quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

As viagens do elefante

                                     O elefante chafurdando na agua do Dique do Tororó
                                      Havia mesmo quem tivesse prognosticado
                                      que a viagem do elefante terminaria aqui,
                                      neste mar de rosas.

                                                                          José Saramago
O ABC FC é um desses fenômenos do futebol. Fundado durante as festas juninas de 1915 vem acumulando títulos ao ponto de ser o maior vencedor de campeonatos estaduais do país. Esta condição lhe deu um inédito deca campeonato, quesito que só encontra rival no América (MG). Desde que foi criado o campeonato brasileiro em 1971 nunca deixou de participar, atuando por 18 edições na Primeira Divisão. Tem como mascote o elefante pois a silhueta do animal é semelhante com o mapa do estado do Rio Grande do Norte.
Mas o ABC sempre esteve em desencontro com os clubes baianos. A primeira vez que o elefante podia ter jogado foi em 1923 na primeira competição entre clubes da região, o Troféu Nordeste, que infelizmente não contou com os clubes do Rio Grande do Norte. A situação foi remediada um quarto de século depois, por ocasião da Copa dos Campeões do Nordeste em Recife. O ABC já tinha obtido o seu fantástico título de deca campeão e os dois estados participaram, mas os seus clubes não se enfrentaram. Na segunda edição deste torneio, quatro anos depois, só participariam Ypiranga e América de Natal. Resultado, o elefante viajava, percorria o Nordeste mas não encontrava os clubes baianos e,muito menos, vinha a Salvador.

Nos anos 60 a vida ofereceu novas chances para o elefante entrevistar-se com o leão ou o super homem. Na época foram criados vários torneios envolvendo os clubes da região. Mas novos obstáculos apareceram. Na Copa dos campeões do Norte nenhum clube potiguar participou por não deter o título. O Torneio hexagonal do Norte e Nordeste não contou com baianos. Da mesma forma a primeira edição da Copa Norte e Nordeste em 1968. E, quando ambos os estados participaram, em 1969 e 1970, aconteceu de Galícia, Vitória, Ypiranga e Botafogo caírem em grupos diferentes e o ABC ser eliminado antes que se encontrassem.
                                                 O livro que Saramago escreveu doente

Assim, foi sendo adiada a expectativa de recebr na Fonte Nova o elefante “papa-títulos”. Mas nada do ABC que só daria o ar de sua graça aos baianos depois de completar a idade de Cristo em títulos, 33 estaduais. Estávamos na era do Campeonato Brasileiro e gatos e cachorros foram incluídos no certame pela CBD por ordem da ditadura militar, mas nada do elefante vir á Fonte Nova. Os poucos jogos do ABC contra baianos foram em Natal em novembro de 1972. Finalmente viriam os confrontos tão esperados e realizados antes de datas dignas de recordação. Na véspera do lúgubre dia dos finados o Bahia venceria pelo escore mínimo, e, um dia antes dos 277 anos da morte de Zumbi dos Palmares, seria a vez do Vitória empatar em um gol.
Nos próximos anos seria o América de Natal a visitar nosso histórico estádio, ambas pelo campeonato brasileiro. Em novembro de 1973 perderia para o tricolor por dois a um. E, cinco meses depois, empataria com o rubro negro em um gol. Mas nada do tão esperado elefante.  
Em 1975 foi criado o Torneio José Américo de Almeida Filho que antecederia o campeonato do Nordeste. Era uma excelente oportunidade do elefante viajar para a Bahia e chafurdar nas aguas do Dique do Tororó. Mas cadê que isto ocorreu? Os baianos não participaram da primeira edição, e, na segunda, o jogo do ABC contra o Vitória foi novamente a Natal com novo empate em um gol. Na ocasião até que ambos se classificaram mas não se encontraram nas semifinais.
                                         Olhem quantas viagens do elefante pelo Nordeste
Nos anos 80 o ABC aquietou um pouco essa mania de ficar ganhando títulos estaduais e passou a frequentar mais assiduamente a Segunda Divisão. Foi uma boa desculpa pro elefante não viajar pra Bahia.  A Fonte Nova teria que esperar até a década seguinte, quando houve a criação definitiva da Copa do Nordeste. Ai desse no que desse teriam que se encontrar! Mas na primeira edição, em 1994, só participou o América(N) e sequer enfrentou os baianos. Na segunda, três anos depois, o ABC foi desclassificado pelo Sport não chegando a enfrentar a dupla BA-VI. Em 1998 o Vitória seria novamente campeão do certame derrotando o América na final, mas não veria a cara do elefante. O mesmo ocorreria em 1999.
Finalmente, com 85 anos de idade. chegaria o dia tão sonhado de o elefante conhecer a Bahia durante a quinta edição deste certame em 2000. Dizem que os elefantes não duram tanto tempo mas isto é dito por quem não conhece o ABC. É certo que já estava cansado de guerra mas proporcionou um belo jogo naquele dia 23 de novembro na Fonte Nova com o rubro negro vencendo por dois a um. Já a partida do returno seria em Natal com o empate em um gol.
Mas agora havia parecia aberta a cancela. O elefante e a Fonte Nova tiveram identificação imediata e o grandalhão voltaria de novo nos dois anos seguintes. Em 31 de março de 2001 pisaria de novo na grama(que quase afundava com seu peso) pra perder de novo para o Vitória, agora por dois a zero. O rubro negro teria que atender os reclamos do nosso histórico estádio e promover noa viagem do elefante quatro meses depois, em 26 de julho, com nova vitória rubro negra pelo mesmo escore.

No ano seguinte, perto do carnaval, o elefante faria questão de conhecer a nossa maior festa. Ai "tomou todas" e se fantasiou de baiana, não dando pro tricolor evitar o empate em um gol. Um mês depois o elefante se encontraria de novo com o super homem, o único pelo campeonato brasileiro mas, longe da festa o elefante acabou fazendo turismo no Dique do Tororó perdendo por três a zero.
                                              Oi ele aí no estacionamento da Fonte Nova
No próximo ano o ABC e os clubes baianos iriam entrar num período de ostracismo. O Bahia, e depois o Vitória, cairiam para a Segunda e até pra Terceira Divisão, onde já estaria o ABC. Mas, por incrível que pareça, não se encontraram. O elefante não viajaria mais para a Bahia. Inaugurara em 2006 o seu próprio estádio, o “Frasqueirão”, com capacidade para 18.000 torcedores, onde podia desfilar sua majestade á vontade. A Fonte Nova quase que morreria de desgosto sem a presença do elefante, mas, antes de dar o seu último suspiro ainda o veria alcançar um título nacional, o de campeão da terceira Divisão.

·         Agradeço aos sites do ABC, Wikipédia, Filipéia e RSSF Brasil. Sou grato também as imagens dos blogs:contosecausos24x7.blogspot.com,bellespics.es,a-letreira.blogspot.com e mercadoetico.terra.com.br.

Nenhum comentário:

Postar um comentário