O Americano FC sempre foi o “bambambã” de Campos de Goytacazes (RJ). Desde que foi criado, em 1915, ganhou 27 vezes o título da cidade. O fantasma, escolhido como mascote do clube, assustou muita gente nos primeiros anos. Ganhou seu primeiro título nacional quando sequer havia torneios brasileiros, em 1920, no chamado Torneio Preparatório do Brasil. Logo depois teria dois jogadores convocados para a seleção brasileira e derrotaria a poderosa Seleção do Uruguai por três a zero. Dez anos depois, mais um de seus jogadores, Policarpo Ribeiro, estaria presente na primeira Copa do Mundo, a de 1930, envergando a camisete nacional.
Nesta década o futebol brasileiro estava quase “rachado” em função das divergências sobre a adoção ou não do profissionalismo e o clube refluiu, preferindo disputar o campeonato da progressista cidade de Campos Aí existia o clássico com o Goytacaz e mantinha o intercâmbio jogando no estádio da cidade. Foram quatro campeonatos nesta década e mais quatro na seguinte.
Mas o Americano teve que atender aos que exigiam o seu retorno às lides gerais do futebol. Assim, começou a participar do campeonato fluminense de futebol, obtendo sucesso, contraditoriamente, quando o país entrava em uma das fases mais tristes de sua história, a ditadura militar. Nesta era, o clube conquistaria dois “bi”, 1964/1965 e 1968/1969.
Nos anos 70 o futebol do país viveria novos tempos. É que a CBD, que vinha desde 1959 organizando torneios com clubes de vários estados, resolve criar o Campeonato Brasileiro. Uma injustiça o Americano não ser convidado para as suas edições iniciais, pois ganhava todo ano o campeonato de Campos, onde emendaria um inédito eneacampeonato. Precisaria o país viver a chamada “abertura política” para que a confederação promovesse uma ampliação radical nos seus participantes, que chegaria a 94 em 1979, originando o ditado que passou ao anedotário esportivo, “aonde a ARENA vai mal, um clube no nacional”.
É assim que em 1975, ano que volta a conquistar o campeonato fluminense, o clube é convidado pela CBD. O mês de outubro daquele ano não será esquecido pelos baianos e campistas. O Vitória foi jogar lá no Estádio Godofredo Cruz no dia dois ganhando pelo escore mínimo. E, 23 dias depois o fantasma apareceu na Bahia. Os 9.600 torcedores que compareceram á Fonte Nova naquele dia ficariam assustados. É que o clube aparecia e desaparecia em campo. Tanto que os atacantes do Bahia não conseguiram colocar a bola entre os três paus, tendo que o jogo ser decidido por um gol do zagueiro Perivaldo (lembram-se?).
Sua equipe, dirigida por Paulo Henrique, tinha vários jogadores do time campeão, e formou com Gato Felix, Capetinha, Luiz Alberto, Mundinho (Rui Dias) e Didinho; Luizinho, Luís Carlos e Silvinho; Dionísio, Paulo Roberto (Messias) e Rangel. Já o Bahia do técnico Roberto Rebouças, atuou com Luiz Antônio, Perivaldo, Sapatão, Rodolfo e Romero; Ubaldo, Baiaco e Fito; Caldeira (Douglas), Jorge Campos (Piolho) e Mickey.
Quando este apareceu então todo mundo correu!
O fantasma desapareceu por três anos. Nesse tempo os clubes baianos jogaram com o Volta Redonda (outro clube do interior do Rio de Janeiro) e até com seu arquirrival Goitacaz, dentro e fora de casa. Enquanto isto a participação do clube no certame nacional não foi lá grande coisa. Mas em 1978 montou um time melhor que lhe daria sua melhor classificação no campeonato, o 27º lugar.
Foi esse ano que veio a última vez na Bahia. Foi num dia seis de julho, quatro dias após a data magna dos baianos, o Dois de julho. O técnico do tricolor na ocasião era o experiente Zezé Moreira. A sua equipe era bem diferente daquela que, literalmente, havia sofrido horrores pra ganhar do fantasma. Zezé então armou um time ofensivo com os meias Altimar e Washington, e os atacantes Beijoca, Freitas e Jesum obrigando-os a passar uma semana fazendo um curso de caça fantasmas. Mas a tática pode dar certo, pois os campistas vieram com o time todo mudado não havendo ninguém de 1975, nem o técnico que agora era Pinheiro.
Os jogadores do Bahia ficaram o dia todo no estádio medindo onde estavam as traves, imaginando as possibilidades de deslocamento de cada jogador do Americano e quando chegou a hora derrubaram o fantasma. Quando os fantasmas sumiam de campo os tricolores ficavam tocando a bola pra não ser alcançados e chutavam de longe para o gol. E, quando reapareciam, trocavam a bola ainda mais rápido. Ai a bola foi entrando no gol do glorioso do parque. Após o intervalo os fantasmas praticamente sumiram, oportunidade em que os chutes de longe resolveram.
A Fonte Nova (sabem como é este negócio espiritual, né!) bem que via os fantasmas, mas não podia dizer nada por solidariedade extraterrestre. O estrago só não foi maior porque os fantasmas baixaram o nível dando pra soltar gritos horrorosos e ranger correntes que fizeram muitos torcedores saírem do estádio mais cedo. Aí o Bahia parou nos cinco a zero.
Mas os fantasmas se vingariam em regra, num jogom pela Taça de Prata em 15 de março de 1980. E quem pagaria o pato seria o Botafogo(BA). Nesse dia teve os fantasmas apelaram pra tudo apavorando os 338 torcedores que estavam na Fonte Nova. No primeiro tempo já estava cinco a zero com os atacantes fantasmas desaparecendo de um lado e reaparecendo no outro. Té "lavou a alma" fazendo tr~es gols, completando o escore Luís Carlos. Depois do intervalo continuou o passeio quando Marinho fez dois gols em dois minutos e Sergio Pedro completou os sete a zero nos pobres diabos rubros.
Os fantasmas continuaram assustando a Primeira Divisão, onde participaram sete vezes. Depois seriam expulsos pela nova CBF para a Segunda e até para a Terceira Divisão. Mas os clubes já distribuíam á época um manual de caça fantasmas. O fantasma decidiu assustar no exterior onde ainda não era conhecido e obteve bastante sucesso na Europa e Ásia, neste último continente ganhou a Taça do Rei, derrotando a Seleção da Coreia do Sul.
Após o fim da ditadura teriam um breve momento de glória imaginando novos meios de assustar a concorrência. Foram vice-campeões da Segunda Divisão em 1986 e, no ano seguinte, representando a seleção do Rio de Janeiro, campeões do retomado Campeonato Brasileiro de Seleções.
Subir as escadas da Fonte Nova dava mêdo com as correntes arrastando
Desde então a Fonte Nova ficaria livre dos fantasmas, ou melhor, dizendo, teria que se preocupar com o terror da falta de manutenção que lhe levariam a duas mortes, a primeira em 2007, e a última em 2010. Dizem que pouco antes da Fonte Nova ser implodida se ouviu o barulho de uma corrente ser arrastada em seus corredores. Era o fantasma levando sua solidariedade à amiga que ia entrar no reino fantasmagórico.
· Agradeço as informações dos sites do Americano FC, Wikipédia, História do Futebol e Futipédia, e de Júlio Diogo. Sou grato as imagens do site adorocinema e dos blogs cinepredador.net,universohoq.com,irrestrito.com,bhqmais.blogspot.com,trocistas.com e blogdokitwalker.blogspot.com.
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