quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O maior evento religioso da Fonte Nova

     
Muitos não sabem que o estádio Octavio Mangabeira(Fonte Nova) não serviu apenas para o futebol. Deve ser lembrado que se tratava de um complexo desportivo, constando ainda um ginásio de esportes(o Ginásio Antônio Balbino)e piscina olímpica para natação. Durante muito tempo, a falta de espaços apropriados para grandes eventos em Salvador levou a que a demanda fosse atendida pela Fonte Nova. Assim ali aconteceu de tudo, gincanas, olimpíadas, shows, gravação de CDs, e também diversos atos e cultos religiosos.
A presença da Igreja Católica em nosso estado remonta ao século XVI. Quando da fundação de Salvador vieram sacerdotes na comitiva do próprio Tomé de Souza que aqui ergueu a sede administrativa, política e religiosa do Brasil. Assim, a relação com a Fonte Nova não deve ser vista com estranheza, sendo examinada muito de passagem por esta breve crônica de memórias.
A Igreja Católica deve ter sido a que mais utilizou o espaço para promover eventos. Os católicos prestigiaram o estádio em praticamente toda a sua existência. Seus colégios tinham importante participação nas Olimpíadas da Primavera, nas gincanas que ali eram organizadas, e até em alguns torneios e campeonatos que tiveram jogos no Balbininho. Ao longo das últimas três décadas houve ali o Congresso Eucarístico Nacional (realizado nos anos 80), do Congresso Católico Brasileiro, (organizado pelo Apostolado da Oração em 1990), do evento realizado em reação ao chute desferido contra uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida(celebrado por D. Lucas Moreira Neves), e da missa em comemoração aos 450 anos de Salvador(celebrada por D. Geraldo Magela e pelo padre Marcelo Rossi em 1999 com a participação de vários artistas locais).
No entanto, a Igreja Católica não tem o título de realizar o maior evento religioso daquele templo. A oportunidade seguramente foi perdida durante a visita do papa João Paulo II á Bahia, em julho de 1980. Assim, o Record de público em eventos do gênero caberia a Igreja Universal do Reino de Deus – IURD, que lotaria o estádio em 1988.
O evento está descrito no livro do ex-pastor da instituição Mário Justino, que conta inclusive a sua vinda para a capital do estado.
Minha ida a Salvador marcou o princípio da minha ascensão na Igreja Universal. Fui escalado para ficar na sede, na Ladeira do Aquidabã. A igreja era um fenômeno de público. Todos os dias os fiéis lotavam o templo(...).
Declaramos guerra ás religiões africanas, sustentáculo da fé baiana. Guerra á Igreja católica, nossa maior inimiga. E greve até mesmo ás igrejas protestantes, como a pentecostal Deus é Amor, que nós tínhamos como “candomblé evangélico”, e a Assembleia de Deus, para nós um bando de “crentões” e “fanáticos”(...). A Igreja Universal, onde era proibido proibir, era apresentada como o único caminho da felicidade(...).
O escritor continua sua narrativa, observando que o bispo Edir Macedo havia conseguido lotar o Maracanã com os fiéis da igreja, tendo este feito o estimulado a realizar eventos em todas as grandes capitais. Conta-nos como foi organizado o da Fonte Nova.
Queríamos mostrar aos padres, pastores, pais e mães de santo da Bahia que o reinado deles havia acabado. Éramos nós que dávamos as cartas agora. Todos os pastores do interior ficaram de alugar um ônibus e levar o maior número possível de pessoas. Vinhetas nas rádios e TVs, out doors espalhados pelo estado prometendo curas e soluções.
As atividades preparatórias para o evento pediam “oferta de sacrifício” e um pedido de oração que deveria ser levado pelo bispo ao Jardim das Oliveiras em Israel, a Terra Santa.
Apesar de o evento ser realizado pela tarde uma verdadeira multidão já se aglomerava junto aos portões do estádio antes de abrirem. Quando isto aconteceu, ás 9: 00 muitos se atropelaram para arranjar lugar para ouvir a voz do bispo trazendo a palavra de Deus. O estádio lotou mais ou menos rapidamente fazendo com que as delegações que foram chegando tivessem dificuldade de acomodação.
Quando o bispo Edir Macedo entrou foi uma apoteose. Com uma admirável técnica que dominava as multidões fez, por diversas vezes, essa vibrar com suas palavras. Mostrando que ainda não estava satisfeito com o que havia sido arrecadado, pediu aos fiéis presentes uma “oferta especial”. Lembrou que o pessoal da igreja no Rio de Janeiro havia doado recursos para a compra de uma rádio. E arrematou:
- Será que os cariocas tem mais fé que os baianos?
-Não! Responderam os presentes num impressionante uníssono.
Após o diálogo foi só enviar seus assessores para recolher as doações. Na ocasião choveu joia e dinheiro. O pós-evento, porém, demandou muito trabalho dos organizadores. O ex-pastor observa que “a contagem do dinheiro exigiu três dias trancados numa sala” e, denuncia que os pedidos de oração que deveria ser levados a Israel acabaram numa praia da Boca do Rio.

·         Agradeço as informações contidas no site da Arquidiocese de Salvador e no www.prisrsmi.com.br. Em especial ao livro Nos bastidores do Reino – A vida secreta na Igreja Universal do Reino de Deus. São Paulo: geração Editorial, 1995.

2 comentários:

  1. caro Franklin, o assunto religião e igreja não é muito de meu agrado. em especial quando se trata da IURD de um tal de "bispo" Macedo, um espertalhão argentário. comprendo que o fato é histórico e deve ser noticiado e comentado, mas, com toda sinceridade, acho que você extrapolou. você me conheceu há uns 30 anos como cristão, mas já não sou católico apostólico romano. creio na mensagem do Homem de Nazaré, JESUS, depois chamado o Cristo. Deus é um só e as religiões e igrejas são muitas. não mais sigo qualquer delas. pra terminar, posso dizer que "sou católico por nascimento, cristão por opção adulta e comunista pela observação cotidiana dos fatos da vida". abração do veterano companheiro "pra valer" Sérgio Guimarães.

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  2. Perfeita leitura Frankiln, a insdutria da fé é uma realidade tão concreta como é a fé de muitos outros fiéis.

    Sou Cristão da paróquia de São José em Amaralina.

    Anderson Gomes

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