segunda-feira, 9 de maio de 2011

Nos tempos da brilhantina

                                    
                
                                             Mas como ficava bonitinho... o cabelo!

Nos anos cinquenta houve muita gente que usou brilhantina pra fixar os cabelos. Era uma pomada que, além de outros ingredientes, levava parafina. Funcionava como um gel, mas oleoso, deixando os cabelos brilhantes e compostos sem precisar ficar penteando. Eu nunca usei, mas muita gente não saía sem ela nesta década, que foi o auge da moda de sua utilização.
Lembro-me de que cantores do rock como Elvis Presley faziam topetes nos cabelos que eram muito imitados. O produto marcou tanto o visual daqueles anos que se passou a adotar o seu nome para lembrar-se da década, como os ”tempos da brilhantina”.
A relação entre clube baianos e pernambucanos se desenvolveu exatamente nesses tempos. É claro que já tinham existido jogos anteriores. Aliás, desses os anos vinte isso começou a acontecer. Alguns times pernambucanos posteriormente passaram pelo campo da Graça, mas, a primeira excursão mais significativa ocorreu no final dos anos trinta.  
                                                          Olhem o cabelo do Juvenal!

Estávamos no Estado Novo quando a Bahia foi governada por interventores e a guerra começava na Europa. Foi nessa época que o Sport desembarcou em Salvador pela primeira vez. Mas se deu muito mal. No dia três de setembro de 1939 apanhou feio do Vitória por seis a dois. E, cinco dias depois, caía perante o Ypiranga por cinco a um. Só conseguiu um empate com o Galícia (1 X 1) pelo fato dos granadeiros estarem vivendo uma má fase tão grande que faria com que perdesse para o mais querido, no mês anterior, por nove a um!
Depois dele vieram o Náutico, o Santa Cruz e o América pernambucanos, mas o Sport só voltaria de novo nos tempos da brilhantina. Ele abriu a década numa Salvador que se despedia do velho campo da Graça. Veio em março de 1950 e teve altos e baixos. Começou com os baixos, exatamente contra seu último adversário de onze anos antes, o clube da colônia espanhola, quando caiu no dia 19 por quatro a zero.
Os poucos dirigentes da época imaginaram então que a equipe iria repetir a vergonha do passado, mas eram novos tempos, e o Sport mostrou isso ao vencer o Vitória (23 de março) por três a um, e ao empatar com o então tetracampeão EC Bahia (2 de abril) em dois gols. A delegação rubro negra pernambucana saiu da Bahia com o maior topete.
                                                             Se lembram do twist?

Foi nos tempos da brilhantina que se realizaram os torneios Bahia - Pernambuco. Em 1952 realizou-se a segunda Copa dos Campeões do Norte e Nordeste em Recife. A primeira havia ocorrido em 1948 e o Bahia havia se sagrado campeão derrotando o Santa Cruz no estado vizinho pelo escore mínimo. Mas nessa segunda, o Ypiranga foi eliminado nas quartas de final pelo Tuna Luso (PA) que não resistiu ao Náutico na final apanhando por cinco a um.
Em 1956, porém, teria um torneio restrito a Bahia e Pernambuco que foi ganho pelo Santa Cruz, que se desforrou do Bahia deixando-o desta vez com o vice. Na ocasião foram realizados inúmeros jogos entre os clubes dos dois estados que, se aprofundaram a rivalidade regional, por outro, desenvolveram importante intercâmbio entre os dois estados, o maior visto até então, e que ocorreu nos tempos da brilhantina.
O processo iria se aprofundar a partir de 1959 quando uma Taça Brasil dividida por chaves regionais deu margem a existência de campeões do grupo Nordeste da Zona Norte do certame. E, quando esta terminou em 1968, criaram o Torneio Norte-Nordeste que também tinha campeões do grupo Nordeste. Tudo isso era motivo para jogarem baianos e pernambucanos na época de maior intercâmbio de sua história esportiva. Mas em 1970 esta clivagem acabou substituída pelo nascente campeonato brasileiro.
                                                                Até Juscelino passava!

Os primeiros clubes pernambucanos a pisarem na Fonte Nova foram o Sport e o América num torneio que aqui se jogou em julho de 1953. Não sei até onde pesou no seu convite o desastre de quatro meses antes quando a dupla BA-VI foi arrasada pela dupla Flamengo e Internacional. Assim, a coisa ficou mesmo pela região.
O certame foi comemorativo á data magna da independência na Bahia e teve Bahia X América e Vitória X Sport. Ambos os jogos seriam muito disputados, acabando o do tricolor em um empate por três gols, enquanto o rubro negro baiano ganhava do pernambucano por dois a zero.
Três dias depois voltaram a campo de novo, ficando desta vez o Vitória empatado com o América (1 X 1) enquanto o tricolor impunha ao Sport mais uma derrota, agora pelo largo escore de quatro a um. Foram para a última rodada com todos tendo chances de levar a taça. Mas, na preliminar o América perdeu a chance, ao obter o seu terceiro empate, desta vez com o Sport, por dois gols.
                                 Saramago deixou anotações de um livro sobre a brilhantina! 

