segunda-feira, 2 de maio de 2011

Água para elefantes

                                          
Veja se não parece filme o que vou contar hoje. É sobre um clube que, já na idade de oitenta anos, recorda do tempo de glórias que viveu em sua juventude num circo onde era o “bambambã”.  Até o lugar é igual, o circo da Fonte Nova. Foi ali que o EC Bahia viu os maiores feitos de sua história, o heptacampeonato, dois títulos nacionais, participou de grande jogos e, até hoje, é recordista em títulos estaduais.
Mas, assim como nem tudo eram flores no circo, onde se maltratava gente e animais, houve épocas onde o Bahia foi muito maltratado. Não há melhor ocasião pra recordar desse tempo do que hoje, quando o clube faz outro aniversário, dez anos sem ganhar títulos baianos. Ontem mesmo teve velinha e tudo no Barradão.
O que o senhor Jacob Jankovski recorda tem semelhanças com o ano de 1967 quando o clube já tinha cinco anos sem ganhar nada e a FBF fez de tudo pra acabar com o jejum. Nesse ano, aliás, a fonte do futebol virou quase um patrimônio privado. Pra vocês terem uma ideia só houve três dias onde jogaram clubes sem haver o tricolor na programação.
                            Vejam como parece o antigo portão da ladeira da Fonte das Pedras!

O campeonato do ano anterior tinha se atrasado devido a grande crise no futebol baiano que só se resolveu no fim do ano. Assim, o segundo turno só começou na véspera do Natal e entrou pelo ano de 1967 adentro. Tinha jogo todo dia, mas a FBF deu um jeito de encaixar um amistoso do Bahia em 12 de fevereiro contra o Bangu pra “treinar” o time. Só que se deu mal, a turma de Moça Bonita faturou pelo escore mínimo.
O time estava bem no segundo turno, mas precisava de mais jogos-treinos. Aí a federação arranjou outro amistoso. Era um momento importante e o tricolor estava embalado. E adversário então foi meticulosamente escolhido, o Comercial de Ribeirão Preto, que há mais de quarenta anos não vinha a Salvador e estava mal das pernas. Mas na hora do jogo... o esquadrão “broxou” perdendo de dois a um.
Ai a federação teve que arranjar outro jogo as pressas para dar tempo do Bahia ganhar o turno. Na ocasião, porém, só quem aceitou fazer foi o Leônico, o que fez com que o tricolor entrasse “com tudo” pra retornar ao embalo. Mas, qual, sofreu nova derrota, desta vez por três a dois.
                                                  Pô, mas que malvadeza com o elefante!

A emenda saíra pior que o soneto e o Bahia desceu a ladeira do certame, assistindo o Leônico ganhar o segundo turno, e, mais tarde, o próprio campeonato, numa decisão contra o Vitória. Seu único consolo naqueles dias foi o fato de que seu arquirrival não ficou com o título. Mas a torcida não se deixou enganar. Até o Leônico ganhava a taça. Quando voltariam a ver isto acontecer com o Bahia?
Depois do campeonato a FBF tentou soerguer o tricolor. Ao invés de convidar Vitória e Leônico pra comemorar o Dia de Tiradentes preferiu chamar o Bahia e colocou para enfrenta-lo um time que foi mal no campeonato, o Ypiranga. A escarmentada torcida tricolor que compareceu viu, porém, o mais querido dar uma “lavagem” de cinco a três no ex-esquadrão de aço! Estava demais a situação.
Mas, uma semana depois, os dirigentes descobriram a fórmula de dar uma taça pro Bahia. Organizaram um torneio e convidaram, além da dupla BA-VI e do Leônico, o Clube do Remo do Pará. Não era possível que as coisas dessem errado, pois nunca mais um clube paraense tinha jogado na Fonte Nova e certamente iria estranhar o gramado.
                                                           Vá levar agua pra esse!

No dia 27 de abril, pra não haver surpresas, o Remo jogou na preliminar contra o Leônico, ficando o clássico pro jogo de fundo. O Remo, porém, foi logo derrotando o campeão baiano pelo escore mínimo deixando a dupla se engalfinhar e ter que decidir nos pênaltis a vaga. Os atacantes estavam tão mal que não sairia gol nem que jogassem uma semana.
Três dias depois os clubes voltaram a campo pra encerrar o torneio. A imprensa fez o maior “enxame”. Ia sair naquele dia o título tricolor. A FBF comprou uma bela taça e o dirigente Osório Vilas Boas chegou até a chorar pensando onde colocaria o troféu na já embolorada sala da sua sede.
Mas, quando começou o jogo o Remo surpreendeu. Seus barcos atracaram firme no Dique do Tororó e desembarcaram no estádio enfrentando o tricolor com galhardia derrotando-o por dois páreos a um. Nessa regata aí foi Remo na cabeça. Se ainda fosse o Vitória que nestas coisas é decano!
                                                    O elefante no Dique do Tororó!

