Apesar de o futebol haver se disseminado muito cedo por todas as regiões baianas, durante quase meio século (1905-1953) o campeonato “estadual” se reduziu a ser coisa da capital. Só em 1954, sob o governo desenvolvimentista de Antônio Balbino, é que o Fluminense de Feira de Santana receberia um convite inédito para participar do certame. No entanto, já no terceiro ano de sua participação o clube alcançaria a façanha do vice-campeonato.
Demoraria treze anos para o campeonato ser interiorizado, o que ocorreria em 1967 após o governo do municipalista Antônio Lomanto Junior. Neste ano, metade dos quatorze times que disputaram foram do interior, entrando o Bahia (Feira), o Itabuna, o Conquista, e três clubes de Ilhéus, o Vitória, o Flamengo e o Colo Colo. Porém, mesmo a medida sendo justa mereceu quem contestasse a novidade. Uns acharam “muito” a inclusão de chofre de vários clubes. Outros questionaram a “estrutura” que os municípios de Feira e Ilhéus teriam para abrigar mais de um clube.
Há quem explique desta forma enorme vantagem dos clubes da capital sobre o interior em matéria de títulos na Bahia. A estatística, entretanto, não pode resolver todos os problemas. Por esta percebemos que o perfil geográfico do nosso campeonato teve três fases. Na primeira (1906-1953) os clubes da capital concorreram sozinhos; na segunda (1954-1968), tiveram a companhia solitária do Fluminense de Feira; e, finalmente, na terceira (1967-2007), se altera radicalmente a balança desta participação, quando a capital chegou a se reduzir a apenas dois clubes. Mesmo com a alteração experimentada nas duas fases finais, os clubes do interior conquistariam apenas três títulos de campeão baiano, sendo um na segunda fase e dois na terceira fase, respectivamente, em 1963 e 1969(Fluminense de Feira) e 2006, como o Colo Colo. Eu sou um privilegiado, pois veria essas conquistas, estando presente em vários jogos desses campeonatos e nas partidas decisivas.
Esses episódios, entretanto, nos dão uma media de 18 anos por cada vitória do “interior” sobre a capital. Chama ainda a atenção, que não se trata do interior em geral, mas das cidades mais progressistas do estado, encontrando-se entre elas Feira de Santana e Ilhéus que se dedicaram por muito tempo ao futebol amador. O Fluminense já existia desde o início dos anos 40 e, no fim desta década começaria a “papar” títulos na Liga Feirense. Embora obtivesse o vice-campeonato baiano em 1956, o título, entretanto, só viria na sua décima participação.
As campanhas do Fluminense em 1963 e 1969 foram impressionantes. Na primeira seu time base era Mundinho, Misael, Zé Oto, Onça e Nico; Veraldo e Neves; Mário, Chinesinho, Renato e Macalé. Com este time ganhou as seis primeiras partidas seguidas e faturou o primeiro turno. Depois saiu em excursão para Sergipe não obtendo o mesmo rendimento no segundo turno ganho pelo EC Bahia.
As finais foram de “melhor de quatro pontos” como era comum na época. As duas primeiras partidas deu empate, de 0 X 0 na Fonte Nova, e de 1 X 1 no Estádio Joia da Princesa. A decisão ficou para o segundo tempo do terceiro jogo, quando os touros do sertão, após estarem em desvantagem no marcador (com um gol de Biriba), viraram o jogo com dois gols de Renato, o goleador do clube no campeonato. Na campanha o Fluminense obteria dez vitórias, cinco empates e quatro derrotas, fazendo 23 gols contra 19.
Apenas Nico participaria do time base da campanha de 1969, constituído de Ubirajara, Ubaldo, Sapatão, Mário Braga e Nico; Merrinho, Delorme e Robertinho; João Daniel, Freitas e Marcos Chinês. A campanha seria ainda mais contundente ganhando o campeonato por antecipação ao vencer o EC Vitória por 1 X 0 na Fonte Nova. O Galícia, que experimentou em 1967/1969 sua melhor fase na Fonte Nova, e que havia obtido o título no ano anterior, ficou em segundo lugar ao empatar de 0 X 0 com os feirenses. O clube teve apenas três derrotas num campeonato onde fez 61 gols!
Após esta época o clube teria ainda algumas glorias. Nos anos 70 participaria por três vezes do Campeonato Brasileiro, e, nos anos 90 obteria importantes vice-campeonatos, dois na Bahia seguidos, e um a nível nacional na Terceira Divisão perdendo a decisão para o Tuna Luso do Pará.
Já o Colo Colo surgiria em finais dos anos quarenta, conseguindo em 1953 seu primeiro campeonato na Liga Ilheense de futebol amador onde obteria um inédito tetracampeonato entre 1958 e 1961. Começaria a disputar o campeonato baiano em 1967, mas a experiência não seria agradável, com o clube voltando para o amadorismo dois anos depois quando se afastou daquela disputa por duas décadas. Em 1999 ingressaria na segunda divisão ganhando imediatamente o título e voltando á elite do futebol baiano.
Seus esforços seriam compensados sete anos depois, em 2006, quando, em um contexto onde a dupla BA-VI tinham caído para a terceira divisão, sagra-se campeão baiano de forma sensacional, ao derrotar o EC Vitória de virada por duas vezes, a primeira por 4 X 3 no Estádio Mário Pessoa, e a segunda por 4 X 2 no próprio Barradão. Na ocasião participaram de seu time base Marcelo, Alex Santos, Sandro, Wescley, João Paulo, Rodrigo, Lima, Juninho, Mário Lacraia, Ednei e Gil.
Daqui a três anos decorrerão cinquenta anos do primeiro título baiano de um clube do interior. Não é uma boa ocasião para celebrar? Trata-se de uma boa oportunidade para que voltemos a discutir a efetivação de uma “terceira força” em nosso futebol.
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