sábado, 3 de dezembro de 2011

Só se vê na Bahia

        
                                                                                 Tudo isso com certeza só se vê
                                                                                 só se vê na Bahia.
                                                                                                             Roberto Mendes

O certame baiano de 1967 foi um dos mais disputados da história, dentro e fora de campo. Desde a sua criação o Bahia nunca tinha levado tanto tempo sem levar o caneco o qual não vencia há cinco anos. E foram alguns dirigentes e técnicos que decidiram o título naquele ano. Osório era presidente do tricolor, Ney Ferreira o do Vitória, o Galícia era dirigido por Aurélio Viana e Raul Boulhosa e o presidente da FBF era Carlos Alberto de Andrade.
Naquele ano o azulino estava com tudo e além de ganhar com folga o primeiro turno partia célere pra “papar” também o segundo deixando o campeonato sem jogos decisivos pela primeira vez há muitos anos. O seu último jogo, porém seria com o Bahia de Feira no qual o esquadrão esperava que tirasse pontos preciosos para garantir pelo menos a decisão do segundo turno. Tanto foi assim que Osório deu um “bicho” de duzentos cruzeiros aos jogadores.
                                         Eliana Calmon devia olhar também essses juízes!

Mas os feirenses acharam uma fórmula de ficar com o dinheiro e agradar o azulino. O Galícia perdeu o jogo mas o técnico Cuiuba botou um jogador irregular dando condição do time da colônia espanhola ganhar os pontos. Coisas da Bahia. Constatada a irregularidade o Galícia entrou com protesto na FBF.
Mas Osório mediu bem as coisas e decidiu jogar merda no ventilador. Sabendo que o Galícia não se encontrava em boa situação financeira conversou com o advogado do tricolor e arranjou dois protestos contra jogadores do Galícia. Saltava aos olhos que o Bahia não tinha a menor chance mas a ação suspendia o certame e era isso que ele queria.
                                           E olhem que não existia nem Ricardo Teixeira!

No dia em que entrou com os protestos Osório procurou o presidente Carlos Alberto de Andrade:
- Eu vou até o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, mas não vou perder o campeonato! Não assim, roubado desse jeito!
E aí foi uma confusão só. Ao invés das rádios e jornais discutirem futebol e a boa fase do Galícia o papo era de advogados, de quem estaria ou não estaria legal. Entrava dia, saía dia e a decisão de quem era o campeão de 67 era protelada. Foi quando o presidente da federação, articulado ou não pelo presidente tricolor, acendeu uma vela a Deus e outra ao Diabo.
                                                Ah o tempo do Balbininho não volta mais!

Procurou Osório na Assembleia Legislativa e de lá telefonou para Raul Boulhosa dizendo-lhe que não podia declarar ninguém campeão pois havia protestos dos dois lados. Mais do que isso, insinuou a possibilidade de um acordo:
- É bom você armar uma fórmula com o próprio Osório, que o considera muito.
Osório afirmou depois que o telefonema foi dado em sua frente. E que alguns minutos depois o dirigente galiciano marcou um encontro à noite na sede da FBF com a presença do próprio Carlos Alberto. Da reunião resultou um “protocolo” cumprido à risca:
-Os contendores retirariam os protestos e o turno seria decidido entre os dois clubes. Caso houvesse uma decisão do campeonato a mesma seria através de uma melhor de três.
                                                         Foi no tempo da tropicália!

Todos concordaram com essa mudança das regras do jogo e o tricolor acabou vencendo o segundo turno partindo para a tal “melhor de três” tão comum no futebol baiano. O Bahia ganhou a primeira de dois a um mas, estranhamente, perdeu a segunda de quatro a dois. A final foi marcada para uma quinta feira à noite e me lembro de que eu mesmo a assisti da geral do antigo estádio que só tinha um anel.
Osório se lembra do diálogo que teve com o técnico Paulo Amaral por causa do ataque do time que considerava fraco. Preocupa-se especialmente com a defesa azulino onde havia conhecidos “espanadores” como Hélio “Nylon”. Na oportunidade o careca lhe disse:
- Osório, com um juiz baiano, nós vamos perder.   
                                              Esse aparecia por aqui de vez em quando!

Aí o presidente tricolor articulou mais outro de seus planos. Procurou o presidente Aurélio Viana do azulino e lhe propôs o seguinte:
- Aurélio, com este resultado de 4 X 2 com que vocês nos lavaram não haverá boa renda na decisiva. Precisamos de uma atração.
- Qual a atração?
- Vamos contratar Armando Marques como juiz.
- Mas ele quer três milhões.
- E daí? Armandinho traz público. Nós dividimos a despesa.
                                     O problema é que também eram tempos de ditadura!

Aí o dirigente galiciano concordou. O estádio lotou, afinal a torcida tricolor não iria perder um jogo onde seu time poderia ser campeão, e ainda veio a torcida rubro negra, atraída pela possibilidade da derrota do esquadrão. Osório só mandou o time a campo quando o juiz-estrela entrou para que visse a ovação da torcida tricolor amplamente majoritária nas arquibancadas. Dizem que o time do Galícia medrou por não estar acostumado com essas coisas.
O jogo transcorreu de acordo com o plano. O rigoroso árbitro não permitiu o jogo violento e o ataque tricolor pode cavar mais lances perigosos. Paulo Amaral tomou cuidados especiais com a defesa que dificultaram a produção do ataque do Galícia. O primeiro tempo foi zero a zero mas com a supremacia do azulino. A coisa continuou no segundo tempo, e, embora sem grande produtividade, o Galícia tomava a iniciativa e o Bahia ia aos contra ataques.
                                                            Raul ainda estava aqui!

Lá pelo meio do segundo tempo cruzaram a bola e o avante tricolor China fez um gol de cabeça. A partir daí foi “bola no mato que é jogo de campeonato”. Mas o tempo passava e o azulino não se entregava. Passavam dos quarenta e já se registravam tentativas de invasão do campo da parte dos tricolores. Foi quando o estrelismo de Armando Marques mostrou que mais uma vez Osório tinha acertado.
É que a zaga tricolor, que tinha aguentado o ataque galiciano o jogo todo, resolveu engrossar no final e deu uma falta escandalosa dentro da área. Pênalti claro que poderia mudar o resultado da partida. No entanto Armandinho fez vistas grossas mandando todo mundo que era anti-Bahia embora. Até eu saí mais cedo. Aquela era demais. Depois eu soube que o juiz disse na rádio que “não iria atrapalhar a festa do Bahia”.
·         Agradeço as informações do livro Futebol, paixão e Catimba.

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