domingo, 9 de outubro de 2011

Aos trancos e barrancos

                          
             
No dia em que fomos embora de Liverpool os trens estavam cheios. Tivemos que fazer baldeação em Crewe e pegar outro daí pra Londres. A saída do trem já não obedeceu muito a pontualidade britânica, nove minutos atrasado. Pensei que deveria haver alguma coisa, e foi em Crewe que a coisa “pegou”.  
A “baldeação” atrasou uma hora, incompatível para os padrões ingleses e explicada por ter uma pessoa se jogado na linha. Disseram-nos que aquilo era muito comum, uma espécie de “esporte” em uma sociedade onde tudo anda tão rápido e formal que não há tempo para as pessoas.
Em situação de crise não foi nada fácil entrar em no vagão “D” (ói ele de novo!). É que não havia lugar para todo o grupo, de forma que conseguimos passar da entrada do trem, mas nos amontoamos no corredor com as malas. A moça que cuidava do bar insistia com Valdir para que voltássemos e ele acabou pensando em deixarmos pra pegar o próximo trem. Mas nem queríamos discutir tal ideia.

                              Foi assim que entramos na van!

A situação começou a apertar pois vieram outras pessoas do vagão “C” e aí embolou. Vocês já viram inglês zangado? Então precisa ver a mulher de um senhor de bengalas exigindo acomodação para a Terceira Idade. Pensei em exigir o mesmo mas a confusão já estava demais. Ainda bem que Valdir propôs que agente tentasse os outros vagões. Olhei pra traz e vi a passagem para o vagão “C” fechada. Tinha ainda o Keep out e nem sabia como abrir.
Arrastei as malas pra lá e apertei tudo o que vi em minha frente, e foi sua abertura que acabou com a confusão, quando o pessoal que estava espremido acabou se distribuindo por vários vagões.  Tinha alguns assentos vagos e não foi difícil nos comunicarmos para que nos dessem os lugares. Mais tarde, contando com a simpatia de um argentino, sentamos juntos eu e Cybele. Enfiamos as malas onde foi possível.
Pouco depois veio a ferro-moça (acho que se chama assim!) cobrar os bilhetes. Na ocasião me preocupei. Será que esses caras são tão formais de exigir bilhetes do vagão certo numa crise dessas? Mas demos um jeitinho brasileiro. É que apresentamos apenas os bilhetes Liverpool-Londres sem a letra do vagão que tínhamos guardado. E aí passou fácil.

                                                        Só anda com carteirinha!


Nesse dia passamos mais de quatro horas no sistema ferroviário inglês para chegar a Londres. Aí foi só atravessar a estação empurrando um monte de malas e arranjar um transfer para o hotel em Bayswater. Nesta hora mais uma vez me lembrei do Brasil. É que Valdir só conseguiu duas vans pequenas para treze pessoas com um monte de mala e sacolas e, como ficou difícil de caber, os caras botaram elas pra dentro na base da porrada.
Desta vez, porém, nos demos bem. O cara da recepção ainda era o mesmo, assim como o prédio que pegamos (o de número trinta) mas dessa vez ficamos no apartamento dois, maior, com quarto separado da cozinha, embora mais uma vez não tivesse ventilador. Isso porém foi rapidamente resolvido com Valdir.
                                               Lembranças dos trilhos das ferrovias inglesas!


De maneira que saímos rapidamente para o nosso almoço/jantar. Estávamos com tanta fome que entramos no primeiro que achamos,... o péssimo Bela Itália. Mas pelo menos tivemos o prazer de jantar com Portela, que foi junto com Vitor, esse negócio do Beatles Social Club na Companhia da Pizza.
No outro dia acordamos cedo, as oito da matina. Era um crime fazer isso num sábado, mas o pessoal iria embora à segunda feira. Como não havia mais passeios oficiais do grupo, aproveitamos os últimos dias da excursão para os nossos próprios programas aproveitando pra conhecer Londres. Nossos sobrinhos, Matheus e Karen, já tinham nos ensinado como chegar ao British Museum. Enrolamos-nos um pouco na estação Queensway pois a nossa carteirinha de passe acabou e não foi fácil entender a informação do segurança de como renová-la. Mas não somos tão burros como parecemos! Só um débil mental não consegue ler as placas das estações.
                                                 Na Inglaterra só mesmo comendo pizza!


De Queensway passamos a Holborn, e, daí, via Picadilly, chegamos a estação de Russel Square, onde fica o museu. Ali foi só perguntar ao guarda que nos explicou pausadamente como chegar lá. Poxa, não podia todo inglês falar assim? Até eu entendi tudo. Já estava craque em matéria de left e right. Algumas centenas de metros adiante tínhamos em nossa frente um dos maiores museus do mundo, cuja sala de leitura foi utilizada por inúmeros intelectuais para gaudio da economia, filosofia, sociologia, arte e outras menos votadas.
Depois das numerosas fotos na porta do prédio e nas escadas procuramos a Old Library. Era a complementação indispensável ao meu “roteiro Marx” em Londres, inclusive porque descobri que a Dean Street, que foi a primeira morada de Marx na cidade, não era muito longe dali. Meu herói da juventude então, enquanto morou perto, e começou a escrever O capital, vinha a pé de sua casa para a sala de leitura. Mas, para a minha decepção, consegui entender que ela estava fechada há dois anos.
                                                    Ah que saudade do Nordeste!


Não iria ver o recinto onde Marx trabalhara e eu especularia onde ele sentava. O jeito foi me “consolar” com o riquíssimo acervo da casa. Em pouco mais de três horas só deu pra visitar as seções da esquerda do primeiro e do segundo andar. Foi uma aula de arte oriental antiga, particularmente Assíria, e fiquei surpreso com o material que os ingleses surrupiaram do Parthenon. Se facilitar tem mais ali do que na Grécia. O setor de Alexandre também estava fechado nesse dia.
Depois chegou Cabus e com ele visitamos o segundo andar, particularmente os romanos na Grécia e as múmias egípcias, incluindo a de Cleópatra e membros da sua família. Como estávamos com fome Cabus nos acompanhou ao almoço num restaurante italiano das redondezas ficando de voltar. Mas a perspectiva de conhecer o “roteiro Marx” fez com que se esquecesse de voltar ao famoso museu.
                                              De tanto caminhar o tenis virou jacaré!


Assim, dali fomos: a) a casa da Dean Street 28, onde Marx viveu de fins de 1850 a 1856; b) ao antigo St Martins Hall (atual Queens Theather) onde foi fundada a I Internacional; c) ao antigo Pub red Lion, onde Marx lecionou, situado na Great Windmill Street 20 onde funciona outro pub, vamos dizer, bem mais alegre. Vou pular essa parte pois já contei em outra postagem.
Enquanto estávamos nesta diversão, nossos sobrinhos vieram nos encontrar no Rowney Scott Club onde pensava em voltar mas já estava lotado o show de uma banda norte-americana de acid jazz. Como a pizza prometida por Matheus iria demorar muito tivemos que jantar em mais um restaurante italiano no Soho. Mas vocês acreditem que passamos a noite falando da comida do Brasil. Depois do jantar voltamos pra casa em meio a um monte de gente bêbada, (segundo Matheus, o que mais se vê nos fins de semana) nós pra Bayswater e eles pra Wislleden Green. Deixamos porém tudo acertado para os próximos dias, pois com o fim da excursão, fecharíamos nossa conta e iríamos passar alguns dias em sua casa.

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