domingo, 10 de outubro de 2010

O pior time da Fonte Nova



A Fonte nova já viu muitos times ruins. Não me lembro do tal do Íbis, que dizem ser o pior time do mundo, ter jogado aqui. Quando os torneios nacionais foram ampliados vieram para cá clubes do “arco da velha” de outros estados, seja em confrontos oficiais, seja em amistosos. O campeonato baiano também viu clubes ruins de doer. Desde 1905 cento e cinco disputaram o certame, sendo que na Era da Fonte Nova uns sessenta disputaram a primeira e a segunda divisão. Lembro-me de vários “malas” a exemplo da ABB, do Redenção, do Monte Líbano, do SMTC, e do Estrela de Março. Esta crônica é dedicada ao último que no nosso entender se constituiu no pior time da Bahia.
A história do Estrela de Março já é plena de ruindade. O clube em toda a sua existência nunca ganhou um título. Foi fundado em 1961 e ascendeu á primeira divisão num tempo de crise no futebol baiano que durou pelo menos entre 1964 e 1966. Na época eram dois os classificados para subir. Nestas condições obteria o vice-campeonato em 1965 conseguindo a façanha de perder para o Redenção, outro clube classificado entre os piores da Bahia.
Era o ano de 1966 e eu teria o “privilégio” de ver o Estrela de Março jogar o seu único campeonato contra os principais clubes do estado. O cenário político-esportivo era desolador. Estávamos numa ditadura militar embora os jovens baianos voltassem a se manifestar. A decisão da FBF de realizar o primeiro turno com jogos no campo da Graça levou ao afastamento de Bahia, Leônico, Galícia e Fluminense (único clube do interior) da disputa.
Mesmo assim, a campanha do Estrela de Março seria desastrosa. Estrearia perdendo para o “saco de pancadas” São Cristóvão por 2 X 0, para logo depois ser arrasado por 10 X 0 pelo meu EC Vitória. Seguiram-se mais duas partidas onde perdeu para o Ypiranga por 3 X 0 e para o Botafogo pelo dobro deste placar. Como o Vitória já havia obtido o título do primeiro turno por antecipação, a FBF fez um inestimável favor ao clube, cancelar suas partidas finais contra o SMTC e o Guarany para evitar novas derrotas.
No entanto, não houve escapatória no segundo turno quando voltaram os clubes recalcitrantes para os jogos na Fonte Nova. Recomeçou sendo novamente goleado, desta vez por Leônico e Bahia pelo mesmo placar de 5 X 0, seguindo-se derrotas contra o Vitória (3 X 0) e o Botafogo (5 X 0). A esta altura já tinha tomado 39 gols e não tinha conseguido fazer nem unzinho. Seria só no próximo ano que o Estrela de Março faria o seu gol, numa partida contra o Ypiranga onde perdeu por 3 x 1 e se registraria o gol solitário de Almeida.   Os jogadores mal acreditavam. Parecia a conquista de um título. Só faltou a volta olímpica.
Entraram, portanto, renovados na partida contra o São Cristóvão onde ocorreria o “acidente” da nova derrota (3 X 0). Depois, nova façanha, o histórico resultado obtido contra o Galícia, que sofre a maior humilhação de sua história ao empatar de 1 X 1 com a agremiação, quando o seu próprio gol foi obtido por um defensor do adversário contra suas próprias redes. Augusto seria o herói da ocasião fazendo o gol do clube vermelho e branco.
Estaria encerrada a sina do Estrela de Março? Seria evitado à volta para a segunda divisão? O momento era bom e o clube entra de cabeça erguida para enfrentar o Fluminense de Feira, quando volta a ser massacrado por 9 X 0! O que teria acontecido? Reclamou-se de erros do juiz, de perseguição do clube, o diabo! Sua diretoria não podia entender a razão do retrocesso. Mas ainda restava a esperança em relação às duas últimas partidas (exatamente contra os clubes cujos jogos haviam sido cancelados) onde o clube poderia deixar a lanterna com o Redenção. O clube, porém, perderia as duas, contra o time da empresa de ônibus, a SMTC, por 4 X 1(gol de Hélio), e contra o antigo Guarany, que disputava seus últimos e melancólicos campeonatos na Bahia, por 1 X 0.
Foi assim que o Estrela de Março que mal havia subido desceu de novo para a segunda divisão. Sua participação havia sido inglória amargando o pior resultado entre os clubes de 62 campeonatos. “Disputaria” 14 partidas, perdendo 13 e empatando uma, fazendo heroicos 3 gols e tomando 60! Nunca mais ouvi falar do clube. Para escrever esta crônica tive que pesquisar por onde andou. O vermelho e branco passaria mais de duas décadas jogando na segunda divisão. Somente em 1988 voltou a ameaçar subir de novo, perdendo a classificação para o Galícia e para a FBF, pois, agora subia apenas o campeão. Não faltou quem dissesse á ocasião que se tratava de um regulamento injusto para o clube que nunca iria ganhar qualquer título.
Depois de mais sete anos insistindo de licenciaria do futebol profissional e até das categorias de base. Hoje, atua no futebol feminino da Bahia onde, para variar, cumpre inglórias campanhas.

2 comentários:

  1. Junior,
    adorei suas reportagens. Vc é o máximo.
    As recordações que vc me trouxe me fizeram chorar. Quanto vibramos e sofremos na velha FONT NOVA.
    Parabéns.
    nadja

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  2. Nos meus muitos anos de Fonte Nova, vi muitos sacos de pancadas como o Redenção, ABB, Humaitá, Jequié não tive o prazer de ver o Estrela de Março.

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