segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Um almirante nas aguas do Dique do Tororó

                          

Fazem 513 anos que um navegante, com apenas três navios, revolucionou o comércio e as relações entre Ocidente e Oriente descobrindo o caminho marítimo para as índias. Mas precisaria 400 anos para que este navegante fosse homenageado também pelo mundo esportivo com a criação, por brasileiros e portugueses, do Clube de Regatas Vasco da Gama. Mas só em 1915, após uma fusão com o clube Lusitânia, é que adotaria o futebol.
O time do grande almirante passou a ser chamado na intimidade de “Vasco” e disputaria a primeira divisão do futebol carioca a partir de 1923 (fruto da ascensão de divisão no ano anterior) mostrando logo predestinação pra ser campeão no mesmo ano. Mas, em função de ter jogadores negros e mulatos, o caldo entornaria ocasionando o maior “rebu”, com vários clubes se retirando e criando a AMEA sem ele, e uma crise que se arrastaria por um ano.
Aceito, finalmente, o time do almirante, mostraria que nasceu pra brilhar. Inauguraria em 1927 o maior local para a prática de futebol de então, o Estádio Vasco da Gama. E, quatro anos depois, seria o segundo clube brasileiro a sair em excursão internacional. Dois anos depois aportaria na Bahia jogando no estádio da Graça numa época conturbada de crises políticas onde perderia para a seleção baiana por esdrúxulos seis a cinco!

O grande Vasco da Gama de Leônidas da Silva, Domingos da Guia e Fausto surgiria no ano seguinte ganhando o campeonato carioca e voltaria a Salvador em abril de 1936, desta vez para passar dez dias. Estranharia o campo da Graça apenas na estreia quando cairia para o EC Vitória por quatro a um, para logo a seguir derrubar Botafogo (3 X 2), Bahia (4 X 1) e Galícia (2 X 0).
O time com que encerrou a década já não seria o do navegante. Enfrentava agora tormentas embora apostasse que conseguiria chegar ao Cabo da Boa Esperança. Uma luz no túnel foi à conquista da Taça Luís Aranha em 1940. Seu retorno a Bahia se daria em fins do março do ano seguinte em pleno Estado Novo e com desempenho irregular. Ganharia do Vitória (2 X 0), perderia do Galícia (2 X 1), golearia o Ypiranga (5 X 0) e teria dificuldades na despedida contra o Bahia (1 X 0).
O time do almirante voltaria ao auge após o fim da ditadura de Vargas, graças ao bom trabalho do técnico uruguaio Ondino Vieira e a jogadores como Ademir Menezes, Danilo, Lelé e Jair da Rosa Pinto. Esse time sensacional, apelidado de “Expresso da vitória” era equivalente à expedição que esteve nas costas da África nos finais do Século XV. Venceu invicto os campeonatos cariocas de 1945,1947 e 1949, obteve um inédito campeonato sul americano de campeões e foi a base da seleção brasileira, vice-campeã da Copa do Mundo de 1950.
                                                                        Oi ele!
Os baianos tiveram o privilégio de assistir esta equipe por duas vezes no campinho da Graça quando já se construía a Fonte Nova. A primeira foi em abril/maio de 1946 quando não haviam mais interventores no estado. Chegaram arrasando o Botafogo (8 X 3) e, logo depois, o Ypiranga, goleado em pleno Dia do Trabalho por quatro a um. O massacre seria completado contra o Bahia (6 X 2). A segunda excursão seria em ritmo do São João de 1948, caindo sucessivamente sob seus pés Bahia (4 X 2 e 2 X 0) e Ypiranga (3 X 1).
Entraria na era da Fonte Nova ganhando os campeonatos cariocas de 1950 e 1952. A partir deste ano o clube do almirante vive uma renovação onde apontam talentos como os de Vavá, Beline, Pinga e Sabará e visitaria a Bahia nos dois próximos anos. Em 1953 ainda jogaria no campo da Graça onde esmagaria o Ypiranga por inacreditáveis oito a um. Mas no ano seguinte estrearia na Fonte Nova em 17 de janeiro onde se vingaria da seleção baiana derrotando-a por dois a zero.
O time do almirante se aclimataria muito bem na Fonte Nova. É que bastava parar suas naves no Dique do Tororó, remar até a terra, andar poucos metros e já estava lá. Além do mais o clube havia tido uma atitude muito digna se recusando a tirar os jogadores negros do time em 1924. De modo que Iemanjá, que protege aquelas aguas, o via com simpatia.