O torneio, que antecipou o Bahia-Pernambuco, seria então decidido pela dupla BA-VI. E honraram a responsabilidade. Foi um grande jogo, com ambos colocando o que de melhor tinham em campo. Ao final, o Bahia sairia com mais uma taça, a segunda obtida num torneio interestadual, ao derrotar o seu arquirrival por três a dois.
Em 1956 ocorreria a maior concentração de jogos entre clubes dos dois estados. O certame desenrolou-se entre janeiro e março e foi uma articulação de dirigente da federação pernambucana. Diferentemente do que ocorreu em 1948 e 1952 as partidas ocorreriam simultaneamente nas duas capitais. A abertura ocorreu no dia seis de janeiro com uma vitória sensacional do Botafogo baiano contra o América (PE) por cinco a zero dando a nítida impressão de superioridade baiana. Mas o engano iria ser reparado dois dias depois com o empate do mesmo clube com o Bahia em dois gols.
No dia quinze de janeiro houve uma rodada dupla na Fonte Nova. Na preliminar Bahia e Botafogo jogaram o famoso “clássico do pote” vencido pelo primeiro por dois a um, enquanto os leões da barra eram abatidos pelo leão da Ilha por três a dois. Aí ficou claro que os baianos tinham cortado o “baralho errado”.
                                                           Ave Maria, que topete!

Novas rodadas duplas se seguiriam. A do dia 22 colocaram frente a frente Bahia X Galícia e o Botafogo contra o Náutico, apresentando nova vitória do tricolor (3 X 1) e um resultado convincente do alvi rubro baiano por quatro a dois. No domingo seguinte foi a vez de do Botafogo colher outro resultado auspicioso contra o Vitória (4 X 2) enquanto o Galícia perdia para o Santa Cruz pelo escore mínimo.
Segue-se no dia 19 de fevereiro a vitória dos granadeiros contra o Sport (3 X 1) na preliminar do maior clássico baiano ganho pelo Vitória por um a zero. E, na véspera do carnaval, o azulino continuaria se recuperando ganhando do Botafogo (3 X 1) enquanto empatariam Vitória e Náutico (1 X 1).
O certame continuaria após a maior festa da Bahia com nova rodada dupla, onde o tricolor empataria com o Náutico (2 X 2) e o Galícia derrotaria o América (3 X 2). Depois disto começaria o returno com o Bahia se desforrando do seu arquirrival vencendo-o, em jogo isolado, por três a dois. Os jogos finais se desenvolveriam em Recife e onde o Santa Cruz asseguraria o título da competição, ficando o tricolor baiano em segundo.
                                           Que é isso? Quer passar também brilhantina?

No ano seguinte o Sport voltaria por duas vezes à Bahia jogando com a dupla BA-VI. A primeira foi em 16 de agosto, quando derrotou o tricolor por dois a um. Já a segunda se deu em 26 de novembro, resultando em empate em um gol entre rubro negros baiano e pernambucano. Já eram comum os enfrentamentos entre os dois estados.
Na mesma época, no dia dos finados de 1958 o Sport aportou aqui para jogar contra o tricolor baiano. Nesse dia teve de tudo, correntes, alma penadas, assombrações, e as equipes não conseguiriam tirar o zero do placar. Pegou tão mal que resolveram marcar uma revanche pra dez dias depois, quando o tricolor, que voltaria a conquistar o título baiano, venceria por dois a zero.
Mas dois meses e o leão da Ilha do retiro estaria de novo na Fonte Nova. Era um ano de ouro para o futebol pernambucano aonde chegaria a final do campeonato brasileiro de seleções quando ficaria com o vice após perder para uma endemoninhada seleção paulista que aplicaria sete a um nos baianos no estádio do Pacaembu.
                                                                  Ah que saudade!

O futebol baiano vivia uma nova crise política com um coronel á frente da federação. Na ocasião, o Sport passaria uma semana em Salvador. Estreou em 16 de janeiro batendo o vice-campeão local, o EC Vitória, por dois a zero, e depois jogou duas partidas contra o Bahia, empatando duas vezes, por dois e por um gol.
Mas o último grande jogo entre os dois estados nos tempos da brilhantina aconteceria neste ano pela recém-criada Taça Brasil quando o Bahia encontraria o Sport em seu caminho e, embora perdendo de inesquecíveis seis a zero na Ilha, passaria com duas vitórias e chegaria ao título.
Os anos da brilhantina começavam a se esfumar. O pessoal ainda continuaria usando a pomada no cabelo, pelo menos até os anos setenta, mas assim como o hábito foi aos poucos caindo de moda, foi se reduzindo o intercâmbio entre baianos e pernambucanos. Em 1960 viriam aqui o Náutico e o Sport, em 1961 os três grandes, mas, no ano seguinte, só o Sport, chegando a uma situação de não haver jogos entre os dois estados na Fonte Nova nos anos de 1963 e 1964.
                                                                 Dava um trabalho...

O Vitória só encontraria o Náutico em 1965 tropeçando perante a máquina mortífera que tinha um ataque formado por Nado, Bita, Nino e Lala. O clube timbu jogaria também contra o tricolor baiano. No ano seguinte, em nova crise do futebol baiano, Sport e Náutico aqui comparecem e triunfam contra o esquadrão de aço. E, o segundo chegaria a conquistar um torneio em Salvador em maio de 1967.
Depois disto rareariam. O próprio Náutico viria no ano seguinte, e só voltaria em 1971, 1972, 1974 e 1985, quando nem se falava mais em brilhantina. Quanto ao clube coral apareceria em 1969 e, depois, em 1972. O Sport jogaria na Graça em 1970 para só retornar em 1976 e em 1985.

                                    Elvis e Ann Margret procurando brincadeira na Praça da Sé!

Como dissemos, estávamos vivendo uma época de jogos oficiais. Tinham ficado definitivamente para trás os grandes torneios e jogos amistosos envolvendo baianos e pernambucanos, que coincidiu com os tempos da brilhantina.

·        Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro, o site RSSSF Brasil, estacao1.blogspot.com,3jpcult.blogspot.com,minhapaixaoporfilmess.blogspot.com e cinema10.com.br.

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