azar de enfrentar o futuro campeão Leônico, perdendo por quatro a um.
A goleada abalaria o time que perderia ainda mais duas vezes seguidas pelo mesmo “escore oficial”, para Galícia e Vitória. O elenco se reúne para mudar a situação e quem quase paga por isto é o Ypiranga que viu o Guarany “engrossar” o seu jogo ganhando á custo pelo escore mínimo. No dia 29 de janeiro estava marcada uma partida em Feira de Santana, uma das seis que o Fluminense havia pressionado a federação pra conseguir. Um mau pressentimento assaltou os dirigentes e jogadores do Guará que viajaram pra Feira. Os touros do sertão estavam impossíveis dentro de casa e, assim, “sobrou” pro Guarany: seis a um.
Nova parada no campeonato, e o Guarany aproveitando pra acertar o time. No novo retorno, em dezessete de fevereiro, a equipe obtém a sua segunda vitória vingando-se do SMTC por quatro a dois, com dois gols de Djalma, um de Waldir e outro de Zuza, marcando Floriano e Edinho os gols da equipe do clube da empresa de transporte de Salvador.
Até os céus reagiram ao desaparecimento do Guarany
Cinco dias depois, os “índios” surpreenderiam o mundo ao empatar heroicamente com o EC Bahia em um gol. Zuza faria o gol antológico enquanto Vadinho anotaria para o tricolor. O resultado foi comemorado em prosa e em verso. Parecia que seria mantido no certame, bastando pra isto ganhar de dois concorrentes diretos a se manter na Primeira Divisão, Estrela de Março e São Cristóvão. O pior já tinha passado e o Guará havia resistido mais uma vez.
Cinco dias depois, os “índios” surpreenderiam o mundo ao empatar heroicamente com o EC Bahia em um gol. Zuza faria o gol antológico enquanto Vadinho anotaria para o tricolor. O resultado foi comemorado em prosa e em verso. Parecia que seria mantido no certame, bastando pra isto ganhar de dois concorrentes diretos a se manter na Primeira Divisão, Estrela de Março e São Cristóvão. O pior já tinha passado e o Guará havia resistido mais uma vez.
Mas pra azar do Guarany houve mais uma parada no certame, quando o clube estava embalado, por motivo do carnaval. Lembro-me que pulei como nunca na festa, indiferente ao sofrimento do velho Guará. Mal sabia eu que estava vivendo dias históricos para o nosso futebol. Veio então aquele mês fatídico de março de 1967. A torcida do Guarany, que cabia toda numa rural Willys (lembram-se?),compareceu em massa aos dois jogos finais. O jogo contra o Estrela de Março deixou má impressão. Imaginem que os “índios” pagaram todos os seus pecados pra ganhar por um magérrimo um a zero, gol de Djalma.
Mas sua sina era assim, nada seria conquistado sem sofrimento! Pelo menos é o que pensava a torcida e a diretoria, que prepararam-se então para o segundo jogo, realmente decisivo, contra o São Cristóvão. Este foi tão disputado como o anterior. Não chegou a ser uma batalha do Armagedom, mesmo porque os jogadores queriam resolver tudo sozinhos. Conseguiram, ás duras penas, um gol através de Guará, mas os gols de Edinho e Ademir levaram o time ao desespero. Nos últimos minutos instalou-se o pânico no estádio onde todos pediam aos céus a salvação do destino ingrato. O apito do juiz garantiu a permanência do time do padroeiro dos motoristas na Primeira Divisão.
Olhem um torcedor do Guarany naquele dia
O Guarany havia sido crucificado e os torcedores saíram arrasados. Até quem não era torcedor do time ficou consternado com a tragédia! Na ocasião, houve quem se lembrasse das sábias palavras do apóstolo Paulo:
Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens serão egoístas, avarentos, orgulhosos, vaidosos(...), não amarão ao próximo, serão duros, caluniadores, sem domínio próprio, violentos, inimigos do bem, traidores, atrevidos, amarão mais os prazeres do que a Deus.
Carta a Timóteo 3.1-4
O Leônico ganhou o turno e a decisão contra o Vitória que parecia que só sabia jogar em época de crise. Ficou evidente para todos que se O Galícia tivesse disputado o primeiro turno o Guarany não teria descido. Quem sabe? Podia estar até hoje entre nós! Os índios” estrilaram, reclamaram mas não teve jeito!
Mas a tragédia do clube em 1966 não seria ainda o fim. Tentaria em vão durante vários anos voltar seu lugar na Primeira Divisão. A luta começaria logo em 1967 quando o Guará não resistiu as dificuldades da Segundona e licenciou-se. Voltaria, mais preparado, em 1975 ficando em segundo lugar num certame em que, pra seu azar, só subiu o primeiro, o Redenção. A decepção levaria a nova licença que só terminaria na década de 80 quando tentou por seis vezes o ascenso, 1984,1985,1987,1988,1989,e, por fim, em 1990. Agora era mesmo o fim!
E o pior é que, na época, só os torcedores mais antigos sentiram a sua falta. Salvador vivia outros tempos, da indústria cultural e do entretenimento, uma era de futebol de massas mais apropriado ás grandes torcidas. Ainda restavam Galícia e Leônico mas estes também seriam engolidos deixando o futebol de Salvador nos próximos anos limitados á dupla BA-VI. O clube então pediu mais uma licença da qual nunca se recuperou. A última vez que ouvi falar de um Guarany foi quando li o currículo de um jogador que afirmava que jogou na sua divisão de base em 2003! Dizem que o clube está no purgatório esperando o Juizo Final.
· Agradeço as informações e textos de Elias Oliveira, do Livro do Apocalipse, do Evangelho Segundo Mateus, e dos sites Futebol mundial, Segundo as escrituras, Wikipédia e RSSSF Brasil. Sou grato também as imagens dos blogs de chico maia, oseumessias.wordpress.com, meme.yahoo.com,versosbrazil.wordpress.com,memoriasdaliravelha.blogspot.com e baixakijogos.com.br.
Nenhum comentário:
Postar um comentário