domingo, 17 de julho de 2011

O caçador de vampiros


               
Pra quem quer ver gente híbrida, que não se sabe se é ser humano ou vampiro Blade é um prato feito. Vem tendo todos os ingredientes dos dramalhões, efeitos especiais e muita tecnologia desde que foi lançado em 1998. Desde então apareceram o Blade II (2002), o Blade: Trinity (2004), o Blade: A última geração (2006) e agora enche o saco na TV Blade: a série (2008).
Diferentemente dos heróis derrubados como o capitão América (que só tem um escudo) e Harry Potter (que só tem o diretor do filme para salvá-lo das encrencas em que se mete), Blade tem superpoderes, é imortal e ainda conta com seu mentor Abraham Wistler. A desculpa pra ter tudo isso é ter sido infectado na barriga da mãe que foi mordida por um vampiro.
                                                 Tinha era vampiro como Joseph Blatter!

Assim, Blade fez como Heloísa Helena e mudou-se de malas e bagagens para a oposição vampiresca. Mas diferente daquela é um rebelde sem causa só que só busca na vida vingar-se da morte de sua mãe. Como sempre na história existe um vilão, o tal do Deacon Frost que pretende organizar uma espécie de sindicato de vampiros pra acabar com a humanidade.   
Mas, quem pensa que Blade é original não está com nada. Aqui na Bahia existem vampiros há centenas de anos. Vocês não sabiam que os reis portugueses sugaram o sangue dos baianos e brasileiros por quase trezentos anos? Que, enquanto os baianos lutavam contra as tropas do general Madeira o português D. Pedro dava simplesmente um grito, dado ainda por cima num riacho de propriedade do Ypiranga pra enrolar os baianos? E que dizer de um monte de governadores da capitania, província e estado que enriqueceram ás custas do suor e sangue dos baianos?
                                                               Rolava era sangue!

Esse personagem criado pela Marvel Comics para uma história em quadrinhos foi clonado da Bahia. Seu pai foi o Bangu que fecundou duas mães, a Associação Athlética e o Baiano de Tênis, gerando o EC Bahia em 1930. Tudo começou quando o clube carioca excursionou por aqui nas férias de 1930.  Chegou aqui e foi logo esmagando a Associação (5 X 2) e o Fluminense (10 X 2), e foi á custo que foi parado pelo Botafogo por quatro a dois.
Mas o time da fábrica do Rio se vingaria na seleção baiana devolvendo o escore. O jeito foi pegar o forte Ypiranga pra tentar barrar a sua sede de sangue baiano e deu certo pois os baianos venceram de três a um. Mas aí alguém inventou uma revanche, só pra aumentar o passeio do vampiro, seis a quatro.
                                                     O pessoal só andava cheio de cruz!

Dizem que quando esteve aqui o vampiro transou com todas as baianas que encontrou pelo caminho. A decepção dos clubes de elite Associação e Baiano fez o resto terminando com seus departamentos de futebol e fazendo com que nascesse Blade após nove meses de gestação.  Há quem diga que o problema foi mesmo a revolução de trinta que assustou a elite que sequer disputou o campeonato daquele ano. Mas não sabem de nada pois nem viram a mordidinha na alcova que tomou a mãe de Blade.
Nosso Blade in Bahia venceu logo o primeiro campeonato que disputou levando na conversa todos os vampiros. Dois meses depois de fundado estreava vencendo o São Cristóvão por três a um. Depois foi mordendo um por um dos clubes tradicionais do estado. A coisa foi tão feia que o Vitória não quis participar do certame. Veio o Ypiranga e caiu vergonhosamente de seis a dois. O Botafogo ainda arranjou um empate em dois gols mas o Fluminense estrebuchou por dois a zero.
                                                     Isso era vampiro de antigamente!

No segundo turno continuou o passeio vampiresco, vencendo o Botafogo (2 X 1), o Fluminense (5 X 0), o São Cristóvão (5 X 1), salvando-se apenas o Ypiranga que conseguiu um heroico empate (2 X 2) mas só quando o campeonato já estava ganho. Foi assim que Blade, digo o EC Bahia, venceu o campeonato invicto e com cinco pontos na frente do segundo lugar.
A façanha de Blade que seria repetida por muitas vezes, cerca de 43 até hoje, foi cantada em prosa e verso e atraiu a atenção do vilão Deacon Frost. O miserável não ficou satisfeito com infectar sua mãe e ainda ameaçava o filho. A primeira vez que atacou foi em agosto do ano seguinte, disfarçado de um time que ninguém conhecia, o Guarda Velha (mas com um nome desses como é que ninguém desconfiou?).
                                            Pra que vampiro maior do que Jader Barbalho?

