sábado, 25 de setembro de 2010

O governador que azarou o EC Bahia


Não sei qual é o time que Antônio Lomanto Jr. torce. O que sei é que quando ele foi governador deu um azar danado ao EC Bahia ! É claro que isto não se deve só a ele mas a uma época de transição onde mudaram as regras de poder político, inclusive no futebol.

Lomanto se elegeu em 1962. Na época minha família estava muito motivada para participar da campanha que verificava, pela primeira vez, um concorrente da família, Waldir Pires, esposo de Iolanda Avena, prima carnal de minha mãe Helena.

Eu era apenas um garoto de quatorze anos e não me preocupava com outra coisa que ir ao cinema, ouvir musica e fazer traquinagens no Instituto Baiano de Ensino. Não perdia os filmes de James Bond, numa indústria cinematográfica cada vez mais internacionalizada e que recrutava seus protagonistas na Itália, França, Suécia, entre outros, e se destacavam Sidney Potier, Gina Lollobrigida, Marilyn Monroe, Brigitte Bardot, Sofia Loren e Marcello Mastroianni.

No Brasil surgia a bossa nova, disputando espaços com o bolero e o samba canção. Era lançado o clássico Garota de Ipanema de Vinicius de Morais e “Tom” Jobim. Minha relação com esta última, porém, demoraria alguns anos, quando eu acessaria primeiro a musica mais leve de Carlos Lyra, Pery Ribeiro e Nara Leão para, no clima dos festivais, adotar artistas mais complexos como Johnny Alf, Claudete Soares e Elis Regina.

Eu ouvia Miltinho, Cauby Peixoto, Agnaldo Rayol e Ângela Maria. Apreciava cantores românticos como Frank Sinatra, Bing Crosby e Nat King Cole, mas também inovadores, que introduziram fusões rítmicas, como Ray Charles e Stevie Wonder. Numa época onde os gostos musicais jovens começavam a frequentar a indústria musical passava a estar atento para o rock de Elvis Presley e dos irmãos Cely e Tony  Campelo.

Neste ano assistimos pela primeira vez na televisão a Copa do Mundo no Chile, onde a seleção brasileira obteve o bicampeonato, e pelo rádio o título carioca obtido pelo Botafogo, time que meu pai torcia, adquirindo uma imorredoura admiração por Garrincha, Quarentinha e outros craques. Vibraria com a vitória da itabunense Maria Olívia Rebouças no Miss Brasil e ficaria chocado com a morte de Marilyn Monroe, por overdose.

Lomanto era prefeito de Jequié, presidente da Associação Brasileira de Municípios desfrutava do apoio da Igreja Católica e do jornal A Tarde. Talvez tenha sido o introdutor do marketing eleitoral na Bahia.

Na campanha ressaltava a sua condição de municipalista, de filho de agricultor. Era “o amigo do pobre, irmão do trabalhador”. O jingle de campanha também assinalava que Lomanto era “a esperança do povo, renovação”. Divulgava a marcha do interior para a capital e distribuía a seus adeptos um brinde para colocar na lapela, o feijão, antevendo a sua colocação na panela após a vitória.

A campanha para governador foi muito disputada. Lomanto foi apoiado por Jango e Waldir por Juscelino. Meu primo acabou perdendo por apenas 5%, pouco mais de 40.000 votos. 

Não sei se foi coincidência, mas no ano que o municipalista Lomanto assumiu o governo começou a crescer o Fluminense de Feira. Pouco depois é decidida a 5ª edição da Taça Brasil aonde o EC Bahia iria pela terceira vez as finais contra o Santos sendo derrotado após duas partidas, 1 X 1 na Fonte Nova e 5 X 1 em Vila Belmiro.

O campeonato baiano de 1963 só seria decidido no ano seguinte, ás vésperas do golpe militar. Como era comum na época os vencedores dos turnos (Bahia e Fluminense) partiram para uma “melhor de quatro pontos” (na época contava-se dois pontos por vitória). Houve necessidade de três jogos, registrando-se empates nos dois primeiros jogos realizados em Salvador e Feira de Santana. Na finalíssima, Renato fez dois gols virando o jogo nos minutos finais contra o esquadrão de aço que havia feito apenas um gol através de Biriba.

Lomanto mudaria seu secretariado pera incorporar os grupos que haviam apoiado o golpe, e continuou azarando o EC Bahia. Neste ano o seu maior rival quebraria um jejum de sete anos voltando a ganhar o título estadual (em decisão contra o próprio EC Bahia), repetindo o feito no ano seguinte.

A última façanha de Lomanto, no ano em que encerrou o seu governo, foi presenciar o único título de campeão baiano da história da AD Leônico em 1966, obtido em memorável final com o EC Vitória onde não faltaram as rezas do goleiro Gomes admitidas pelo árbitro Clinamurti França. 

Logo depois Lomanto entregaria o cargo de governador a Luiz Vianna Filho que, escolhido pela Assembleia Legislativa, abriria um longo período de governadores biônicos na Bahia. Quanto aos torcedores do EC Bahia só podiam dizer vade retro, pois, bastou a sua saída para o time voltar a se sagrar campeão estadual numa final com o Galícia.

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