terça-feira, 19 de julho de 2011

Estranhos normais

     
             
O diretor Gabriele Salvatore lançou novo filme nas telinhas. É a comédia traduzida no Brasil com o nome de Estranhos normais embora em italiano tenha a denominação irônica de “família feliz”. No elenco estão Fabrizio Bentivoglio, Margherita Buy, Fabio de Luigi e Valéria Bilello. Quem acha que os nossos adolescentes perderam o juízo deve ver o filme pra ver que o pessoal da nossa geração é muito pior.
Mas na Bahia, a terra mais criativa do universo, tudo isso é plágio. Muita gente estranha já apareceu por aqui, a começar por Cabral que pensou que aqui era a Índia, e continuou pelo impoluto governador Mem de Sá que matou tantos “selvagens” que se colocasse um ao lado do outro cobria a estrada Salvador-Ilhéus. E o que dizer dos malvados que comeram, o bispo Sardinha. Deve ter sido coisa dos antepassados de Joel Santana.
                                            As orientações de Geninho não são estranhas?

Esquisitos foram ainda Caramuru, Dom João, O general Labatut e o Conde dos Arcos, mas isso não atrapalhou em nada que tivessem um lugar na história. É por isso que se são estranhos, estão dentro da normalidade do padrão da política. Quanto ao futebol baiano sempre teve gente estranha, que fez as maiores loucuras pra ficar em evidência, leia-se no poder, e ganhar a qualquer preço.  Nesse pequeno espaço do meu blog só posso dar mesmo alguns exemplos, e só da década de trinta. Nem vou perder tempo com as “raposas” e “lalaus” do nosso futebol.
O Andaraí foi realmente um visitante carioca estranho. Imaginem que já haviam passado pela Bahia Botafogo, São Cristóvão, Flamengo, Bangu, América e Vasco da Gama, e todos encheram os campos do Rio Vermelho e da Graça de gols. Não dava nem graça neste tempo jogar com os cariocas. Era surra de cipó de aroeira.
                            E a estranheza do Capitão América dando autógrafos no Iguatemi? 

Mas aí chegou o louco Andaraí. Mais parecia coisa de Gabriele Salvatore. É que foi mesmo salvador para os baianos. Chegou aqui em janeiro de 1933 e sua estreia foi contra o alvirrubro apanhando por dois a um. Depois prometeu recuperação contra o recém fundado Bahia, mas qual, perdeu também por três a zero.
Aí pediu pra jogar contra o poderoso Ypiranga. Era ou vai ou racha. E não é que conseguiu um empate em três gols? Os diretores do clube então foram aos jornais dizer que haviam estranhado o campo da Graça e que a partir de agora ia ser normal. Pediram então revanches contra Ypiranga e Botafogo, e atreveram-se até a enfrentar a seleção baiana. Mas passaram uma vergonha desgraçada, pois perderam todas, do auri negro (0 X 2), dos diabos rubros (3 X 4) e do selecionado (1 X 2).Carioca deste jeito os baianos nunca viram.
                                              E que é que vocês me dizem de Lady Gaga! 

Outro clube muito estranho foi o Bandeirantes (alguém já ouviu falar?). Olhem que antes dele os paulistas só chegavam aqui a passeio. O primeiro que chegou por aqui foi o Comercial em 1920 vencendo a seleção baiana. Depois dele veio o Santos, que massacrou a todos. O Bandeirantes chegou aqui em outubro de 1933 e gostou tanto que passou mais de um mês na Bahia.
Mas dava pra ver que não era por causa do futebol. Deve ter andado muito no Tabuão fazendo compras e nas “casas alegres” da cidade. Na Graça mesmo arranjou pouco. Estreou tomando de quatro a três do Ypiranga só conseguindo ganhar na segunda partida, para o Botafogo (4 X 1). Aí empatou com o Dois de Julho (sic!).
                                       Ah, naquele tempo não tinha nem o Lanterna Verde!

Como havia melhorado o rendimento os dirigentes marcaram partidas com o Bahia e a própria seleção baiana, a primeira perdida pelos paulistas pelo escore mínimo, e a segunda obtendo um heroico empate em cinco gols. Até aí era uma boa campanha mas o clube insistiu em continuar. Assim, perdeu pro Vitória (2 X 4) e venceu o combinado Fluminense-Guarany (4 X 3). Quando já tinha enfrentado todo mundo teimou em conceder revanches, empatando novamente com o Dois de Julho (0 X 0), e desabando de vez contra a Seleção baiana (1 X 6) e o Ypiranga (1 X 4).
Um estranho Vasco da Gama veio á Bahia em abril de 1936 quando Hitler se fingia de maluco. A partida de estreia foi contra o Vitória, que já não ganhava títulos fazia 27 anos e vivia de taças de torneio inícios e segundos quadros. Naquele dia não teve apostador que acertasse no escore, quatro a um para os baianos. Mas depois disso o time do almirante endoidou levando todo mundo que achou pelo caminho, o Botafogo (3 X 2), o Bahia (4 X 1) e o Galícia (2 x 0). Durma-se com um barulho desses!
                                               A gripe matava, e nem se chamava Palocci!

O estranho Corinthians chegou neste mesmo ano, em setembro, e não decepcionou os seus fãs. Venceu e perdeu na revanche contra o Ypiranga (2 X 1 e 0 X 2), mas arrasou o Botafogo (6 X 1) e estraçalhou o Bahia (8 X 1). O tricolor ainda tentou uma revanche mas caiu por dois a um. No entanto, quando os paulistas apareceram de novo em Salvador, apenas dois anos depois, mostraram que estavam longe de ser normais, só conseguindo vencer Ypiranga (1 X 0) e Galícia (3 X 2), e caindo feio para o Bahia (2 X 5) e Botafogo (0 X 2). E nem serve a desculpa de dizer que era perto do carnaval daquele ano!
Dois meses depois de o Corinthians ir embora chegou o estranho Flamengo. Parecia o mesmo furacão quando apareceu na Graça. Massacrou logo Botafogo (7 X 1) e Bahia (5 X 2), fazendo com que todos tivessem medo de enfrenta-lo. Só o Ypiranga se atreveu a “cortar este barato”. E não é que o temível rubro negro carioca caiu perante o mais querido por três a um? Sobrou para o Galícia, que quando viu o sucesso do auri negro quis tirar sua lasquinha no mengão, o resultado porém foi cair de quatro.
                                         Mas esquisito mesmo é Obama virar republicano!

A década terminou em matéria de estranheza com o poderoso Santos FC. Já falei dos massacres que havia promovido na Bahia de antes da revolução de 30. Mas, quando chegou aqui, na época do Estado Novo, as coisas foram completamente diferente. Em abril de 1938 a Bahia estava sob intervenção federal mas o peixe só conseguiu ganhar do Ypiranga (3 X 0) e do Bahia (3 X 1), caindo para o Galícia (1 X 2), e só conseguindo um empate do Botafogo (3 X 3). Na despedida ainda tentou vingar-se do time da colônia espanhola, mas qual, só arranjou a muito custo um empate em três gols. Foi desta vez um estranho normal.

·          Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro, ao blog encontro.net e aos sites wap.cinema.uol e adorocinema.

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