Mas a FBF não se rendeu perante o fracasso, passando a organizar mais um torneio. Uma semana depois os times entraram em campo. Os baianos eram os mesmos. Mas o “estrangeiro” desta vez era o conhecido Náutico que já tinha perdido aqui por diversas vezes. Não é possível que fosse dar errado!
Desta vez não houve BA-VI inicial e colocaram o Vitória para enfrentar o visitante. Enquanto isso o Bahia derrotava o Leônico (2 X 1) na preliminar que já estava dando sinais de declínio. O mesmo escore, porém, se repetiu na partida principal, deste vez a favor do clube timbu pernambucano.
O dia 12 de maio de 1967 prometia ser uma data histórica, na qual o Bahia se reencontraria com os troféus. Convocaram a torcida, os políticos, veio toda a imprensa. Na preliminar o Vitória continuou8 a sua sina de perder pro moleque grená: dois a um. Aí chegou o ansiado jogo de fundo. O tricolor foi com tudo. Seu ataque teve insinuante e dominou a partida durante vários momentos fazendo dois gols.
                                                     Oi eles dois na sede do Bahia!

No entanto não contava com uma linha atacante sensacional que marcou época em Pernambuco, Nado, Bita, Nino e Lala, que fizeram três e levaram a taça pra Recife. Era demais e a torcida foi embora jurando não voltar mais. Tinha gente que saiu de lá direto para um terreiro pra fazer trabalho pro tricolor voltar a ser campeão de alguma coisa.
A saída da FBF foi começar o novo campeonato. Mas, nas primeiras rodadas o Galícia começou a ganhar de todo mundo. Aí, em setembro, a federação atacou de novo, organizando novo torneio. Como a torcida já estava chateada com as “armações” com os times do Norte e Nordeste teve que convidar o Flamengo, certificando-se antes que vinha mal das pernas.
Mas como o Flamengo só tinha duas datas tiveram que armar um torneio estapafúrdio. No dia 24 de setembro as equipes entraram em campo. O Bahia se safou de enfrentar o invicto Galícia e o famoso Flamengo empurrando-os para a preliminar. Enquanto isso fazia o clássico no jogo principal. O Flamengo derrotou o azulino num jogo disputado por dois a um. O rubro negro baiano, no entanto, surpreendeu ganhando do tricolor por dois a um.
                                                            Ôpa, é elefante meu filho!

Bem, agora os dois rubro-negros iriam decidir o título, certo? Errado, pois vocês esqueceram que estão na Bahia. O derrotado Bahia foi jogar com o vitorioso Flamengo e o Vitória vencedor com o Galícia perdedor. E o pior é que todo mundo podia ser campeão deste “torneio”, bastava ganhar a sua partida por dois gols de diferença. Durma-se com um barulho destes!
Mas a situação ficou complicado, pois o Vitória despachou o azulino na preliminar. Aí a responsabilidade toda ficou nas costas do Bahia. Se empatasse ou ganhasse seu arquirrival ficava com a taça. Nesse dia foi um verdadeiro sofrimento para Osório. É que, apesar da torcida tricolor ficar o tempo todo gritando.
- Entrega, entrega!
o Bahia acabou honrando suas tradições e ganhou do rubro negro carioca pelo escore mínimo.  A taça ficava em mãos baianas, mas não nas do Bahia.
                                            Mas esses fâs beijam até a tromba do estádio!

Os tricolores passaram festas de fim de ano acompanhando o time que melhorara no segundo turno. No ano seguinte ficaria empatado com, logo quem, o Galícia. Mas aí entraram forças “sobrenaturais”. É que Osório convenceu o presidente do Galícia Aurélio Viana a fazer quatro jogos e ganharem dinheiro.
O resultado todo mundo saber. O Bahia levou o segundo turno e acabou ficando com a taça contando com a “falta de saco” de Armando Marques que não quis na finalíssima dar um pênalti pro Galícia no fim do jogo. Foi assim que acabou o jejum de Jankovski, digo do Bahia.

·      Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro,cinema.uol.com.br,circoev.com,hojenocinema.com e sextante.com.br.

Nenhum comentário:

Postar um comentário