sábado, 14 de janeiro de 2012

O Brasil e a Copa de 2014

                                          
                            
Ninguém desconhece que o Brasil está organizando uma nova Copa do Mundo. O fato acontece depois da Copa de 1950, vencida pelo Uruguai em pleno Maracanã, e da Mini Copa de 1972, realizada nos anos de chumbo, mas ganha pela seleção brasileira. Todos esses momentos deixaram marcas físicas no futebol brasileiro.
No primeiro caso, possibilitando a construção do velho maraca, da Fonte Nova e outros menos votados. O caso da Mini Copa, feita para que a ditadura capitalizasse a conquista inédita do “tri” no México em ano de eleições municipais, coincidiu com a comemoração do sesquicentenário da chamada independência do país. Na oportunidade foram ampliados estádios como os do Morumbi, o do Arruda e a própria Fonte Nova que ganhou um anel superior, fazendo com que o Brasil entrasse na era de massas do esporte.
                
O projeto da Copa de 2014 também intenta repercutir nas eleições presidenciais daquele ano. Como não poderia deixar de ser, também é o paraíso das empreiteiras que além de abiscoitarem a construção de estádios novinhos em folha, ainda contaram com a insanidade de se destruir os existentes para construir outros na cidade ou no mesmo local onde haviam, caso da nossa Fonte Nova.
Após a operação de marketing que resultou na aprovação do Brasil como sede, a escolha política das cidades onde serão realizados os jogos, e a ainda mais politicagem da definição dos locais das partidas das quartas de final, semi - finais e finais, segue o processo de organização da copa em marcha batida, aqui e ali mais atrasado, mas certamente às custas da abdicação de nossa soberania para engordar as contas da entidade máxima do futebol mundial e seus gulosos dirigentes, constantemente denunciados por corrupção.
                                            Enquanto isso nada de metrô em Salvador!

Por falar nisso qualquer pessoa que se dê ao trabalho de examinar o resultado das licitações e os contratos as absurdas diferenças de preços da construção dos estádios. Porque os da Bahia e de São Paulo apresentam tal distorção? Qual a justificativa da entrega de patrimônios públicos como os do Maracanã e o da Fonte Nova durante décadas para a utilização de empreiteiras?
Recentemente, os Comitês Populares da Copa, que concentra a resistência de moradores, movimentos sociais prejudicados pelas obras e atitudes governamentais, assim como cidadãos, lançaram um importante documento onde fornecem uma visão certamente menos ufanista dos preparativos e providências. O trabalho, produzido coletivamente, é de consulta indispensável para quem deseja um olhar independente sobre a organização da Copa do Mundo de 2014. 
                                                      Só chamando Eliana Calmon!

Neste fim de semana tive a oportunidade de fazer-lhe uma leitura e confesso que me espantei com a abrangência das questões colocadas e que constituem um verdadeiro dossiê. Entre os relatos constam despejos de comunidades em processos ilegais e arbitrários “justificados” por obras da copa.
O documento estima que 150 a 170 mil famílias sofrerão esse problema até o término das obras e que a ameaça de desalojamento se estende também aos trabalhadores informais e comerciantes, que tiram o seu pão no entorno e nas vias de acesso dos estádios. A intervenção urbana propiciada pela copa sugere a realização de uma reforma concentracionista, na qual a valorização das áreas centrais e a expulsão dos seus atuais ocupantes agravará os problemas das nossas cidades.
                                                      Os caras não largam o osso!

Vocês sabiam que já houve inúmeras greves de trabalhadores das empreiteiras da copa desde o começo das obras? A quantidade desses movimentos nos faz refletir sobre certos assuntos. Será que o planejamento da copa no Brasil seguiu critérios elementares? Em outros países foi permitida tanta intromissão da FIFA no processo organizativo e decisório? Não serão os cronogramas de execução demasiadamente apertados? Quais as razões de tantos atrasos e as “justificativas” que estão propiciando tantas más condições de trabalho e super exploração?
Da leitura do documento depreende-se que a Copa de 2014 traz consigo graves precedentes que causarão danos ao meio ambiente do país. Por conta dela licitações ambientais tem sido “facilitadas”, regulamentações ambientais e paisagísticas tem sido modificadas, e foi até incluído, no novo Código Florestal, a possibilidade de desmatamento de Áreas de Preservação Permanente (APP)!
                                            Com esse já são dois ministros do esporte!

Preocupa seriamente os autores as providências para a segurança pública. Medidas de “ordenamento” urbano, restritas à decisão de burocratas de plantão, tem violado o livre acesso da população aos espaços públicos. Há sério risco de a segurança ser militarizada e de entrega a empresas de responsabilidades que evidenciam privatização.
Os comitês populares da copa questionam os próprios benefícios que trará o certame para a população. Afinal, as arenas esportivas estão sendo projetadas sob padrões que dificultam a cultura, os costumes, e as formas de se manifestar dos torcedores brasileiros. Estádios históricos estão sendo entregues por décadas para a administração de empresas particulares. E é ainda mais questionável a majoração dos preços dos ingressos, que certamente afastará vários contingentes da população dos estádios.
                                                   Os tubarões estão levando tudo!

Considero que muitos desses problemas poderiam ser minorados ou resolvidos nos grupos gestores, comitês, câmaras temáticas e secretarias especiais da copa. No entanto, muitos deles não saíram do papel, e outros tem agido sob a dependência das empresas, desestimulando a transparência e participação popular na Copa de 2014.  

·         Agradeço as informações do documento da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa.

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