domingo, 28 de agosto de 2011

Vejo você no próximo verão!


Até que enfim o ator Phillip Seymour Hoffman estreou como diretor de cinema. Ele que é um dos principais atores de Hollywood e tinha obtido inclusive um Oscar por sua interpretação no filme Capote, desta vez estrela um romance sobre a solidão nas grandes cidades. Trata-se do filme Vejo você no próximo verão onde faz o papel de Ralf, motorista de uma limusine que tenta mudar de vida sem conseguir.
Mal sabe, porém que há outros solitários e tão desajeitados como ele em matéria de natação e gastronomia, é o caso de Connie (Amy Ryan), e como não poderia deixar de ser na Meca do cinema, surge uma relação entre os dois. Mas vou escrever para Hoffman pra exigir os direitos autorais da Bahia. É que, mais uma vez, copiam cuspido e escarrado o que acontece no futebol da Bahia. Só que vocês sabem como esse pessoal da Academia enfeita o final pra tudo terminar bem, mas na vida real não tem nada disso!
                               Ralf e Connie ficavam passeando no Parque São Bartolomeu! 

Como na Bahia tudo é diferente o verão acontece aqui entre novembro e março. E, foi no ano de 1932, no idílico mês de novembro, que Ralf, quero dizer o Flamengo, veio pela primeira vez na Bahia. Tinha até um motorista na delegação mas o restante eram jogadores, técnico, massagista, alguns cartolas, e um juiz para apitar os jogos como era comum na época onde os baianos só faziam perder!
A estreia de Hoffmann foi a desgraça do Vitória, quando sem dó nem piedade arrasou o seu irmão de cor por sete a dois! Quatro dias depois enfiou quatro a um no Botafogo. Aí o pessoal não entendeu nada. Mas Ralf não era um fracassado? Não só dava errado tudo o que fazia? Aí o jeito foi se fechar na defesa pra não fazer a alegria dos cariocas. Mas nem assim a coisa resolveu, com o time da Gávea vencendo o Ypiranga (1 X 0), o Bahia (3 X 2) e a própria Seleção baiana (3 X 1).
                                            Só perdia mesmo pro desgraçado do Ypiranga!

Era uma vergonha para o futebol baiano e o jeito foi apresentar Ralf a Connie. Aí o negócio mudou totalmente no campo da Graça. No jogo de despedida ela o levou o dia todo pra passearem na Barra e, quando chegou na hora da revanche contra o mais aurinegro este venceu o poderoso Flamengo por três a dois!
Ralf ficou emputecido com o fato. Pensou até em não ver mais Connie. Mas era muito solitário e acabou admitindo voltar no próximo verão. Ela esperou sentada. Passou o tempo e nada de Ralf voltar. No próximo verão apareceu o Andaraí carioca, e Connie foi até a Graça perguntar por Ralf mas ele não sabia onde estava o motorista. Aliás esse clube não sabia de nada mesmo porque não ganhou uma por aqui!
O jeito foi esperar 1934 e....nada também. Meu Deus cadê Ralf, vá ser solitário assim no inferno! Só em janeiro de 1935 é que apareceu outra delegação carioca, o Brasil (sic!) e a pobre da Connie lá na Graça de novo. Como todo mundo já havia “sacado” esse tal do Ypiranga desta vez venceram de três a um, assim como o alvirrubro (5 X 1) mas caíram para o time granadeiro (1 X 2). Foi embora o Brasil e nem sinal de Ralf.
                                               Connie apelou pra tudo pra ver Ralf!

No fim do ano, enquanto o país pegava fogo na insurreição da Aliança Nacional Libertadora, chegou o Botafogo do Rio mas este nada contou de Ralf mesmo porque era um inimigo histórico do rubro negro carioca. E, no ano seguinte, foi a vez do Vasco da Gama, outro adversário de seu Ralf querido cuja delegação nem deu bola pra Connie.
Olhem, hoje eu não quero “encher o saco” de vocês. Mas esse Ralf foi sacana mesmo com a Connie! Quando falaram que uma delegação carioca viria em 1937 ela se enfeitou toda pra ir ao bairro da Graça, mas era o São Cristóvão. Ralf só veio em pessoa em março de 1938, seis anos depois, quando o verão já estava quase acabando.  Mas, pelo manos, passou duas semanas.
A nova estreia de Ralf foi tão demolidora quanto a anterior, dando de sete a um no pobre do Botafogo. Os baianos perderam o eixo e levaram uma semana pra arranjar um novo adversário para o urubu. Só quem topou jogar foi o Bahia que acabou levando de cinco a dois. Era demais e aí mais uma vez foi Connie que “pagou o pato”.
                                            Nem Benazzi deu um jeito na solidão de Ralf!

