sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Na mesa com Danuza

 

Conheço Danuza Leão há mais de quarenta anos. Não pessoalmente é óbvio mas da TV e de ouvir falar dessa irmã de Nara que enveredou pelo jornalismo e foi até fundadora do jornal Ultima Hora. A primeira vez que ouvi falar dela foi nas fofocas sobre o que rolava no apê da musa da bossa nova. Quando a TV Itapoá começou a transmitir o festival da Record ela ficava lá pelos bastidores. Basta pegar a gravação da Era dos festivais que você a vê ali pelas coxias.  
Depois que entrei na Escola de Música e passei a trabalhar e fazer política levei muitos anos sem vê-la até que ela deu pra ser escritora. Confesso que esse negócio de etiqueta nunca me sensibilizou, mas acabei dando uma folheada em seus livros quando enveredou de maneira inovadora pela crônica do cotidiano das pessoas, digamos, com mais posses, do Rio de Janeiro. Até então as colunistas eram formais, de linguagem empolada, e só faziam puxar o saco dos poderosos. Com Danuza isso não acontecia. Ela falava de tudo o que acontecia no high society, inclusive dos podres.
                                                   Olhem a musa como estava jovem!

Algum tempo mais tarde peguei o hábito de olhar a sua coluna no jornal. Algumas mais felizes e outras nem tanto, mas todas sinceras. Além do mais qualquer grã-fina ignorante podia ler. Há umas duas semanas passadas li uma que reflete fielmente o que encontrei nas minhas (poucas) viagens para a Europa.
Durante 58 anos não meti a cara fora do Brasil. Mas nos últimos cinco anos tirei à forra, fazendo duas viagens á Espanha e Portugal, uma a Itália, e outras à França e Grã Bretanha/Irlanda. Sem contar as que fiz á América do Sul. E não é que acabei gostando do troço? Agora quero ir todo ano e lá em casa já tem planejamento até 2022!
                              Ela viu Sérgio Ricardo quebrar o violão e jogá-lo para o público! 

Mas apesar de gostar a beça dessas viagens confesso que uma coisa me decepcionou profundamente, e especialmente na Itália, França e Inglaterra: a comida. Em Paris até que as coisas não foram tão mal. Fui lá no segundo semestre de 2008, ganhava bem quando a FTC pagava, e conseguimos almoçar em alguns restaurantes tradicionais. Mas, mesmo lá, quando chegávamos no trivial, o negócio apertava encontrando o maior “grude”.
Na Inglaterra e Cia, onde passamos 21 dias, só encontramos quatro restaurantes decentes, o Sergius, o Calamares e um turco em Londres, e uma churrascaria brasileira em Liverpool. E olhem que não fomos num único restaurante inglês preferindo os italianos, brasileiros, gregos, turcos, etc. Neto de italianos, freguês de carteirinha dos diversos pratos daquela gastronomia, nunca poderia esperar que comesse tão mal naquele país, onde passei em Roma, Veneza, Florença, Sorrento, Napolí, Siena, Assis, San Gigminiano, e até na Ilha de Capri.
                                                           Ah, isso só na Bahia!

Passávamos o dia passeando por locais inesquecíveis, indo a tudo o que nossa imaginação permitia. O café, apesar de ruim, ainda dava pra tirar de letra. Sempre há um pão, uns queijinhos, e uns sucos pra tapear. Mas quando chegava a hora do almoço e do jantar era um Deus nos acuda. Ao passar das onze e meia e dezoito horas começávamos a ficar tristes, nem precisava perguntar por que, era hora de comer.
Aí, nos dirigíamos para o primeiro restaurante que tinha cara de decente, e, depois de nos enrolarmos com o cardápio, pedíamos o trivial, pizza, lasanha, spaghetti, e otras cositas más. Ah, e o serviço era outra porcaria. Das mesas onde comíamos (dizendo melhor tentávamos comer) podíamos ouvir o baticum de pratos arremessados contra a pia. Dos garçons, então, nem é bom falar. Havia um ou dois para atender um monte de gente e não lhe davam nem trinta segundos pra fazer o pedido. Cybele, que é de ficar pensando com o cardápio á mão, passava mal pois o garçom saía e só voltava no outro dia.

É claro que quando voltamos “sentamos a ripa” na comida e no serviço europeu de restaurante, não esquecendo de livrar a cara de Portugal e Espanha que, pelo menos, tem uma culinária mais próxima á nossa. Mas, quando externávamos a nossa opinião em rodas de classe média sempre algum deslumbrado discordava não achando qualquer defeito naqueles países, especialmente na sua gastronomia, a não ser uma queixa ou outra da agência da excursão.
Só fui entender o que houve nesses anos e que eu estava certo quando li a crônica de Danuza. Ela diz que muitas coisas estranhas estão acontecendo em Paris no terreno da gastronomia. É que, como nós fizemos, frequenta bistrôs simples da cidade e pede sempre pratos tradicionais. Nada como a sua voz de experiência com Paris. Afirma que os cardápios estão mudados, não se encontra mais coisas que se faz na hora, como ovos, e um Steak tartare vira um montinho de carne moída, com um bolo de batata saído das micro-ondas.  

                                 Olhem o meu tempo de festival com a mana Lena cantando!

A explicação dada por Danuza é convincente, o culpado é o miserável do capitalismo. É que muitos restaurantes da Europa aderiram á comida pret-a-manger (pronta para comer). É simples, como os encargos sociais da França são muito altos o restaurante economiza coloca um garçom pra atender trinta pessoas e dispensando o chef.
O dono do restaurante elaboram o cardápio tirando tudo que precise ser feito na hora. Encomendam as embalagens com os produtos e o caminhão faz a entrega de madrugada indo diretamente para o freezer.  Assim pode eliminar as perdas pois só vem uma porção média na embalagem.
Danuza fala da gravidade desta situação que fere fundo a famosa gastronomia francesa. Já eu penso que se o pessoal que tem um mínimo de paladar perceber essa mudança não tardará para que isso tenha influência sobre o movimento turístico da França.  Termina a crônica dando a quem vai pra Paris o mesmo conselho que meu sobrinho Tiago me deu esse ano: escolher os restaurantes antes de ir procurando estabelecimentos tradicionais pra não ter que comer, depois de tanto dinheiro gasto pra viajar pra Europa, uma comida com gosto de comida de avião.

·         Agradeço as informações da crônica Paris de Danuza Leão.

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