Blade caiu por seis a três, queimando todas as apostas no campo da Graça que davam de dez pra cima pro misto de vampiro com baiano. E olha que precisou apelar pro mentor que foi a todos os terreiros e igrejas de Salvador, e enfeitou o estádio de cruzes e estacas. Só assim é que pode vencer a revanche por quatro a dois!
Mas três meses depois o desgraçado vilão atacou de novo. Desta vez trouxe um monte de vampiros. O céu de Salvador ficou negro pra ver o rubro negro carioca visitar a Bahia em novembro. Foi um massacre onde caíram um a um os vampiros baianos. O leão apanhou de sete a dois, os diabos rubros de quatro a um e o mais querido de um a zero. 
                                    A Praça Castro Alves parecia carnaval de tanto vampiro!

O próprio Blade em pessoa (sic!) tentou barrar o sanguinário sem êxito caindo por três a dois. Veio a seleção baiana e apanhou de três a um. A salvação da lavoura foi unir todos os vampiros do Nordeste e chamar Deacon Frost para uma revanche contra o Ypiranga. Só assim que se conseguiu vencer por três a dois. Ufa! Como o povo sofria com os vampiros naqueles tempos.
Aí Deacon Frost sumiu e ficou cuidando de outras histórias em quadrinhos. De vez em quando tinha notícias da Bahia. Ficou sabendo, por exemplo, que Blade tinha vencido o Andaraí por três a zero quando este veio ao estado em janeiro de 1933, sendo humilhado pelos baianos quando todo mundo tirou uma lasquinha dos cariocas. Isso pegou muito mal em Bucareste, terra dos vampiros.
                        O negocio ficou tão ruim que Deus e o Diabo sentaram pra confabular!

Mas isso se resolveu sem que Deacon se deslocasse bastando enviar, seis meses depois, o vampiro disfarçado de São Cristóvão, para vingar o sindicato e atropelar os baianos. No entanto a dupla BA-VI deu uma de ousado, o decano venceu (2 X 1) e Blade conseguiu o empate em um gol. Ficou no entanto o dito pelo não dito.
Deacon terceirizou seus enfrentamentos com Blade também no último ano da guerra, em 1944. Percebendo que ia perder a batalha na Europa deu pra atazanar os baianos que viam o vampiro humano Blade sem alguns dentes e perdendo o certame três anos seguidos para a equipe da colônia espanhola.
Neste ano toda hora chegava um vampiro de fora e Blade não conseguiu ganhar sequer um amistoso, até dos vampiros baianos perdeu, 2 X 4 e 0 X 3 do Ypiranga e 3 X 5 do Vitória. Mas acabou se recuperando levando mais um campeonato.
                                      Era um saco aguentar esses vampiros na nossa porta!

O vilão voltaria na próxima guerra, a da Coréia, em 1953. Mas, se esta foi terceirizada pelos norte-americanos o chefe dos vampiros viria pessoalmente em março, e através de dois clubes. A nova Fonte Nova ficou coberto de sangue baiano, o que aliás já estava no vermelho das camisas de Flamengo e Internacional.
No dia 15 de março não teve Blade baiano que adiantasse. O Inter enfiaria sete no tricolor e o urubu oito no leão. E de quebra oi Vasco da Gama despacharia o Ypiranga com mais oito gols. Foi o pior dia do futebol baiano na história. A vingança do vampiro havia sido demais. E nem Blade conseguiria impedir que os dois clubes visitantes disputasse o torneio que acabou se decidindo em favor dos vampiros gaúchos pelo saldo de gols.
                                               Ói eles aí na Avenida Joana Angélica!

O jeito foi fazer uma reunião com todas as religiões da Bahia, quando veio gente “pra dar de pau”. Se fosse hoje seria impossível reunir tantas, mas naquele tempo bastavam os católicos, terreiros e evangélicos. Aí ficou acertado que ia se espalhar orixás, cruzes e estacas em todas as fronteiras da Bahia, na verdade só pra não deixar entrar os vampiros de fora e continuarem a existir os vampiros baianos.
E não é que deu certo? Blade continuou a ganhar campeonatos, ano sim, ano não, e chegou a final da I Taça Brasil contra o peixe trazendo o título para o estado por coincidência em abril de 1960 quando todos os vampiros, e o próprio Blade, se mudaram pra recém criada Brasília.

·        Agradeço aos sites RSSSF Brasil e Wikipédia, ao Almanaque do Futebol Brasileiro, e aos blogs 100grana.wordpress.com e melhorpapeldeparede.com.  

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