quarta-feira, 13 de abril de 2011

A vida começa aos quarenta


                                                                       Quando a prata tingir meus cabelos
                                                                       meu coração vai ser ouro                   
                                                                       num amarelo tão cintilante
                                                                      que será impossível não atingir alguém.
                                                                      Mais forte que a magia de Midas
                                                                      e, quem tocar, vai virar ouro também.
                                                                                                 (Autor desconhecido)

Tem gente que diz que a vida começa aos quarenta. Nunca fui nesta conversa, pois quando cheguei a esta idade passei a desejar ardentemente voltar à juventude, mesmo com toda a falta de experiência. No entanto, tive que “dar a mão á palmatória” para as vantagens da gente ser quarentão. Aliás, comprovei isto no próprio futebol.  
Cheguei aos trinta e sete anos no final da ditadura militar quando o Vitória voltou a ganhar o título baiano em 1985. E, há quarenta anos, vendo o EC Bahia ser campeão Brasileiro. Aos 41 e 42 presenciei o rubro negro voltar a ser “bi”, o que não ocorria há um quarto de século.
Com a Fonte Nova aconteceu coisa parecida. Inaugurada em 1951, três anos após eu nascer, ela quase acompanhou minha vida.  Já estava próxima aos quarenta quando o Bahia ganhou, de novo, um título nacional. E, aos 41 e 42 anos de nascida. Viu novamente um clube baiano participar de decisões nacionais. A primeira foi a final da Segunda Divisão em 1992, entre Vitória e Paraná, quando o rubro negro, perdeu por um a zero ficando com o vice-campeonato.
                                              Na época a Fonte Nova entrou numa academia!

A segunda foi logo no outro ano, mais uma vez com o rubro negro, que chegou novamente as finais, desta vez da Primeira Divisão, e fez jogos sensacionais com o Palmeiras. O público foi de 77. 772 torcedores na Fonte Nova, e o Vitória do técnico Fito Neves formou com Dida, Rodrigo, João Marcelo (Evandro), China e Renato Martins; Gil Sergipano, Roberto Cavalo, Paulo Isidoro (Gerônimo) e Alex Alves; Claudinho e Pichetti. O Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo atuou com Sérgio, Cláudio (Amaral), Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; Cesar Sampaio, Mazinho e Zinho; Edmundo, Edilson (Jean Carlo) e Evair.
O jogo foi decidido faltando uma dezena de minutos para o final, quando o juiz não marcou um pênalti em Pichetti e Edilson, pouco depois, entrou pela direita e calou a massa rubro negra assinalando o gol do triunfo. Poucos dias depois perdíamos de dois a zero no Morumbi quando nem deu tempo pra sonhar, pois os gols surgiram logo no início da partida.
Foi nos quarenta e três anos da Fonte Nova que ela viu um concorrente, quando nasceu o filho de sua irmã, o “Barradão”. O Vitória passava a mandar seus jogos no estádio e o nosso histórico estádio ficava desfalcado da outra perna de sustentação do futebol baiano.  Só quando havia BA-VI, e o tricolor tinha o mando de campo, é que ela “matava as saudades” do “mundaréu” de gente que batia seguidos recordes de público nos anos setenta e oitenta.
                                       Gilberto Freire se foi, pra acompanhar a Fonte Nova!

A vida começa e pode terminar também aos quarenta se não houver cuidado. A Fonte Nova quase entra em depressão. Pior ainda quando foi estava com quarenta e oito anos e teve o maior “fuzuê” num campeonato que não terminou! É que, nas finais, após o Bahia ganhar de dois a zero do Vitória na fonte do futebol, recusou-se a jogar no Barradão alegando que ali não havia condição de disputar uma final do certame.
A alegação era despropositada, particularmente pelo fato de já terem sido disputadas ali outras finais. Aliás, o tricolor nem disse isto de frente, usando um laranja no processo, o Clube de Regatas Itapagipe, que foi quem entrou com o processo. O Vitória nem conversou, deu a saída e comemorou o título por WO. Passamos anos onde cada um deles se declarava campeão. Os STJDs da vida enrolavam e não decidiam. Mas, como convém no Brasil, tudo acabou em pizza, sendo declarados pela “Justiça” os dois campeões sem sequer entrar no mérito.
Quanto á Fonte Nova, logo após sair da casa dos quarenta, em 2001, veria pela última vez o ECBahia ser campeão. A idade dos quarenta havia passado e agora foi só caminhar ladeira abaixo. Não se decidia mais título baiano na fonte do futebol, passando todos a aconteceram no estádio de seu sobrinho Barradão.  Mas a situação ainda iria piorar. É que, em 2003, o tricolor iria cair pra Segunda Divisão, acompanhado pelo rubro negro no ano seguinte. E, pouco tempo depois, ambos cairiam para a Terceira Divisão.
                                                    Até o leão já estava alquebrado!

