domingo, 17 de outubro de 2010

O dia em que não houve o "gol 1000" de Pelé


Galdino Antônio Ferreira da Silva
Financista, desportista e colaborador dos blogs História do Futebol e Futebol 80.                                                                                       
                                  
Era um dia após as comemorações da Proclamação da República em 1969. Em uma tarde quente na cidade de Salvador a Fonte Nova ficou lotada com mais de 35.000 pagantes. Naquele dia Bahia e Santos travaram uma partida épica pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o “Robertão”. Mas aquela partida reservava um ingrediente a mais! É que o “rei do futebol” perseguia a incrível marca de mil gols em sua carreira e a expectativa era imensa. No entanto, do outro lado estava o EC Bahia “Campeão da Taça Brasil” e um dos grandes rivais do Santos, por ter sido justamente contra o time da Vila Belmiro que o tricolor da boa terra conquistou o inédito título, a primeira competição de âmbito nacional em 1959.
A partida foi apitada pelo jovem árbitro Arnaldo Cesar Coelho. Logo no início o Santos parte pra cima do Bahia, que se defende e procura sair nos contra-ataques. Em sua defesa há o goleiro Jurandir, o volante Baiaco e o zagueiro Nildo, este último mais conhecido como “Birro Doido”. Pelé não tem vida fácil, praticamente anulado por Baiaco com eficiência. Teria sido, segundo afirmação de Pelé, um dos seus grandes marcadores. A torcida, porém, se dividia entre o amor pelo Bahia e o amor por Pelé.

O “rei” continuava sumido na partida. Quando conseguia passar por Baiaco, Advaldo e Nildo “Birro Doido” logo afastavam a bola, e, quando conseguia finalizar, o goleiro Jurandir salvava como podia. O Santos ameaçava mais com Abel, Manuel Maria e Edu do que com Pelé. E, do lado do Bahia, era Zé Eduardo quem comandava com uma atuação destacada com Eliseu ajudando tanto na armação como na defesa. Este último conhecia bem o time do Santos, pois foi revelado na Vila Belmiro.
Vem o segundo tempo e o panorama muda um pouco, Pelé parece mais decidido e passar a dar mais trabalho aos marcadores, Edu e Clodoaldo quase marcariam se não fosse por Jurandir. Zé Eduardo se machuca num lance com Turcão e dá lugar a Sanfillipo que, ao lado de Arthur, passa a dar um “sufoco” na zaga santista e no goleiro Agnaldo. Mas o grande lance da partida viria do lado do Santos na metade do segundo tempo.


Na ocasião Pelé tabela com Manuel Maria, se livra de Eliseu, e consegue bater Baiaco, Paes, Advaldo e o goleiro Jurandir. Todos se levantam e os flashes das máquinas se preparam pra disparar. É o milésimo gol do Rei do Futebol e ele ocorreria na Fonte Nova! Porém, para o espanto de todos, quando Pelé empurra a bola na direção do gol e se prepara para comemorar o tento histórico, surge o pé do zagueiro Nildo que com a ponta da chuteira (ou do “birro”) salva a meta tricolor.
Neste instante há um misto de euforia, êxtase e raiva no estádio. A torcida, que já estava dividida, se fraciona de vez. Uma grande maioria vaia o zagueiro do Bahia. Outros, entretanto, o aplaudem de pé e gritam o seu nome. Pouco depois surgiriam os gols. O Bahia abriu o placar aos 42º minutos com Baiaco, para um novo delírio na Fonte Nova, mas, dois minutos depois Jair Bala punha números finais á partida.

Baiaco, Nildo e Jurandir fizeram história nessa partida, mais somente Baiaco se tornaria um dos grandes nomes e ídolos da torcida. Foi o maior momento de Nildo no futebol e o próprio “rei” o aplaudiu e abraçou ao final da partida, dando-lhe de presente a sua camisa 10. O atleta, em 2004, cedeu a camisa dada por Pelé para um leilão para ajudar  ex-lateral esquerdo do Bahia e Botafogo/RJ que sofre de uma doença rara.

Antes de completar quarenta anos deste feito, em 2008, Nildo veio a falecer devido a problemas cardíacos. No entanto, continuará sempre presente no mundo da bola devido a lance único na sua vida. O de ter sido um dos raros jogadores vaiados por sua própria torcida no exercício de seu trabalho de evitar que a equipe tomasse gols. Naquele dia, não foi o Senhor do Bonfim, nem todos os Santos da Bahia, que livraram o EC Bahia de entrar para sempre na vida do Rei Pelé, mas um “paredão” formado por Jurandir, Baiaco, mas, principalmente, Nildo.

Agradeço pelas imagens aos blogs copa2014.org.br, camisadobahia.blogspot.com e verdadeabsoluta.net.

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