sábado, 7 de janeiro de 2012

Nunca aos domingos


                                 Ah que saudades de Melina Mercouri! 

·         Uma homenagem a Sócrates

Na minha adolescência vibrei com a comédia romântica Nunca aos domingos. Não por ter sido indicada ao Oscar em várias categorias, arrebatando o troféu da melhor canção. Nem mesmo por contar com Melina Mercouri ou ter Jules Dassin como diretor e ator mas pela filosofia de vida que destilava. Vivíamos um tempo em que o cinema divertia sem menosprezar o espectador e ainda se fazia filmes exaltando as classes baixas, a coletividade, pondo ênfase numa atitude libertária e numa vida voltada para o melhor dos sonhos epicuristas do comer, beber e amar. Era assim que podíamos ver uma alegre prostituta que não cobrava de quem tivesse simpatia e um filosofo sonhador que buscava restaurar valores da antiga civilização grega.
Os anos 60 não mais voltariam e, vinte anos depois, os tempos que receberam a genialidade de Sócrates eram bem outros. O Brasil ressurgia num mundo onde apareciam os blocos econômicos e a realidade virtual tomava corpo. O país entrava na reta decisiva para superar a ditadura militar, embora os caminhos seguidos não fossem o que eu e ele almejássemos. Entrávamos na era da informática e do computador pessoal, do disco compacto a laser (CD).

                                          Voce foi mas ficou meu amigo!

Uma nova estética começava a aparecer no rock onde, através de sua aproximação com a MPB num cenário da dance music, despertavam novos talentos musicais. Mas nem eram flores, a liberdade sexual entrava na defensiva com o uso politico da descoberta da AIDS e a indústria cultural engoliria talentos como Elis Regina, Raul Seixas e Cazuza.

Lembrei-me de tudo isso no domingo que Sócrates morreu e mesmo atrasado registro a homenagem. Os grandes jogadores não deviam morrer nos domingos, pois são consagrados a grande festa do futebol. Não me lembro de se Garrincha, Domingos da Guia, Frienderich ou Heleno de Freitas morreram num domingo, nem sei se isto vai acontecer com Pelé e Zico. Mas o que aconteceu com Sócrates foi uma sacanagem do homem lá de cima. E olhem que não morreu num domingo qualquer mas o do encerramento do Brasileirão onde o time que o notabilizou para o futebol iria disputar o título.
                                                Pô não é esse não!

Sócrates foi doutor de futebol e de profissão. Foi um daqueles raros jogadores cujo toque genial se sintonizava com a arte do futebol. Foi responsável pela incorporação do calcanhar ao esporte, consagrando esta parte do corpo num gol antológico contra o Santos na própria Vila Belmiro. Formou aquela inesquecível seleção brasileira com Falcão e Zico que só foi derrotada pela Itália. Nunca me importei com aquele pênalti que ele desperdiçou em 1986 contra a França. A pessoas como Sócrates, que tinha brasileiro no nome, o Brasil deve muito mais, a alegria do futebol, a campanha Diretas Já e o movimento conhecido como Democracia Corintiana.
Tudo isto veio a minha cabeça ontem quando fiquei entregue as minhas recordações dos anos sessenta e oitenta. E o pior é que nem tem futebol pra se assistir e agente passa o tempo vendo pela telinha o pessoal do Sub-17 da Copa São Paulo ou com as resenhas esportivas que só fazem especular quem vai mudar de clube pra no outro dia desmentir.
                          Pelo menos os Sócrates famosos morreram na cama!

O jeito foi consolar minhas mágoas com Jules Dassin e Melina Mercouri. Esta gostava dos domingos, mas não era por causa do futebol mas pelo papo casamenteiro. Ainda estou meio “retrô” querendo ficar no passado com os filósofos Sócrates e Jules Dassin. Custava nada levar o homem pro céu na segunda feira? Dizem que Ele escreve certo por linhas tortas mas com o grande jogador dos meus anos 80 agiu muito torto mesmo!

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