O futebol baiano vivia a maior humilhação da sua longa história, e logo quando haviam passados a idade dos quarenta tão gloriosa da Fonte Nova. Pior que estava não poderia ficar. Mas é o que ela pensava, pois, em 25 de novembro de 2007, um desastre ocorreria no jogo Bahia e Vila Nova (GO) quando cede um trecho da arquibancada matando sete torcedores. A tragédia faz com que o governo do estado, pouco depois da confirmação da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, proíba a realização de jogos no estádio.
Nosso histórico estádio então entra inexoravelmente em depressão. Quem passou neste tempo na Ladeira da Fonte ouvia ruídos estranhos. Era a Fonte Nova chorando se lembrando dos seus tempos áureos dos quarenta anos. Sonhava com o povo voltando ao estádio e com a era de seus grandes dias e noites.
Ela não merecia este destino. Afinal, em sua infância havia sediado a decisão da I Taça Brasil ganha pelo tricolor baiano. Tinha visto Pelé, Garrincha, Zico, Falcão, Sócrates, e muitos outros craques. Tinham sido decididos ali pelo menos quarenta campeonatos baianos. Consolou-se, porém, com algumas coisas. Os Sem tetos ocuparam suas instalações nesse tempo e trouxeram certo prazer á fonte do futebol. Afinal, mesmo sem pagar, eles faziam parte do povo que tanto gostava.
                                                     Ói os sem tetos na Fonte Nova!

De vez em quando ia nadar na piscina, correr na pista, e assistir futebol de salão e lutas márcias no Ginásio Antônio Balbino (o “Balbininho”). Foi ela mesmo que propôs a SUDESB realizar o “baba do licor” dos seus funcionários na tribuna de honra. O argumento que ela usou na oportunidade foi decisivo, afinal o que estava interditado era o gramado!
Ó Fonte Nova, ela não sabia muito sobre os homens. Não acompanhou os projetos que haviam da Copa de 2014. Se ela soubesse certamente apoiaria aquele que propunha aproveitar o seu anel inferior na construção do novo estádio, e não teria gostado nado do balão de ensaio pra mudar o seu nome pra “Lulão”.
Mas a cada dia se firmava um novo projeto, o da construção de um novo estádio mantendo o mesmo nome. A Fonte Nova até que viu aquele pessoal, engenheiros, peritos e técnicos, entrarem na calada do dia e da noite, furando suas colunas e colocando um bocado de coisa ali. Aquilo lhe doeu um bocado. Será que iriam aproveitar a sua parte de baixo? No entanto não lhe disseram nada! Também, já tinha passado há muito dos quarenta anos.
                                           Sacanagem, afinal não estava tão velha assim!

Um dia, em agosto de 2010, acordou mais tarde, e viu uma algazarra tremenda em seu entorno. Os técnicos continuavam ali, mas o povo estava muito longe. Viu até uns helicópteros passando e tirando fotos. Pensou então que voltava aos seus anos quarenta, de glorias inesquecíveis. Imaginou que sua irmão ficaria com inveja, pois destronaria o Barradão. Na oportunidade ficou chateada, pois não haviam colocado sequer uma televisão para que ela pudesse apreciar o movimento.
Mas, enquanto ouvia uma musiquinha aproveitaram pra colocar tudo a baixo. Uma implosão levava aquele monumento que, durante cinquenta e nove anos, com o qual se acostumaram algumas gerações. A cidade, o estado, o país, e talvez o mundo, ficavam mais pobres, sem a nossa querida Fonte Nova.

·          Agradeço as informações do site RSSSF Brasil e de Carlos Soares. Sou grato ainda as imagens dos sites da Americanas e Adorocinema, e do blog gvpoeta.blogspot.com. 

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