sábado, 12 de janeiro de 2013

Marido de cama e mesa

                                             
                                                    E depois ainda tem que ter tesão!

Gente, vocês devem ter reparado que nos dois últimos meses estou escrevendo pouco. O motivo disso é um só, a doença da nossa secretária, a Cida. Ela já tem oito anos de casa e é boa gente, assim tivemos que fazer um acordo. De saída propomos reduzir as vindas na semana. Mas o negócio que começou sem sábado, evoluiu para quatro, três e até apenas duas vezes por semana.
Nessa época foi um horror e fizemos negociação em casa ás duras penas. Lavar o sanitário, que é o mais duro, foi canja, ficou pra própria Cida no dia em que viesse. A comida só podia sobrar pra minha mulher, pois eu só sei fazer farofa e ovo. Então sobrou pra mim arrumar a cama, fazer a varrição, lavar os pratos e os panos que encobrem minhas partes baixas e altas, botar a mesa, comprar o vinho, o iogurte, o queijo e as frutas, e pagar algumas contas na esquina. Ufa! Assim também é muita exploração!
                                                  
                                      Cama só é boa pra dormir!

Olhem que eu perguntei aos meus sobrinhos e amigos e quase ninguém faz nada em casa! Aliás, a minha santa mama não deixava agente fazer nada. Só fui aprender a arrumar a cama quando casei, pois, como vocês sabem, casamento envolve sacrifícios! O resultado desses meses foi triste. Depois de uma boa noite de sono e de ter de acordar ás oito da matina, a primeira coisa que faço ao acordar é... fazer a cama.
É um saco! Tem que dobrar o lençol com cuidado, e, junto com os travesseiros, empurrá-lo no armário. Depois ir buscar a colcha no quarto ao lado e cobrir a cama evitando que um lado fique maior do que o outro, e, finalmente, pegar as almofadas pra colocar na cabeceira. Digo “finalmente” em termos ideais, pois se a mulher pega qualquer coisa mal feita manda fazer tudo outra vez.
                                                     
                                                           Cadê tempo pra viagem?

Mas pior do que isso é mesmo lavar os pratos. Imaginem que mal se acaba o café e tem que enfiar tudo na pia, jogar detergente na esponja, deitar agua em cima, jogar tudo no escorredor (que, aliás, não deixa escorrer coisa nenhuma), enxugar tudo e, depois, botar a mesa outra vez pra de noite.
Com o tempo fui aprendendo uns macetes. Quando agente usa guardanapo de papel não precisa lavar o de pano. Pode também deixar tudo pra escorrer e só botar a mesa na hora do jantar. Mas minha mulher está sempre atenta pra essas coisas. Primeiro, exige pratos limpinhos, um espelho onde se veja a nossa cara. Segundo, não suporta que tenha alguma coisa na pia pra fazer depois. Eu tive que aprender rapidamente onde se guardava cada uma daquelas coisas inúteis que se tem na cozinha.
                                                     
                                             É comer é bom, mas limpar dá um trabalho danado!

Outra coisa desgraçada é varrer a casa, digo o apartamento. Imaginem, que agente discute até hoje se basta varrer uma ou duas vezes por dia. Meu Deus não é possível quanto tempo se desperdiça com essas coisas! E a internet, minhas pesquisas, meus livros, a política, os jogos do Vitória, como vão ficar? Aprendi rapidamente o macete de varrer quando ela não está em casa. Aí a coisa vai mais rápido. Não é que eu não varra, mas, convenhamos, pra que se abaixar tanto pra tirar o lixo debaixo do sofá se ninguém mesmo vai olhar ali?
Como Cida lava o sanitário e o quarto dos fundos é invarrível, acabei livrando os dois da varrição e fazendo economia de esforço. Acabei com uma técnica invejável e hoje posso dizer que está disponível pra exportação. Varro todo o apartamento em cinco minutos. Pra isso trabalho com uma mão na vassoura e outra no apanhador. É só no nosso quarto que gasto uns segundos a mais, pois tem a peça do computador, os guardas roupas, os criados - mudo, (ah, quase ia me esquecendo), e o diabo das coisas de cima dos móveis que agente tem de espanar.

                                          
                                             Um dia desses vou jogar fora essa tralha toda!

Adquiri a mesma técnica pra botar a mesa. Aqui eu só levo três minutos. E o que me ajuda é que não usamos toalha para as refeições. É só, rapidinho, botar o centro de mesa e a fruteira numa cadeira, jogar dois jogos americanos no tampo, arremessar dois pratos e dois copos,  pegar com uma mão só os talheres, o paliteiro e os guardanapos, e estamos conversados. Minha mulher me manda tirar a comida da geladeira sempre às dez horas da manhã, de sorte que sou um cronômetro, quando chega o horário é só ir à geladeira fazer o serviço. Bem, às vezes não sei o que tirar e acaba saindo tudo de forma que eu levo mais uma bronca. Mas casamento tem dessas coisas!
Os pagamentos não são lá grande coisa, é só pegar a fila prioritária. O mesmo para as compras, pois minha mulher, espertamente, só deixou para que eu comprasse aquilo que eu uso. O problema mesmo é lavar as coisas. Bem, quem passa ferro é ela, mas, já pensaram em lavar cuecas e camisas de ginástica? Vade retro! É por isso que escondo-as (as camisas e não as cuecas!) atrás da porta do banheiro pra minha mulher não ver. Só quando não tem mais nenhuma é que eu as lavo todas de vez. Aliás, nos últimos dias estou corujando como se usa a máquina de lavar, pois acho que dá menos trabalho.

                                          
                                                          Ói outro coitado trabalhando!

É um inferno lavar roupa. Imaginem que agente bota aquela coisa debaixo d’água, e enfrega, enfrega, mas nada de ficar limpo. Pô será que ninguém percebeu que isso acaba com os dedos? Mas quando dói eu saio de baixo, jogo agua, espremo e penduro a desgraçada na corda.  Foi pra prevenir esta atividade dolorosa que inventei uma coisa que vou patentear! Pra economizar esforço e saúde nesse azáfama, é só lavar apenas os lugares que sujam mais. Numa camisa, por exemplo, basta lavar as golas e o sovaco (ainda se usa essa palavra?). Numa cueca não vou dizer não, pois é muito porco.
Mas foi em dezembro que a coisa degringolou de vez, pois Cida entrou de licença e não pode ir mais, assim tivemos que nos acertar com uma diarista, a Nerildes. E como ela só vai no sábado o último mês do ano foi um verdadeiro horror. Lá em casa parece um drama, só há lamúrias e reclamações.

                                        
                                                 Ah cansei, afinal também sou gente!

Só sentamos à mesa para reclamar o que deixou de ser feito ou o que foi mal feito (da minha parte). Minha mulher só faz reclamar da sua exploração capitalista, diz que quer receber salário como doméstica, e que é preciso renegociar o pacto anterior. Mas eu também tenho argumentos, afinal, a lei dando pleno direito ás domesticas ainda não entrou em vigor, e, onde ficam nesta zorra os direitos dos intelectuais? Graças a Deus Cida chega na segunda feira.

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