sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A seleção brasileira na Fonte Nova


A história da seleção “brasileira” é ingrata com a Bahia. Ali, os jogos oficiais mostram uma pré-seleção (1906-1913) onde eram escalados para os jogos um combinado dos jogadores do Rio e São Paulo. Não contente com isto também só eram realizados jogos neste eixo. A fase posterior (1914-1922), onde é reconhecida como da “seleção”, quando passou o país a ser apresentado na América Latina, pouco modificou esta toada, continuando a recrutar jogadores e a realizar jogos naqueles estados.
O primeiro jogador convocado fora do eixo Rio-São Paulo, foi do Brasil do Rio Grande do Sul em 1920. Quanto à Bahia só seria honrada com a deferência em 1923, quando a seleção brasileira não investiu muito no Sul Americano de Montevidéu, sendo convocado o zagueiro Mica (Botafogo) que costumava jogar com mais dez jogadores do Rio de Janeiro.  A experiência parece não ter recomendado muito, pois no próximo torneio, realizado dois anos depois, volta-se a exclusividade anterior, sendo que o próprio Nilo (Brasil-RS), já tinha sido contratado pelo Fluminense do Rio de Janeiro.
A Bahia só apareceria de novo na história da seleção brasileira onze anos depois quando esta se dignou, pela primeira vez a jogar fora do Rio-São Paulo. Naquela altura a seleção havia sido formada para disputar a Copa do Mundo de 1934 disputada na Itália. No entanto, foi eliminada na primeira partida, perdendo para a Espanha por 3 X 1. Pra não perder o trabalho feito a equipe excursionou pela Europa onde colheu melhores resultados contra times e combinados.
Dois meses depois aporta no Nordeste para realizar diversas partidas trazendo um time que tinha como base o Botafogo do Rio de Janeiro. Estavam previstas dez partidas, sendo cinco na Bahia e cinco em Pernambuco. Chegou por aqui há exatos 76 anos fazendo com que os jogos do Campo da Graça fossem um verdadeiro passeio. Estreou dando de 10 X 4 no Galícia, enfiando logo depois 5 X 1 no Ypiranga. O Vitória ainda resistiu, perdendo apenas por 2 X1, para logo a seguir arrasar o Bahia por 8 X1. Despediu-se num jogo excepcionalmente duro, onde ganhou também por 2 X 1 a seleção baiana.
O passeio prometia continuar em Recife, onde foram caindo sucessivamente seus melhores clubes e a seleção pernambucana. No entanto, no último jogo, que marcaria a despedida da seleção em sua primeira excursão fora de sua região “sede”, o Sudeste, foi derrotada pelo Santa Cruz por 3 X 2. O resultado não foi aceito pelos dirigentes do futebol brasileiro que tentaram sem êxito uma revanche com o clube. O jeito foi voltar à Bahia aceitando a revanche pedida pelo Bahia para arrumar uma despedida melhor com nova vitória, agora de 5 X 1.
A Fonte Nova marcaria uma nova etapa no relacionamento da Bahia com a seleção brasileira ocorrendo aqui onze jogos. O EC Bahia se constituiria em um dos clubes que mais a enfrentou em toda a sua história.  Em 1969, trinta e cinco anos depois, o confronto se repetiria com nova goleada, 4 X 0. Na ocasião a seleção excursionava preparando-se para a Copa do Mundo do ano onde jogaria apenas com clubes, registrando também vitórias em Sergipe (8X2) e Pernambuco (6 X 1).
As próximas três décadas registrariam jogos na Fonte Nova. Em 1979, no governo Figueiredo, que prometia “arrebentar” quem fosse contra a chamada abertura política, o EC Bahia alcançaria um inédito heptacampeonato. Na ocasião o governo nos brindou com a apresentação de uma seleção reserva dirigida, entretanto, pelo técnico titular, o capitão do Exército Claudio Coutinho. Esta, no entanto alcançaria o melhor resultado da história do futebol baiano em jogos contra a seleção arrancando um empate de 1 X 1. A partir daí nunca mais a seleção jogou contra baianos.
Mas foi nos anos 80, quando os ventos da abertura realmente começaram a chegar, tomamos uma overdose de seleção com esta jogando por seis vezes em Salvador. A nova década se abre em 1981 com um amistoso contra a Espanha, vencido pela seleção por 1 X 0.  Dois anos depois, quando se iniciam os atos pelas Diretas Já, tivemos aqui o jogo decisivo da Copa América registrando-se empate de 1 X 1 contra o Uruguai. A entrada do país na “Nova República” foi comemorada na Bahia com um amistoso contra a Argentina, outro clássico do futebol latino-americano que presenciamos, com nossa vitória por 2 X 1.
A lua de mel com a seleção só acabaria em 1989, durante os jogos da Copa América daquele ano. É que no ano anterior o EC Bahia havia sido campeão brasileiro, e a seleção teve a “cara de pau” de aparecer por aqui após o corte do atacante Charles do EC Bahia e sem qualquer jogador atuando no estado. Teve de tudo, vaias, arremesso de objetos no campo, aplausos às seleções adversárias, e hostilidade local. A confederação acabou transferindo o jogo contra o Paraguai. Apesar de o episódio ter entrado para a história como motivo do fracasso da seleção neste torneio, trata-se de uma grande mentira. A seleção iria mostrar como era ruim na Copa do próximo ano que disputou. Nesse ano, na Fonte Nova, colheria apenas uma vitória (3 X 1 contra a Venezuela) em três jogos, empatando a zero com o Peru e a Colômbia.
Nunca mais um torneio oficial seria realizado na Bahia, sendo os três jogos da seleção da década de 90 simples amistosos, realizados no governo de FHC. Em 1995 a seleção derrotaria o Uruguai por 2 X 0. Dois anos depois seria a vez de o Equador cair por 4 X 2. Por último, em 1999, um empate de 2 X 2 com a única seleção europeia que a Bahia veria em quase cem anos de história da seleção, a Holanda.

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