quarta-feira, 4 de maio de 2011

Manual de sobrevivência de um Nerd

                          
Os anos setenta foram anos marcados. A construção do anel superior da Fonte Nova e a entrada da dupla BA-VI no recém-criado campeonato brasileiro tinha posto o futebol baiano na berlinda. Clubes tradicionais como o Ypiranga, o Galícia e o Botafogo, (que juntos detinham vinte e dois títulos), antigos como o Guarany, o São Cristóvão e o Leônico, e pequenos como o Palestra, o SMTC, o Redenção e a ABB, passaram a enfrentar dias difíceis.
O cenário deu origem a um fenômeno, fazendo com que a tradicional frente “anti - Bahia” aderisse ao Vitória, o único clube apto a enfrentar a avassaladora hegemonia tricolor daqueles anos. Mas como os demais clubes poderiam sobreviver a tal situação. Primeiro, se tentou recorrer á FBF, esperando que sendo a maioria dos votos pudessem utilizá-la em seu socorro.
O engano custou tempo e dinheiro. É que cedo a nova FBF foi mostrando que fazia o jogo dos grandes clubes e que os seus dirigentes somente se sustentavam com o apoio da dupla BA-VI. O máximo a que esta se permitiu foi ampliar o tempo dos campeonatos estaduais e autorizar as costumeiras datas para amistosos na Fonte Nova. 
                                  Esse é um Nerd pintor!

Mas, mesmo estas “concessões” logo se mostraram inúteis. O futebol brasileiro caminhava para a ditadura do calendário nacional que foi aos poucos submetendo todos os estados reduzindo cada vez mais os certames locais. Chegaria ao ponto do campeonato baiano ser jogado em apenas três meses deixando os demais clubes numa situação aflitiva no resto do ano.
Quanto aos amistosos da Fonte Nova eram ilusórios. Uma coisa era ter datas quando a Fonte Nova só tinha a parte de baixo e havia grande equilíbrio entre os clubes. Outra coisa era gastar dinheiro trazendo clubes de fora quando não se tinha torcida para cobrir os custos. Quem quiser se dar ao trabalho de fazer uma pesquisa verá que, na década de setenta, houve apenas onze jogos amistosos na Fonte Nova sem envolver Bahia ou Vitória.
Mas os clubes tradicionais aprenderam a sobreviver as duras penas. O período veria o desaparecimento do SMTC, do Guarany, e do São Cristóvão. Mais tarde ocorreria o mesmo com o Palestra, o Botafogo, a ABB e o Redenção. Por fim, o processo de “profissionalização" do futebol baiano atingiria Leônico, Ypiranga e Galícia.

               É o Nerd que torce pra volta de Ronaldo na seleção!
Meu artigo de hoje é uma homenagem aos dirigentes, funcionários e jogadores desses clubes que resistiram muitos anos mesmo com todas as ondas contra a sua sobrevivência. É certo que alguns desapareceram, mas outros estão aí até hoje, a exemplo do Botafogo, Galícia e Ypiranga que lutam na Segunda Divisão. Destaque-se o último que “virou” o primeiro turno desse certame em primeiro lugar em seu grupo ensaiando voltar para o palco principal do futebol baiano onde o mais querido teve uma história gloriosa.
Mas como eles conseguiram esta façanha? Um dia, quando o futebol voltar a ser um prazer, e sua lógica deixar de ser a do capital, virá a público o seu manual de sobrevivência. Hoje só podemos dar algumas pistas. Naquele tempo passou a ser comum os ofícios dos clubes tradicionais solicitando dispensa de taxas em sues jogos amistosos. Passaram a garantir “cota fixa” quando jogavam nas preliminares da dupla BA-VI.
Alguns se mudaram para o interior, como o Leônico e Botafogo, sendo adotados por prefeituras. Passaram a ocupar suas equipes na “entressafra” com excursões ao interior. Reestruturaram seus departamentos de futebol passando a dar peso nas divisões de base apostando na “prata da casa” ao invés das tradicionais contratações de “medalhões” do Sul do país ou de jogadores veteranos locais fora de sua realidade salarial.
                Pô pra gostar de uma coisa destas tem que ser Nerd!

É claro que todas essas mudanças enfraqueceram seu desempenho nos certames baianos. Grandes clubes de outrora como Ypiranga, Galícia e Botafogo passaram por situações vexatórias chegando, por várias vezes, a namorar com os últimos lugares, e a uma gangorra entre a Primeira e Segunda Divisões. Mas, por outro lado, as providências foram responsáveis pela sua sobrevivência durante quatro décadas.
Encerro este artigo com todos os jogos amistosos realizados na Fonte Nova sem a dupla BA-VI nesta época de luta pela sobrevivência e realizados mesmo com todas as dificuldades.
11/8/1971 – Ypiranga 1 X 0 Leônico
26/5/1974 - Botafogo 0 X 0 América (PE)
16/2/1975 – Botafogo 3 X 3 XIII de Campinas (PB)
                         Os Nerds chegaram até á presidência!

11/6/1975 – Ypiranga 0 X 1 Vasco da Gama
7//11/1976 – Ypiranga 1 X 1 Sport
28//11/1976 – Ypiranga 1 X 1 Volta Redonda
11/12/1976 – Ypiranga 2 X 0 Confiança (SE)
26/2/1978 – Ypiranga 1 X 0 Redenção
5/3/1978 – Ypiranga 1 X 0 Leônico
12/3/1978 – Galícia 1 X 0 Leônico
16/12/1979 – Leônico 0 X 1 Fluminense (RJ)
6/2/1980 - Leônico 2 X 0 ABB

·         Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro e dementia.pt, aninhagoulart.blogspot.com e welcarefulshow.blogspot.com.

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