O campeonato baiano tem 106 edições, sendo 58 destas realizadas na Fonte Nova. Por ele passaram muitos clubes estranhos. Times de empresas, de bairros e até aqueles cuja atividade principal era outro esporte marcaram época no nosso futebol. Você já ouvir falar do Yankees, Royal, Monte Líbano, Energia Circular, CMTC, Antártica, Estrela de Março, ou da Associação de Remo da Bahia (!)? Pois todos eles disputaram o nosso campeonato, na primeira ou na segunda divisão.
O nome do EC Bahia está definitivamente cravado na história do futebol baiano. Mas foi na Fonte Nova que o esquadrão de aço conquistaria os maiores louros de sua existência. Ali obteria 31 campeonatos baianos e dois títulos nacionais, de campeão da Taça Brasil(1959)e da Copa União(1988). O EC Vitória vem em segundo lugar com 21 campeonatos e dois vices(na primeira e segunda divisão em 1992 e 1993), seguindo-se o Fluminense (Feira de Santana) com dois, e o Ypiranga, Galícia, Colo Colo (Ilhéus) e Leônico, com um campeonato baiano cada.
Entre todas estas conquistas estaduais a mais memorável foi certamente o heptacampeonato conseguido pelo EC Bahia entre 1973 e 1979. Com um esquadrão integrado por jogadores como Douglas, Fito, Baiaco e Sapatão o clube marcou época com esta façanha para a qual dispôs de conhecidos técnicos do futebol brasileiro como Evaristo de Macedo, Zezé Moreira, Orlando Fantoni e Carlos Froner. Sob o comando do segundo o tricolor chegaria ao título de maneira invicta em 1975.
Atuando na grande maioria das vezes no estádio, o clube faria 228 partidas, obtendo uma 78,7% dos pontos possíveis, com 142 vitórias, 75 empates e apenas 11 vitórias. Marcaria 419 gols e sofreria 102. Douglas seria o grande artilheiro do Bahia nos anos 70. Algumas curiosidades desta campanha. Na conquista do tri o clube perderia apenas uma partida no estádio, para o EC Vitória (1 X 0) e, durante todas as campanhas só seria derrotado ali pelo Vitória (por seis vezes), Leônico (duas vezes) e Botafogo (uma vez). Ao longo de sete anos enfrentaria seu arquirrival por 40 vezes, obtendo 15 vitórias, 19 empates e seis derrotas.
Eu devo seguramente ter assistido todos, ou quase todos, os BA-Vis disputados nos anos 70. Alguns deles são antológicos. Na época o EC Vitória tinha também um bom time, embora o fator emocional pesasse a cada ano onde ocorria nova conquista do Bahia. O grande exemplo disto foi em 1979. O país tinha um novo general de plantão, João Batista Figueiredo, e eu mesmo participei de várias manifestações para tornar efetiva a sua promessa de “bater e arrebentar” quem não quisesse fazer deste país uma democracia.
O campeonato começou com este clima, com o meu clube ganhando o primeiro BA-VI por um a zero. O andamento do campeonato foi empolgando a torcida quando o clube conseguiu manter uma das suas maiores invencibilidades na história do campeonato baiano. Parecia que iria acabar com a maior série de conquistas do EC Bahia até então. Este clube não conseguiria nos ganhar em todos os jogos dos turnos, que em sua grande maioria terminariam empatados.
O clube estava longe de ter um time inferior ao Bahia, destacando-se Gelson no gol, os xerifes Xaxa e Zé Preta na zaga, Dendê no meio, e uma excelente dupla de ataque com Sena e Jorge Campos. Éramos dirigidos pelo mais novo dos irmãos Moreira, Aimoré, ficando nosso adversário com o “esclerosado” Zezé.