Arranjaram um carro para Ralf e ela passearem o dia todo, encheram o motorista de acarajé, e foram buscar (adivinhem quem?) nada menos do que o Ypiranga pra enfrentar o Flamengo. A escrita se manteve contra o pobre do Ralf com novas vitória do mais querido, agora por três a um. Tá certo que Ralf depois disso até venceu o time da colônia espanhola (4 X 2) mas saiu de novo da Bahia fissurado. Fez a mesma promessa pra Connie de “voltar no próximo verão” só que desta vez todo mundo desconfiou. Pensaram até em expulsar os ipiranguenses do campeonato só pra juntar Ralf e Connie, mas nada!
Passaram-se os anos e novamente nada de Ralf. No verão de 1939 veio o América carioca e fez feio perdendo pros diabos rubros e tricolores, e aí é claro que não informaram nada sobre a vida de Ralf. Dois anos depois até o suburbano Bonsucesso esteve aqui mas, além de perder do Bahia, não sabia era de nada do motorista! O mesmo fez o inimigo almirante, que se vingou por Ralf derrotando o aurinegro por cinco a zero.
                                                 E o pior é que ainda ficou com a bola!

Mesmo com a guerra os cariocas não deixaram de vir à Bahia, só o sacana do Ralf. O Botafogo apareceu em 1942, dando paulada a torto e à direito, o São Cristóvão voltou em 1944, saindo invicto, e o Fluminense no último ano da guerra, massacrando inclusive o rubro negro baiano por seis a dois.
Ralf só voltou a Bahia no verão de 1946. Já estava com uns cabelos brancos mas chegou “tirando onda”. Connie pediu, implorou, e conseguiu que não jogasse com o Ypiranga. Aí só deu o motorista que passou o facão em todo o mundo, vencendo o Vitória (4 X 1), o Botafogo (2 X 1) e, na despedida de Connie, ainda arrasou o Bahia por sete a dois.
A passagem do Flamengo invicta deu esperanças a Connie e todos os seus amigos, desta vez Ralf voltaria. E foi verdade. No próximo ano Ralf voltou de novo, embora fosse no São João, passou todo mundo no fio, vencendo o Vitória (5 X 2), o Guarany (2 X 1) e o Bahia (2 X 1). Mas desta feita não encontrou Connie pois ela havia saído de férias. O problema foi que Ralf, feliz por não ver o Ypiranga no seu caminho, até “furou” o roteiro do filme aparecendo fora do verão.
                                                   Connie ficou sozinha com a bola!

Os anos se passaram e até que Ralf voltou à Bahia, mas não achava Connie que só estava em Salvador no verão. Quando veio nesta época já havia a Fonte Nova em março de 1953. Foi a gloria do motorista da Gávea, esmagou o Vitória por oito a dois e venceu o Bahia (2 X 1) ficando pra decidir o título do Torneio Régis Pacheco com o Internacional (RS). Aí os gaúchos sabendo do “caso” foram buscar Connie para entreter os cariocas. E não é que saíram com o caneco com o empate em dois gols?
Ralf só voltaria a aparecer num verão quando foi inaugurado o anel superior da Fonte Nova em 1971. Já tinha toma a cabeça grisalha e Connie também. O amor deles não era mais o mesmo. Continuavam sem colocar o Ypiranga na programação mas, desta vez, bastou o Bahia pra derrota-lo pelo escore mínimo. Voltou dois verões depois pra reatar suas relações com Connie e ganhar de alguém, mas só fez empatar com o tricolor em um gol, ocorrendo o mesmo em 1976.
                                              Não adiantava Connie se enfeitar toda!

Os verões dos jogos amistosos na Bahia haviam acabado. Doravante Ralf só viria a Bahia em outras épocas do ano, quando se disputada o Brasileirão e a Copa do Brasil. Nunca mais veria Connie. Dizem que ele continua solteirão, lá pros lados do Irajá. Já Connie, que é quem vocês acham? Não podia ficar esperando Ralf a vida toda. Acabou casando com um diretor do Ypiranga e pode ser encontrada na Vila Canária nos treinos desse time glorioso que está na Segundona baiana.

·          Agradeço ao Almanaque do Futebol Brasileiro.

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