terça-feira, 15 de novembro de 2011

A PROFISSÃO MAIS ANTIGA DO MUNDO

              
   
Dizem que a profissão mais antiga do mundo é a de prostituta, mas isso não se vê na Bahia. Aqui, o prazer dos torcedores é contar histórias de malandragens no futebol. E hoje nós vamos contar uma dessas que houve na Fonte Nova. No longínquo ano de 1955 o campeonato baiano do ano anterior estava mais atrasado do que de costume.
O Vitória havia sido campeão de 1953 mas naquele ano Botafogo, Bahia e Vitória haviam cada um ganho um turno sendo necessário um turno extra para decidir o campeão. A disputa foi uma das mais renhidas da história da Fonte Nova. O tricolor tinha Marito, Carlito e Isaltino e o rubro negro, mesmo tendo saído seu ídolo Quarentinha contava com Pinguela, Matos e Alencar.
                                                 Esperando os jogadores no túnel!

Mas o bambambã do pedaço era mesmo o Botafogo que, entre outros, tinha jogadores como o fenomenal Zague (que depois brilhou no Corinthians e no México), o zagueiro Nelinho, o goleiro Leça, e ainda o ponta Lamarona. E na primeira partida os diabos rubros já praticamente despachavam o leão vencendo incontestavelmente por dois a um com gols de Roliço e Lamarona, só conseguindo o rubro negro marcar graças a um gol contra de Nelinho.
Mas uma grande surpresa ocorreu logo no meu aniversário de seis anos, quando o tricolor bateu o verdadeiro escrete que o alvirrubro havia formado por três a um. A derrota foi bastante estranha não se entendendo o grande ataque com que contava em campo. E o negócio ficou ainda mais de se desconfiar quando o Vitória ganhou do Bahia, e em pleno Dia do Trabalhador, deixando tudo empatado de novo. Tudo levava a crer que estávamos perante as marmeladas habituais para esticar a decisão para o último momento à custa de enganar os torcedores.
                                                   Pô, mais aí é discriminação!

O segundo turno começou em oito de maio com nova vitória dos diabos rubros sobre os leões, dois a zero, mostrando que este não era adversário, e marcando Roliço outra vez e Zague.  Todos os olhares se voltaram então para Bahia x Botafogo, uma verdadeira decisão antecipada que poderia deixar o clássico do domingo seguinte sem função.
Mas, apesar do verdadeiro tiroteio sobre as duas metas o placar não conseguiu ser movimentado, mantendo o interesse no BA-VI. Durante muito tempo meu pai falou desse jogo, que decidiria quem iria disputar uma decisão contra o Botafogo. Mas o leão mostrou que não era páreo este ano, caindo por dois a zero, com gols feitos pelo meia Naninho.
                                                  Os diabos rubros pediram a morte!

A grande decisão foi fulminante no domingo seguinte. Desta vez não deu para as famosas “melhor de três”. Ora, depois de dois meses jogando um turno extra o público já estava se cansando de tanta decisão. Os jornais tratavam o alvi rubro como virtual campeão. O ex-presidente do Bahia, Osório Vilas Boas, trata desse jogo no seu livro Futebol, paixão & catimba que trata das malandragens feitas por ele no futebol baiano.
Ali confessa que o Botafogo dispunha de um plantel de melhor qualidade. Após pesar a situação da equipe para o jogo decisivo chegou á conclusão que suas condições físicas eram deploráveis e que os jogadores “eram uns farristas de marca maior”. Decidiram então concentrar o time na pensão de Dona Anita na Ilha de Itaparica pagando vinte mil reis por dia. Para piorar a história tinha havido uma briga no plantel tricolor entre o goleiro Osvaldo Baliza e o meia Naninho por motivo fútil.
                                   Alex, se fosse Osório o leão subia na base da mala branca!

O clima tinha que ser mudado pro tricolor ter alguma chance na partida e não deu outra coisa. Osório então procurou os dois jogadores e contornou o incidente. Mas, quando voltou pra cidade um conselheiro lhe procurou para dizer que soube que o goleiro do Bahia havia sido comprado pelo Botafogo. Verdade ou não era o fim da picada e a diretoria do Bahia ficou em pânico!
Na manhã do domingo Osório reuniu o elenco e deu um golpe de mestre. Colocou as cartas na mesa:
- Chegou ao nosso conhecimento que um de vocês se vendeu. Eu não acredito, mas estou com a pulga na orelha. Se desconfiar jogo para que a torcida o estraçalhe e numa situação dessas não haverá crime.
                                            Não tem quem ganhe de Joseph Blatter da FIFA!

Conta que,
- fiquei olhando o goleiro Osvaldo Baliza para sentir a sua reação. E o Osvaldo tranquilo, sem demonstrar qualquer nervosismo.
E o dirigente se preocupou ainda mais quando o mesmo conselheiro revelou que a confirmação da venda do jogador seria a batida de mão na trave por duas vezes. E, quando o time entrou em campo não deu outra coisa, com Osvaldo chegando no arco e dando as duas batidinhas.
                                                    Na Bahia fazem até propaganda!

Mas a malandragem de Osório havia dado certo. Tivesse havido ou não alguma coisa o certo é que Osvaldo foi a grande figura de uma partida equilibrada, onde o tricolor se superou e o goleiro pegou até pensamento sendo responsável pela vitória por dois a zero, com gols de Carlito e do próprio enraivado Naninho. Contra malandragem, malandragem e meia.

·         Agradeço ao site RSSSF Brasil e, postumamente, a Osório Vilas Boas em seu livro Futebol, paixão e catimba.

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