domingo, 24 de outubro de 2010

O engenheiro cuja firma iluminou a ampliação da Fonte Nova

                  
Quando se deu a grande ampliação da Fonte Nova, coube a meu pai a responsabilidade pela parte elétrica e esgotamento. Como ele completa em dezembro 89 anos, aproveitei sua presença em minha casa ontem para pedir-lhe que recordasse aqueles tempos. Tenho a certeza que os meus leitores vão desculpar alguma omissão e falta de precisão na sua narrativa, que ainda reflete a admirável memória e lucidez de uma pessoa nesta idade em relação a fatos que sucederam há quarenta anos.
Permitam-me uma breve apresentação de “painho”. Técnico em engenharia, pela Escola de Eletromecânica da Bahia, venceu na profissão com admirável senso prático, que o fez atuar em praticamente todas as áreas da engenharia. Desde os anos 50 teve atuação constante nesse mercado no estado. Entre 1955 e 1973, trabalhou no antigo Departamento de Energia varou dezenas de municípios construindo subestações, seja cumprindo ordens públicas ou agindo mediante firmas que criou neste período.

Em 1969 meu pai, e seu irmão José Carvalho, criariam uma nova firma, a EMBACIL, que foi a que se encarregaria das obras de iluminação e esgotamento da construção do anel superior do Estádio da Fonte Nova. A empresa seria contatada pela Secretaria de Educação, e meu pai lembra que “o Norberto (Odebrecht) ficou com a construção civil norte, Nilton Simas ficou com a construção civil Sul, nó ficamos com a parte elétrica e esgoto e... não me lembro de quem ficou com o campo”.

Perguntado quantas pessoas trabalharam no empreendimento, diz que empregou 600 operários, que no campo trabalhavam “algo em torno de cinquenta pessoas”, e acredita que aqueles dois empreiteiros utilizaram mais ou menos o mesmo número que utilizou. É claro que estas informações devem ser comparadas com a dos outros engenheiros, mas, pelo que meu pai lembra podem ter trabalhado regularmente na obra cerca de duas mil pessoas.

Pra poder pagar o pessoal teve que tomar um empréstimo no antigo Banco de Credito Real, que funcionava no Relógio da Piedade. Diz que naquela época “o banco abria na hora que agente precisava. Nos sábados agente pagava os operários, cheguei até a abrir o banco nesse dia de tarde”.


Instalar a iluminação e o esgotamento levou aproximadamente seis meses. Teve que modificar o projeto elétrico. A voltagem da Fonte Nova era de 220 volts, de forma que, para melhorar a tensão secundária mudou o sistema elétrico para 380 volts. Lembra ainda da solução técnica que adotou. “Tivemos que fazer duas ligações. Uma cuja entrada vinha pela Ladeira da Fonte Nova, e a outra, que passava pelo Dique do Tororó. No total foram construídas e acionadas sete subestações, uma para cada torre e uma geral”.  

Quanto a mim, lembro que no fim do governo Luiz Viana Filho lidei com a minha primeira greve, só que do lado patronal, o da firma dos irmãos Carvalho. Era fim de semana, quando os operários costumavam receber, e o banco estava muito cheio. Assim, meu tio acabou atrasando o horário do pagamento do pessoal.

Foi um sufoco para meu pai. Eu e meu irmão “Toinho”, tivemos de ir lá ajudar. Os operários foram para o escritório da empresa, que funcionava no próprio estádio, e fizeram um escarcéu, exigindo o pagamento. Ajudei a colocar um balcão pra separar a administração do pessoal em fúria. Tentamos contemporizar pedindo pra aguardar. Toda hora agente dizia que “Carvalho já estava vindo”. Naquele tempo não tinha celular então não podíamos saber quanto tempo ia demorar meu tio no banco. Quando o dinheiro chegou foi um alívio. Depois disso meu tio passou a ser um dos primeiros a chegar ao banco nos sábados.

Depois a empresa levou alguns meses pra receber os 280 milhões que tinha se saldo. Como é comum no Brasil o novo governo ficou remanchando pra pagar a obra autorizada no governo anterior. A empresa teve que fazer um mau acordo com o governador ACM pro dinheiro sair. Até hoje meu pai fala nisso. Afirma que “acabei chupando linguiça na Fonte Nova”.

Pra terminar o papo pedi a sua opinião sobre dois assuntos: a demolição do estádio e o projeto da arena para a Copa de 2014. Respondeu ao primeiro assim: “Desnecessária. Tem caráter eleitoreiro. É uma vergonha! (e completou convicto, mesmo sem gostar do “cabeça branca”) Com ACM vivo ele não derrubaria a Fonte Nova!”.  Quanto ao segundo, afirmou que “não conhecia o projeto, portanto não podia opinar”.  

Agradeço as imagens dos blogs mauasesporteclube.blogspot.com e novaimagem5.png.

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