domingo, 1 de maio de 2011

Thor e a Fonte Nova

                                                            Vejam como é tricolor!

Atualmente está em moda fazer filmes sobre Thor um dos deuses antigos que povoava o chamado paganismo germânico.  Mas quem faz isso é um bando de imitadores, pois muito antes de ficar famoso na mídia, nos videogames e em Hollywood Thor este na Bahia. Mas é claro que apareceu discretamente. Não veio com sua carruagem cujas rodas provocavam trovões. É que seu pai Odin não lhe permitiu que usasse o cinturão e martelo mágicos. Era muita coisa pra Bahia.
Mas não conseguiu disfarçar que era ele mesmo. Os torcedores que conheciam de mitologia logo “sacaram”.  Era muito alto, tinha barba, cabelos vermelhos e um indômito espírito guerreiro. Mesmo com a proibição acabou vindo com suas luvas de ferro e com sua filha Sif, deusa da colheita, fruto de um de seus casamentos.
Mas, a essa altura, vocês estão imaginando como é que eu posso ter toda essa certeza de que Thor esteve aqui. Bem, em primeiro lugar, vocês deviam saber que a Bahia é a terra dos deuses. Aqui é a morada de todos os orixás, que inclusive estão ali no Dique do Tororó. E é lugar de todos os cultos e simpatias, dos católicos às testemunhas de Jeová, dos adventistas, aos adeptos da seicho-no-ie.

                                                          Pô, esse é Hulk, e feio de dar dó!

Já se convenceram, ou querem mais? Oh turma de descrentes! Está bem, vou mostrar. “Tá” certo que o Thor que apareceu por aqui não parecia o da mitologia, mas o do filme também é uma adaptação. Mas pode conferir. Em 1963 o EC Bahia se tornou arrogante. Passou a “se achar”.  Suas glórias lhe subiram á cabeça. Começou o ano conquistando o inédito título de pentacampeão baiano e decidindo a V Taça Brasil, a terceira vez que chegava a uma final nacional.
O clube já contava em seu currículo com duas excursões á Europa (1957 e 1960) onde havia obtido resultados notáveis como aqueles contra a Seleção da Holanda (2 X 0), o Bayern Munich (6 X 1) e o Milan (1 X 1). Em 1961 não tinha perdido nenhum amistoso na Fonte Nova. Ninguém mais queria andar com Biriba, Marito, Nadinho e Cia já se achavam na própria constelação de deuses. Já tinha ocorrido intervenção divina nas duas últimas “taças brasis” pra baixar um pouco a bola de Thor, quando os deuses preferiram que o título fosse pra Vila Belmiro, mas não adiantou!
Assim, seus próprios pais Odin (o Baiano de Tênis) e Jord (a Associação Athlética) tiraram de Thor o martelo e a carruagem e o mandaram em abril daquele ano pra viver entre os mais simples clubes mortais. E assim voltou a aprender o valor da simplicidade acabando por se transformar num herói popular e derrotando as forças alienígenas que vieram invadir o planeta Bahia.
               
                                            Não teve fâ clube de Thor que aguentasse!

Mas jogaram “duro” com o pobre do Thor. A primeira coisa foi providenciar um “grande” amistoso pra marcar a nova fase de Thor, contra o Grêmio de Alagoinhas (você já ouviu falar?). O deus-clube não disse nada, mas ficou p. da vida. Não teve como animar seus jogadores que esperaram até o fim o tal do martelo e nada, zero a zero.
Mas Thor tinha seus esquemas e conseguiu enganar o pai trazendo, três semanas depois, o Palmeiras pra jogar na Fonte Nova pra comemorar o dia consagrado a outro herói, Tiradentes, e conseguiu um bom empate em um gol. Dizem que o céu tremeu na ocasião. Que Odin quase fica doente, afinal o céu não pode ser igual ao Brasil, ali lei é pra se cumprir.
Assim, obrigou a diretoria do alvi verde a uma revanche com o clube de Thor. Eu me lembro porque foi o dia do meu aniversário de quinze anos, 24 de abril, e recebi na ocasião um verdadeiro presente dos céus, com o porco arrasando o Bahia por cinco a zero.

