domingo, 20 de fevereiro de 2011

A madeirada de Deus

                                                            O padre Marcelo Rossi

Em março de 1999 a cidade de Salvador completaria 450 anos. Todos os setores se movimentaram para a comemoração. Na época a prefeitura e o governo do Estado entregaram a nova Praça da Sé, com a iluminação de seus casarões históricos, a instalação de piso de mármore, a demarcação e exposição dos restos da antiga Sé Primacial do Brasil absurdamente demolida mediante um acordo entre a Igreja Católica e uma empresa canadense em 1939. Para relembrar a mesma foi erguido ali o Monumento da Cruz Caída, de autoria do artista plástico Mário Cravo Filho.
Mas me lembro de que a programação foi abundante. O arcebispo Dom Geraldo Magela dirigiu um Te Deum na Catedral Basílica, onde tocou a orquestra que costuma se apresentar na Igreja do Bonfim e cantou o coral dos monges beneditinos da Igreja de São Bento. As comemorações não poderiam deixar de comportar eventos de massa. Assim, Caetano Veloso e Maria Bethânia fizeram um show na Praça Castro Alves para umas dez a quinze mil pessoas. E algumas dezenas de milhares de pessoas compareceram ao porto da Barra onde centenas de atores encenaram a chegada de Tomé de Souza em 29 de março de 1549.
Onze anos antes de a Fonte Nova ser implodida ainda era a maior atração de massas. Assim foi i programado no estádio o maior evento das comemorações: uma missa light da Igreja Católica. O episódio foi importante para a instituição que sofria a concorrência de diversos grupos evangélicos, do surgimento de outras opções espirituais e o renascimento do candomblé.
                                                                     Oi ele aí!
A tarefa foi assumida como prioritária pelo arcebispado. Era preciso dar uma demonstração de força e encher a Fonte Nova, inclusive por ter a Igreja Universal do Reino de Deus, onze anos antes realizado ato religioso que lotou aquele lugar. No dia 23 de março de 1999 desde cedo começaram a chegar às caravanas que se deslocaram de todas as regiões do estado. O estacionamento e as cercanias do estádio encheram de ônibus. Mas os cristãos não vieram apenas do interior. Foi articulado um sistema especial com os órgãos de transporte que permitiu o deslocamento de milhares de soteropolitanos de tudo quanto é bairro para a outrora fonte do futebol que neste dia, esperava-se ser da religião.
O estádio foi sendo ocupado e, quando começou a missa, ficou quase cheio. Digo quase, pois até hoje se discute quantos ali compareceram. Tem gente que diz que foi 60.000, outros preferem 80.000, mas o certo é que, mesmo apinhado de gente, não lotou. Quem apostou que o evento seria um passeio dos políticos e autoridades “quebrou a cara”. Foi o arcebispado que dirigiu tudo colocando um enorme número de cadeiras em frente ao palco para as autoridades. Assisti a tudo pela televisão e vi que estavam todos lá. O governador, o prefeito, os secretários, representantes federais, deputados e vereadores. No entanto ninguém falou pra dar “o ar de sua graça”.

Embora as pressões costumeiras não tivessem atuado por não ser um ano eleitoral, confesso que fiquei satisfeito com a atitude da Igreja Católica não permitir que a missa se degenerasse num convescote político. No entanto não posso dizer o mesmo em relação ao espetáculo que se seguiu. Será mesmo que não é possível organizar um evento sério e reflexivo com as multidões?
Logo após a abertura o padre cantor Marcelo Rossi passou a ser o dono da noite. Ele não só cantou como apresentou os artistas convidados, e auxiliou a própria missa, para delírio da multidão que, entoava um misto de cânticos religiosos com palavras-de-ordem das torcidas. Apresentaram-se também os padres cantores Zeca e Antônio Maria.
                                               Os políticos ficaram assim, nem piaram!

Nesse dia teve Emanuelle Araújo (Banda Eva), Bel Marques, Tatau e a própria Ivete Sangalo. Esta foi autora do momento de maior galhofa quando, entusiasmada com o clima, disse que iria fazer “a madeirada de Deus”. Foi, literalmente, um dia de glória para a Fonte Nova, que além de encher as arquibancadas e gramado teve milhões de assistentes pela televisão.

·         Agradeço as informações dos sites da UOL e tribuna da Bahia e dos blogs do Marcelo e observarte.zip. net. Sou grato também as imagens dos blogs:cancaonova.com, cineperfectworld.blogspot.com,bananadanosofa.zip.net e filmesdodanilo.blogspot.com.

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