Os “torneios inicios” surgiram no Brasil uma década depois de começarem os primeiros campeonatos estaduais. Na ocasião, a iniciativa ocorre no Sudeste em um mundo conflagrado pela Primeira Guerra Mundial. A Associação dos Cronistas Desportivos é a primeira a realiza-lo no Rio de Janeiro sagrando-se o Fluminense como campeão, sendo logo seguido por Minas Gerais e Espírito Santo.
O Paraná ainda o realiza em 1918, mas as demais regiões brasileiras só iriam fazê-lo no pós-guerra e, até, nos anos vinte. Assim, começa uma nova fase do empreendimento onde a Bahia entra na promoção em 1919, ao lado de São Paulo e Pernambuco.
Os anos do pós-guerra, porém, foram muito atribulados. O Brasil perde seu presidente Rodrigo Alves assumindo o vice Epitácio Pessoa. Na Bahia ocorre o episódio conhecido como “Revolta do sertão”, onde tradicionais coronéis marcham para Salvador durante a sucessão do governador Antônio Ferrão Moniz de Aragão. O episódio se projeta também para o futebol, cujo campeonato transcorre em meio a uma crise somente solucionada com a presença do presidente da liga do Rio de Janeiro. Os baianos chegariam a um entendimento para a criação da Liga Bahiana de Desportos Terrestres e o Sport Club Victoria retornaria as competições de futebol.
A promoção parecia ter vindo pra ficar. Na época poucos clubes participavam do campeonato. O evento era uma verdadeira abertura solene do campeonato e, mais do que este, todos tinham chances de ganhar o título. Os clubes traziam seus melhores jogadores que competiam entre si em partidas de vinte minutos (divididas em dois tempos de dez minutos), aspirando chegar a uma final onde se jogava por uma hora, também dividida em dois tempos. Em função dos constantes empates de zero a zero que surgiam nos jogos normais, o regulamento foi sendo aperfeiçoado passando a prever uma série de critérios de desempate, como pênaltis e até corners (o que chamamos hoje escanteios) e bolas na trave.
Alguns clubes se tornaram verdadeiros “papões” de torneios inicios, sendo os mais famosos o ABC, com 33 títulos, o Rio Branco (ES), com 24 títulos, e o Sport Clube Recife, com 18 títulos. O primeiro ainda apresenta a formidável marca de ter sido octa campeão, durante a transição do amadorismo para o profissionalismo, entre 1935 e 1942. O Vitória, apesar de deter o maior número de torneios na Bahia com onze títulos, figura apenas em 12º lugar no ranking nacional, depois de América (RN), América (MG), Avaí, Náutico, Santa Cruz, Figueirense, Ceará e Fortaleza.
A Fonte Nova guarda o marco de ter feito 21 desses torneios, embora tenha sido aonde estes chegaram ao fim. Apesar de esses terem durado até 1980 no estado, e em outros locais até mais tarde, desde o final dos anos 50 a promoção se mostrar incompatível com o interesse insaciável dos clubes, federações e empresários de auferir lucro. Entre os anos 50 e 60 o torneio deixa de ser realizado em uma série de estados importantes, embora em outros tenha sobrevivido por mais tempo. Na Bahia, sua regularidade termina em 1967, quando o título é conquistado pelo EC Bahia. Por coincidência, na contramão dos anos do chamado “milagre econômico”, entre 1968 e 1973. Seu retorno, porém, é por pouco tempo, recomeça em 1975, é novamente suspenso por dois anos, até que sobrevêm as suas três edições finais, cuja última em 1980, foi ganha pelo EC Vitória decidindo o título contra a extinta AABB.
Podemos dizer que na velha Fonte Nova a marca da pluralidade com que o torneio foi criado se manteve. Em nosso maior estádio sete clubes conquistaram os vinte e um títulos desses torneios, apresentando uma média de três para cada um, com o Vitória (5), Bahia (4), Leônico, Galícia e Ypiranga (3), Botafogo (2) e até o extinto São Cristóvão ganhou em 1966. Apesar de serem as principais forças do nosso futebol a dupla Ba-Vi só decidiu ali o torneio por três vezes, na inauguração do estádio em 1951(Bahia), em 1955(Vitória) e em 1964(Bahia).
Nesses dias onde se fala em voltar a promover esses torneios é importante que se lembre das razões pelas quais foram extintos: cupidez empresarial, custos com o evento, deslocamentos e despesas com os jogadores, gratuidade, desinteresse de colocar os jogadores titulares, e problemas de cobertura pela imprensa.
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