                            Olhem a cara do Thor "derrubado" que veio pro Dique do Tororó!

Depois dali Thor baixaria de vez a cabeça. A comemoração do Dia do Trabalho seria feita numa rodada dupla “muito interessante”, Bahia X Leônico e Vitória X Galícia. Thor seria obrigado a jogar na preliminar e ainda perderia por três a dois! Era demais pro orgulho do deus-clube que ia ficando cada vez mais abatido.
A partir do episódio com o porco não marcou mais amistosos limitando-se a comparecer a aqueles que a FBDT organizava. Em sete de junho foi chamado de novo pra um amistoso, desta vez com. o Confiança de Sergipe! Na ocasião, o deus-campeão penou pra conseguir ganhar pelo escore mínimo dos sergipanos. Doze dias depois estava de novo na fonte do futebol, desta vez enfrentava um adversário mais categorizado, o América do Rio de Janeiro. Mas, o Deus-clube esteve irreconhecível não dando nem pra melar, perdendo de um a zero.
O sofrimento de Thor continuou em agosto, quando foram marcadas partidas contra o Galícia e o arquirrival Vitória. No dia 22 passaria a vergonha de perder pro time da colônia espanhola que já há muitos anos não ganhava títulos por dois a um. E, três dias depois, perderia seu primeiro clássico contra o rubro negro pelo escore mínimo. A chateação da torcida ia as raias do inimaginável, não aliviando nem com a vitória contra o mesmo Galícia (2 X 1).
                                                Ah, bem que Thor se aproveitou na Bahia!

Os torcedores perguntavam: mas cadê o jovem Thor? Onde está seu orgulho, sua carruagem, seu cinto, seu martelo e seus raios flamejantes? Onde estão suas vitórias que não cansamos de apreciar e, por isso, demos ao clube o nome de um herói das revistas de quadrinhos: o Superman?  Chegaram até a pedir a intermediação de sua filha Sif, mas ela “sifu”.
Mas vingança de Deus é fogo, e o Bahia continuou a cumprir sua triste sina. Naquele ano, enquanto o Ypiranga trazia o Vasco da Gama (e o derrotaria por um a zero), o time de Thor seria obrigado a jogar mais uma vez com o famoso Grêmio de Alagoinhas, desta vez vencendo por dois a um. O ano se encerraria em matéria de amistosos pro Bahia com novo clássico em quinze de outubro, novamente com a derrota de um a zero.
Thor seria afastado dos céus durante muito tempo. A Taça Brasil terminou e não viu mais seu clube ganhar nada. Aliás, no ano seguinte perderia o “hexa” para um clube do interior do estado, o Fluminense de Feira de Santana. Depois disso só fez “ralar”, apreciando o Vitória encaixar um bicampeonato e até o Leônico ganhar um título!

                                                   Aqui no candomblé tem coisa melhor!

Depois disso criaram o campeonato brasileiro e os alienígenas começaram a invadir todos os estados. Aí Odin achou que a punição foi suficiente e reabilitou o Deus-clube. Tinha acabado a soberba de Thor que voltaria a ser um deus como outro qualquer. Devolveu-lhe o espírito guerreiro, o cinturão e o martelo. Só não lhe devolveu a carruagem, também nem precisava.
Não precisa nem dizer o que aconteceu. O Bahia foi vice do Torneio do Povo, fez algumas boas campanhas nos campeonatos brasileiros e voltou a desfrutar da hegemonia no futebol baiano onde faturaria na década de setenta um título muito melhor que o “hexa” perdido em 1963. Thor agora era um herói popular e levava dezenas de milhares de torcedores á Fonte Nova, e foi ali que voltaria ao Olimpo com a conquista de um título nacional em 1988. Contam que depois ficaria vaidoso e seria exoulso novamente do céu. Mas isso é motivo de outro filme...

·         Agradeço as informações do Almanaque do Futebol Brasileiro e dos sites Wikipédia e Filmes de cinema. Sou grato ainda as imagens dos blogs imagengratis.com.br,nativas.r7.com,mortesubita.org e elo7.com.br.

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