Voltaria a conquistar o campeonato carioca de 1956 e, no ano seguinte, chegaria á façanha sensacional de conquistar o Torneio de Paris após derrotar o inesquecível time do Real Madrid. Neste ano, porém, na vinda a Salvador a façanha seria do Bahia ao derrota-lo por três a zero no dia anterior onde se comemoraria 460 anos que a expedição de Vasco da Gama dobrou o Cabo da Boa esperança.
No ano seguinte voltaria a ganhar o campeonato estadual, mas (tal como o grande navegador após 1502) entraria numa fase de ostracismo. Viria na Bahia nesta situação, em fevereiro de 1959, embora arrasasse de novo o pobre Ypiranga (6 X 1) e, conseguisse boas apresentações com seu time misto, contra o Vitória (1 X 0) e o Bahia (0 X 1). Sua última presença na Fonte Nova foi a sensacional disputa na I Taça Brasil que necessitou e jogo extra em Salvador, vencido pelo tricolor.
Quem assistiu a esta histórica partida não sabia que iria demorar pra ver de novo o time do almirante em terras soteropolitanas. O futebol baiano entraria num período de crise pós-ditadura, que só se resolve, por coincidência, no ano em que o Vasco volta a ganhar, de forma repartida, o Torneio Rio-São Paulo. E a equipe de São Januário só pisaria na Fonte Nova com a criação do Campeonato Brasileiro em 1971, após ganhar o campeonato carioca.
A primeira partida do novo certame se dá em 14 de novembro e é vencida pelo tricolor pelo escore mínimo já no novo estádio da Fonte Nova que havia colocado um anel superior. Ainda nos próximos anos não ganharia no estádio em jogos oficiais, perdendo por dois a zero e empatando sem gols com o Vitória nas próximas edições do campeonato. Mas seria num amistoso no dia da Queda da Bastilha em 1973 que venceria os leões da Barra por três a zero.
A primeira vitória oficial do time do almirante na nova Fonte Nova foi em três de fevereiro de 1974 no ano em que conquista seu primeiro campeonato brasileiro quando o país experimenta a chamada abertura política. No torneio empata por duas vezes com o rubro negro sem gols. No ano seguinte voltaria nas proximidades do São João para disputar seu penúltimo amistoso no estádio onde ganharia do mais querido por um à zero.  Dois meses depois empataria em dois gols com o Vitória em jogo oficial.
                                                 As aguas da Baía de Todos os Santos
Só voltaria a ganhar no campeonato carioca em 1977 surgindo aqui no ano seguinte para jogar oficialmente com a dupla BA-VI. Em abril empataria em um gol com o tricolor e, três meses depois, voltaria para ganhar do Vitória por dois a zero.  
Os anos oitenta o time do almirante voltaria á linha de frente, ganhando títulos no Rio de Janeiro em 1982,1987 e 1988, vencendo no ano imediatamente posterior o seu segundo campeonato brasileiro. A década, porém, só registra cinco partidas na Fonte Nova. O Vitória seria esmagado em maio de 1980 por cinco a zero, relembrando aas equipes do almirante no passado. Já em outubro de 1988 ganharia pelo escore mínimo. Só descontaria, porém, no próximo ano, quando os alvi negros foram campeões brasileiros, mas seriam eliminados da Copa do Brasil pelo Vitória, com direito inclusive a ganhar no Maracanã por dois a um.
Já o Bahia empataria sem gols em março de 1983 e sofreria três a zero em setembro de 1987. Mas no ano anterior, em dez de junho, os baianos veriam o último amistoso que os chamados cruzmaltinos realizariam na Fonte Nova, quando perderiam por dois a um para o esquadrão de aço.

O time do almirante que entra a nova década é um clube recuperado daquele hiato dos anos 60, e emendaria um tricampeonato carioca logo no início dos anos noventa, década onde obtém, em 1997, graças a um Edmundo inspirado, o seu terceiro campeonato brasileiro, e onde conquistaria a Taça Libertadores da América.

Quanto ao Vitória faria na Fonte Nova apenas mais duas partidas contra o Vasco, em setembro de 1990, ganhando de os a zero, e em março de 1991, perdendo pelo escore mínimo. Depois passaria a jogar no seu recém-construído estádio, o “Barradão”. Com o Bahia não seria diferente, com um empate sem gols (14.8.1994) e uma vitória tricolor por três a dois (20.11.1996).
O Vasco termina a década no auge, vencendo o MERCOSUL e o quarto Campeonato Brasileiro. Neste ano aporta no Dique do Tororó para jogar duas vezes contra o tricolor, perdendo por três a um (10.9) e empatando em três gols (25.11). Mas o ano de 2003 é que seria emblemático na relação entre o clube do almirante e os baianos. Completavam-se setenta anos desde a primeira vez que tinha vindo a Bahia. O Vasco voltava a ganhar o campeonato carioca, e, realizaria uma das maiores quantidades de partidas anuais desde a criação da Fonte Nova. Parece que o histórico almirante sabia o que ia acontecer á sua amiga Fonte Nova, embora esta não fosse tão velha.
Será que a equipe do almirante encarou as partidas oficiais com o velho clima de amistosos? O certo é que não honraria seu legado na Bahia. Foram três derrotas para o esquadrão de aço, por dois a um (23.4), três a zero (21.9) e quatro a dois (23.10).
                                                A Fonte Nova dando adeus ao almirante                                   
510 anos depois de o almirante sofrer nas costas da África um novo Cabo das tormentas lhe esperava: o rebaixamento no campeonato brasileiro. Alguns portugueses dizem que foi em solidariedade á Fonte Nova que teve em 2007 sua primeira morte quando o governo vetou a realização de jogos no estádio. O time de São Januário voltaria imediatamente á Primeira Divisão mas a Fonte Nova passaria desta para a pior, morrendo agora de morte matada.

·         Agradeço as informações de Fernando Dannemann, dos sites Recanto das letras e Futipédia, e do Almanaque do Futebol Brasileiro. Sou grato também as iamgens dos blogs embaixada-portugal-brasil.blogspot.com,radiobarrabrava.blosgpot.com,artimanha.com.br,portalsplishsplash.com e topasio1950.blogs.sapo.pt. 

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