O jogo decisivo, porém acabou com a vantagem do Vitória embolando o campeonato. Sena fez 1 X 0, mas o Bahia empatou logo no primeiro tempo com Botelho. No segundo tempo consolidaria a “virada” com um gol de Zé Augusto. Considero que foi neste jogo que o Vitória perdeu o título.
Alguns dias depois haveria um jogo extra. Na oportunidade mesmo com o Vitória com mais volume o jogo terminaria empatado a zero. Partiu-se então para nova partida extra que esteve mais uma vez longe de garantir o mesmo público de BA-Vis anteriores. Pudera! O público já estava desgastado com tantos BA-Vis. Só naquele ano foram nove! Mas mesmo assim a final teve um bom número de torcedores.
A partida foi bem disputada. Ninguém queria arriscar muito, embora voltássemos a ter mais volume de jogo. O primeiro tempo ficou empatado em zero. No intervalo os torcedores se perguntavam como ficaria o campeonato com um novo empate. Haveria nova partida? Nem de longe havia clima para declarar os dois campeões. Enquanto estávamos nestas elucubrações começou o segundo tempo com o Vitória atacando para o gol da Ladeira da Fonte das Pedras e o Bahia para o gol do Dique do Tororó.
O jogo decorreu na mesma toada aumentando ainda mais o nosso domínio, mas o gol não saía. Aí foi quando Fito arriscou um chute da intermediária e Gelson tomaria o maior “frango” que eu vi naquele estádio. O gol calou fundo na torcida rubro negra. Durante breves segundos não se ouviu um pio do nosso lado, só a torcida adversária comemorando. Um silêncio sepulcral que começou a ser quebrado aqui e ali por exclamações de raiva. Algumas pessoas levantaram e saíram do estádio indignadas com a falha do goleiro do Vitória. O Bahia segurou o resultado até o fim valendo até chutões pra todo lado. Quando acabou a partida eu e meu irmão “Toínho” descemos as escadas imediatamente alcançando os portões da ladeira pra não ver a comemoração tricolor.
Durante anos correu a maior boataria. Dizia-se que Gelson havia se “vendido”. Que o resultado havia sido “armado” e outros mitos que se divulgam até hoje que, se consolam os torcedores, não fazem voltar o “leite derramado”. Chorei de raiva naquele dia a trinta anos atrás. A década de 70 havia sido um desastre para o Vitória. Seria no apagar de suas luzes, no ano vindouro, que o Vitória voltaria a se encontrar com o título.
Ainda duraria a hegemonia de nosso adversário, que na próxima década emendaria um tetracampeonato e alcançaria um título nacional da Copa União. No entanto, nesta mesma época começaria a Era Barradão e as coisas nunca mais seriam como antes. Apesar de toda a nossa tristeza, aquele 28 de setembro de 1979 seria um marco de um tempo que não volta mais.
* Agradeço a correção de Alexandre Teixeira e as informações do site sobre a História do Futebol http://blog.cacellain.com.br/
sou rubronegro baiano desde garoto, dos meus doze/treze anos de idade, mas não acompanhei a ascensão dos Leões da Barra pós anos 60. gozei apenas a satisfação de assistir a conquista dos campeonatos de 1953, 1955 e se me não engano de 1957. ou foi 1959? daí em diante deixei de acompanhar o futebol, não só baiano como brasileiro. a exceção era acompanhar os jogos da seleção canarinho, com a conquista dos títulos mundiais de 1958, 1962 e 1970. passados 24 anos, as Copas de 1994 até agora, incluindo os fiascos de 1998, 2006 e 2010. de uns cinco anos pra cá, acompanho o brasileirão 1ª série, a chamada Primeirona. também competições da Fifa, como Libertadores, Confederações, Copa América e outras menos votadas. quem faz par com o futebol são as coridas de fórmula um, F-1, que acompanho com regularidade, e agora com as facilidades do computador, todas estão registradas e arquivadas na "máquina", bom substituto da velha memória em que já não ponho muita fé.
ResponderExcluir